GIL E AS CDs DE S. JOSÉ DOS CAMPOS

Um conto erótico de Nadja Cigana
Categoria: Gay
Contém 4490 palavras
Data: 23/04/2023 07:31:20
Última revisão: 23/04/2023 14:16:08

A viadinha Sandrinha voltou às aulas, mas estava perdidamente apaixonada pelo amante de sua mãe, o mecânico Djalma, dono daquela pirocona grande e grossa.

E apaixonada, a bichinha deu um jeito em seus horários do ensino médio, e reservou uma tarde por semana para continuar a dar o rabo na oficina e casa de Djalma, enganando pai e mãe dizendo que era pra “aprender mecânica”.

Enquanto isso, a gostosona Gilda vivia as primeiras semanas do curso de história da federal do Pará, e fazia isso resistindo braviamente às frequentes cantadas que recebia, de vários colegas alunos, de umas poucas colegas alunas, e até de um ou outro professor.

Gilda resistia porque estava apaixonada pelo baiano riquinho, alto, atlético e bonito, o marinheiro Marcelo, que viajava pela marinha mercante em seu estágio de oficial de náutica. E Gilda lamentava muito a ausência do irmão em Belém, pois a piroca de Gil, gozando em sua boca ou em seu cuzinho, ajudaria muito a resistir às cantadas.

Mas quem mais sentia falta de Gil era a melhor amiga de Gilda e amante do jovem soldado, a linda travesti Leia. Trabalhando na agência de viagens de Madalena durante o dia, e vez por outra se prostituindo em segredo, à noite, Leia compensava a ausência da pica mais linda do mundo, a de Gil, com uma das coisas que ela mais gostava, o sexo aleatório.

E a travesti tinha certeza de que Gil, fixado em Guaratinguetá, São Paulo, no 2° ano do curso de sargento do exército, devia também estar comendo muitos cuzinhos aleatórios por aquelas bandas. Tudo bem, desde que ela não soubesse das galinhagens de Gil, e Gil não soubesse das dela. Esse era o pacto entre os dois.

Mas Leia errava feio sobre seu homem, pois Gil na verdade era um romântico, e só enrabou duas outras pessoas naquele primeiro semestre de 1996 no Vale do Paraíba. Duas lindas CDs trintonas, que montavam muito bem!

E, se dependesse só de Gil, teria sido só uma CD.

Tudo começou quando, depois de poucas semanas em Guaratinguetá, Gil foi abordado por um carioca, colega de curso, com uma proposta bem diferente. O nome do rapaz do Rio era Teixeira, e os dois tinham ficado amigos muito rápido, sem que Gil desconfiasse que o outro tinha de algum modo intuído que o paraense era entendido.

- Aí, Pará! Você não tá na escala de serviço desse fim de semana, né?

- Tô não, Teixeira.

- Topa dar uma volta? Tem uma boate que conheço em São José dos Campos. Acho que tu vai gostar.

S. José ficava a quase 2 horas de ônibus e Gil não se animou.

- E pra voltar, Maninho? Cumé que fica?

- Ih, vai na minha. Tem uma estrutura pra gente cair. Só precisamos é ir com a roupa do corpo, mesmo.

Foi assim que Gil acabou conhecendo, numa noite de sexta, a boate Hollywood, ponto LGBT de São José dos Campos. Logo de entrada o paraense branquelo e fortão foi assediado por garotos e homens feitos, mas não foi nada que assustasse. Há anos Gil tava acostumado ao ambiente de pegação do Cine Ópera de Belém, onde rolava muito mais do que os beijos e amassos que agora ele via ao redor.

A grande diferença era a música alta, tipo bate-estaca, que com jogo de luzes criava o clima dançante no qual se destacavam umas poucas travestis e uma ou duas CDs na pista. Foi a música alta o que impediu que Gil perguntasse pro carioca Teixeira como é que ele tinha descoberto que Gil gostava do babado.

Dentre as figuras dançantes, Gil fixou o olhar numa travesti mulata, magra e alta, siliconada na bunda e peitos, que com sandálias plataforma e biquini prateados, e com peruca chanel branca e uma estola de plumas brancas, dançava alucinada, olhando a própria sombra na parede. O corpo da trans, apesar dos silicones, lembrava muito o do cabeleireiro Paulete, professor de viadagem de Leia, e o macho ficou pensando no quanto sua travesti adolescente gostaria de estar ali.

Gil tava distraído, olhando a trans dançar consigo mesma, quando Teixeira o puxou pelo braço, apontando para um espaço lateral mais escuro, com mesas, e gritou no ouvido do paraense:

- Vamo ali! Tem duas pessoas que eu quero que você conheça!

O espaço era um pequeno corredor para os banheiros, com um banco estofado acompanhando toda uma parede, só de im lado, e mesinhas redondas minúsculas, em frente ao banco, sem cadeiras.

Sentadas lado a lado em frente a uma das mesinhas, estavam duas CDs, com grandes copos de drinks coloridos, que acenaram alegremente para Teixeira.

Uma das meninas tinha um rosto bem redondinho, bonitinho e branco, emoldurado numa peruca chanel castanha e parecia ser meio cheinha e não muito alta. Essa se apresentou gritando que era Jane, mas foi na outra que os olhos de Gil grudaram com fome de viado.

A outra CD, visivelmente mais magra apesar de ter o corpo escondido num vestido e numa espécie de bolerinho, e que depois Gil descobriria ser mais alta do que ele, se apresentou também gritando, dizendo que se chamava Cindy. E desde que a viu, Gil a queria comer. Ainda mais porque o rosto feminino e sensual de Cindy contrastava com a voz masculina dela, o que ligou em Gil aquela chave de tesão andrógino.

Gil era o tipo de homem romântico que à primeira vista sempre se fixava mais no rosto do que no corpo de alguém. Se fosse pelo corpo, Jane parecia ser fofa e gostosa como Leia. Mas, só de olhar o rosto de Cindy, o macho intuiu certeiramente que a viada tinha um borogodó que combinaria certinho com o seu.

Cindy usava uma maquiagem pesada porém muito bem feita, acentuando os traços mais angulosos de seu rosto. E por ser míope, a CD usava óculos tipo gatinha, bem femininos, de armação vermelha, que combinava com a maquiagem, as sobrancelhas bem feitas e a peruca vermelha de meio coque, com um pequeno cacho caído de cada lado, fazendo quase um penteado "bolo de noiva". O todo compunha um rosto muito bonito, com expressão muito insinuante, sacana sem ser vulgar.

Detalhe fino e sexy, Cindy fumava um cheiroso cigarro mentolado, na ponta de uma piteira que segurava elegantemente, mostrando enormes unhas no mesmo vermelho vivo do baton.

Pouco mais de um ano depois, quando Gil viu Uma Thurman como a Hera Venenosa de Batman e Robin, ele achou o visual muito parecido, teve saudades de Cindy e voltou a procurar a CD. Mas isso é outra história. Naquele abril de 1996, Gil tava fascinado por aquele rosto de mulher, mas foi contrariado por seu amigo Teixeira.

O carioca sentou rapidamente ao lado de Cindy, a abraçou e a cumprimentou com um beijo de estalinho no lábios de batom vermelho vivo da bonequinha, o que fez Gil achar que os dois já tinham um caso. Sem passar recibo, Gil sentou ao lado de Jane e tentou começar uma conversa, sempre incomodado por ter que gritar em meio à música ensurdecedora.

Depois de poucos minutos de papo trivial, Jane já passava a mão, que usava uma luva longa, na coxa musculosa de Gil, quando percebeu que o macho não conseguia parar de olhar para a amiga. Nem um pouco incomodada com o interesse de Gil por Cindy, a CD mais fofinha gritou no ouvido do jovem paraense:

- Teu amigo falou de você!

- Ele e tua amiga tão juntos, né?

Jane respondeu divertida, com sua voz ligeiramente feminizada.

- Zezinho e Cindy? Nãooo!!!

Gil levou um tempinho pra entender que “zezinho” era seu amigo Teixeira, mas ainda queria saber se ele ficava com a CD de peruca ruiva, ou não.

- Égua! Mas eles tão agarradinhos.

Jane riu amistosamente, pegou a mãozona de Gil, deu um beijinho nela e falou no pé da orelha do rapaz:

- Zezinho é muito especial... e Cindy também... mas...

Jane parou de falar e manteve o rosto pertinho do rosto de Gil, que perguntou:

- Por que, que ele é especial?

- Porque ele beija na boca.

Gil não esperou mais. Em vez de argumentar que ele também era especial, o macho segurou a nuca da CD e tascou-lhe um beijo cinematográfico, com a língua invadindo a boca e se enroscando na de Jane.

E Gil beijou de olhos aberto até ter certeza de que a outra CD, Cindy, via seu beijo. E Jane, surpreendida e maravilhada por aquele beijo fenomenal, gemeu na boca do macho e muito discretamente começou a acariciar o peito dele, por cima da camiseta que Gil usava.

Mas em seguida foi Gil que se surpreendeu. Enquanto ainda beijava Jane, Gil ouviu aplausos. Primeiro de Cindy e Teixeira, mas logo acompanhados de várias pessoas ao redor. E parando de beijar, meio sem saber o que fazer, Gil ainda ouviu a CD ruiva gritar para seu amigo, com sua voz indisfarçavelmente masculina:

- U-HUUU!!! TEU AMIGO É HOT, HEIN, ZEZINHO?

Antes que Gil esboçasse qualquer reação, foi Jane que acariciou o rosto másculo do paraense e depois falou alto no ouvido dele:

- Você também é especial... muito...

E depois de voltar a beijar Gil, a CD mais fofinha continuou, falando sensualmente no ouvido do macho enquanto agarrava discretamente a pica de Gil, já dura sob o jeans:

- Mas o que eu quis dizer é que entre eu e Cindy, a gente divide tudo...

E colocando uma pressão grande na mão, apertando o pau de Gil, Jane completou:

- Tu-di-nho mes-mo!

Na mesma hora em que ouviu isso, a piroca de Gil inchou até o máximo e ele se atracou num novo beijo sensual com Jane, agora curtindo a pressão da mão delicada dela, que continuou esfregando a jeba por cima da calça do rapaz.

Gil já fantasiava que ia se livrar de Teixeira com alguma desculpa qualquer e comer Cindy e Jane juntas, revivendo as ménages com sua irmã Gilda e sua travesti Leia. E quando Jane parou o beijo para tomar mais um gole de seu coquetel, Gil provocativamente gritou no ouvido dela:

- Eu não acredito!

- Em que?

- Que vocês duas dividem tudo.

- Dividimos, sim!

- Só acredito se tua amiga confirmar.

A CD deu um sorriso cativante para o macho, e respondeu:

- Entendi! Tu quer é ela, né?

- Agora eu quero é as duas!

Jane soltou uma pequena gargalhada afetada e resumiu a noite:

- Vou adiantar teu lado com Cindy, mas logo, logo, a gente vai daqui pra Xanadu, e aí...

- Xanadu?

- É! E aí...

Jane deu uma lambida sensual na orelha de Gil, e continuou:

- E aí tu pode tentar cuidar de nós duas... se quiser...

Gil já ia perguntar se Xanadu era algum motel, e se tinham mesmo que levar Teixeira, quando Jane cutucou a amiga, conversou e riu com ela sobre o paraense, e logo em seguida levantou e passou entre a mesinha e Gil, esfregando o bundão no colo do soldado.

Gil curtiu as pernas grossas de Jane, lindas em meias pretas fumê, sob um vestido preto brilhante que ia até o meio das coxas, e gostou dos pés que pareciam delicados, calçando uma alta plataforma preta. E o macho gostou mais ainda da elegância com que a crossdresser dava a volta na mesa para sentar ao lado de Teixeira. Mas sua atenção num instante se voltou para Cindy, que chegou para ele em pulinhos de bunda, no banco corrido, e sentou colada em seu lado esquerdo.

Cindy sorria para Gil e assim que encostou sua coxa direita na do macho a CD puxou assunto.

- Me disseram que você gostou do que viu?

- Gostei muito, mesmo.

- Por que?

- Num sei explicar... teu rosto... dá vontade de beijar...

- Então...

A CD e Gil se beijaram com um tesão enorme, como se fossem amantes de longa data. A bioquímica funcionou perfeitamente e Gil sentiu uma bola de fogo arder no peito, como só sentia com Leia, ou com sua irmã.

E a crossdresser sentiu a mesma coisa. Mas para Cindy aquele jovem soldadinho, mais de dez anos mais novo que ela, não era apenas a rola da noite. Ele “tinha” que ser apenas a rola da noite e nada mais do que isso.

Romântica e muito magoada pela vida e pelos homens, Cindy frequentava a boate Hollywood com a amiga Jane para aliviar sua existência em pirocas casuais e tomava todos os cuidados do mundo para não se envolver emocionalmente.

Por isso, quando Gil começou a acariciar docemente o rosto dela, enquanto a beijava daquele jeito maravilhoso, a CD tratou logo de desviar para o sexo. Afinal, era tudo o que ela podia esperar.

Cindy desceu a mão esquerda espalmada pelo corpo de Gil, sentindo aquelas carnes jovens e rígidas, e logo apalpava a piroca do namorado da travesti Leia. E gostando muito do que achou, ela interrompeu o beijo pra de novo gritar no ouvido do macho, enquanto massageava a rola de Gil.

- Zezinho disse que você é do Pará.

- Sou.

- Eu nunca fui... mas me disseram que lá tem umas cobras grandes...

- Num sei se são, assim... tão grandes... que seja do teu gosto...

- A gente tem um lugar onde vai dar pra ver se é grande.

- Xanadu?

Cindy riu lindamente, respondendo:

- A Jane já te falou, né? Apressadinha! Mas... vamos?

- Bora!

Foi só com todos de pé que Gil se sentiu pequeno perto de Cindy, que com os saltos ficava um palmo mais alta do que o macho. As duas CDs pagaram as comandas dos dois soldadinhos, o que foi significativo para Gil, apesar de terem consumido só duas cervejas.

Fora da boate, os quatro andaram até o carro de Cindy, com Jane meio bêbada agarrada ao braço de Teixeira, e Gil querendo andar de mãos dadas com Cindy, mas se reprimindo por não ver na expressão corporal dela que a fêmea gostaria.

Quando chegaram ao lado de um luxuoso Mercedes C280 branco e novinho, o trio que acompanhava Gil parou e, enquanto Cindy tirava o controle remoto da pequena bolsa de mão, Gil perguntou, ao lado da porta do motorista:

- Esse é teu carro?

E a CD, pensando que o jovem quisesse dirigir, ia respondendo, quando foi interrompida pelo gesto:

- É. Mas você não deve dirigir ele não, Meu Bem. Ele é automá...

Gil abriu a porta do motorista para Cindy entrar, e sorrindo lindamente para ela ofereceu-lhe a mão, para ajudar. Desacostumada com o gentil tratamento, Cindy sentou, tomando cuidado com a peruca alta e pedindo um tempinho para tirar os saltos altos.

- A gente pode dirigir montada de princesa, mas não pode dirigir de salto.

Gil gostou da voz. Sem ter que gritar por causa do som da boate, Cindy fazia naturalmente um tom afetado e meio anasalado, que se não era de todo feminino, como o tom natural de Leia, também não poderia ser considerado másculo.

Quando Gil sentou ao lado da motorista, Jane e Teixeira já tavam no maior amasso no banco de trás do carro. Vendo os de trás com boca na boca e aquilo na mão, os dois da frente riram e Cindy falou, aparentando estar meio constrangida com o assanhamento da amiga.

- Esses dois tão no maior fogo!

Gil se chegou para perto da CD e deu primeiro uma mordiscada de leve no pé da nuca, onde terminava a peruca, e depois deu um leve chupão no mesmo lugar, curtindo ver a pele de Cindy se arrepiar. E daí, ele perguntou:

- E tu? Não tá com fogo, não?

Cindy respondeu começando a massagear a pica de Gil, enquanto dirigia com todo o cuidado do mundo pela área urbana de S. José dos Campos.

- Você é um menino bem saliente, hein?

No banco de trás, Teixeira e Jane já se agarravam freneticamente, e a CD começava a abrir a calça do soldado. E na frente, Gil curtia a mão da linda Cindy sobre sua pica, e respondeu:

- Tu tá com a mão bem sobre minha saliência. Não vejo a hora da gente namorar.

- Estamos quase lá.

Cindy registrou o “namorar”. Outros machos, e até não tão machos, que ela pegava na boate, teriam falado que não viam a hora “de te comer”, “da gente foder”, de “trepar”, e até de “meter”. Especialmente machinhos de 20 anos como aquele soldado bonito e fortão. Mas aquele, não. Aquele abria a porta do carro pra ela e falava em “namorar”.

O pedacinho dominante da consciência da CD de 30 e pouquinhos anos de idade começou a acender o alerta amarelo e ela pensou “Cuidado, sua tonta! Esse é mais um que só quer gozar gostoso! Se você gostar do jeito dele transar, pode até ser outro Pau Amigo, como o Zezinho ali atrás tá virando. Mas não se envolva! Cuidado!”

E foi só Cindy pensar no amigo de Gil, que se amassava com Jane no banco de trás, que os dois da frente ouviram Teixeira gemer muito alto e seguidamente.

Gil olhou pra trás e soltou um “Ééégua!” que divertiu a todos, e Cindy, já sabendo o que era, ajustou o retrovisor só pra conferir a cabeça de Jane subindo e descendo freneticamente entre as pernas de Teixeira.

- Calma aí, amiga! Não vai queimar etapa, não! Já tô abrindo o portão!

Jane levantou a cabeça segurando a rola toda babada de Teixeira e com a outra mão ajeitando uma ponta da peruca chanel castanha, que lhe entrava incomodamente na boca.

- Desculpa, amiga. Não me aguentei.

Gil olhou pra frente e viu, numa rua de boas casas, que o carro estava apontado para um muro muito alto, rosa claro, no qual um portão de aço, cor de vinho e todo vedado, corria pra lateral. Dentro, havia uma casa modernista de dois andares, também rosa claro, toda em ângulos retos e com todas as janelas de venezianas de madeira pintadas de branco e fechadas. Não havia varanda nem jardim. A parede da casa começava a pouco mais de um metro do muro e na esquerda só havia o espaço para guardar um carro, sob a laje do andar superior e ao lado da sala.

A iluminação era a partir do chão e tudo era de muito bom gosto e combinando com a casa, mas sem nenhuma planta. Com o carro já estacionado, Gil já ia abrir sua porta e correr para abrir a de Cindy, quando a CD segurou sua mão.

- Espera um pouquinho. Deixa o portão fechar.

Assim que o acesso à rua ficou de novo vedado, Gil saiu do carro e caminhou rápido até a porta de Cindy, abrindo-a e dando a mão à fêmea, que já tinha colocado os saltos e saiu agradecida e toda cheia de graça. E enquanto os dois se aproximavam da porta da sala, com Gil pedindo a chave, Teixeira e Jane se beijavam furiosamente, de pé e encostados no carro.

Gil abriu também a porta da sala e fez uma mesura para Cindy passar, e depois Jane com Teixeira agarrado nela. E entrando, o jovem paraense perdeu o fôlego.

A casa toda tinha apenas 90 metros quadrados, com sala, lavabo e pequena cozinha no térreo, e duas pequenas suítes no andar de cima. Mas a decoração era um luxo!

A sala parecia um cenário de cinema do início dos anos 60. Tirando os móveis de madeira que eram de pés-palito e modernistas, e um felpudo, espesso e enorme tapete branco, todo o resto era de cores numa discreta palheta de tons pastéis em rosa: sofás, almofadas, prateleiras, estante, barzinho, objetos de decoração, molduras de quadros, parede e teto. E tudo parecia estar em seu perfeito lugar e combinando com extremo bom gosto.

Percebendo o olhar admirado do jovem, Cindy fez um gesto gracioso, de braços abertos e palmas das mãos pra cima de pé, no meio da sala, apresentando o lugar de um jeito bem alegre:

- Bem vindo a Xanadu!

- Obrigado.

E enquanto Gil caminhava até a CD. Elogiou:

- Sua casa é muito bonita!

- É nossa casa. A casa de Jane e de Cindy. Os sapos...

Com Teixeira e Jane de novo se agarrando, agora sentados no sofá, Gil caminhou até Cindy e a abraçou e interrompeu com um beijo cinematográfico. Aquela língua entrava pela boca e chegava até o coração machucado da crosdresser, e ela de novo achou que se entregava emocionalmente fácil demais para aquele menino desconhecido, vindo do Pará.

Cindy pensou outra vez consigo mesma que queria, que precisava mesmo, era de sacanagem, de foda, de pica. Não de namoro. E então a crossdresser parou o beijo e disse mais um “espera um pouquinho” para o rapaz, e completou puxando Jane pela mão, do sofá, e falando:

- Amiga, vem cá que você tá quebrando o protocolo! Aqui ninguém é de ninguém, e tu sabe!

Jane levantou, reclamando dengosamente:

- Pensei que tu estava gostando...

- E estou! Mas a gente tem um roteiro. Vai preparando o uísque dos meninos que eu coloco a música.

E pedindo carinhosamente pra Gil, Cindy completou:

- E você, meu bem... senta ao lado de Zezinho e aguarda, tá? Já vamos começar a brincar.

Gil reparou que a sala não tinha TV e registrou a bunda durinha e média de Cindy, destacada com ela abaixada, ligando um som de última geração artesanalmente embutido num móvel de vitrola dos anos 50. E enquanto Miles Davis começava “So what”, Gil e Teixeira receberam de Jane dois copos generosamente servidos de Ballantine’s 12 anos, com gelo.

Sentados no sofá, os rapazes viram as duas CDs subirem para seus quartos, para “se arrumar” e Gil então fez as perguntas que queria fazer ao amigo desde a boate:

- Antão tu é o Zezinho?

Teixeira riu e respondeu:

- Ninguém no quartel pode saber. O que rola em Xanadu, fica em Xanadu.

- Claro, égua! Mas... cumé que tu sabia queu... gosto?

- Bicho, taí! Num sei explicar. Elas são duas, eu precisava de um parça... elas me pediam pra voltar com alguém de confiança e legal... não sei porque, mas alguma coisa em você me fez saber que tua ia gostar.

Sentindo de cara os fortes efeitos do uísque, Gil confessou o que nunca deveria ter falado:

- Tu acertou. Sabe? Em Belém... eu tenho uma namorada travesti.

- Caralho! Jura?

- 17 aninhos... um tesão. Mas... num conta pra elas, não!

Gil apontava pros quartos e Teixeira riu da preocupação do amigo.

- Tu não tá achando que vai namorar a Cindy, né? Tu não ouviu ela falar? Aqui, ninguém é de ninguém.

- Sei... tu... tu precisava de um parça porque tu tava comendo as duas, né?

- É.

Os dois ouviram o caminhar barulhento dos saltos de Jane, saindo do quarto dela e indo até o de Cindy. Gil continuou em voz baixa:

- Desde quando?

- O que?

- Que tu come as duas?

- Desde a segunda semana do curso em Guará. Já tinha ouvido falar da boate, daí fui lá e...

- Tem outros caras que comem também. Do quartel?

- Não. Ninguém de lá. Só nós dois. Elas que escolhem, na boate. E pesquisam a gente, antes...

- E tu come todo fim de semana? Quer dizer, menos aquele que tu foi pro Rio?

Teixeira riu amistosamente e esclareceu.

- Naquele fim de semana num fui pro Rio, não.

- Tu dormiu aqui com elas, né, safado?

- Não, cara. Ninguém dorme aqui, não. Só elas. Elas não deixam.

- Esquisito.

- Tu vai entender. Elas pagam um hotel pra gente. Só pegam a gente de noite, e depois mandam a gente embora de táxi pro hotel que elas reservam pra gente.

Os dois ouviram as duas CDs se falarem e começarem a descer a escada. De onde estavam eles não viam o último lance dos degraus e Gil perguntou falando baixinho.

- Mas por que isso de hotel?

- Tu vai entender.

- E é todo fim de semana?

- Não. Nem sempre elas vêm pra cá. Tem fins de semana que vem só a Cindy, ou que as duas ficam em Sampa. Os sapos delas moram...

De novo aquela história de sapo. Gil não entendia o que era “sapo” e ia perguntar a Teixeira, mas não teve tempo. As duas já se mostravam na escada.

Cindy ficou parada no alto da escadaria, deixando a amiga descer na frente. Da ruiva, só se viam os pés, de unhas pintadas do mesmo vermelho que as das mãos e do que o baton. E os pés agora estavam enfiados em duas confortáveis pantufas abertas e sem saltos, pretas e cada uma com uma flor branca de pelúcia no peito do pé. Complexada por ser alta, Cindy não usava saltos dentro de Xanadu, a não ser que os machos visitantes fossem bem maiores do que ela.

A ruiva tinha deixado Jane descer na frente, e a viada gordinha estava um tesão. Jane tinha apertado as gordurinhas todas num espartilho preto, de peitos de fora, que dava a ilusão dela ter um corpo violão quase tão gostoso quanto o da irmã de Gil, a indiazinha Gilda. Os peitinhos de Jane eram de menino gordinho, apesar dela ser trintona, e as auréolas de um roxo claro eram pequenas mas com mamilos bem destacados e durinhos.

Ainda com a peruca chanel castanha, Jane vestia abaixo do espartilho uma calcinha de vinil preta muito atochada no bundão gordo, e que na frente não deixava ver nenhum vestígio de piru. Acompanhava aquilo com meias 7/8 fumê, sem ligas, que entravam em botas pretas de couro, abaixo dos joelhos, e que tinham barulhentos saltos altos. Gil gostou das coxas e panturrilhas gordas, e do bundão da viada.

Jane ainda usava as longas luvas pretas até os cotovelos, e por cima das luvas tinha anéis e pulseiras de stress, combinando com uma gargantilha de tecido preto e pedrinhas faiscantes. Por cima de tudo, a CD vestia um roupão de dormir preto, quase transparente, que estava apenas amarrado na cintura. E Jane tinha reforçado a maquiagem com batom roxo escuro e sombras azuis, ficando com cara de prostituta de cabaré.

A fofinha desfilou rebolando elegantemente até ficar de pé na frente de Gil, e não de Teixeira, com quem tinha se pegado. Dali, Jane apontou teatralmente para a escada, onde Cindy terminava de aparecer. E, para primeira decepção de Gil, Cindy estava num longo quimono de seda preta, com flores vermelhas, também amarrado na cintura, que deixava ver menos ainda de seu corpo do que o vestido que a CD usava antes. Fora o quimono e as sandálias baixas, não havia nada de novo em Cindy.

E, para segunda decepção de Gil, Cindy parou de pé ao lado de Jane e em frente a Teixeira. Ela não ia começar a "brincar", com Gil.

Então as duas viadas se apresentaram:

- Eu sou “Cindy Darling”... mas podem me chamar de CD.

- E eu sou Jane Mansfield... pra vocês, só “Jane”.

- Nós escolhemos ser meninas...

- Que gostam muuuito de meninos...

Nesse ponto as duas começaram a se ajoelhar no grosso tapete branco felpudo e continuaram a recitar o texto ensaiado, já com as mãos nos joelhos dos dois rapazes, começando por Cindy:

- Na verdade... somos meninas que gostam muuuito...

- Daquilo que os meninos têm bem aqui, ó... entre as pernas!

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Comentários

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Ah, que saudade que eu estava do Gil.

Perto das meninas e do amigo ele ficou bobinho kkkk

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