Roupas arrancadas com pressa, calças jogadas ao chão, os dois corpos ofegantes se agarrando antes mesmo de a porta do quarto do hotel reservado de última hora se fechar. Olhos fechados, as bocas ocupadas pelo beijo mais intenso que poderia haver. Rosto liso contra barba cerrada, um mais alto e outro pouco mais baixo, as duas línguas explorando aquele que era o primeiro beijo entre eles, que naquele momento parecia ter demorado uma eternidade para acontecer. "Como conseguimos aguentar por tanto tempo?". Os braços percorrendo o corpo um do outro, sentindo o calor que eles tanto falavam que queriam sentir, tocando as costas, os peitos, as bundas, as pernas, parecia que o mundo ia acabar naquele dia (presságio?).
O mais alto, que chamaremos de V, tinha mais iniciativa, mas era mais pela sua maior experiência do que pela falta de atitude do mais baixo, que chamaremos de J (mera coincidência). Foi V quem abaixou-se e arrancou a cueca de J, depois a sua própria, para saciar aquela vontade que estava acumulada depois de um mês de trocas intensas de mensagens. Finalmente os dois se encaravam, totalmente nus, os paus em riste e já babando, os sorrisos e olhares sacanas transbordando desejo. O que V e J tinham trocado entre si até então eram fotos e alguns raros vídeos, de vez em quando alguns áudios safados quando o tesão batia mais forte, e centenas - literalmente - de emails.
E, para a surpresa de V, foi de J que partiu a iniciativa de empurrá-lo para a cama, numa manobra que se não desse certo poderia machucar o coitado, e V, ainda com um sorriso enorme e olhar surpreso, viu J subir na cama, posicionar-se sobre ele e começar a sussurrar em seu ouvido. "Por essa você não esperava né?", seguida de uma mordidinha na orelha, uma lambida no cangote, mais um beijo de língua e muito suor, que deixava o cabelo de J ainda mais preto. J apoiou-se sobre seus braços, encarou V, que ainda estava atônito (num bom sentido), abriu um sorriso bem safadinho e começou a lamber os mamilos de V, passou sua barba por fazer na barriga de V, que se contorceu todo, soltou um gemido abafado, quase envergonhado. Não contente, J foi descendo até chegar no pau de V, que já estava todo melado de baba pré-gozo, pulsando como se implorasse para receber atenção.
Apesar de ser a primeira mamada de J, ele já estava preparado, tinha sonhado (e gozado) tantas vezes com aquilo em mente que tudo aconteceu de forma natural. Ele sabia da perdição de V pela sua barba, e a passou pelas bolas dele, feliz por ouvir os gemidos abafados tornarem-se um urro em alto e bom som. Ele então lambeu bem as bolas, viu que V estava gostando, foi subindo pela base do pênis ("que pau gigante, pqp" ele pensava) até finalmente engolir a cabecinha rosada e tão babada que parecia já ter gozado. Foi aos poucos descendo até colocar o pau inteiro de V na boca e começar um vai e vem, bem como ele tinha visto em tantos vídeos por aí. Parecia estar dando certo, pois V não parava de se contorcer, tapava os olhos com uma das mãos, enquanto com a outra afagava (e empurrava) a cabeça de J para controlar os movimentos do sobe e desce. "Pára pára pára senão eu vou gozar!" foi o que ele disse. "Minha vez de te dar prazer".
Para não ficar por baixo, V pegou o corpo de J e, de alguma maneira que J nem viu como, de repente J estava por baixo e V por cima. "Lembra que te prometi introduzir ao frot?", disse com o sorriso mais safado da face da Terra. J nem respondeu, apenas abriu um sorriso enorme. "Vem!". V era experiente e tarado por um sarro, posicionou os paus - o de J já estava com o prepúcio todo retraído e babado -, cabecinha com cabecinha, e começou a sarrar com a lubrificação natural do pré-gozo. J foi à loucura, fechou os olhos e pensava que aquilo era a melhor coisa da vida. Estava onde queria estar, com quem queria estar, nada poderia estragar aquele momento de puro êxtase. E, para completar, o V é um safado, enquanto os paus se roçavam, ele começou a beijar J novamente, a chupar seu peito, a falar sacanagens em seu ouvido. "Falei que ia te levar à loucura com isso né J?", e J não tinha capacidade de responder nada, só aproveitava aqueles instantes mágicos.
Coitado do J, era a primeira vez com um homem e começou logo intenso assim, depois de uns minutos ele não aguentou não. Gozou o gozo mais intenso da sua vida, os jatos respingaram por todo seu abdômen, peito, boca, peito do V também. E, como que por instinto, ele agarrou V e o puxou para si, beijando sua boca e fazendo os paus sarrarem ainda mais, e aí foi a vez do V despejar todo aquele leite que estava acumulado fazia semanas. V deitou-se ao lado de J, os dois se olharam e não precisaram falar nada, os olhos e sorrisos falavam por si. O beijo foi automático, os dois estavam inebriados um com o outro, com o cheiro, com o suor, com o senso de proibido. E, quando J menos esperava, lá vinha o pau de V subir de novo. "Haja energia hein", "Te quero pela noite toda, J".
A penetração rolou da melhor maneira possível, na cabeça de V, e da "maneira possível", na cabeça de J, mas ele logo esqueceu o estranhamento de ter um corpo entrando no seu, aquele ardor inicial, desconforto mesmo né, e foi tomado pelo tesão da situação e se entregou. V percebeu esse momento e aproveitou para enfiar todo o seu pau em J, e começou o vai e vem, primeiro devagar, depois mais cadenciado, até J começar a pedir para ir mais forte. O que o tesão não faz, no fundo ele sabia que talvez se arrependesse disso no dia seguinte, mas não falou nada. V estava esperando por aquele momento fazia semanas, o que mais queria era desvirginar aquele cuzinho de J, ouvir seu gemido, ou melhor, seus gritos de prazer. O gozo veio como se o primeiro não tivesse acontecido, de tão abundante. Logo que descartou a camisinha, V veio sobre J e o chupou tão bem, mas tão bem que J até ficou com vergonha da sua mamada inaugural, e o gozo veio rápido. Os dois deitaram novamente, um olhando para o outro e com cumplicidade, intimidade e um sorriso de satisfação que não tinha preço.
Nem parecia que naquele mesmo dia, mais cedo, eles estavam numa D.R., tudo porque V tinha muito receio de tornar real aquele relacionamento que até então era virtual, tudo por causa de um trauma que ele tinha tido com um fdp que conheceu pela internet anos atrás. Fazer D.R. por mensagem é complicado, pensava J, e para mostrar que ele era confiável, ele resolveu jogar fora a regra do anonimato, que vinha observando religiosamente naquele último mês, e gravou um vídeo mostrando seu rosto, falando seu nome, sua história, e como as conversas com V (e o próprio V) eram importantes para ele. Colocou o pau na mesa mesmo (não literalmente, foi um vídeo comportado). Claro que o vídeo foi enviado num link seguro, com data de expiração e download bloqueado, mas V reconheceu naquele momento que J era alguém diferenciado. Além de bonitão - ele não tinha visto seu rosto ainda, uma beleza diferente, exótica até, que o deixara hipnotizado. E o charme então? O jeito de falar, a maneira de mexer as sobrancelhas, os trejeitos, o sorriso, a voz, e, melhor ainda, a segurança em sua voz, dessas que só quem tem uma autoconfiança enorme e sabe o que está fazendo consegue transmitir. "Esse é um cara que posso confiar", foi a mensagem que gravou na sua mente. E a noiva de J? Pois é, nada é simples nessa vida, mas a relação de confiança estava selada, a noiva não era mais um empecilho moral. E, para J, mesmo que V não tivesse nunca compartilhado um vídeo revelando sua voz ou seu rosto (era só pau e porra espalhada por tudo quanto é canto, mas tudo bem, tá valendo né), J tinha menos cicatrizes que ele, e as mensagens que trocavam já eram mais que suficientes para que confiasse de olhos fechados em V. Não importa de quem partiu a sugestão de se encontrarem naquela mesma tarde, o que importa é que nenhum titubeou.
Nem parecia que eles haviam começado a se falar há apenas - na verdade, exatamente, nessas coincidências da vida - 1 mês, V sendo um leitor de um autor gostosinho que J também seguia aqui na CDC e por quem J era caidinho, mas o autor nem dava trela pra ele direito. A atitude veio de V, que viu o endereço de email de J num comentário num dos contos do autor em questão, e o negócio decolou como um foguete. Em apenas 30 dias eles pareciam se conhecer tão intimamente que era até estranho eles nem saberem o seus nomes verdadeiros, ou nunca terem se encontrado, ou feito uma chamada por vídeo até aquele dia (cada um com seu trauma, cabe apenas respeito mútuo né).
E foi assim, perdidos no olhar um do outro, que ambos perceberam. O brilho, que era de alegria, sumiu e foi substituído por outro, o de lágrimas, que vieram ao mesmo tempo para V e J. "Isso que a gente tem é paixão né, V?" "Acho que é, J", e as lágrimas viraram um choro num instante. Os dois haviam prometido que iam se manter apenas parceiros de sexo, até porque J tinha casamento marcado e não tinha intenção alguma de romper com sua vida "normal", depois de anos ralando pra conquistar o que tinha. "A gente é maduro o suficiente pra reconhecer se a gente começar a se apaixonar né?", os dois se perguntavam nos emails, e a resposta era sempre afirmativa. E o pior, caros leitores, é que eles eram maduros mesmo. O reconhecimento dessa paixão veio ali mesmo naquele diálogo na cama, depois da melhor noite que eles poderiam ter imaginado. E foi ali mesmo que eles decidiram não se ver mais. Ou melhor (pior?), não se falar mais. Pela racionalidade, pelas limitações de cada um. Era mais fácil suprimir uma paixão que estava começando do que debelá-la quando já não seria mais possível.
E foi assim que, para J (será que para V também? - ó dúvida cruel), aquela foi a melhor e a pior noite de sua vida. Assim que tomaram a decisão de partir para caminhos separados, eles sabiam que tinham que agir rápido. Nada de passar a noite de conchinha, agarradinhos e encaixadinhos tipo maridinhos, com beijinhos na nuca como haviam planejado. Nada de beijo de despedida, só um olhar que J nunca vai esquecer ao ver V virando para trás ao fechar a porta do quarto. Naquela mesma noite V bloqueou J de todos os meios de comunicação, como haviam combinado. E assim essa paixão fulminante, que nasceu, cresceu e atingiu o ápice em 30 dias, foi abatida em pleno voo no mesmo dia de seu auge.
J ficou no quarto, chorando ainda (que V nunca saiba disso), mas no fundo, no fundo, sabia que aquela era a decisão acertada. E ainda bem que foi tudo combinado entre eles, era uma decisão mútua. Mas os versos do Soneto de Fidelidade, do mestre Vinicius, não saíam da sua cabeça (sei lá por que ele os conhecia de cor). Em especial aquele último terceto:
(...)
"Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."
Mas e a esperança, ah, a esperança de ele e V voltarem a se falar algum dia...como fica? Como lidar com ela? "Problema para outro dia", pensava J, preparando-se para sair do quarto e fazer o check-out antecipado do hotel.
[Ficção]