Aproximei-me dele um pouco mais e coloquei minha mão sobre a dele. Ele tentou puxar sua mão, mas eu a agarrei forte, literalmente cravando minhas unhas nela e ele sucumbiu:
- Fica! Eu durmo no quarto de hóspedes e você fica na suíte. Só fica perto de mim e me deixa ficar perto de você. Eu não vou te incomodar. Prometo.
Ele me olhava sem jeito, constrangido, triste, ofendido, numa verdadeira miscelânea de sentimentos e emoções. Não seria fácil, mas pelo menos ali, eu senti que ainda havia uma ponta de esperança para a gente, que ele próprio corroborou:
- Tá bem então... Só essa noite e eu fico no quarto de hóspedes.
PARTE 2 - REVELAÇÕES
- Se você prefere assim, tudo bem.
- Posso pegar umas roupas na suíte e tomar um banho?
- Kaká, pelo amor de Deus! Você é meu marido, esta é sua casa, fique à vontade, nada mudou. - Respondi, constrangida com seu constrangimento.
Ele agradeceu e subiu para um banho. Depois de um tempo, subi para saber se ele gostaria de comer uma pizza, pois, conhecendo-o como eu conhecia, certamente não havia comido nada durante o dia. Entrei em minha suíte e como de costume, ele havia deixado a porta do banheiro aberta. Entrei, como sempre fazia, e ele não me viu pois estava enxaguando o xampu do cabelo. Não tive como não notar o corpo daquele homem, belo, esguio e esplendidamente adornado por um pau de bom tamanho, nem demais nem de menos, só bom. Aliás, tão bom que estava meia bomba após as bombas que soltamos um no outro há pouco tempo na cozinha. Recobrei-me e perguntei:
- Kaká, posso pedir uma pizza pra gente?
- Jesuis Maria José! - Gritou quase caindo de susto no banheiro, passando a enxaguar rapidamente o rosto: - Porra, Verônica Mariana, quer me matar do coração, peste?
Não consegui me conter e caí numa gostosa risada, gargalhava mesmo. Ele também não se aguentou e começou a rir de toda a situação enquanto eu me agachava sem forças nas pernas de tanto rir. Quando enfim consegui me controlar, lágrimas escorriam pela minha face, mas não de tristeza agora:
- Faz tempo que você está aí? - Perguntou-me.
- Ah não. Cheguei agorinha mesmo. Posso? - Perguntei novamente.
Entretanto, o instinto me fez encarar seu pau e ele notou:
- Pode o quê? - Ele perguntou, olhando para o próprio pau.
- Eu posso pedir uma pizza pra gente? Você não deve ter comido nada. - Mas não consegui me conter: - Em que você estava pensando?
- Eu!? Nada! Nada mesmo. - Disse e disfarçou: - Ah, pode... Pode sim! Realmente, estou com uma fome de leão.
- Joia então. Calabresa ou portuguesa?
- Meia a meia, com borda de catupiry.
- Tá.
Saí do banheiro, mas não sem antes dar uma nova olhada em seu pau e depois em seus olhos. Em épocas normais, ele teria saído pelado, molhado e molhando todo o banheiro e até mesmo a casa, para me pegar e foder com gosto, fazendo-me gritar para toda a vizinhança escutar, mas hoje, ele simplesmente se dignou a ficar de costas para mim para terminar seu banho. “Poxa…”, resmunguei mentalmente para mim mesma, enquanto voltava para a cozinha.
Liguei na pizzaria e fiz o pedido, solicitando ainda que caprichassem, pois eu queria surpreender meu marido. Kaká não voltava e comecei a estranhar aquilo. Voltei e ele já estava vestido e deitado em nossa cama, mexendo em seu celular. Aquilo me entristeceu, pois ele podia estar falando com a biscate da Sandrinha. Baixei meu rosto e me virei para voltar à cozinha:
- Desculpa, eu devia ter ido para o quarto de hóspedes. - Ele falou.
- Tá tudo bem.
- Eu não estava teclando com a Sandrinha. Pode ver. - Disse e me esticou seu aparelho.
- Não estou te cobrando nada, nem tenho esse direito.
- Sei que não tem, mas eu não quero que fique nada mal entendido entre a gente.
Ao dizer aquilo, uma luz de siga se acendeu na minha cabeça e me atirei em seus braços, beijando-o de surpresa. Ele não me negou o beijo, mas também não correspondeu como eu esperava, torcia, ansiava que fosse. Quando nossos lábios se separaram, foi minha vez de falar:
- Desculpa…
- Tá tudo bem. Eu é que não estou muito disposto. Sei lá…
- Se quiser ficar na cama, fique à vontade. Quando a pizza chegar, eu te aviso.
- Eu vou levar meu travesseiro para a outra cama, certo?
- Ah, mas eu gosto tanto dele… - Resmunguei.
- Mas é meu!
- Mas ele é gostoso.
- Por que você não dorme no seu? Ele é igualzinho o meu.
- Porque o seu tem o seu cheirinho de loção pós barba.
Ele me encarou como se dissesse “se gostando do meu cheiro, fez o que fez, imagina se não gostasse, né, Vê!?” e rebateu:
- Então tá. Você fica com o meu e eu fico com o seu.
- Mas como vou dormir sem meu travesseiro?
- Você vai dormir com o meu, Verônica! Ô mulher complicada, cara… - Disse e riu.
Ri também e rindo fui para a cozinha. Meia hora depois, a campainha de nossa casa soou, era nossa pizza que havia chegado. Fui recebê-la, passando pela sala onde o Kaká agora estava sentado, assistindo um jogo de futebol, mas só lá fora, diante do olhar atônito do entregador, é que me dei conta de que vestia um “baby doll” mais curto e decotado que o necessário, aliás, uma de minhas aréolas estava quase à mostra e o rapaz se mostrava perdido com tamanho avistamento. Precisei agir:
- Ô! Psiu... Minha pizza, cara, acorda.
- Hã? Ah! - Disse e pegou a pizza, entregando-me: - Dinheiro ou cartão?
Sua pergunta era mais que despropositada, haja vista que eu estava segurando e abanando uma nota de cem reais à sua frente, tentando tirar seus olhos dos meus peitos. Ele notou e ficou roxo com a mancada. Pegou a nota, devolveu-me o troco e entrei em casa. O cheiro inundou o ambiente imediatamente. Kaká levantou o nariz como se fosse um Perdigueiro farejando uma presa:
- Cara… Capricharam nessa, hein! - Falou, surpreso.
- Acho que sim. Vamos?
Ele me acompanhou praticamente colado. Coloquei a pizza sobre a mesa, peguei os pratos, talheres, copos e quando vi que ele estava com um vinho na mão, como sempre fazia, recolhi os copos e fui trocá-los por taças. Ele retornou a geladeira e trocou o vinho por um refrigerante:
- Não quer beber um vinho? A gente sempre faz isso. - Falei.
- Sim! E você sabe bem o que acontece depois, né?
Claro que eu sabia. Sexo! Selvagem, despudorado, ilimitado, bem gritado e correspondido à altura por nossa vizinha beata que quase sempre gritava em conjunto: “Parem de gritar, seus sem vergonhas!”, “Seus pais não ensinaram bons modos para vocês?”, “Pra que berrar tanto? Que falta de respeito!”. O pior é que quanto mais ela reclamava, mais eu fazia questão de berrar para ela entender que eu estava gozando no pau do meu homem e ela não tinha nada a ver com isso. Kaká me tirou de meus devaneios:
- Melhor não! Hoje não…
- Poxa, Kaká, só uma tacinha. Eu não vou te estuprar se tomar só uma tacinha.
Ele me encarou, tentando imaginar o que se passava na minha cabeça. Acho até que ele sabia e aceitou correr o risco. Voltou para a geladeira e trouxe o vinho novamente, indo até a gaveta e pegando o abridor. Aquele “poc!” foi ouvido em seguida e ele trouxe a garrafa até a mesa. Ele repartiu a pizza novamente:
- Calabresa ou portuguesa? - Perguntou-me:
- Portuguesa, por favor.
Serviu-me e depois a ele próprio com o mesmo tipo. Eu servi nossas taças até quase a boca. Exagerei de propósito, pois queria relaxar e ele também precisava. Primeiro problema: se levantássemos as taças, derramaríamos sobre a mesa. Segundo problema: se brindássemos, derramaríamos sobre a mesa, chão e roupas. Só tinha uma solução, segurei meus cabelos e me deitei sobre a mesa para beber um pouco. Meu decote me traiu e um seio saiu ligeiro para fora. Kaká me encarou enquanto eu voltava para minha cadeira, lambendo os lábios:
- O que foi? - Perguntei, vendo sua cara atordoada.
Ele não respondeu. Apenas apontou para o meu seio como se ele nunca o tivesse visto. Eu o encarei e olhei fundo em seus olhos, até mesmo fechando-o levemente como quem dissesse o óbvio: “você já viu o meu cu e está preocupado com o seio!?”. Ele, ao contrário de mim, levantou a taça, equilibrando-a e fez sujeira, claro! Respirei fundo para não mandá-lo à merda por manchar com vinho tinto minha caríssima toalha branca de algodão egípcio, presente de uma tia já falecida quando de nosso casamento:
- Desculpa. - Ele falou, notando sua cagada.
Eu esbocei meu melhor sorriso amarelo e não disse nada, pois se dissesse o bicho iria pegar. Ele tomou um gole e eu levantei minha taça, fazendo o mesmo. Ele não quis brindar e, sinceramente, nem eu queria depois daquela lambança. Se ele fez de propósito ou não, não sei, mas me atingiu em cheio. Eu mordia com raiva os pedacinhos do meu pedaço de pizza, olhando inconformada para a mancha na minha toalha que parecia aumentar a cada segundo. “Filho da puta! Filho da puta! Filho da puta!”, pensava sem parar dele:
- Eu mando na lavanderia amanhã. Fica tranquila.
- Minha toalha de algodão egípcio? - Falei quase gritando: - Cê tá louco!? Lembra o que fizeram com sua camisa da última vez? Nem em sonho que mando minha toalha lá outra vez.
- Mas então…
- Deixa que eu me viro! - O interrompi, emendando: - Já tô fodida mesmo…
Calei-me porque a escolha das palavras foi a pior possível. Aposto que ele devia estar pensando: “Realmente… Fodida mesmo e por vários!”. Minha frase causou um efeito muito pior do que eu podia imaginar e um silêncio constrangedor surgiu entre a gente. Parecia que eu havia construído um muro de Berlin entre a gente que não poderia mais ser transpassado. Ele terminou seu primeiro pedaço e parecia ter desistido de continuar, nem sua taça de vinho havia bebido ainda. Eu precisava agir:
- Uma de calabresa agora, amor? - Perguntei, tentando quebrar aquele gelo.
Acho que a palavra amor não caiu muito bem, pois ele me olhou entristecido e virou sua taça de vinho. Como ele não me respondia eu servi sua taça novamente e insisti:
- Kaká, qual sabor?
- Pode ser de calabresa.
Eu o servi e voltei a me ocupar da minha. Decidi puxar um assunto qualquer:
- Quem estava jogando?
- Jogando?
- É, ué! Você não estava assistindo uma partida de futebol?
- Ah… - Disse e fez uma cara de quem tentava se lembrar de algo: - Sabe que eu não notei o placar. O jogo estava uma bosta. Era Corinthians contra… contra… Sabe que eu não sei quem era o outro.
- Nossa! Que jogão, hein? Melhor assistir novela.
- Nem tanto, né! Essas novelas de hoje em dia são só putaria e lacração. Tem nada que preste.
- Ah, mas daquelas de época eu até que gosto.
- É… - Disse e virou quase meia taça, como que querendo tomar coragem e entendi logo na sequência o porquê: - Com quem foi, Verônica?
- Com quem foi o quê? - Perguntei, já imaginando o que ele queria saber.
Ele me olhou e não precisou falar. Entendi na hora:
- Kaká, por favor, isso não importa. Eu te conheço. Você vai ficar cabreiro quando sair na rua e não vai saber disfarçar se um dia encontrar com eles. Esquece disso, por favor.
- Poxa, eu tenho direito de saber quem fodeu com a nossa vida. Preciso saber em quem confiar ou não. Por exemplo, o Roberto quero que se foda de verde e amarelo, nem no enterro daquele filho da puta eu piso um dia.
Eu realmente não queria falar, pois sabia que ele iria ficar chateado quando soubesse, como ficou quando soube do Roberto, se bem que este era bom mesmo ele saber, pois descobri depois que era um folgado e poderia tentar me chantagear no futuro. Como eu demorava, ele insistiu:
- Por favor, não vou brigar, nem discutir. Só quero saber…
- Tá… Tá bom. Eu só…
- Não vai me dizer que você não se lembra?
- É claro que eu me lembro, de cada um deles e me dói saber que fiz isso. Realmente, acho que eu deveria ter procurado outra forma de resolver nossos problemas.
- Agora isso é tarde.
- É… Aliás, é se for só para eu resolver, sozinha, se você me ajudar, quem sabe a gente não consegue, né?
Ele não respondeu, apenas deu de ombro, enquanto colocava outro pedacinho de pizza na boca. Se havia alguma chance de a gente se acertar, eu teria que ser totalmente honesta:
- Cléber e Moacir, meu colega de academia e o seu amigo, foi a primeira transa. - Falei.
- Esses eu não conheço.
- Talvez os conheça de vista, mas não me lembro de tê-los apresentado mesmo.
- Menos mal.
- Roberto, foi a terceira… Não, foi a quarta transa.
- Esse filho da puta, eu conheço bem. Pelo menos, eu achava que conhecia… - Disse, cerrando as mãos.
- Tá vendo? Você vai ficar nervoso à toa.
- Não, não. Tô bem. Pode continuar.
- Juscelino foi a segunda…
- Esse eu não conheço também.
Calei-me um pouco porque esse ele conhecia bem, tanto que arregalou os olhos em seguida e perguntou:
- Juscelino, o “Pamonha”? O pedreiro que terminou nosso muro na semana passada?
- É.
- Mas ele é preto! - Ele disse e tentou se corrigir: - Eu não sabia que você sentia tesão por negão.
- Então… Ele tava aqui fazendo o muro e eu tava fodida da vida com você. Daí não me lembro se foi ele que se insinuou ou eu, mas, enfim, aconteceu.
- Tá! Poupe-me dos detalhes. Quem mais?
- O Tavares, foi a terceira…
- Tavares, o gerente do banco?
- É.
- Ah, qualé, Verônica! - Disse e bufou, balançando negativamente a cabeça, inconformado: - Porra, o gerente do banco… Mas aquele filho da puta não é casado?
- Você também é… - Falei constatando o óbvio e ele se calou.
- E quem mais?
- Cléber e Moacir, Juscelino, Tavares, Roberto… - Resmunguei baixinho e me calei.
- E aí? Não vai contar o outro canalha que me enfeitou a testa?
- Kaká, eu preferia não falar…
- Deixa disso e termina logo!
- O Cesinha… - Disse de uma forma quase inaudível.
Ele ficou branco e me encarou com olhos arregalados e boquiaberto. Ficou em silêncio por alguns segundos e insistiu:
- Fala de novo. Acho que não ouvi direito.
- O Cesinha. Você ouviu sim!
- Ah, não pode ser… Cê só pode estar de brincadeira! O Cesinha, meu irmão!?
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO TOTALMENTE FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.
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