Ela fechou o sorriso, olhou para o lado e novamente vi que ela parecia estar escondendo algo:
- O que foi, Nanda? Desembucha!
- Você não prestou atenção. Eu disse a gente se acertou… - Frisou bem o “acertou” e continuou: - … e acabou.
- Acertou o quê?
Ela respirou fundo, segurando forte no meu pescoço e soltou a bomba, praticamente sem respirar:
- Ele disse que queria um final de semana completo comigo para me provar que pode me fazer feliz e que depois disso se eu ainda achasse que ele não é páreo para você desistiria de mim. - Falou, respirou fundo e soltou um alto: - Ufa! Tem capuccino gelado no frigobar, quer um?
[...]
(CONTINUANDO)
- Cê tá de palhaçada, né? - Ele falou irado e, meu olhar deve ter me entregado, porque se levantou, mesmo comigo pendurada em seu pescoço.
Naturalmente, não consegui segurá-lo, ninguém conseguiria: meu marido, apesar de não ser um bombado, quando está bravo, enfrenta um boi com grandes chances do bovino virar bife em cima de alguma grelha. Aquela era uma dessas vezes! Ele ficou de pé ao lado da cama, enquanto me sentei com as duas mãos levantadas e espalmadas, pedindo calma:
- Vai tomar no teu cu, Fernanda! Você só pode estar de brincadeira comigo. Isso só pode ser uma piada sua e de extremo mau gosto!
- Mark, para e me escuta: ele não é ruim, só está perdidinho, apaixonado, eu vi isso nos olhos dele. Daí ele me fez essa proposta e pensei em fazer isso como uma forma dele entender de uma vez por todas que não pode competir com você.
- Ele!? Ele ou você que tá com vontade de dar mais “essazinha”?
- Mark, não me ofenda!
- Responda olhando nos meus olhos, Fernanda: você quer dar para ele?
Tentei desviar meu olhar, mesmo porque eu mesma não tinha um resposta pronta e ele esbravejou:
- Olha pra mim e responde, caralho…
Voltei a encará-lo, não com medo de um violência, mas de estressá-lo ainda mais e pedi
- Senta aqui, senta? Eu não tenho que te esconder nada, não escondi quando disse que pensei estar apaixonada por ele e não vou esconder agora. Só quero que você me ouça com calma e pense no meu lado.
Mesmo contrariado, ele se sentou ao meu lado na cama. Agora eu o encarava porque precisa que ele entendesse o que se passava no meu peito e ele me encarava com muita raiva no olhar:
- Que-ro! - Falei lentamente e bem baixinho.
Ele se revoltou de vez. Vi meu carequinha branquinho ficar vermelho e quando ele fez menção de me levantar, coloquei minha mão sobre a dele sem tirar os olhos dos dele, como que pedindo para que me ouvisse. Ele bufou, arfou, mas pouco depois respirou fundo, mordendo os lábios com raiva, e eu prossegui:
- Não sei se é exatamente um querer, mas eu preciso encerrar esse capítulo na minha vida, por mim, por ele e principalmente por você. - Ele me encarou contrariado e tentei me explicar: - Você precisa de paz, Mark. Do jeito que estamos vivendo hoje, eu tenho medo que você tenha um treco.
- Cê tá de palhaçada… Você quer trepar com ele para eu ficar em… em… - Gaguejava, nervoso: - Em paz!?
- Não e sim. Eu preciso tirar esse fantasma da minha, das nossas vidas.
- E trepando com ele, você vai conseguir isso? Ah, faça-me o favor… Não concordo! Não concordo!
- Mark, lembra quando eu te disse que estava apaixonada por ele e você me pediu para eu transar com ele para eu tirar qualquer dúvida que ainda tivesse? Então… O que foi que mudou desde então?
- Então você tem dúvida! Eu sabia… Aquele papinho de eu te amo foi tudo da boca para fora!?
- Mor, pelo amor de Deus! É claro que não tenho dúvida alguma. Eu te amo! Não tenho a menor dúvida quanto a isso. Aliás, hoje eu acho que tenho muito mais condições de ficar com ele sem causar estrago algum do que antes. Eu sei o que quero e eu quero você! Eu só preciso fazer ele entender isso. - Expliquei da forma mais calma que eu podia, mesmo correndo o risco daquilo degringolar para uma discussão de um momento para o outro: - Daí o Rick me fez essa proposta e eu impus uma condição.
- Eu não concordo com essa palhaçada! Não concordo mesmo. Não concordo… - Ele repetia bravo, mas depois perguntou: - Condição!? Que merda é essa agora?
- Se você já não concorda com o pedido dele, não vai concordar com a minha condição também…
- Porra, Fernanda, o que está acontecendo? Que… Que condição é essa?
- Uai, eu só disse para ele que somente aceitaria passar esse final de semana com ele se você estivesse junto da gente.
Não sei exatamente o que aconteceu. De repente, de vermelho ele ficou branco, inclusive, seus lábios. Acredito que tenha tido uma queda de pressão e na hora imaginei que tivesse matado o meu marido. Eu o ajudei a se recostar e fiquei desesperada, dando tapinhas e jogando água em seu rosto, quando ele me encarou, pulando da cama e disparando:
- Vá tomar no seu cu! Já é uma ideia absurda essa sua de ficar com ele por um final de semana, mas agora me incluir no meio disso é… é… - Respirou fundo e sem saber o que dizer, apenas xingou: - Puta que pariu!
Ele começou a andar de um lado para o outro e depois foi rápido até a sacada do quarto. Saí correndo atrás dele:
- Mark, pelo amor de Deus, não vai pular!
- É lógico que não vou pular, você tá louca? - Respondeu, riu e ainda foi sarcástico: - Preciso de ar e já estou vendo também se é alto suficiente para quebrar o seu pescoço quando eu te jogar daqui!
- Ah, bobo, eu sei que você não faria isso… - Sorri para ele, nervosa.
- É claro que não, mas que você tá merecendo… Ah, se tá!
Ele voltou para dentro do quarto e se sentou na cama. Fui logo atrás e me sentei de frente para ele:
- Ó, cê viu só o que eu falei? Você vai procurar um médico quando a gente voltar pra casa. Pensei que você tivesse tido um treco agora.
- É!? E a culpa é de quem? Parece que você tá querendo me matar, peste ruim! - Falou e riu, debochando de si mesmo: - Treco, era só o que faltava... Pelo menos, você ficaria descompromissada, né!?
- Ai, credo, Mark! Bate na boca, mor!
- Tá, então vou ser bem claro: eu não vou e você não vai! Simples assim. - Falou sem tirar os olhos de mim.
- Olha, quando eu falei em te levar, não era só para você ficar por perto, não é para te humilhar, te submeter, nada disso! Deixei bem claro para o Rick que se ele quer ser meu marido, terá que viver a vida que eu vivo. Então, a minha ideia foi levar você para transarmos também.
Ele me encarou, apertando os olhos, mas pegou no ar a minha ideia. Ainda assim, continuei explicando:
- Como se fosse um dos meus amantes…
- Não!
- Mas eu já combinei…
- É fácil… - Interrompeu-me: - Ara, descombina, uai! Tô me lixando para esse filho da puta. Ah, e me passa todas as informações que você tiver dele que vou entrar com uma medida protetiva amanhã mesmo.
- Cê tá louco, Mark!? Não quero que meu nome vá parar na boca do povo não. Nem naquela história do Brunão eu usei a justiça, imagina se vou fazer isso agora. - Falei e, enquanto ele ainda bufava, tentei argumentar por outra ótica: - Posso te perguntar uma coisa?
- Pergunta, uai!
- As regras que nós criamos para a gente, só valem para mim. É isso?
- Como é que é?
- Você transou com a Iara, uma ex sua, várias vezes. Além disso, repetiu com a Denise também sei lá quantas…
- Pode parar! Você sabia de tudo, Nanda, nunca te escondi nada. Nós conversamos sobre isso e você concordou.
- Tá, talvez… Mas você colocou nosso segredo em risco e justamente com as nossas filhas. Errou feio e duas vezes no mesmo dia, da pior forma possível.
- Vai me jogar isso na cara agora sempre que não tiver um bom argumento!? E aquela história de perdão, foi só da boca pra fora? - Perguntou e começou a caçoar, balançando a cabeça como uma criança mimada: - “Te perdoo, mas se não fizer o que eu quero, eu desperdoo você”...
- Perdoei sim! Só quero que você veja que parece que agimos com dois pesos e duas medidas. Se você pode, por que eu não?
- Porra, não! Não, não, não, não, não! Mil vezes não! - Ele repetia, batendo a mão fechada no colchão da cama: - Por que? Quer saber por que? Porque ele disse que te ama e você me disse que estava apaixonada por ele, caralho! Eu já te expliquei, dividir o sexo é moleza pra mim, dividir seu sentimento não! Só por isso! Será que não vê que são situações diferentes… É impossível, não acredito que você não consiga enxergar isso!
- A Denise também está apaixonada por você…
- Mas eu não estou por ela! - A interrompi: - Ela pode até querer ficar comigo, mas se eu disser que não quero, não fica! Tá faltando é você falar isso claramente para esse tal Rick, aliás, parece que tá faltando você falar isso claramente para você mesma!
- Então você não confia no que eu sinto por você?
Ele se calou, me olhando e pensando no que responder. Seus olhos mostravam que o conflito era mais intenso que eu imaginava e depois de um tempo em silêncio, ele falou:
- Confio, mas eu tenho medo. Poxa, eu…
Arregalei meus olhos nesse momento e ele próprio se interrompeu. Aproximei-me dele, colocando uma mão em seu peito enquanto ele me olhava. Depois não resisti e o abracei forte:
- Tá! Tá bom. Fica calmo, mor. - O interrompi, dando uma risada de uma felicidade genuína que me encheu o peito e pouco depois sequei uma lágrima que transbordou por meu olhos antes de continuar: - Ai, meu Deus! O meu homão tem medo de me perder…
- Tenho mesmo! - Falou e me apertou forte em seus braços, fazendo-me suspirar de paixão, ainda brincando: - Além do mais, já investi dinheiro demais em você. Seria um baita prejuízo te perder para o mauricinho logo agora…
- Ah, filho da puta! - Falei, rindo e me debatendo em seus braços para, quando conseguir um mínimo de espaço, acariciar o seu rosto e lhe dar o melhor beijo que eu podia: - Ai, eu te amo demais, Mark. Desculpa bagunçar a nossa vida.
- A resposta continua sendo não!...
- Uai, mas eu não falei nada!
- Nem precisa!
- Só quero que entenda que eu só pensei que pudesse ser uma forma de encerrar isso de uma vez por todas! Queria o meu marido comigo, para mostrar que ele não é páreo para nós dois.
- Você quer é me transformar num corno manso, isso sim!
- Mark!? Escuta só o que você está falando! Eu não preciso te transformar num corno, porque você já é o meu corninho de estimação. - Brinquei e ele me olhou bravo: - Ah, para! Acha mesmo que estou falando sério!? Eu te amo, seu bobo, mas preciso da sua ajuda para resolver essa situação. Se eu não puder confiar em você para me abrir, vou confiar em quem?
- Ele é rico, Nanda, ele pode te proporcionar um final de semana de princesa, ou rainha, sei lá, te dar do bom e do melhor e ainda vai querer te foder todo dia, toda hora, para mostrar que é o “bam-bam-bam”. Até hoje você não me contou como foram suas transas com detalhes e isso só indica uma coisa: você gostou e muito, a ponto de querer esconder isso só pra você! Acha que eu vou me sentir como vendo vocês dois juntos? Acorda, Fernanda! Eu não tenho bala na agulha para enfrentar isso não!
- Quer saber como foram as minhas transas com ele? Conto tudo agora, tim-tim por tim-tim.
Ele me encarou, mas não parecia disposto a ouvi-las naquele momento, então eu própria desconsiderei:
- Tá bom, agora não, mas quando você quiser é só me falar que eu te conto. - Falava enquanto o acariciava e continuei: - Além do mais, você sabe que dinheiro nunca foi importante pra mim. Sexo eu gosto muito, aprendi com você e é por isso mesmo que quero você lá, comigo!
- Pra quê, sua louca!? Para me humilhar?
- Não, caramba, pra gente mostrar pra ele como é que se faz! Talvez se ele vir a nossa conexão, que a gente não transa apenas, que a gente faz amor e isso ninguém mais no mundo faz comigo, ele se toque, e você há de convir que não tem ninguém nesse mundo que supere nós dois quando a gente se pega gostoso, né!? - Falei, dando uma gostosa risada.
- Não! Você vai me desculpar, Fernanda, eu não vou! Quer seguir adiante com essa loucura, vai sozinha e aguenta o pau, digo, as consequências.
- Ó só… Melhor a gente parar! Você tá nervoso, aliás, nós estamos. A gente já brigou, fez as pazes, tá quase brigando de novo e você já tava até pensando em me matar na sacada.
- Não na sacada... - Corrigiu-me: - Eu ia te jogar da sacada. Você ia morrer lá embaixo.
- Nossa… Obrigada! Tô me sentindo muito melhor agora. - Falei e ri mais descontraída da brincadeira: - Vamos nos acalmar e vamos pensar com calma, ok? Quero que você pense no que eu te pedi e eu vou pensar também se não estou errada…
- Não tem o que pensar: você está errada! - Interrompeu-me.
- Tá, talvez eu esteja. Então, vamos pensar com calma. Não precisamos decidir nada agora. Aliás, hoje temos o coquetel da empresa e eu quero aproveitar muito com o meu amor. - Fiz questão de frisar: - E amanhã quero voltar para casa. Eu posso voltar, não posso?
- Não tá merecendo, mas eu vou deixar. Só pelas meninas…
- Bobo! - Falei e o apertei novamente em meus braços: - Fica calmo… Foi informação demais, eu sei, mas a gente consegue resolver. A gente sempre consegue! Só me ajuda a achar uma solução, só isso, por favor.
Ele respirou fundo, sempre me encarando, e concordou comigo. Eu conhecia bem o Mark e sabia que ele estava juntando os mais diversos argumentos para me convencer que aquela ideia era descabida. Talvez até fosse realmente, nem eu tinha certeza, mas agora, tendo o comigo, me ajudando a raciocinar, conseguiríamos achar a melhor solução:
- Certo! Então, esse assunto acabou, ok? - Falou.
- Tá. Por hoje…
- Então tá…
- Mudando de assunto: você trouxe terno para o coquetel?
- Fernanda, eu estava pensando que você quisesse terminar comigo. Acha mesmo que vim pensando em participar de uma merda de coquetel?
- Mark, você vai ter que comprar um e já, porque vai ser um coquetel chique, um jantar dançante. Não dá pra você ir de jeans, né!?
Ele ficou contrariado, óbvio, mas principalmente ele, por ser advogado, entendeu que a ocasião pedia formalidade. Ele pegou seu celular e passou a pesquisar alfaiatarias próximas, encontrando uma num shopping não muito longe dali e decidimos ir para lá. Naturalmente, fui com ele porque havia decidido não largá-lo nunca mais.
Em meia hora, chegamos, estacionamos e fomos direto para a loja, onde ele escolheu um jogo completo de terno, inclusive com colete. Ele queria um cinza com risca de giz, mas eu o convenci a comprar um azul marinho numa tonalidade e brilho que nunca havia visto antes. Além disso, comprou também uma camisa branca e duas gravatas listradas, uma com tons e sobretons de azul e a outra em tons de azul, cinza e preto. Não saiu barato, mas ele poderia usá-lo em outras ocasiões, então seria um investimento. Além disso, os ajustes ficariam prontos em menos de duas horas.
Fomos almoçar num restaurante do shopping e ele escolheu um grande e suculento bife de chorizo, um corte argentino não muito comum por aqui, acompanhado de arroz branco e uma sala leve. Eu preferi uma massa recheada de frango com molho branco e champignons, mas não resisti à tentação e tracei quase um terço do seu “bifinho”. Ele não se incomodou em nada, porque também comeu uma boa parte da minha massa que também estava divina.
Ficamos passeando pelo local, fazendo o “quilo” e eu estava radiante com nosso reencontro, bem como com o fato de termos nos entendido “razoavelmente bem”. Eu não desgrudei dele para nada. Se queria ver uma bolsa, o arrastava. Sapatos, o arrastava e foi providencial, porque ele aproveitou que comprar um sapato novo, meias e um cinto também. Naturalmente, também comprei um belíssimo par de sapatos de salto alto dourado para usar no coquetel:
- Vestido pra hoje? - Ele me perguntou.
- Eu… Tenho sim.
Eu havia levado vários na minha viagem, inclusive alguns sociais. Além disso, havia ganhado aquele do Rick, lindo de viver e que eu iria usar para deixar o meu marido ainda mais orgulhoso da mulher que tinha. Não estava nem aí para a origem dele, o que interessava é que agora eu o usaria com o homem mais importante da minha vida. Quando estávamos passando na frente de uma loja de lingerie que tinha um lindo espartilho vermelho e preto na vitrine, ele tentou me puxar para dentro, mas recusei:
- Uai, mas por que?
- Já comprei algumas e além do mais, o mais gostoso a gente faz sem, né!?
- Comprou como? Onde?
- Curioooooosu! - Brinquei e ri da sua cara inconformada, mas já expliquei em seguida: - Não ganhei de ninguém, tá? Comprei porque eu mereço e o meu homem mais ainda, tá!?
- Então tá, então, né! Tô até com medo da fatura desse mês…
- Engraçadinho! Fica tranquilo que ela virá pequenininha. Praticamente a empresa arcou com todas as despesas que eu tive. Então, só gastei com um lanchinho, uma cervejinha, uma lingerie, motel…
- Motel!?
- Tô brincando, seu bobo. - Falei e dei uma gostosa gargalhada de sua cara, chamando a atenção de todos ao nosso redor: - Ops! Preciso me controlar.
Depois de uma rápida passada numa livraria para comprar os livros presentes de nossas filhas ausentes, eu o convenci a matarmos o tempo pegando um cineminha. Pra variar, acho que dormi a maior parte do filme, pois me lembro muito pouco da história. Fomos depois até a alfaiataria buscar sua compra. Ele provou a roupa e os ajustes haviam ficado perfeitos. Na saída, passou numa barbearia e comprou um kit para barba, bigode e cabelo.
Voltamos ao hotel para descansar e fui tomar um banho, arrastando-o box adentro comigo. Transamos, é claro, mas foi uma transa protocolar: não tínhamos muito tempo e acho que ele ainda estava meio baqueado com a história da proposta do Rick. Então, acho que ele não quis me dar uma surra de pica das galáxias naquele momento. Não sou boba e notei, claro, mas não quis reclamar, nem poderia naquelas circunstância.
Ele saiu do box e continuei meu banho. Saí logo depois e ele ressonava na cama. Deixei que descansasse e fui me preparar para o coquetel. Prendi meu cabelo num coque baixo, tal qual uma tradicional espanhola e decidi fazer uma maquiagem clássica, marcante nos olhos, um pouco nas maçãs do rosto e lábios. Peguei uma lingerie que havia comprado num shopping de Manaus, preta, rendada e mínima, que foi engolida pela minha bunda assim que a vesti, mas cujo sutiã tomara que caia estruturado, deixava meus seios maravilhosamente empinados. Por fim, coloquei uma meia sete oitavos preta, também rendada:
- “Totosona”! Não é à toa que você fica virando a cabeça dos homens, Nanda! - Brinquei comigo mesma, ri e só então me lembrei do meu marido que continuava ressonando em seu soninho de beleza, alheio a tudo.
Decidi acordá-lo e, claro, fui fazer da forma mais carinhosa possível: subi na cama e comecei a pular no colchão, fazendo-o quicar como uma bola de futebol:
- Po.. orra… que é… is… ssuu! Ô Nanda! Caralho…
Comecei a rir e lhe dei um beijaço. Ele então coçou os olhos e me encarou ainda meio perdido. Olhou ao redor e depois para mim novamente. Aliás, seu olhar agora estava todo em mim, no meu corpo e na minha lingerie:
- Ô, caramba! Era pra ter sido surpresa. - Falei e tentei esconder minha lingerie com as mãos, correndo para o banheiro, de onde retornei enrolada numa toalha: - Cê é muito bisbilhoteiro.
- Foi você que me acordou! Vai me culpar disso também?
- Tá, tá, tá… Nanda sendo Nanda! - Concordei e dei uma risada: - Vai se arrumar, vai!? É bom a gente sair um pouco antes para não se atrasar no trânsito. Ah, nós vamos de Uber, né? Daí a gente pode aproveitar e curtir bastante.
- É, pode ser. - Respondeu, agora encarando o meu vestido pendurado num cabideiro próximo: - Uai, desse eu não me lembro não, sô!
- É!? Já tenho faz um tempinho… - Falei sem querer falar nada.
Ele me olhou não aceitando a explicação e depois, indo para o banheiro, se aproximou dele e deu uma alisada no tecido. Ele sabia que aquele não era exatamente o tipo de roupa que eu compro porque, além de cara, não teríamos um evento para tanto luxo em nossa caipira cidade de morada. Ele me olhou como que cobrando uma explicação e lhe joguei um beijinho, fingindo cantarolar enquanto me maquiava e torcendo para ele não me encher de perguntas naquele momento.
Ele entrou no banheiro para se arrumar e saiu de lá cheiroso, com dentes escovados e barba feita não mais que quinze minutos depois. Vestiu então sua calça, camisa, gravata, colete, cinto, meia e sapato. Sinceramente, ficou um tesão! Adoro um homem bem vestido e o Mark sabe se vestir muito bem. Eu queria que ele tivesse orgulho de mim, mas naquele momento quem estava orgulhosa era eu de tê-lo ao meu lado. “O Rick pode até ser bonito, gostosão e tal, mas o Mark, ah, que homem...”, pensei, enquanto babava e tentei um desajeitado e meio engasgado assobio para ele:
- Fi-fu-fi-fu-fuuuuuu-fuuuuiiiii… Bosta! Eu tenho que aprender a assobiar um dia. - Resmunguei e tentei novamente mais duas vezes, sob o olhar atônito e um sorriso jocoso dele: - Mas não vai ser hoje!
Ele deu uma saída na sacada do quarto e eu voltei e me arrumar, agora colocando o vestido. O peso de estar fazendo algo errado me abateu e o tirei, colocando-o sobre meu colo. Fiquei alisando aquele tecido molinho e assim que ele entrou no quarto novamente, mesmo sem o encará-lo, confessei:
- Mor, foi o Rick que me deu esse vestido…
Ele deu a volta na cama e ficou de frente para mim, mas ainda assim eu não o encarei. Então, se abaixou e pegou o vestido das minhas mãos:
- Você tem outro para usar no coquetel, não tem?
- Tenho. Não é igual esse, mas eu tenho.
- Ótimo! Tem uma tesoura aí ou vou ter que rasgá-lo no dente?
Agora eu o encarei surpresa e até triste, mas concluí que seria melhor deixá-lo extravasar toda a raiva contra o vestido do que contrariá-lo. Naturalmente, eu não tinha uma tesoura, talvez se tivesse não a daria, mas ele não precisaria. Enquanto eu pensava, ele olhava o vestido, segurando-o pela alça, virando-o de um lado para o outro:
- Ele é o melhor que eu tenho aqui. Só pensei em usá-lo para ficar bonita para você. - Falei sem saber se era melhor falar ou ficar calada.
- Tá vendo o que eu te disse!? Ele tem dinheiro para esbanjar. Vai querer te mimar com presentes que o tonto aqui não tem condições de te dar. - Resmungou sem tirar os olhos do vestido e disse depois: - Levanta!
Fiquei de pé e ele colocou o vestido de frente para mim. Olhou curioso por um tempo e disse:
- Bem, antes comigo do que com ele, né?
- Então, mas eu o usei ontem no jantar com o Rick…
O Mark deu uma parada e me encarou, chateado por não ser o primeiro, mas logo em seguida, conformado, arrematou:
- Espero que, pelo menos, você capriche mais para mim do que para ele…
Novamente, a tonta e emotiva aqui o agarrou pelo pescoço num abraço apertado e só não chorei porque iria borrar a maquiagem que já havia feito, mas vontade não me faltou, inclusive, dando um baita trabalho me controlar:
- Ninguém nesse mundo te supera, mor, não sei por que você tem medo. O Rick não chega nos teus pés.
- Mas ele é mais pauzudo que eu, né!?
- Ah vá! Desde quando isso fez diferença pra você? Você sabe fazer muito bem, é mestre no que faz. Eu nunca reclamei de nada e aproveito de montão.
- Ahamm… Nunca doeu, né?
- Não, claro que não. - Respondi na inocência, mas depois, sem querer, me corrigi a tempo: - Às vezes, quando você me pega de quatro ou soca com muita vontade, até dói um pouquinho lá dentro, mas é suportável.
Ele parou e ficou me olhando, parecendo até confuso com a resposta e só daí me toquei da brincadeira feita:
- Ah para, né! É do tamanho ideal. Tá bom assim? - Falei e ri, fazendo-o rir comigo, e ainda completei: - Eu nunca te trocaria por ninguém, nem mesmo que tenha o pau do Kid Bengala.
Daí ele gargalhou gostoso:
- Então tá. Capricha aí! Quero ver se sou tão especial assim. - Falou já me entregando o vestido.