Ela olhou para ele e eu sentia seu nervosismo de onde eu estava, aliás, podia ser impressão, mas dava para ver que ela realmente tremia de nervosa naquele momento. Rick tentou falar alguma coisa para ela, mas ela não respondia. Olhou para seu celular e fez uma nova chamada. Decidi virar hominho, saindo daquela recente demonstração de infantilidade e, com o celular tocando, comecei a me aproximar dela. Nesse momento, ela estava de costa para mim e estava tão nervosa que não se tocou que o toque de celular que ela estava ouvindo se aproximar era do meu. Quando eu já estava a coisa de um metro dela, a chamei:
- Fernanda!
(CONTINUANDO)
Ela deu um pulinho típico das melhores surpresas e se virou para me encarar. Seus olhos estavam marejados, sua face pálida e sua boca tremia. Por segundos me encarou sem nada falar e depois tentou se aproximar para me beijar a boca. Numa raríssima demonstração de que não estávamos bem, virei meu rosto, negando meus lábios e ela me acertou a bochecha. Naturalmente, ela me olhou surpresa, mas sabendo que a circunstância não a ajudava, baixou seus olhos:
- Tá! Tudo bem. - Foi a única coisa que disse.
Eu nada falei, mas se a mensagem não havia sido suficiente ainda, ela entendeu que a coisa estava indo ladeira abaixo quando me inclinei ligeiramente para o lado e olhei nos olhos do tal Rick que também a olhava mas, ao me ver o encarando, baixou seus olhos também:
- Então, é isso? - Perguntei, sem a olhar e sinceramente não sei se dirigi a pergunta para ela ou para ele.
- Ele voltou no mesmo voo que eu. Só isso. - Ela tentou justificar: - Mark, a gente precisa conversar.
- Mark!? - Perguntei fingindo demonstrar surpresa: - Acho que não há necessidade. Eu já entendi tudo.
- Não, você acha que entendeu! Eu preciso conversar com você. - Ela insistiu e eu a encarei, pronto para mandá-la à merda com o pior de minha baixa literatura, aprendida nos botecos e nos piores momentos da minha vida, quando ela complementou: - Quero falar com o meu marido.
- Pra quê?
- Porque você é o homem mais importante da minha vida e vai ser para sempre, mesmo depois que eu tiver que te enterrar ou você me enterrar, bem lá na frente quando estivermos velhinhos. Bem, provavelmente você, porque sua família tem o sangue do Matusalém… - Brincou, forçando um sorriso que eu não acompanhei: - Por favor, conversa comigo.
Respirei fundo uma, duas, três vezes e perguntei:
- Onde?
- Pode ser no meu apartamento! - Falou o Rick.
Eu o encarei disposto a descarregar toda a minha raiva e já ia partir para o discurso mais sujo da minha vida quando ela se antecipou:
- Chega! Vai embora, Rick! Vou conversar com o meu marido a sós. Será que você não vê que está sobrando?
Aquilo de certa forma me surpreendeu e eu a encarei, agora mais confuso que nunca. Ela se virou para mim e continuou:
- Vamos para o hotel que a empresa reservou para mim por conta do coquetel, aliás, para nós.
Não falei muito, aliás, nada, somente balançando sutilmente minha cabeça, concordando. Peguei suas malas e saí arrastando pelo saguão, esquecendo dela para trás com o tal do Rick. Ela me acompanhou praticamente na mesma hora, deixando ele para trás. De lá, fomos ao estacionamento, onde guardei suas malas no porta-malas do carro e entramos. Cavalheiro como sempre deveria ser, deixei de abrir a porta para ela, mas não fui cobrado:
- Estava com saudades de você, meu ogrinho caneludo. - Ela me falou enquanto eu afivelava o meu cinto.
Não respondi. Apenas corri meu olho por ela e a resposta foi clara: eu também estava, mas minha mágoa somada a um ódio incomum me impediam de corresponder:
- Eu vou te explicar tudo. Eu errei sim, mas vou te explicar e sei que você vai me entender.
Cada vez que ela falava essa expressão “eu errei”, eu me irritava ainda mais, imaginando ela trepando o filho da puta do Rick, ambos berrando como dois loucos apaixonados enquanto se entregavam sem limites um ao outro, fazendo planos contra o corno idiota deixado em Minas:
- Pra onde? - Perguntei, olhando o multimídia do carro.
- Para o hotel.
Eu a encarei com uma imensa vontade de gritar “Eu sei, idiota, mas qual hotel?” Acho que ela entendeu e me passou o nome e endereço. Programei o navegador e a loira por trás da telinha já começou a ratear:
- A quinhentos metros, vire à direita e acesse a avenida.
Comecei a singrar as avenidas e ruas, enquanto um silêncio dominava o cockpit de meu carro. Eu não a olhava, porque tinha raiva e tentava dirigir com atenção, mas tinha a impressão que ela não tirava os olhos de mim, certamente tentando imaginar o que se passava na minha cabeça:
- E as meninas, estão bem? Não quiseram vir com você? - Perguntou, tentando quebrar o gelo.
- Não! - Respondi, secamente, mas ainda expliquei: - Até queriam, mas com a história do coquetel, entenderam que não daria para virem dessa vez.
- É verdade! Estou morrendo de saudade delas.
Nesse momento, não sei o que me deu, talvez imaginar que logo minha família estaria acabada e a decepção nos olhos das minhas filhas, mas não consegui evitar que uma lágrima descesse por meu rosto e ela, como eu imaginava, me olhava sem parar:
- Mark, para o carro! Para, por favor.
Estacionei na primeira vaga aparentemente segura que surgiu e ela soltou o cinto e me agarrou pelo pescoço num abraço apertado. Só ela, porque eu me mantinha imóvel:
- Escuta: eu não te trai, não fiquei com ninguém e não quero me separar de você, nunca, nunca! Para de alimentar essa mágoa que foi um erro meu, coisa de Nanda, bobeira minha que não consegui controlar e acabou te atingindo em cheio. Olha pra mim.
Eu não olhava, não conseguia, assim como também não conseguia evitar que outra maldita lágrima escorresse:
- Olha pra mim, mor! - Ela insistiu e pegou minha cabeça forçando em sua direção e encostando sua testa na minha com força para que eu não desviasse: - Eu te amo, seu tonto. Meu sentimento por você não mudou em nada, aliás, só aumenta cada vez que te encontro porque é em momentos como esse que eu vejo como você me ama. Para de sofrer.
Como eu me mantinha impassível, inerte, apenas tomado por aquela tristeza, ela me apertou ainda mais forte e escondeu meu rosto em seu peito, repetindo:
- Para de sofrer por algo que não aconteceu. Eu não te traí, eu não fiquei com ninguém depois que vocês vieram embora. Fica calmo! Respira fundo e fica calmo.
Esse conselho eu segui. Passei a respirar profunda e lentamente. Não sei quantas vezes fiz isso, mas fazê-lo, de olhos fechados, em silêncio e abraçado por ela, realmente me acalmou. Após algum tempo, pedi:
- Já estou bem. Volta pro seu lugar e vamos seguir para o hotel. Nós realmente precisamos conversar.
Ela me olhou e sorriu ainda timidamente. Só aí vi que ela também estava com o rosto molhado das próprias lágrimas. Eu, na minha patética demonstração de fraqueza, não havia notado que ela chorava sem parar enquanto tentava me acalmar. Ela então novamente segurou minha cabeça e me deu um selinho caprichado e salgado. Acho que nem mesmo ela queria um beijo diferente naquele momento e esse eu não recusei.
Voltei a dirigir enquanto ela se ajeitava em seu assento. Depois ainda esticou seu braço e passou a acariciar, meio desajeitadamente, meu ombro:
- Como eu fui burra. - Falou enquanto me alisava.
- Oi!?
- Esse… Isso tudo que a gente tá passando. A gente só precisava ter conversado, eu não devia ter te ignorado.
- Concordo.
Chegamos ao hotel e parei diante da entrada principal. Um motorista já se apresentou, acompanhado de um “boy”, um “faz tudo” que se encarregou da bagagem enquanto entrávamos, seguindo direto para a recepção:
- Boa tarde. Sou Fernanda. Você deve ter uma reserva em meu nome feita pelo grupo X.
- Boa tarde, senhores. - Respondeu a atendente que fixou atenção num monitor para complementar: - Senhora Fernanda Mariana, não é?
Ela fez aquela cara invocada que eu já conhecia bem e não consegui esconder o sorriso de satisfação. Ela me cutucou de leve, claro:
- Sim, moça. Fernanda Mariana Branca de Malerc Itebral. - Resmungou visivelmente contrariada.
Preenchida a ficha de admissão, enquanto era feito seu cadastro, soubemos que a reserva se tratava de um quarto de solteiro. Daí ela se rebelou:
- Moça, sou casada. Meu marido está aqui. Se ele não puder ficar comigo, eu também não ficarei.
- Senhora, eu entendo, mas a reserva é essa. Infelizmente não temos outros quartos, senão seria apenas a questão de realocá-los.
- Sem problema! - Disse e sacou seu celular, discando para alguém: - Gonzaga, é a Fernanda. Alguém fez uma reserva para mim em um quarto de solteira. Como faço com meu marido aqui do meu lado?
Ela ouvia atentamente a resposta e insistiu:
- Já tentei. Disseram que não tem quarto de casal para nos mudar.
Novo silêncio e ela se voltou para a atendente:
- É um dos diretores da empresa querendo falar com você. - Disse, empurrando-lhe seu celular.
A moça conversou algumas poucas palavras com ele, mas, aparentemente, Gonzaga sabia ser bem persuasivo, tanto que, após desligarem, ela se voltou para a Nanda e disse:
- Parece que houve uma desistência de última hora. Então, irei realocá-los, senhora.
- Ok, então.
Pouco depois, nos entregaram os cartões-chave e fomos até o quarto. O hotel era um quatro para cinco estrelas, porque as acomodações eram muito boas, não posso negar. Assim que entramos, ela me abraçou:
- Desculpa, desculpa, desculpa. É tudo culpa minha. A gente não precisava estar assim.
- Tá. Senta aí e me explica o que aconteceu. - Pedi.
Ela me soltou e foi até o frigobar, pegando uma garrafa de água:
- Quer uma?
Balancei negativamente a cabeça e como já estava sentado na beirada da cama, ela veio em minha direção, tirando o sapato e se sentando no meio, de frente para mim:
- Fiquei brava, muito brava com você. - Disse olhando para mim e depois para a garrafinha de água: - Pensei até mesmo em ficar com o Paulo ou com o Rick para me vingar mesmo, te trair sem dó ou piedade dessa vez.
- Peralá um pouquinho! - Pedi, surpreso com a revelação de algo que nunca imaginei que ela fizesse: - O que foi que eu fiz para você querer fazer isso?
- Acho que só não liguei para você nos últimos dias em que fiquei lá porque sabia que se ouvisse sua voz, eu ficaria mais brava, a gente discutiria e eu acabaria perdendo o resto de razão que eu ainda tentava manter.
- Ainda não estou entendendo nada…
Ela deu uma respirada funda, parecendo realmente controlar uma ira que já estava adormecida e com lágrimas nos olhos voltou a me falar:
- Perdi a confiança em você!
Essa me pegou em cheio e arregalei meus olhos sem saber o que eu poderia ter feito, mas ela sabia e continuou:
- Foi coisa de momento, mas eu tinha perdido sim. - Falou e bebeu um gole de sua água: - Mor, a gente já passou por tanta coisa que eu não pensaria duas vezes em deixar a minha vida em suas mãos. Só que…
- Só que o quê, caramba!? O que foi que eu fiz?
- Você não protegeu nossas filhas, poxa! - Falou, irada e quase perdendo o controle: - Deixei minhas filhas, as pessoinhas mais importantes nesse universo para mim com você, e você quase fode com a cabeça delas!
Eu a olhava ainda sem entender exatamente, mas já imaginando a origem de tudo. Ela decidiu que não daria trégua:
- Porra, Mark, você agiu como um adolescente que não tem controle sobre o pinto. A Denise… Tudo bem! Ela queria, o compromisso dela não era com as meninas, mas você não! Você nunca poderia ter deixado uma boceta mandar na sua cabeça. Você já é um homem maduro, poxa!
Ela começou a chorar, mas se controlou, pois nem isso ela parecia disposta em se permitir:
- Nanda, olha só…
- Não! Nããão, não, não! Não tenta justificar isso. Por mais que você possa ter tomado cuidado, você nunca poderia garantir que uma delas não acordaria bem na hora que você tivesse fodendo a Denise. Nunca, nunca! - Tomou outro gole em sua água, tremendo de raiva, até os pelinhos de seus braços estavam eriçados: - Poxa, Mark, se a Mary te pega, o que você iria dizer? E a Miriam então!? Você parou para pensar nas consequências, no trauma? O que as minhas filhas iriam pensar de você? E de mim!? Jesus, se elas descobrem essa nossa vida, iriam pensar que sou uma biscate, uma puta, uma… uma… Nossinhora!
Ela voltou a chorar pesado e eu fiquei sem saber como consolá-la. Pensei em abraçá-la, mas quando eu estou bravo, é tudo o que não quero. Afagá-la, acariciá-la, tudo o que sempre parecia tão fácil entre a gente, agora havia ficado tão estranho, distante! Eu a olhava chorar e sabia que ela tinha razão em tudo que dizia. Por mais que eu tenha tomado cuidado, fiscalizado, olhado e revisado, o risco sempre existiu e como um adolescente no cio, acabei me deixando ser seduzido pelo melzinho de xereca da Denise, colocando minhas filhas em um risco desnecessário.
Suas palavras foram certeiras e atingiram minha consciência em cheio: eu havia errado! Eu havia infringido a principal regra que criamos quando decidimos experimentar esse mundo liberal. Eu não protegi minha família, as nossas filhas…
Inconscientemente eu já sabia disso, mas a constatação veio forte nas palavras dela e a dor desse meu erro fez com que minha cabeça tombasse e o peso do meu pescoço curvou meu orgulho de macho ante a derrota de um pai fracassado. Chorei como há muito não fazia, pensando na decepção que causei a ela e na dor, no trauma que poderia ter causado às nossas filhas.
Não sei quanto tempo chorei, aliás, choramos, mas depois de um tempo ela se aproximou de mim e me abraçou por trás, tentando levantar-me do tombo que eu próprio havia me imposto:
- Levanta… Levanta, Mark! Desculpa, mas eu precisava falar. Eu estava sufocada. Eu quis te bater, quis mesmo! Quis te maltratar, te humilhar… Deus sabe que eu cheguei a amaldiçoar seu nome e o dia em que te conheci… Só que aí eu comecei a lembrar tudo o que você já me deu, tudo o que você já me proporcionou, as noites de felicidades, os sorrisos, as risadas, brincadeiras bobas, nossas filhas, nossa família, tudo, e vi o quanto você é mais do que menos. Levanta daí!
Nem querendo eu me levantava, mas ela me puxou, eu ainda sem coragem de encará-la, mas ela me levantou e agarrou forte pelo pescoço, num abraço apertado, amparando-me num momento que eu próprio não me achava merecedor:
- Só depois de muito pensar, eu entendi que você não fez por mal, mas fez. Você errou e não poderia, nunca, nunca, nunca, nunca… Não você, não o meu Mark. Você é o único que consegue equilibrar nossas vidas, que consegue nos colocar de pé. Você não pode errar desse jeito... Eu posso! Eu sou burra, faço minhas cagadas, mas você não. Quando você me confirmou que tinha ficado com ela, eu fiquei sem chão, porque se você erra também quem vai me segurar quando eu cair?
Eu ouvia calado e já não sabia se o que ela dizia era para o meu bem ou para me surrar ainda mais:
- Ô Nanda… Desculpa… - Falei sem saber mais o que falar.
- Eu já te desculpei do fundo do meu coração. Eu é que te peço desculpa por não ter sido a mulher que você precisou e ter conversado antes, até mesmo ter te avisado antes. Eu me calei e criei um abismo entre a gente e isso nos machucou mais ainda. O seu erro que valia dez passou a valer mil graças ao meu.
- Não! Você não tá errada…
- Eu sei que não! - Interrompeu-me: - Mas você entendeu que errou, não entendeu? Tem alguma desculpa para o que você fez?
- Entendi, eu entendi… - Suspirei fundo quase sufocando com o aperto no meu pescoço e pedi, dando dois tapinhas em seus braços, antes de continuar: - Alivia um pouco... Não, não tem desculpa. Fui imaturo e podia sim ter dado merda. Graças a Deus não deu, mas, como você disse, eu não poderia ter feito o que fiz.
- Me desculpa também?
- Não precisa pedir desculpas. Você tinha toda a razão em ficar como ficou.
- Sim, eu tinha o direito, mas também tinha a obrigação de ter te alertado e depois te xingado por telefone, rasgado o verbo e resolvido isso antes. Eu choraria de lá, você de cá, e já teríamos nos entendido, né?
- Desculpa. - Falei e a abracei, sendo mais que correspondido.
- Já te desculpei, seu bobo. E você, me desculpou?
- Não há o que desculpar, mas se eu não falar que te desculpo, você não vai parar, não é!?
- É. Não vou mesmo! - Disse e riu baixinho encostada em mim, ficando em silêncio logo depois antes de continuar: - Não faz mais isso, Mark. Não erra comigo de novo; não com nossas filhas, pelo menos. A gente pode se machucar e seguir com uma cicatriz, mas elas são crianças, são as nossas bebês. Não faz mais isso com elas, por favor.
Aquele abraço já durava bastante e meu pescoço já estava pedindo água. Pedi que me soltasse, mas qual não foi minha surpresa quando ela negou, puxando-me para ficar deitado e abraçado a ela na cama. Ali ficamos um bom tempo até que eu decidi terminar o recreio:
- Por que você disse tanto que tinha errado? Era só sobre isso, sobre a raiva de não querer conversar comigo por eu ter errado? - Perguntei: - Porque você já me disse que não me traiu, que não ficou com ninguém…
- É… - Suspirou, afrouxando um pouco o abraço e me olhou nos olhos: - Até a sexta, eu não tinha feito nada mesmo. Só quis te dar um gelo e saí para jantar com meus colegas. Depois fomos naquela baladinha que foi até alta madrugada…
- Ah é! Essa eu vi e ouvi. - Falei, lembrando-me do vídeo dela.
- Então… Só que o Rick vinha me mandando buquês todos os dias no hotel, sempre com um cartãozinho diferente e o último, o do sábado, me tocou.
Eu a olhava e ela devia ter notado que meu semblante mudava conforme ia contando:
- Daí eu decidi ter uma última conversa com ele e fomos jantar num restaurante…
Eu comecei a me mexer, tentando inconscientemente criar uma certa distância dela, mas ela me segurou firme e continuou falando, olhando nos meus olhos:
- Para! Eu não transei, nem fiquei com ele. Escutou? - Perguntou e só continuou quando balancei minha cabeça afirmativamente: - Eu achei que devia isso a nós, nós três. Cheguei sozinha, de Uber, conversei com ele, expliquei que nunca iria me separar de você, que só você é o homem que eu amo e que por ele eu tive apenas uma…
Ela se calou por um momento, como se buscasse as melhores palavras ou, para os bons entendedores de linguagem corporal, numa tentativa de ganhar coragem, e eu a indaguei:
- Uma!?
Ela voltou a me encarar e depois de mastigar os lábios sem encontrar melhor palavra, disparou:
- Uma paixonite.
- Ahhhh! Que bom saber… - Resmunguei.
- É… Sabia que as “ites” na medicina são consideradas doenças? Então, o que eu tive por ele foi só um problema de sentimento, uma coisa temporária, um dodói que já curei e trato todo o dia…
- Como assim “trata todo dia”?
- Ara, seu bobo, aqui nos seus braços, uai! Tem remédio melhor que esse? - Falou, sorrindo uma verdade que eu reconheci bem.
- Tá, mas e ele?
- Ah, ele não aceitou bem, né? Disse que me ama, que pode me fazer feliz, me dar o mundo, e pi-ri-ri-pó-ró-ró, mas eu me mantive firme e disse, aliás, exigi que ele parasse de me procurar, de me perseguir ou eu iria colocar meu advogado na cola dele.
- Há! Sobrou pra mim…
- Posso arrumar outro advogado, quem sabe um de uma outra vara, se o doutor achar que não pode patrocinar minha causa…
- Você não presta!
Ela deu uma gostosa risada, alta e debochada, continuando:
- Daí a gente se acertou e acabou.
- Uai, se acabou tá ótimo! Mas será que ele vai aceitar assim tão fácil?
Ela fechou o sorriso, olhou para o lado e novamente vi que ela parecia estar escondendo algo:
- O que foi, Nanda? Desembucha!
- Você não prestou atenção. Eu disse a gente se acertou… - Frisou bem o “acertou” e continuou: - … e acabou.
- Acertou o quê?
Ela respirou fundo, segurando forte no meu pescoço e soltou a bomba, praticamente sem respirar:
- Ele disse que queria um final de semana completo comigo para me provar que pode me fazer feliz e que depois disso se eu ainda achasse que ele não é páreo para você desistiria de mim. - Falou, respirou fundo e soltou um alto: - Ufa! Tem capuccino gelado no frigobar, quer um?