Marmita - Parte 5

Um conto erótico de Márcia (Pelo Mark)
Categoria: Heterossexual
Contém 4457 palavras
Data: 21/04/2023 01:21:46
Última revisão: 21/04/2023 01:52:44

Tiramos uma semana de férias no litoral norte de São Paulo. Minha família foi acompanhada de um casal bem maduro. Ele, amigo de infância do meu pai, coincidentemente se chamava Vicente e ela, Luíza. Eram a personificação de um casal brincalhão, ótimas companhias. Alugamos uma bela casa, próxima à praia, com três suítes: meus pais ficaram em uma, o outro casal noutra e eu na última, mas minha mãe cortou minhas asas:

- Nem vá se animando muito. Talvez a filha deles venha passar uns dias com a gente.

- Uai, e onde é que ela tá?

- Trabalhando. Ela é advogada num grande escritório de São Paulo se não me engano, mas disse que tentaria tirar alguns dias de descanso.

(CONTINUANDO...)

Os três primeiros dias passaram voando. Aproveitei para tomar sol, e mais sol, e mais sol, e mais sol… Poxa! Não tinha ninguém da minha idade e eu ainda não gozava de liberdade para passear sozinha. Os assuntos entre eles eram sempre os mesmos e eu me sentia um pouco deslocada, por mais que minha mãe e a dona Luíza tentassem me agradar.

Tudo mudou no quarto dia, quando a filha do casal chegou num carro lindo, branco, chique no último. Não que eu entendesse de carros, mas aquele me encheu os olhos. Ela chegou brincando e cumprimentando seus pais e depois, cumprimentou os meus como se já os conhecesse há tempos. Ela até não me parecia estranha, mas eu não me lembrava de onde a conhecia:

- Márcia, essa é a doutora Annemarye. Doutora, essa é minha filha, Márcia. - Disse minha mãe toda formal.

- Se for pra me tratar com essa frescura toda eu vou embora, dona Ana. - Ela retrucou minha mãe e veio me dar dois beijos no rosto, depois emendando um terceiro, brincando: - É três pra casar, né?

- “Deusolivre!” - Falei num mineirês mais que coloquial e ela riu alto.

- Ara, gente! Eu ainda falo com esse sotaque todo? - Ela perguntou, enquanto me abraçava: - Acho que eu sei porque todo mundo fica me encarando em São Paulo quando eu abro a boca.

Não sei o porquê, mas eu gostei dela! Acho que meu santo “ornou” com o dela de cara porque ela começou a me carregar para cima e para baixo. Sozinha, eu não podia sair, mas com a Annemarye fiquei liberada. Passeio pela cidade? Juntas! Sorvetinho no calçadão? Juntas de novo! Praia? Olha nós ali, juntas outra vez.

Aliás, passamos a ser o centro das atenções na praia o que não foi nenhuma surpresa, pois ela é linda, alta, simpática, carismática, inteligentíssima e com um corpão de arrasar quarteirão. Quando ela ia para o mar, não tinha homem que não encarasse aquela bunda balançando para lá e para cá. E na volta então? Seus seios, apesar de firmes, subiam e desciam conforme caminhava e isso devia ser uma tortura para os marmanjos de lá:

- Você não vai entrar, Márcia? A água está uma delícia!

- Sei não, hein! Cê tá toda arrepiada. - Falei, apontando para seu braço.

- Deve ser o vento ou então esses gatinhos me secando… - Ela retrucou, sorrindo divertida e perguntou: - E você, não arrumou nenhum paquerinha ainda, por quê?

- Paquera!? Ah, nã, na, nã, na, não! Só tive dor de cabeça com isso.

- Que é isso, menina? Que dor de cabeça, o quê? Homem é tudo de bom, desde que a gente leia a bula antes de usar.

Começamos a rir e ela me perguntou se eu tinha encrencado com algum namoradinho. Não sei por quê, mas senti confiança de me abrir com ela e contei tudo o que eu havia passado, desde o início. Conforme eu ia falando, ela ia me olhando com mais seriedade, literalmente fechando a cara enquanto me ouvia, chegou inclusive a se sentar do meu lado para prestar atenção em meu relato:

- Então, é isso. Prefiro ficar quietinha no meu canto do que me enroscar novamente.

- Nossa! - Ela disse e tirou os óculos escuros para me encarar: - Você sabe que ele te estuprou, não sabe?

- Então, eu acho que sei…

- Não, não tem “acho que sei”. Ele te estuprou, eu estou te afirmando isso! Ele foi um canalha com você. - Ela insistia, séria e inconformada: - Você o denunciou?

- Não. Eu não queria prejudicá-lo…

- Prejudicá-lo, Márcia!? Ele errou com você, não você com ele. Você é a vítima nessa história.

- É, a médica da minha mãe me falou isso também, mas eu sei lá… - Conversava agora meio constrangida por ter agido como agi, mas me justifiquei: - Eu só não queria prejudicar ninguém, nem ficar na boca do povo, e você sabe como é o povo lá na nossa cidade, não sabe?

- Ô, se sei! - Disse e balançou a cabeça, concordando.

- Então, e eu também não sei, mas acho que eu posso ter dado uma abertura, sei lá, talvez ele tenha entendido errado, que pudesse ir e ir, e acabou chegando onde chegou.

- Olha só, lição da irmã mais velha: sexo é ótimo, uma delícia, bom demais da conta mesmo, mas só se você quiser e estiver pronta e disposta a aproveitá-lo. Se você não quer, é não e pronto! O homem deve saber respeitar a sua vontade; se você tiver dúvida, é não também. Homem que não sabe se portar não é homem, é moleque ou bandido.

- Pois é, acho que ele só foi moleque mesmo…

Ela ia falar mais alguma coisa, mas o celular dela começou a tocar naquele instante e ela atendeu a chamada no viva voz após ver a foto de um moço bonito na tela:

- Alou? Pois não, moço?

- Que é isso, Anne, tá me estranhando!? - Ele falou, rindo: - Quando você vai voltar? Já estou com saudade.

- Uai, te conheço não, moço! E cê não pode ter saudade de mim assim, sem antes me conquistar, entendeu?

- Oras, mas te conquistar à distância não seria justo. Você não merece menos que eu todinho aí para fazer isso!

- Nu! Que homem romântico, sô. Por que você não vem pra cá, então? - Disse e me deu uma piscadinha.

- Você é foda, hein!? Sabe que eu não posso. Estou trabalhando igual um louco aqui.

- Então, senhor Enzo, acho que irá ficar na vontade hoje.

- Sacana do caralho! - Disse e riu alto: - Tá bom, então. Segunda a gente se vê. Fazer o quê, né?

- Pois é! Opa, passou um gatinho aqui.

- Como é que é?

- Não, nada não. Beijo então, querido.

Eles desligaram e ela me encarou, sorridente:

- Meu quase namorado, Márcia. Se a gente tratar direitinho, eles tratam a gente que é uma maravilha.

- Tá com cara de que vai dar casamento, hein?

- Casamento!? Que... que casamento o quê? Cê tá louca!? A gente nem começou a namorar direito, nem estou pensando nisso ainda.

Nisso passaram dois garotos, talvez da mesma idade que ela, ao nosso lado e nos encararam sem timidez alguma. Eu até estava com vontade de dar uns beijos, mas a Annemarye pareceu não ter dado bola. Assim que eles se afastaram em direção ao mar, suspirei fundo e ela riu:

- Nossa, irmãzinha, cê tá precisando dar uns beijos, hein!?

- Ah, bem que eu queria mesmo. O foda é que homem só quer saber de foder a gente, Anne.

- Eles sempre querem, Márcia, a questão é você querer. Você impõe o limite, tá entendendo? Tem até um ditado que diz mais ou menos assim, “a mulher transa quando quer, já o homem transa quando consegue”. Nós é que ditamos o momento. Por isso, eu te disse que você foi estuprada por aquele tal, como é o nome dele mesmo?

- Magal.

- Isso! Magal… - Ela tomou um gole de sua caipirinha e me encarou, sorrindo: - Que bosta de nome, hein? Magal, nome de cantor brega. Misericórdia!

- Cê acha que eu deveria denunciá-lo?

- Olha, agora é tudo muito mais difícil, porque as provas bio-físico-psicológicas, tipo sêmen, rompimento recente do hímen, trauma psíquico imediato, já se perderam, então você dependeria de prova testemunhal que é muito difícil para confirmar o crime em si.

- É… Melhor eu esquecer disso.

- Olha, eu não concordaria se tivessem me pedido a opinião logo após o acontecido, mas agora eu concordo... Guarde apenas o aprendizado para nunca mais cair numa roubada dessas.

- Ah, falar é fácil. Como eu conseguiria evitar isso? Ele é muito maior e mais forte que eu, teria conseguido fazer o que fez de qualquer jeito.

- Não se você não tivesse aceitado ficar com ele sozinha em um carro num local afastado, né, Marcinha? - Ela rebateu, olhando-me agora por sobre seus óculos escuros e torcendo o bico: - Você deu bobeira! Se tivessem ficado só no ambiente onde estava toda a sua galerinha, nada disso teria acontecido e daí você poderia tê-lo conhecido com mais calma e decidido se ele seria o seu primeiro homem ou não.

- É, você está certa... Meus pais até chegaram a me ensinar isso, mas... - Disse constrangida pela minha ingenuidade naquele momento: - Poxa! Por que meus pais não conversaram comigo assim depois? Eu teria entendido bem mais de boa. Eles só chegaram me criticando, dando castigo, tirando minha liberdade...

- Márcia, seus pais devem estar se penitenciando até hoje por não terem conseguido te proteger. Eles só reagiram da forma como entenderam ser a melhor para não te expor a novos riscos. Isso é errado, porque os riscos sempre vão existir. O melhor é sempre orientar para que você aprenda sem precisar passar pelo trauma, mas o que eles fizeram foi nada mais que uma forma de te proteger, do jeito deles, é claro.

- Nossa, você devia ser psicóloga.

- Todo advogado é meio psicólogo e padre. - Disse e tomou outro gole de sua caipirinha, dando uma risada gostosa de si mesma: - E louco também! Cara, sei de cada história de cliente que, se eu te contasse, você ficaria de cabelo em pé.

- Olha que fiquei curiosa, hein! - Disse e me sentei, encarando-a.

- Não mesmo! Padre, lembra? Temos que manter o segredo das confissões ouvidas.

- Ahhhh… Chata!

Começamos a rir e os dois carinhas que haviam passado em direção ao mar, agora voltavam, pingando e balançando seus paus dentro das sungas. Não tive como não encará-los, pois pareciam estar excitados e quase armando uma barraca. Acho que eles queriam se exibir para ver qual seria a nossa reação: eu fiquei perdida, a Annemarye deu uma olhada por cima de seus óculos, mas nem se abalou. Eles se aproximavam a cada momento e a direção agora era certa: o destino éramos nós! Pararam a poucos centímetros de onde estávamos:

- Olá, gatinhas. Estão sozinhas? - Perguntou o que parecia ser o mais velho deles.

Nós nos olhamos e Annemarye sorriu sutilmente para mim, assumindo as “conversações”:

- Não exatamente, moço. Estou com minha irmãzinha aqui. Por que? Algum problema?

- Problema algum, morena. É que viemos aqui hoje curtir uma praia e o sol, mas acabamos ficando ofuscados com o brilho da beleza de vocês…

- Nu! O gatinho fala bem, não fala, Márcia?

- É, né!? Acho que sim… Sei lá. - Respondi, sentindo minha face queimar de vergonha.

- Eu sou o Anderson, Andinho para os amigos e este aqui é o meu primo, Fabinho. Será que a gente poderia, sei lá, ficar aqui e curtir um pouco com vocês?

- Uai, depende: que história é essa de curtir?

- Ora, bater um papo, conversar, beber, nos divertimos juntos…

A Annemarye parecia já ter analisado o perfil dos dois no primeiro contato e não parecia estar muito disposta. Ela devia ter visto algo que eu não tinha, pois não parecia querer ceder e deixou isso bem claro na sequência:

- Obrigada, queridos, mas nossos pais já devem estar chegando. Viemos passar uns dias em família e acho que namoricos das filhas não estão nos planos deles.

- Orra, meu! - Disse o mais velho deles: - Bem, se mudarem de ideia, estamos pela praia. - Ele falou agora com uma cara de poucos amigos, se levantando e saindo com o Fábio.

Assim que se afastaram eu falei:

- Mas eles eram tão bonitinhos e pintudinhos... Por que?

- Eram dois moleques…

Virei-me para olhá-los ainda se afastando e depois encarei a Annemarye:

- De onde você tirou isso?

- Das posturas deles, Márcia. Aprende com a irmãzona: O Andinho já chegou se abaixando e tocando a minha perna duas vezes, um homem de verdade se aproxima, mas respeita o espaço e só toca a mulher quando ela dá uma deixa ou se aproxima dele. Já o Fábio parecia ser imaturo, nem abriu a boca, mas nos encarava como se fôssemos dois pedaços de carne quase prontos para serem devorados.

- Credo! Mas então não vou arrumar um homem nunca.

- Homem não é igual moleque, Márcia! Ter um pau no meio das pernas não faz de ninguém um homem! A postura, o respeito, a educação, e mais um tanto de coisa, faz um homem. - Ela parou, tomou outro gole de sua caipirinha e me olhou: - Quer saber, hoje à noite a gente vai sair para paquerar. Vou te ensinar a ensinar a separar o joio do trigo.

- Ah, meus pais não vão deixar…

- Vão sim! - Ela me interrompeu e concluiu: - Deixa comigo. Se tem algo em que sou boa é convencer as pessoas.

Passamos o dia na praia, jogando conversa fora. Ela me falava de suas experiências e, num dado momento, passou a falar até das sexuais. Ela parecia realmente saber o que estava falando e fiquei curiosa em como seria vê-la colocar tudo aquilo em prática. Voltamos para a casa na hora do almoço e, no trajeto, ela viu um folheto pregado num poste, falando de um luau que seria realizada à noite, perto dali:

- Pronto! Já temos onde ir hoje à noite.

Chegamos em casa e meu pai estava fazendo um churrasco ao lado do pai dela. Nossas mães estavam na cozinha preparando alguma coisa também, pois eu as ouvia conversando alto. Embalada nas lições da Annemarye fui até o meu pai, que estava na churrasqueira e toquei em seu ombro, fazendo-o se virar curioso para mim com um espeto de carne na mão. Peguei o espeto e o coloquei na churrasqueira novamente, dando-lhe o meu melhor abraço. Ele pareceu surpreso num primeiro momento, mas depois se rendeu e me abraçou também, forte, apertado:

- Mas que novidade é essa, Má?

- Nada não! Eu só queria dizer obrigada por cuidar tão bem de mim. Apesar de eu teimar às vezes, o senhor estava certo, aliás, vocês dois sempre estão.

Ele me encarou ainda mais surpreso e aí sim me deu um abraço apertado, inclusive me tirando do chão, enquanto me enchia de beijos. Quando parou e abri meus olhos, os dele estavam marejados e vi que minha mãe estava certa, ele realmente era um “bobão de grande coração”. Minha mãe também se aproximava, certamente preocupada que algo tivesse me acontecido na praia e também lhe dei meu melhor abraço:

- Márcia, o que foi?

- Não foi nada, mãe. Obrigada por cuidar de mim. Só isso… - Respondi, com o rosto escondido em seus cabelos.

- Ô, meu anjo… - Disse e começou a chorar do nada, algo que eu não via ela fazer há muito tempo.

Depois disso senti o abraço do meu pai nos apertando e ficamos ali quietinhos nos curtindo, quando eu ouvi:

- Por que eu acho que tem um dedinho seu nessa história, Annemarye?

- Uai, pai, a gente só tava conversando, não fiz nada de mais, não, sô!

- Fez sim, Anne! - Eu a interrompi sem querer, mas continuei: - Você pode até pensar que não fez, mas fez. Você me abriu os olhos, me mostrou quem realmente me importa e só isso já é muito mais do que muitos fizeram por mim até hoje. Obrigada também.

Ela me deu um sorrisão e acabei indo abraçá-la também. Controlada, pragmática, ela ainda brincou comigo:

- Eca! Pode ir desgrudando que meu negócio é homem…

- Annemarye! - Disse sua mãe, quase gritando.

- O que foi, mãe? Estou brincando, né!

Todos caíram numa gostosa risada. Meus pais não se contiveram e foram abraçá-la também. Ela não perdeu a oportunidade:

- Gente, eu também não gosto de suruba…

- Annemarye! - Sua mãe gritou, agora vermelha feito um pimentão: - Manera aí, poxa!

- Mas o que foi que eu fiz? - Ela respondeu, rindo, debochada.

Agora as risadas viraram gargalhadas. Depois disso, nos sentamos e ficamos aproveitando aquele churrasquinho gostoso, caipira raiz, com picanha sanguinolenta, coxinha de frango amarelinha e abobrinha queimada!?

- Pai, o que é isso aqui? - Perguntei, curiosa.

- Ai, caramba! Esqueci da abobrinha. - Disse ele, correndo para pegar alguns utensílios para retirá-la da grelha: - Ah, gente, vai ser só carne. Minha abobrinha virou carvão.

Após as tiradas de sarro de praxe, o churrasco prosseguiu. Os vegetais se perderam, mas comemos carne pra caramba, mas tanto mesmo que nem sair da casa quisemos. Só fomos voltar para a praia depois das quinze horas e isso porque a Annemarye praticamente me arrastou para lá. Meus pais já confiavam nela como se fossem eles próprios e isso ajudou bastante quando ela me convidou, na frente deles, para sairmos à noite. Meu pai ainda quis falar alguma coisa, mas a mãe dela foi categórica:

- Fica tranquilo, seu Vicente, minha filha além de advogada preparada, luta capoeira. Numa briga com um marmanjo sou capaz de apostar cinco reais nela.

- Poxa, cinco reais!? Cuidado pra não ganhar muito dinheiro, viu, mãe! - Annemarye brincou.

Voltamos à praia e mais passeamos pelo calçadão do que ficamos na areia. Eu estava usando uma canguinha, amarrada na minha cintura, mas ela desfilava sem medo ou pudor seu biquininho para quem quisesse ver. Eu fiquei abismada com a autoestima e a imponência dela. Acho que ali eu decidi que seria igual a ela um dia ou, pelo menos, me esforçaria o máximo possível para chegar próximo.

Nós passeamos tranquilamente e a vi recusar a aproximação de, pelo menos, cinco carinhas. Ela os recebia, ouvia com a máxima educação e os despachava com a maior cordialidade. Era tão natural vê-la falar sim e não que entendi que a postura de uma mulher era tudo o que eu precisava aprender. Quando estávamos chegando próximas a uma feirinha de artesanato, eu é que fui abordada por um menino que, acredito, tinha a minha idade. Ele era tão bonitinho e foi tão educado, tão bonzinho, que fiquei até com medo de ofendê-lo, mas copiei minha mais nova heroína:

- Ah, Helton, eu fico lisonjeada, mas tirei o dia para passear com minha irmã. Quem sabe num outro dia, tá bom?

Ele, ao contrário dos gatinhos da manhã que a Annemarye despachou, sorriu conformado e disse um simples “tudo bem”, me dando um beijo no rosto e pedindo para eu não sumir porque queria mesmo me conhecer melhor. A Anne estava a poucos metros de mim, observando tudo de canto de olho e sorriu quando viu que eu me aproximava:

- É isso aí, Márcia! Foi decidida e educada, mostrando que naquele momento não era não. Ele entendeu e aceitou numa boa. Te garanto que se vocês se encontrarem numa outra hora, ele chegará em você outra vez, feliz da vida com a possibilidade de conversarem.

- É. Eu acho que sim.

Voltamos a passear pelas barracas e a Anne parou numa que vendia cangas, escolhei uma linda com temática floral e a colocou sobre o corpo, circundando-a naquele bundão e amarrando as pontas em seu pescoço, como se fosse um vestido. Achei muito sensual e pensei que tinha muito o que aprender ainda. Comprou também um chapéu de palha que eu, boba e do interior, iria dizer que era horrível, mas que, quando ela o colocou na cabeça, meio jogado de lado, ficou maravilhoso, extremamente chique:

- Que tal? - Ela me perguntou, sorrindo.

- Eu ia dizer que ele é horrível, mas ficou maravilhoso em você. Aliás, parece que tudo o que você coloca fica bom. Qual é o segredo?

- Segredo!? Não tem segredo algum. É tudo uma questão de bom senso. Quase tudo combina com quase tudo, basta saber usar. - Ela disse e continuou olhando alguns outros produtos na barraquinha, mas corrigiu-se logo depois: - Listas e bolinhas quase nunca combinam. Ficam o ó!

Ri dela e comecei a olhar algumas cangas também. Logo, achei uma com temática floral permeada com um fundo verde limão, bastante diferente e ela ficou me olhando:

- Gostou?

- É tão diferente que não sei se é bonita ou feia.

- Eu achei linda. - Disse e a pegou, colocando na frente do meu corpo, analisando.

- Não! De jeito nenhum! Olha o preço disso, Anne.

- Deixa de ser boba, estou te dando. É um presente. - Insistiu que eu a segurasse, literalmente colocando-a na minha mão enquanto pegava seu cartão de crédito para pagar a compra: - Tira essa canguinha aí que eu vou te vestir.

Fiquei feliz da vida com o agrado e fiz o que ela me mandou. Ela me embrulhou de um jeito que eu demorei a entender, mas que no final ficou parecendo um lindo macaquinho. Adorei! Eu me senti poderosa naquele momento, mas ela ainda não estava satisfeita, me olhando inconformada:

- Moça, pega aquele cintinho ali pra mim? - A Annemarye pediu para a vendedora, colocando-o em mim: - Ah, agora sim! Ficou lindo demais, não ficou?

Concordei, aliás, concordamos eu e a vendedora. Eu amei meu novo “look”:

- Nossa, Anne, que coisa mais linda. Cê tem que me ensinar isso depois.

- Uai, ensino! Claro que ensino. - Disse e pagou o cinto para a vendedora: - Já estamos prontas para a baladinha da noite.

- Cê ainda tá achando que meus pais vão deixar eu sair à noite?

- Já deixaram, você é que não prestou atenção.

Voltamos já passando das seis da tarde para casa e nossos pais se surpreenderam ao nos ver voltar vestidas daquela forma. Acho que meus pais mais que os dela:

- Ficou muito bonita, não ficou? - Perguntou a Anne para meu pai que me olhava incrédulo.

- Ah, claro que sim. - Ela respondeu e me perguntou: - Nem sabia que você tinha levado dinheiro.

- Foi ela que me deu, pai. - Respondi e ele a encarou.

- Dei mesmo, uai! Achei bonito, ela achou bonito, vestiu e ficou lindo, então taí, sô!

- Mas não precisava, Annemarye, deve ter custado caro. - Ele tentou resmungar, sendo praticamente bloqueado por ela.

- Ara, sô! Que caro o quê!? Quis fazer um agrado pra ela, não vejo problema algum. - Ela falou e me pegou pela mão: - Vamos lá, Má, vamos tomar uma ducha e nos arrumar para sairmos mais tarde.

- Cês vão mesmo? - Meu pai perguntou, tentando se conter.

- Oxi, mas claro que vamos! - Annemarye rebateu.

- “Oxi”!? - Falou sua mãe, sorrindo.

- Uai! Eu quis dizer, uai… Devo ter ouvido esse “oxi” lá na feirinha, sei lá, e grudou que nem chiclete.

Ela não deu tempo deles falarem mais nada e me arrastou para nossa suíte, fechando a porta em seguida:

- Quem toma banho primeiro? - Me perguntou e já falou: - Par eu vou, ímpar você fica. Valendo.

A boba, lerda, caipira aqui, nem se deu conta da brincadeira e ainda fez “par ou ímpar” com ela, só para, no final, vê-la dar uma gostosa risada e entrar vitoriosa no banheiro por ter ganhado a rodada. Só fui me dar conta daquele chiste um tempinho depois e comecei a rir de mim mesma. Ela demorou “nadica de nada”, saindo nua com uma toalha enrolada na cabeça. Fiquei boquiaberta com aquele corpão alto, esguio, malhado, totalmente depilado na minha frente e agora com uma marquinha mínima de biquini. Acho que ela notou:

- O que foi? Nunca viu um boceta? - Brincou, sorrindo: - Só tinha uma toalha e usei na cabeça.

Sorri ainda meio perdida e entrei no banheiro, deixando-a no quarto, mexendo em sua mala. Um comichão me percorreu a xereca e pensamentos nada convencionais começaram a povoar minha mente. “Acalma esse fogo, Márcia, ela é tua amiga. Só isso.”, pensei enfiando minha cabeça embaixo do chuveiro regulado na água fria, mas não resisti: “Mas que é gostosa pra caramba, ela é! Ah, se é.”. Perdida ali, enquanto ainda tentava esfriar a cabeça, cheguei a fantasiar eu me pegando com ela na cama da nossa suíte, da mesma forma que cheguei a fazer com a Babi, mas o medo de queimar minha imagem foi mais forte e decidi esquecer aquilo.

Quando terminei meu banho e saí, enrolada em duas toalhas, uma no corpo, outra no cabelo, ela já estava vestida com a mesma canga, da mesma forma que fez durante a tarde. Diferente apenas era a ausência da parte de cima de seu biquini e agora, pensando bem, acho que nem a parte de baixo ela estava usando. Ela havia prendido o cabelo num simples rabo de cavalo na parte de cima da sua cabeça e passado um batom levinho, quase cor da pele e nada mais. Aliás, um pouco de lápis embaixo dos olhos eu acho que ela também usou, mas não tenho certeza.

Fiquei meio sem jeito de me despir na sua frente. Eu me achava feia em comparação a ela, mas eu entendi que postura era tudo e, como boa aluna, quis mostrar que eu também podia ser imponente. Tirei minha toalha, jogando-a sobre a cama enquanto escolhia uma calcinha para vestir. Eu só tinha calcinhas de algodão e estranhamente comecei a achá-las grandes e feias demais para uma adolescente quase moça. Olhei todas e nenhuma parecia me agradar:

- Vai sem. - A Annemarye disse e eu a encarei surpresa.

- Cê tá louca!? Sem nada, pelada!? Lógico que não.

Ela levantou sua canga e comprovou o que eu já suspeitava, ela vestia a canga e nada mais!

- Ah, eu não dou conta não, Anne! Desculpa.

Ela veio até mim, me virou de costa para ela e começou a tatear minha bunda, como se a medisse com as palmas das mãos:

- Acho que serve. - Disse e foi até sua própria mala, voltando com alguns pacotinhos de calcinhas que nem aberto haviam sido ainda: - Escolhe uma. Qualquer uma.

- Não precisa! Eu vou com a calcinha do biquíni.

- Não vai mesmo! Você vai sair bonita para paquerar: é calcinha de rendinha ou nada! - Ela insistiu e apontou para uma num tom de azul: - Essa combina com sua canga. Se bem que a vermelha também… Até a verde, eu acho...

Ela abriu as duas e colocou sobre a cama. Eram tanguinhas fio dental de renda quase transparentes na frente e praticamente inexistentes atrás, com um pequeno forrinho embaixo. Eu peguei a vermelha com a mão e comecei a rir, nervosa, enquanto olhava aquele paninho:

- O que foi? Também quero rir. - Ela falou enquanto me encarava, sorrindo.

- Nu! Ó o tamanho disso, Anne! “Tapa” nada, sô.

- Mas a ideia é essa, insinuar sem esconder, entendeu?

- Nossa mãe! - Disse e coloquei aquele paninho em frente da minha xerequinha com ralos pelinhos escuros: - “Crendeuspai”, que que eu tô fazendo?

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO TOTALMENTE FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.

FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.

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Foto de perfil de Mark da NandaMark da NandaContos: 274Seguidores: 634Seguindo: 24Mensagem Apenas alguém fascinado pela arte literária e apaixonado pela vida, suas possibilidades e surpresas. Liberal ou não, seja bem vindo. Comentários? Tragam! Mas o respeito deverá pautar sempre a conduta de todos, leitores, autores, comentaristas e visitantes. Forte abraço.

Comentários

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E o legal mulher fica com quem quer .

Mesmo assim com todo esse ego amarrou o burro no homem errado

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Não estou criticando a competência do Mark em contar histórias, mas não sei se gostei da Anne entrar nela. Melhor aguardar os próximos capítulos.

Anne vai levar a Márcia pro mau caminho.

Capítulo gostoso.

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Meu querido Mark,o conto e ótimo,não precisava ter misturado,vc traçou um perfil diferente da Anne,agora parece uma caçadora.bjs amigo

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Engraçado, o que é um bom personagem! A Anne Mary melhorou bastante o conto! Mas ainda estou aguardando para ver o rumo da história, até porque, nem entendi o momento em que a Anne conheceu a Marmita , comecei a ficar curioso! kkkk!! No próximo episódio posso dar três estelas!

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Mark meu amigo, estou muito legal, ainda mais agora com a presença da Annemarye, o dicionário mineiro esta a todo vapor...muito legal

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Mark, só me explica a linha do tempo deste conto em relação ao da Annemarie ? Eu não entendi secessão “juntos” ou não por conta do tal de Enzo !!!

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… se são “juntos” …

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Olá minha amiga, também fiquei com essa duvida, mas eu acho que o Enzo foi o noivo dela, então a linho do tempo deve estar um bem antes de sofrer com a traição e depois conhecer o Marcos

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Se eu explicar, estarei dando um spoiler do próximo capítulo. Então, aguardem, seus curiosos...

😁

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“Curiosa” é o meu nome do meio !!!! Rsrsrs

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Agora só falta você me dizer que o próximo capítulo só na semana que vem !!!! Aí eu tenho um AVC !!!!

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O ex noivo da Anne se chamava Gustavo. Então o Enzo é alguém novo na história. A não ser que tenha um nome composto, por exemplo, Enzo Gustavo, mas aí, parafraseando a Joelma, para por esse nome na criança, a transação que gerou o filho e a gestação em si devem ter dado muito trabalho.

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Excelente! Já entendi que todo relato que tem a Anne fica maravilhoso. Ela e a Nanda são demais!

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Mark primeiro parabéns pelo enredo deste conto e segunda gostei de ver a Anne nesse conto histórias interligadas not a mil

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A princípio achei que a Marcia era a mesma, ex namorada do Marcos do outro conto, mas a idade na bate.

Quero ver se a ligação entre os contos vai ser maior ou vai ficar superficial...

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Kkkkkkkk esses diálogos cm sotaque sao os melhores! Muito bom o capítulo!!

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