Contratados: O Prazer - Capítulo IV

Um conto erótico de KaMander
Categoria: Gay
Contém 7744 palavras
Data: 20/04/2023 23:36:48

CAPÍTULO IV

*** EDUARDO ***

ACORDO ASSUSTADO com as batidas insistentes na porta. Merda, merda, merda! Alguém batendo com tanta pressa assim só pode ser meu senhorio. Ai, Deus, ele não pode me expulsar daqui esta semana. Essa semana não! Ela já foi o suficientemente ruim. Faço um cálculo rápido, tentando me lembrar o quanto do dinheiro da faxina eu gastei e o quanto sobrou. Pouco, muito pouco e, definitivamente, insuficiente para apelar que ele tenha misericórdia de três meses de aluguéis atrasados.

Se eu ao menos tivesse conseguido a porcaria do emprego. A mera lembrança me faz agarrar uma almofada da cama e pressionar contra o meu próprio rosto para abafar meu grito de frustração! A internet não caiu, eu simplesmente enviei o e-mail para pessoa errada. Qual a possibilidade? Eu já digitei aquele endereço de e-mail tantas e tantas vezes, mas dessa vez eu esqueci a droga do U. Uma letra, uma única letra, e uma brincadeira inocente foi parar nas mãos de uma pessoa completamente desconhecida. E que pessoa, logo aquele homem! Nunca me senti tão humilhado na vida quanto quando ele soltou aquelas palavras me perguntando sobre a minha virgindade. Deus, eu não consigo repeti-las nem em pensamento. Um prostituto, ele achou que eu era um prostituto...

E as coisas que eu disse, as respostas para as suas perguntas! Eu disse que esperava um homem velho e careca, ou uma mulher! Meu Deus! Eu disse que não faria diferença, eu aceitaria qualquer opção. Aproveito a almofada ainda no meu rosto para dar mais um grito, embora nada disso apague minha vergonha ou meu sentimento de indignação, existe uma coisa que torna tudo menos pior, a certeza de que nunca mais vou vê-lo na minha vida.

Mais batidas altas soam na porta e eu percebo que perdi meu tempo precioso antes de abri-la pensando naquele homem maldito, ao invés de em uma desculpa convincente para seu Josias, que está na minha porta, pronto para me chutar para fora da única casa que eu poderia pagar se eu tivesse um emprego. Onde diabos eu estou com a cabeça? No homem, que pode até ser maldito... Mas era um gostoso também... Minha própria mente responde à minha pergunta silenciosa e eu faço cara feia para ela, para mim. Porque ele é um babaca, arrogante e prepotente, que me chamou para uma entrevista mesmo achando que eu era um puto, mas depois ficou me julgando por isso.

Eu tive muito tempo para repassar cada palavra dita naquela sala uma e outra, e outra, e outra vez, e cheguei a dois resultados possíveis: ou ele recebeu o e-mail e achou que seria divertido me humilhar por isso, ou gostou dos absurdos que escrevi e queria que eu fizesse o que disse que faria, mas algo, provavelmente a minha aparência, o fez mudar de ideia. Porém, considerando que eu realmente não ache que um homem como aquele, rico, poderoso, mortalmente lindo e com aqueles olhos, precise de uma prostituta, o mais provável é que fosse a primeira opção, o que só me irrita mais, porque, para minha infelicidade, eu dei a ele exatamente o que queria, minha humilhação.

− Já vai! -grito para a porta, de onde batidas insistentes continuam a vir, obrigando-me a levantar da cama. Já que a tática de fingir não estar em casa, claramente não estava funcionando. Arrasto meu corpo para fora do meu projeto de colchão e coloco os pés o chão frio, sentindo imediatamente uma onda gelada despertadora de cérebros sonolentos. Apoiando as mãos na cama, me impulsiono para cima, finalmente me levantando. As caixas de roupas logo a minha frente são meu primeiro destino, afinal, diferente do que aquele imbecil acha, eu não sou um prostituto, e não vou atender meu senhorio de cueca... Babaca, mas se ele não tivesse falado do e-mail, você bem que teria beijado ele, mesmo com raiva! Será verdade o que dizem? Que com raiva é mais gostoso?...

− Cala a boca, Eduardo! -Resmungo para ninguém além de mim mesmo enquanto visto uma camiseta e um short jeans. As batidas altas voltam a soar na porta e eu passo as mãos pelos cabelos, tentando organizá-los rapidamente, já que, obviamente, seu Josias não está no clima de esperar.

− Já estou indo!

Em alguns passos chego à porta de casa, e enquanto giro a chave, já começo a me justificar, esperando que isso me ajude a convencê-lo:

−Olha, seu Josias! Eu sei que ontem venceu o terceiro mês do alu - O restante da palavra morre quando minha boca vai ao chão pelo choque de abrir a porta e me deparar não com seu Josias, mas com o maldito João Pedro Govêa. Pisco meus olhos várias vezes para ter certeza de que não estou alucinando, mas, então, me dou conta de algo óbvio e começo a gargalhar. Eu estou sonhando! Ainda estou dormindo! Nossa, isso tá tão realista! Inclino a cabeça para o lado encarando-o. Ele é tão malditamente bonito. Por quê?! Por que raios ele tinha que ter essa aparência? E esses olhos?! Até dentro da minha própria cabeça tenho a sensação de que eles podem me prender se eu não os evitar.

− Sabe, esse tá diferente... -comento, e ele levanta uma sobrancelha, como se não soubesse do que estou falando. Decido explicar: − O quê? Cansou de transar comigo nos meus sonhos? Eu sei que a gente tem feito muito isso desde segunda à noite... Huuum, você é tão cheiroso! - Aspiro profundamente seu cheiro: − Eu queria saber que perfume você usa, não que eu vá ter dinheiro para sequer chegar perto de um frasco que deve custar pelo menos três meses de compras aqui para casa, mas eu só queria saber mesmo. Se bem que, não é engraçado que mesmo sem saber o nome, toda vez que eu sonho com você, sinto seu cheiro como se você fosse de verdade? - O João da minha imaginação permanece parado na porta da minha casa, me olhando, agora, com as duas sobrancelhas levantadas, aparentando uma surpresa genuína com o que eu acabei de dizer.

− O quê? Não me olha desse jeito! Você tava lá! Pode ter sido sonho, mas eu não fiz nada daquilo sozinho! Nem quando a gente transou em cima da sua mesa, ou, depois, no sofá do seu escritório, ou, depois, no tapete, ou depois, na parede de vidro... aquela na parede foi o máximo. Quer dizer, se sexo é como eu acho que é, então sim! Foi o máximo! Aliás, o que você tá fazendo aqui? Esse lugar não combina com você, porque eu sonharia em trazer você na minha ca-

− Você realmente não faz ideia de que isso é real, né? - Me interrompe, enquanto estreita os olhos para mim e meu sorriso se apaga imediatamente.

− É o quê? - Pergunto alarmado, dando um passo para trás, piscando os olhos e começando a me arrepender de ter falado demais, ai meu Deus, não!

− Isso é real. Você não está sonhando... Eu realmente estou aqui, eu, de verdade. Não esse com quem você tem sonhado... Embora eu vá querer saber mais sobre isso depois... - Dou mais dois passos para trás, viro a cabeça levemente, desconfiado. Mas não, definitivamente não! Isso é minha cabeça me pregando peças, talvez seja meu subconsciente me alertando que eu devo parar de ter sonhos eróticos com o homem que me humilhou. Mas poxa vida, será possível que até nos meus sonhos esse infeliz precisa vir me atazanar e me humilhar?!

Não dava para a minha própria cabeça inventar uma maneira melhor de me dizer que eu preciso parar de me deixar ser tocada por ele nos meus momentos de sono? Parece que não, parece que ela decidiu me mostrar que esse homem não pode se dar por satisfeito com aquilo que eu tenho para oferecer, não é?! Eu posso sonhar que estou transando com ele quantas vezes forem, a realidade sempre vai ser aquele olhar de superioridade. Tudo bem, cérebro! Mensagem recebida! Mas se eu não pude agir como queria na segunda-feira, nos meus sonhos eu posso fazer o que eu quiser! E eu digo que chega! Ele passou de todos os limites vindo até a minha casa para me humilhar outra vez! Então, faço a única coisa que pode acabar com isso: me belisco com força!

A dor atravessa minha pele como uma flexa e eu quase perco o equilíbrio, não por causa dela, mas por causa da constatação.

− Ai meu Deus! - Sussurro baixinho. Eu acabei de dizer para o homem que me humilhou dias atrás com a sugestão de que eu era um prostituto que tenho sonhado estar fazendo sexo com ele. Ai meu Deus! Levo as mãos ao rosto, Deus! Isso não pode ficar pior, pode?!

− Será que eu posso entrar? - A pergunta me arranca das minhas divagações e eu encaro o homem à minha frente, de verdade, pela primeira vez, desde que abri a porta. O terno escuro, hoje, completamente montado, os cabelos levemente bagunçados, a barba cerrada. Ele é tão imponente que parece uma montagem aqui, parado na minha porta. Sua presença simplesmente não combina com o lugar.

− Não! Claro que não! O que você está fazendo aqui? Na minha casa? - pergunto, indignado, e ele enfia a mão no bolso, tirando de lá minha identidade e eu fecho os olhos. Puta merda! Eu nem mesmo tinha me lembrado dela até esse momento. Quando volto a olhar para ele, meu documento ainda está em suas mãos, mas ele não faz nenhum movimento para devolvê-lo para mim.

− Posso entrar? - refaz a pergunta e eu balanço a cabeça, negativamente, sem conseguir acreditar na cara de pau do infeliz.

− Não! Porque seja lá o que você acha que vai conseguir aqui, não vai! Se não ficou claro antes, me deixa ser bem claro agora -Dou alguns passos em sua direção, deixando nossos corpos perigosamente perto, e me arrependo imediatamente, porque é tudo o que é preciso para deixar minha mente atordoada pelo seu cheiro e pelo calor do seu corpo. Aquela sensação de atração volta me agarrar com tudo, e eu luto contra ela para conseguir dizer as palavras que, segundos atrás, estavam claras como água em minha mente: − Eu não sou um puto! E eu não vou ser o seu puto! Nem por um dia, uma semana, um mês ou um ano! EU NÃO SEREI SEU PUTO DE ESTIMAÇÃO!

− Você é uma coisinha atrevida, não é? Definitivamente, essa foi a maior sequência da palavra puto usada em uma única fala masculina que eu já ouvi na vida. - debocha e, como uma criança, eu me sinto afrontado.

− Puto, puto, puto, puto, puto, puto, puto, puto, puto, puto, puto, puto, puto... Sou interrompido pela sua gargalhada estrondosa e cruzo os braços na frente do corpo enquanto o encaro com

seriedade. Ele continua a rir sem pressa e, quando se dá por satisfeito, me encara ainda com um sorriso escancarado em seu rosto.

− Agora que você já deixou claro que consegue falar a palavra puto muitas vezes seguidas e que não é um, eu posso entrar? - Coço minha sobrancelha sem saber o que fazer com ele. Quer dizer, qual é o problema desse homem, além da óbvia disposição a me tirar do sério? O que ele pode querer na minha casa?

− Não! Se você veio devolver minha identidade, não precisa entrar pra isso. Estendo a mão em sua direção e ele olha para ela apenas por um segundo antes de voltar seu olhar para o meu rosto e sacudir o documento na frente dos meus olhos.

− Acho que não. Se você quiser isso de volta, vai ter que me deixar entrarriso seco escapa pela minha garganta.

− Você está dizendo que, se eu não te deixar entrar na minha casa, não vai devolver minha carteira de identidade? pergunto, incrédulo.

− É exatamente isso o que eu estou dizendo. -responde com a maior cara de pau do mundo enquanto volta a colocar o papel envolto em um envelope plástico transparente no bolso, e permanece me encarando.

− Você tem que estar de brincadeira! E vai fazer o que com ela se eu ainda assim disser que não?

− Provavelmente? Jogar fora... - diz com simplicidade, e eu não posso acreditar nisso.

− Você é inacreditável! Você, vovocê...

−Será que você pode me deixar entrar e me xingar enquanto estamos aí dentro? Eu realmente não estou muito confortável parado aqui fora. - Tenho minha fala interrompida mais uma vez e é só com essas palavras que me dou conta do quão desconfortável ele deve estar aqui, bem no meio de Paraisópolis. Um sorriso toma conta dos meus lábios automaticamente, porque eu finalmente tenho algo para usar contra ele, mesmo que dure apenas o quanto ele permitir, afinal, se ele decidir virar as costas e ir embora, eu fico sem absolutamente nada.

− Você está bem longe de casa, não é? - Debocho, e ele solta um suspiro, como se estivesse cansado.

− Sabe, Eduardo? Eu realmente não queria fazer isso, mas você é a porra da coisinha mais teimosa em que eu já coloquei meus olhos na vida!

Antes que eu possa perguntar “fazer o que?”, seus braços já estão ao redor da minha cintura, meus pés fora do chão, e ele dentro da minha casa, fechando a porta atrás de mim, deixando-me imprensado entre ela e seu corpo. Eu estremeço inteiro com o contato, a proximidade, o cheiro, absolutamente tudo dele tão perto. Sinto seus olhos em mim, mas não tenho coragem de levantar os meus, porque sei o que vai acontecer no instante em que confrontá-lo com o olhar. Sua respiração sopra mornamente sobre o meu nariz, sobre os meus lábios, suas mãos me seguram firmemente, seu corpo grande roça no meu e eu não tenho nem mesmo forças para tentar sair da prisão física em que me encontro.

− O gato comeu sua língua? -Pergunta e, eu, tolamente, caio na armadilha, levantando os olhos e encarando os seus. Aquela imensidão azul me traga inteira, mas, dessa vez, com seus braços ao redor de mim, seu corpo, colado no meu, com sua boca tão perto da minha, eu não me sinto distante, sozinho ou vazio, pela primeira vez, em muito tempo, sinto-me inteiro. Uma de suas mãos desliza pela lateral do meu corpo até alcançar meu rosto e seus dedos passeiam lentamente pela minha pele, acariciando minha bochecha.

− Você não pode me olhar assim e esperar que eu me afaste, Eduardo... - Seu dedo desce pela curva da minha mandíbula até encontrar meus lábios. Sinto seu toque e fecho os olhos com o corpo vibrando com um desejo impossível de negar, eu quero que ele me beije, quero tanto que quase dói. A sensação da sua pele em minha boca é quente, suave e, ao mesmo tempo, assustadora.

− Foda-se! - A voz baixa e rouca soa segundos antes que eu sinta sua boca na minha, e se o dedo foi quente, os lábios são como labaredas. Começa como um toque, mas ele encaixa meu lábio inferior entre os seus e chupa, sinto sua língua deslizando, molhando ali, e não resisto, solto um gemido, seus braços ao meu redor se apertam, colando nossos corpos ainda mais, ele puxa meu lábio com os dentes, esticando-o e prolongando o contato o máximo possível, antes de soltá-lo.

− Delicioso! - Murmura baixinho e passa a explorar meu rosto com o seu, sinto a ponta de seu nariz provocando minha pele, acendendo-me inteiro, fazendo me querer pedir, implorar por mais. Foi pouco, muito pouco. Quero resistir, quero empurrá-lo, me lembrar da forma como ele me tratou no escritório, mas não consigo, tudo o que consigo é querer mais.

Ele abaixa a cabeça, voltando a parear nossos lábios, depois, passa a língua, agora sobre os dois, e eu abro a minha boca em um convite escancarado, quase desesperado. Sinto seu sorriso quando ele deixa seus lábios levemente sobre os meus, mas apenas isso, sem nenhum contato mais íntimo. Sua mão em meu pescoço se move para minha nuca, agarrando-me ali e fazendo me abrir os olhos.

− Eu vou te dar o que você quer, o que nós dois queremos. -Diz enquanto seus dedos sobem e descem lentamente pela minha pele, brincando com os fios dos meus cabelos, arrepiando-me dos pés à cabeça: − Mas antes, nós vamos conversar.

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*** JOÃO PEDRO ***

EDUARDO ME ENCARA com olhos anuviados, ainda processando minhas palavras. Deus sabe o quanto estou me esforçando para não o despir e fazer com ele tudo o que disse que fizemos em seus sonhos. Que cara maluco da porra! O rosto sonolento e os cabelos bagunçados tinham deixado claro desde o momento em que apareceu na porta que eu o havia tirado da cama, mas daí a achar que ainda estava sonhando e desembestar a falar tudo aquilo? Ainda que eu não tivesse me decidido no momento em que o vi, teria me decidido assim que ele disse que sonhou estar transando comigo todas as noites desde que nos conhecemos.

O fato é que eu quero esse homem. Quis desde o primeiro momento em que o olhei, com roupas gastas, cabelos mal tratados e os olhos mais transparentes que já vi na vida. Tentei ignorar isso, tentei muito. Mas por que eu deveria? No caminho do escritório para cá tentei listar motivos para não o reivindicar, e, bem, não encontrei nenhum que realmente valesse a pena. Ainda assim, eu não tinha a intenção de fazer qualquer movimento nesse sentido, até ele abrir a porta. Bastou vê-lo e a sensação de ser atraído por um imã despertou como um dragão adormecido. Eu o quero, e ele vai ser meu, ah se vai!

Talvez eu não esteja cansado de não

ter tempo para algo. Talvez eu esteja cansado de não querer alguma coisa. Passei tanto tempo me dedicando e desejando a presidência do grupo Govêa, que agora que a conquistei, a vida parece vazia, sem propósito. Ou, pelo menos, parecia, até o pequeno homem desaforado entrar pela minha porta a dentro com seus olhos, ao mesmo tempo, assustados e obstinados.

O corpo pequeno aninhado em meus braços parece perfeito encaixado em mim. Sinto sua pele macia sob o toque dos meus dedos, sua respiração quente sobre os meus lábios, seus cabelos balançando sobre o meu braço, seu peito, espremido no meu tórax. Ele inteiro é uma delícia, mas a boca. A boca perfeita é fodidamente gostosa e eu só não o tomei inteiro ainda, porque quando eu fizer, quero que ele saiba exatamente o que isso significa. Passo meu nariz pelo seu rosto, aspirando seu cheiro gostoso, e provocando-o com o toque suave. Eduardo estremece em meus braços mais uma vez e meu pau fica ainda mais duro, insano com a forma que ele reage aos meus toques.

Respiro profundamente e me afasto, deixando seu corpo livre dos meus braços, calor e contato. Como se tivesse tomado um choque, Eduardo se desequilibra e precisa se apoiar na porta para permanecer de pé. Estendo minha mão para ele, e ele olha desconfiado, como se agora que não estamos mais grudados, ele tivesse voltado a pensar e então se lembrado de que eu sou o inimigo.

− Eduardo, eu não sou seu inimigo. - digo baixo e calmo. Eu sei que irritá-lo vai ser inevitável, mas se eu puder adiar isso...

− E o que você é, João? Porque com certeza não é meu amigo. - A resposta me faz sorrir, primeiro, porque ele simplesmente decidiu me chamar apenas pelo meu primeiro nome, quando meus pais são os únicos a fazerem isso, e depois, pela sua sagacidade em notar algo óbvio.

− Não, eu não sou. E nem quero ser. Vou ser outra coisa, Eduardo. Mas, primeiro, nós precisamos conversar, e eu preciso entender o que foi que aconteceu.

− Na entrevista?

− Também. Tem algum lugar aqui que a gente possa sentar, ou vamos precisar fazer isso em pé? - questiono e ele desvia os olhos para um banquinho plástico encostado ao lado da pequena geladeira. Aproveito não ser mais o alvo da sua atenção para olhar o lugar em que ele mora. O lado de fora é lamentável. A rua é escura e estreita, mal passa um carro. A casa é espremida entre outras duas e tem a fachada pintada em um horroroso tom de verde limão, se é que se pode chamar isso de casa, provavelmente tem um outro nome, é pequeno demais. Os muros estão descascados e a falta de uma proteção entre ela e a rua é inaceitável. Exceto por uma varanda que, na verdade, nada mais é do que um pequeno corredor, a porta de sua casa abre praticamente na calçada.

E, agora, olhando com atenção, o lado de dentro não é nem mesmo remotamente melhor. Horrível nem começa a definir. Minúsculo, apertado, escuro, quente, espera, aquilo ali, o que é aquilo ali? Ah, porra!

− Aquilo ali é a sua cama? -pergunto sem conseguir acreditar que ele durma sobre paletes e colchonetes.

− Se você vai começar a me julgar, pode sair pelo mesmo lugar por onde entrou. - É a resposta ácida que recebo e eu bufo. Porra de homem genioso!

− Um lugar pra sentar, Eduardo. É tudo o que nós precisamos. - Ele me olha com os olhos estreitados e anda até o banquinho de plástico. Andar é um exagero, ele dá dois passos, o que já é mais do que seria necessário. Acho que em dez passos dá para andar por todo esse cubículo que ele chama de casa. Sorrio, pensando no quanto ele esperneará quando eu disser que ele vai se mudar.

− Do que você está rindo? -pergunta com uma sobrancelha levantada e meu sorriso aumenta.

− De nada, Eduardo. De nada. Podemos? - Eduardo leva o banquinho e coloca-o de frente para a atrocidade que ele chama de cama, senta-se nela, deixando o banquinho para mim. Mais perto agora, passo meus olhos pela engenhoca e saber que ele está dormindo sobre àquilo há, sabe-se lá quanto tempo, começa a me irritar tanto, que preciso desviar os olhos.

− Por que você não tem uma cama, Eduardo? - Não consigo deixar para lá, e enquanto abro meu paletó e o retiro, pergunto. Dobro as mangas da minha camisa até a altura dos cotovelos e afrouxo a gravata, só então, com as pernas abertas, me sento no banquinho de plástico barato, ficando bem de frente para ele.

− Eu tenho uma cama. -Responde com tom de desafio e eu levanto uma sobrancelha e inclino minha cabeça. Ele entende meu questionamento mudo e bufa, indignado, como se realmente tivesse esse direito. Continuo esperando que ele me responda, e é só quando percebe que eu não vou falar antes de ouvir uma resposta melhor, que ele se rende.

− Eu costumava ter uma cama, mas quando o dinheiro do auxílio desemprego parou de chegar, precisei vender para pagar o aluguel. Vendi a cama e o armário, foi necessário...

− Entendi. - Digo olhando ao redor e constatando que suas roupas estão dentro de caixas de papelão: − E quanto tempo faz isso? - Pergunto, mesmo sabendo que vou odiar a resposta.

− Três meses. Mas por que isso te interessa, João. Você não é meu amigo e nós já concordamos que você não quer ser, então por que estamos falando disso?

Sorrio para ele.

− Nós também concordamos com

outras coisas, Eduardo. E saber sobre você faz parte delas.

− Eu não concordei com nada! Afirma, categórico, e eu inclino a cabeça e levanto minhas sobrancelhas para ele.

− Seu gemido me dizia outra coisa, meu bem. Mas nós chegaremos lá. - Minhas palavras tingem seu colo exposto e seu rosto de vermelho: − Você não precisa se envergonhar, nós somos adultos, nós dois queríamos, nós dois sabíamos o que estávamos fazendo, e não fizemos nada demais.

− Você me chamou de prostituto. - acusa, e a mágoa em sua voz responde ao primeiro dos meus questionamentos. Não, ele não decidiu se prostituir, então como caralhos aquele e-mail foi parar na minha caixa de entrada?

− Sim... Vamos falar sobre isso. Eu recebi um e-mail seu. -digo e, impossivelmente, seu colo e rosto ficam ainda mais vermelhos do que antes. Ele poderia, facilmente, competir com um tomate agora.

− Eu sei. Não... não era pra você! - A declaração me irrita, porque dá a entender que era para alguém. Aperto os dentes com força e, como consequência, minhas próximas palavras saem entredentes.

− E pra quem era, Eduardo?

− Pra minha amiga. - Isso me pega completamente desprevenido. Por que porra esse cara enviaria um e-mail como aquele para uma amiga?

− Você gostaria de explicar isso? - Sugiro, e ele revira os olhos.

− Você é extremamente mandão! Você nem tem ideia, Eduardo... Você nem tem ideia... Mas Logo vai ter... continuo encarando-o, deixando claro que ainda espero uma resposta e ele bufa, mas começa a falar.

− Era pra ser uma piada.

Simplesmente uma brincadeira. Só isso!

− Como exatamente uma coisa daquelas poderia ser uma piada?

− Acontece que minha amiga fez piada dizendo que eu deveria virar uma sugar baby, eu disse que estava velho demais pra isso. A piada era essa! Eu estou velho demais para ser sugar baby, mas não pra ser assistente pessoal! Era uma droga de uma piada! Mas eu digitei a merda do e-mail errado!

− Por que sua amiga sugeriria que você se tornasse uma sugar baby? - pergunto, curioso, e ele reage, como sempre, ácido.

− Caso você não tenha percebido - , fazendo um sinal com os braços para o espaço ao seu redor: − Dinheiro não está exatamente sobrando por aqui...

− Sim, isso é evidente, Eduardo! Mas procurar um emprego normal seria o que um amigo de verdade sugeriria. Não?

− Não se atreva a insinuar qualquer coisa dessas! Você não sabe nada sobre mim ou sobre a Joana! Você não tem esse direito! - Explode, elevando o tom de voz e levantando-se da armadilha que chama de cama. Ele coloca as mãos na cintura, em uma clara pose de combate, seus lábios fazem um biquinho ridiculamente delicioso e eu quero mordê-los. Ah, Eduardo Porto! Eu vou me divertir muito te tirando do sério! Me mantenho sentado e impassível, apenas observando-o e isso parece ter o efeito de irritá-lo ainda mais, Eduardo quer brigar, percebo.

− Você quer brigar Eduardo? Porque se você quiser, nós podemos fazer isso. Mas, depois, nós vamos sentar e conversar. É isso o que você quer?

− Quer saber? Eu quero que você vá embora. Quero que você saia da minha casa! - Se mexe, quando ele estica o braço, apontando para a porta. Expiro com força e desvio os olhos, precisando de alguns segundos para me concentrar, para pensar com a cabeça e não com o pau. Do contrário, vou imprensa-lo contra uma dessas paredes de fodê-lo até que ele não seja capaz de falar e se torne obrigado a me ouvir, porraaa...

− Isso não vai acontecer, Eduardo. Definitivamente não vai. Então você pode escolher. Podemos simplesmente sentar e conversar como pessoas civilizadas, ou podemos brigar primeiro, você pode tentar usar isso como artifício pra me expulsar da sua casa, eu posso te dizer que isso não vai acontecer quantas outras vezes você quiser, e então nós voltamos ao objetivo inicial, conversar como duas pessoas civilizadas. - Digo, ainda sentado no mesmo lugar, em um imenso exercício de autocontrole.

Eduardo me encara e pisca seus olhos redondos e azuis algumas vezes, como se não pudesse acreditar na minha audácia, não posso culpá-lo, ele ainda não me conhece, mas porra, isso é bom! Isso é fodidamente bom! Pela primeira vez em muito tempo, me sinto no controle de alguma coisa, justamente por ainda não ter o controle sobre ele, finalmente tudo parece estar certo. Eduardo me dá as costas e anda alguns passos até a geladeira, presto atenção. Ele abre e fecha o eletrodoméstico com uma velocidade assustadora, tirando de lá uma garrafa de água, mas isso não me impede de ver. Puta que pariu!

Me levanto do banco em um salto e em dois passos largos alcanço o refrigerador branco e encardido. Eduardo me encara com olhos assustados e eu levo a mão até a porta. Ele se encosta na geladeira, tentando me impedir de abrir e eu abaixo o braço. Ele respira aliviado, mas só até eu prender minhas mãos em seus quadris estreitos e movê-lo sem nenhuma dificuldade, ótimo, mais uma preocupação, se eu fizer o que quero, do jeito que quero com ele, provavelmente vou quebrá-lo. Só melhora!

− Me solta! João, não! Não! Você não pode fazer isso! - Ele se debate e esperneia enquanto eu o seguro, me colocando entre ele e o eletrodoméstico.

− Existem poucas coisas que eu não possa fazer, Eduardo. E abrir sua geladeira, não é uma delas! - Afirmo, soltando-o e me virando. Quando a porta se abre, não me surpreendo ao encontrar exatamente o que esperava, um vazio absoluto, mas me emputeço e preciso respirar fundo para não explodir. Lentamente, volto a encará-lo.

− Sua mãe não te deu educação? Não te disse que não se abre a geladeira na casa dos outros? - São suas palavras.

− Sim, ela deu, mas, nesse momento, eu não estou nem um pouco preocupado com a minha mãe, Eduardo, e sim com a sua! Cadê ela? Você tem vinte e dois anos, porra! Por que caralhos você está sozinho, em São Paulo, sem poder pagar seu aluguel, ou encher sua geladeira, se sua mãe está viva, bem e empregada em São Roque?

Os olhos dele se arregalam e ele solta um arfar surpreso.

− Co-como vo-você sabe onde e como minha mãe está? -pergunta, baixo.

− Eu sei de muitas coisas, Eduardo. Mas o que eu não sei é a resposta para a pergunta que eu te fiz, e eu espero que você me dê.

− Como? Como você pode saber da minha mãe? - repete a pergunta, e eu esfrego os olhos, perdendo a paciência.

− Eu investiguei você, Eduardo. Agora você pode me dizer por que ela está lá, bem, e você está aqui?

− Você fez o quê? -Novamente, sua voz soa baixa, quase sussurrante, ele pisca os olhos muitas vezes e leva a mão à boca.

− O que eu devia ter feito antes. Teria nos poupado um grande evento! Agora, me responde. Onde está a sua mãe? Balança a cabeça para um lado e para o outro antes de estalar a língua e consertar a postura dos ombros. Vejo o momento exato em que acontece e não me impeço de sorrir. O momento em que a raiva e indignação substituem sua incredulidade.

− Você acha isso engraçado? Sai da minha casa! SAI DA MINHA CASA, AGORA! - grita as últimas palavras, com uma braveza que tenho dificuldades para acreditar que caiba em um corpo tão pequeno.

Me recosto no eletrodoméstico atrás

de mim calmamente, enquanto ela expira com força e, novamente, o vermelho tinge seu rosto e colo. Dessa vez, não é vergonha, mas raiva. Seu peito sobe e desce em consequência do seu grito, e, se ele fosse um desenho animado, tenho certeza de que sairia fumaça dos seus ouvidos.

De pé, de frente para ele, seguro seu queixo entre meu polegar e indicador e ele bate em minha mão, expulsando meu toque de sua pele, ah porra! Avanço meu corpo sobre o dele, passando um braço por baixo do seu e segurando a raiz dos cabelos em sua nuca, obrigando-o a olhar para mim, volto a segurar seu queixo entre meus dedos.

− Acho que você decidiu brigar, então? - Pergunto, e vejo suas narinas se alargarem. Sorrio mais largo, algo precisa ser dito sobre esse cara, ele me faz sorrir muito. Olho em seus olhos, adorando ver toda a raiva lá, e eu o beijo. Sem pudores ou delicadeza. Mordo seu lábio e quando ele abre a boca, invado-o com minha língua e puta que pariu! Fodidamente gostoso! Porra!

Beijo-o intensamente, Eduardo reluta no início, mas são necessários apenas alguns segundos do toque para que ele se entregue e sua língua dance com a minha em um ritmo acelerado e delicioso. Ela é quente e delicada, mas responde à minha urgência com a mesma intensidade e prazer. Solta gemidos baixos e impulsiona o corpo na direção do meu, arrasto uma mão por todo o seu corpo, tocando seu peito, sua cintura, suas costas, seu quadril, até agarrar sua bunda e puxá-lo ainda mais para mim. Desço minha boca pelo seu queixo, lambendo, arrastando minha língua pela pele quente, alva e macia, ele geme baixinho, e percebo que essa é mais uma das situações em que quero vê-lo perder o controle.

Arrasto meus dentes pelo seu pescoço e maxilar, até chegar à sua orelha, mordisco e lambo seu lóbulo. Antes de sussurrar.

− Você quer brigar, Eduardo? Podemos brigar! Mas vai ser assim. Então, eu vou perguntar outra vez, você quer brigar agora pra conversar civilizadamente depois, ou quer conversar primeiro? Porque independente da resposta, eu não vou a lugar algum.

Ele geme sob meu toque, e se esfrega manhosamente em mim, lambo seus lábios de olhos abertos, encarando-o.

− Brigar ou conversar, Eduardo? Pergunto em sua boca e ele morde o próprio lábio, eu o lambo e o chupo de entre seus próprios dentes. Ele fecha os olhos e inspira profundamente, prende o ar, e, só depois, o solta, também com lentidão.

− Conversar. - Fala baixinho.

− Tudo bem, conversar então. Confirmo e deixo um beijo na ponta de seu nariz antes de soltá-lo e voltar a me encostar na porta da geladeira, me afastando um passo. Ele desliza os olhos pelo meu corpo e, quando seu olhar alcança a enorme ereção nas minhas calças, seus olhos se arregalam, ele ofega e lambe os lábios.

− Se você não parar de me olhar assim e de lamber a porra dos lábios desse jeito, sou eu quem vai querer brigar, Eduardo! - Advirto e seus olhos rapidamente voltam para o meu rosto: − Sua mãe?

− Você não pode querer que eu ache normal você ter me investigado!

− Eduardo, você me pesquisou no google? - pergunto e ele, imediatamente, fica vermelho.

− É diferente!

− Como é diferente? Eu só tenho mais recursos do que você, a atitude foi a mesma. Não é minha culpa se você só tinha o google e eu tinha um bom investigador particular.

− Você é inacreditável!

− E você está ficando repetitivo... Respondo com ironia: − Já podemos falar da sua mãe?

Eduardo abre e fecha a boca algumas vezes, como se quisesse argumentar. Mas depois de algumas tentativas falhas, finalmente se rende.

− Ela não sabe! - Diz baixo, e ele deveria ficar vermelhk permanentemente durante essa conversa, pouparia ao seu corpo o esforço de ficar mudando de cor.

− Como assim ela não sabe? Questiono com uma sobrancelha se arqueando: − Vocês se falam todo fim de semana, religiosamente! Como ela pode não saber, Eduardo?

− Você ... – Ele começa, mas eu o interrompo.

− Google, lembra? É a mesma coisa. Foco, Eduardo, foco!

− Eu minto, droga! Eu minto pra minha mãe! - Diz, por fim, antes de esconder o rosto nas mãos, um gesto que deixa mais claro do que a coloração vermelha que se espalhou por toda a sua pele, o quanto fazer isso o envergonha, e embora isso esteja óbvio, franzo as sobrancelhas, confuso sobre porque ele faria algo assim.

− Sobre o que, exatamente, você mente?

- Ela acha que eu tenho um emprego, moro num apartamento incrível e estou no terceiro período da faculdade. Me admira que seu detetive não tenha descoberto isso também! Aliás, será que se você perguntar, ele te diz a cor da cueca que eu estou usando agora? Ele não perde a oportunidade de alfinetar, mas eu ignoro, até porque, o simples pensamento de alguém sabendo a cor de sua cueca me incomoda. Cruzo os braços na frente do peito e inclino a cabeça para o lado.

− Por que, Eduardo? Por que você faria isso? Ela poderia te ajudar... eu não entendo...

− Não aqui. - Gesticula com os braços: − Ela não poderia me ajudar aqui! Eu teria que voltar pra São Roque, ou conviver com a infelicidade dela, sabendo que eu estou vivendo aqui nessa situação. Eu não queria nenhuma dessas opções, então criei uma terceira!

− Mas por que a ideia de voltar para São Roque é tão ruim?

− Você não entende! Não tem nada lá pra mim, nada! Um casamento ou um emprego como empregado de alguém eternamente, eu não quero isso pra mim, eu quero mais... só que...

− Que ainda não deu certo. Completo, e ele balança a cabeça afirmativamente para mim. Suspiro com força, agora, entendendo um pouco melhor o cenário. A mãe dela não tem culpa do que está acontecendo, nem faz ideia de que o filho mora nessa espelunca e que não tem uma cama descente para dormir.

− Entendo. E você comeu hoje, Eduardo? - Faço a pergunta que está me corroendo desde que abri a geladeira, mas da qual eu sabia que se perguntasse imediatamente, ele se esquivaria de me responder sinceramente. Agora, com a mente distraída pela mãe, ele sequer precisa usar palavras para me dizer o que preciso saber. Seus olhos se arregalam, e quando ele abre a boca eu nem deixo que comece:

− Porra, Eduardo! Porra! Nem tenta negar! Tá escrito no seu rosto! Era por isso que você estava dormindo tão cedo, não era? Pra não comer! Puta que pariu! - É a minha vez de gesticular com os braços. Me desencosto da geladeira e caminho até meu paletó, perto da pilha de estacas de madeira em que ela dorme, procurando pelo meu celular. Bufando de raiva, penso em fazer um pedido de delivery no meu restaurante habitual, mas é lógico que eles não vão entregar aqui.

Depois de abrir o Ifood, encontro uma casa de massas e olhos as opções de pizzas, mas acabo optando por uma lasanha, afinal, ele precisa de uma refeição, porque se eu tiver que adivinhar, posso apostar que ele também não almoçou hoje. Sua vida financeira está caótica, e meu cara me disse que ele estava com graves dificuldades, mas porra! Eu não estava preparado para esse nível de dificuldade. Faço o pedido sem me importar em perguntar o que ele prefere. Aproveito o tempo que levo para escolher a comida para me acalmar, a culpa não é dele, e eu sei disso. Mas, caralho! Por alguma razão esse cara me desperta um instinto de proteção para lá de exagerado, e a cada vez que percebo que ele está sofrendo de alguma maneira, fico puto para caralho!

Arrastando as mãos do rosto até o cabelo de baixo para cima, me viro para ele, e o que vejo me desmonta: lágrimas.

− Não, Eduardk! Não... -Caminho em sua direção e o abraço: − Está tudo bem! - Digo enquanto passo os dedos sobre suas lágrimas, secando-as.

− Eu não tenho dinheiro, então eu preciso comer menos. Eu, eu queria comer, mas não podia. -diz, baixinho, e eu quero me socar por ter explodido com ele, não é culpa dele, porra! Grudo meus lábios em sua testa e aspiro seu cheiro gostoso. Depois, abaixo meus olhos até os seus e roço meu nariz no dele.

− Desculpa, eu sei que não é culpa sua. - Acaricio seu rosto devagar: − Já resolvi isso. A comida deve chegar em quarenta minutos.

− Você pediu comida pra mim? -

Pergunta e seus olhos, tão transparentes, são uma mistura de emoções: constrangimento, esperança, ansiedade e a pior de todas, gratidão. Por um prato de comida, ele está grata pela porra de um prato de comida: − Você não precisava ter feito isso!

− Eu precisava, sim. Nada que você precise é desnecessário! -afirmo enfaticamente, e seus olhos brilham com lágrimas não derramadas.

− Vem! Vamos sentar! Eu o pego pela mão e voltamos para o seu castigo travestido de cama. Olho para a coisa e torço os lábios antes de expirar com força e me sentar. A porra é dura feito o inferno e uma farpa de madeira se agarra à minha calça quando eu impulsiono o corpo para trás para me encostar à parede, puxando um fio e arruinando o tecido.

− Ai meu Deus! Sua calça, ai meu Deus! Ai meu Deus! - Eduardo exclama em um desespero genuíno que acaba me fazendo rir.

− Está tudo bem, é só uma calça! Tranquilizo-o.

− Só uma calça? Essa calça deve custar o preço de um ano do meu aluguel e, agora, ela está arruinada por causa da minha cama! Ai meu Deus! - Repete o apelo divino como se ele realmente pudesse solucionar o problema sobre o qual ela está se lamentando.

− Mas ainda é só uma calça. Respondo, sem mencionar o fato de que, na verdade, a calça pagaria, pelo menos, três anos do seu aluguel: − Vem aqui. Chamo, batendo a mão ao meu lado na armadilha que embala seus sonhos.

Ele se ajoelha e engatinha até chegar na parede e a visão me tira de órbita por breves segundos. A imagem delame fazendo a mesma coisa, nu, na minha cama, faz meu pau doer, apertado na calça arruinada e eu solto o ar com força. Quando ele finalmente se senta ao meu lado com as pernas cruzadas, viro meu rosto para ele e vejo a pergunta lá.

− Pergunta, Eduardo. - Ele me olha surpreso, mas a curiosidade vence sua vontade de discutir.

− Por que você está fazendo isso?

− Porque eu sou um cara legal? questiono, com uma sobrancelha arqueada, e ele inclina a cabeça para o lado, me dizendo com sua expressão facial que essa não é uma resposta crível: − Ai! Essa doeu! Mas você está certo. Eu não estou fazendo isso porque eu sou um cara legal. Eu estou fazendo isso, porque eu quero você. - respondo com simplicidade, e ele ofega em surpresa. Abre a boca e franze a testa.

− Você me quer? Como assim você me quer?

A pergunta me faz rir alto. Eduardo é tantos homens em um só, que é capaz de enlouquecer qualquer pessoa. Como é possível que o mesmo cara que digitou aquele e-mail esteja aqui, na minha frente, como os olhos marejados por eu ter lhe comprado comida, me perguntando “como assim eu o quero?”

Me virando para ele, levo minha mão ao seu pescoço, acariciando ali enquanto o olho nos olhos. Ele leva apenas três segundos para fechar os dele, então, aproximo minha boca da sua e lambo seus lábios.

− Do único jeito possível, Eduardo. Sussurro e ele voltar a abrir os olhos. Nos encaramos em silêncio por vários segundos até que eu a solto, me afastando.

− Você quer me namorar? -Sorrio, porque é claro que ele entenderia errado.

− Nós vamos chegar ao que eu quero, mas precisamos terminar nossa conversa. Você ainda não me explicou como, exatamente, seu e-mail foi parar na minha caixa de entrada.

− Eu já disse. Digitei errado. Acontece que seu e-mail é exatamente igual ao da Joana, só que o dela tem um u depois do go, o seu não. Eu esqueci de digitar o u, e pronto! Foi feita toda a confusão. Você achou que eu era um prostituto e decidiu me chamar pra uma entrevista só pra me humilhar...

− O quê? - pergunto, imediatamente, e ele me olha como quem faz uma declaração silenciosa que eu me recuso a aceitar como resposta: − Do que você está falando?

− Da entrevista em que você me disse que eu não era o que você esperava, que poderia me contratar se eu aceitasse trabalhar por diárias e, por último, a minha preferida, quando você me perguntou, perguntou se... -Começa com um ar de afronta, mas se enrola na última parte e, enquanto o observo com o cenho franzido, me dou conta de qual é o problema. Ele não consegue falar cuzinho. Não consigo me conter e gargalho. Eduardo me encara enraivecido, e percebo que ele se prepara para se levantar, antes que ele tenha a chance, eu o puxo, sentando-o em meu colo, encaixando-o com as pernas ao redor das minhas. Ainda sorrindo, pergunto.

− Você não consegue dizer, consegue? - Vermelho, ele bufa e estreita os olhos pra mim: − Você está com medo de dizer que eu perguntei se seu cuzinho era virgem, Eduardo? - Sussurro em seu ouvido e seu corpo estremece levemente em meus braços.

− Porra, eu adoro como você reage a mim! - volto a sussurrar e, depois, arrasto minha língua até o seu pescoço, arranhando sua pele com minha barba. Ele geme baixinho, eu planto um beijinho ali e subo a língua, lambendo sua garganta, seu queixo, até chegar à sua boca. Não consigo resistir e o beijo, segurando sua cintura com força, mergulho minha língua em sua boca e me delicio com ela, explorando cada canto molhado, chupando e lambendo sua língua, enquanto aproveito a sensação de sua pele macia sob minhas mãos, o beijo dura uma eternidade, e só acaba porque precisamos respirar.

Acaricio seu rosto e ele me encara com olhos azuis claros e ansiosos. Cheio de desejo, posso ver o tesão neles, praticamente escrito com letras garrafais.

− Eu não quis te humilhar, Eduardo. Eu queria te entender, mas aquelas suas respostas me tiraram do sério, e cheguei a um ponto em que só queria ver você perder o controle.

− Me entender?

− Não é todo dia que eu recebo um email como aquele no meu endereço pessoal. Na verdade, foi o primeiro desde que a conta existe. Eu precisava saber do que se tratava. Quando pedi à Norma para marcar uma entrevista, não imaginei que ela conseguiria, e quando ela disse que conseguiu, eu achei que se tratava de um prostituto. Você me enviou um currículo sexual e um contrato de prazer, Eduardo.

− Era uma brincadeira. -Sussurra, olhando em meus olhos, e eu beijo seus lábios com suavidade.

− Mas eu não sabia. E você não percebeu que sua amiga não recebeu seu e-mail? Quer dizer, ela comentaria se tivesse recebido algo como aquilo, não?

Seu rosto volta a ficar vermelho e eu arqueio uma sobrancelha, aguardando, porque já sei que suas próximas palavras a envergonham.

− Eu estava usando a internet do vizinho, e ela é meio lenta, às vezes cai. Quando a Jô disse que não recebeu nada...

− Você deduziu que a internet tivesse caído, mas você não percebeu na hora? Não sentiu falta enquanto estava usando? -Seu rosto sobe alguns tons na escala de vermelho e eu espero pelo que virá.

− Eu não estava exatamente usando, eu meio que estava... roubando a internet do vizinho enquanto ele foi buscar o filho na escola. Eu enviei o e-mail quando o escutei no corredor, então tive que desconectar, ou a internet ficaria muito mais devagar, ele poderia desconfiar e mudar a senha...

− E você usava a internet dele para enviar os currículos. - digo o que ele deixou de fora. Seu rosto atinge o que eu acredito que seja o tom máximo na escala rubra e ele balança a cabeça em concordância. Expiro com força, mais essa agora. Pelo menos, agora, as coisas ficaram muito claras.

− Tudo bem, então agora é hora de a gente conversar sobre o que eu serei seu.

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Comentários

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Estou gostando muito do inicio deste conto, espero logo os personagebs encontrem o caminho certo para viver este que pode ser um dos seus melhores contos.

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Muito boa a série!!!! Estou amando! Parabéns!

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Parece que um descobriu o que outro e,foi ou pode ser, e tudo que foi planejado anteriormente será realizado? Agora o que os dois irão fazer para começarem a viver algo que nem ambos sabem.o que é?

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Estou apaixonado pela sua história e no grau máximo da ansiedade se fosse um livro o leria sem parar até o fim. Vejo que você posta todo dia e agradeço. O conto mostra uma realidade bastante comum e você escreve com uma riqueza de detalhes sensacional. Estou preso na leitura e querendo muito ver esse desfecho que tomara seja maravilhoso. Duas realidades tão diferentes e opostas mas que podem se completar. Pelo menos uma coisa eles teem em comum, a carência e muito afeto para compartilhar. Parabéns e muito obrigado pelo conto.

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Interessante como o autor usa de argumento para juntar as duas realidades distintas de modo que possa surgir uma relação de amor e compreensão. Que espero que o final seja assim, né. Basta da realidade atual .

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