Amor em atos - Tenho você

Um conto erótico de João Fayol
Categoria: Homossexual
Contém 3714 palavras
Data: 09/05/2023 17:19:17
Última revisão: 10/05/2023 20:22:23

- Eu não vou, Benjamin. Não adianta, eu não vou. - eu estava sentado na poltrona da sala da minha casa, e não tinha a menor intenção de sair de lá.

- Você é teimoso pra caralho, João. É impressionante. - ele estava andando de um lado a outro da sala, enquanto gesticulava e reclamava. Longe de ser a minha intenção irritá-lo, mas ele ficava extremamente excitante quando estava irritado.

- Eu não sou teimoso, mas eu não vou pra um lugar que eu não quero ir. Você deliberadamente tomou uma decisão unilateral sobre a minha vida e agora quer que eu esteja feliz? - incrivelmente, ele não parava de andar e de resmungar.

- Porra, João. Tu é foda, né? Eu te vi sair morto de dentro de um carro esmagado por um caminhão, te vi ser reanimado no meio do aterro, depois fiquei uma caralhada de horas numa sala de espera sem saber se tu ia sair vivo ou morto da mesa de cirurgia, fiquei dois meses direto contigo dentro de um hospital, acompanhando cada progresso teu, caçando bons fisioterapeutas pra tu se recuperar 100%. E só por que, agora que tu já tá em casa, eu decidi que tu vai passar umas semanas lá em casa pra eu cuidar de tu melhor, eu sou o erradão da história? - ele parou e me encarou. Filho da puta! Ele fez de propósito, sabia perfeitamente que eu iria ceder.

- Tá! - suspirei, e tenho certeza que pude vê-lo segurar um sorrisinho. - Mas não vai achando que você vai mandar em mim enquanto eu tiver lá - ele veio se aproximando, até estar próximo ao meu rosto.

- Não tenho essa pretensão, meu amor. - ele deslizou seu rosto e beijou meu pescoço, arrepiando todo o meu corpo, logo em sequência.

Das poucas certezas que possuo na vida, a principal delas é que o Benjamin sempre ganha de mim, não importa o tempo e a situação. E esse vencer nada tem a ver com ser superior a mim, mas sobre saber o que ser dito, do jeito certo e na hora certa para quebrar meus argumentos. Ele é mestre nisso, e no fundo, mas bem lá no fundo, eu gosto disso.

Mas neste caso específico, ele esteve correto desde o começo. Após a cirurgia, as coisas se desenrolaram mais lentamente do que eu gostaria. Meu período de UTI foi muito mais extenso do que o previsto pelos médicos, a cicatrização dos pontos foi lenta, a reação do meu corpo aos medicamentos foi lenta, e quando enfim meu quadro se estabilizou o suficiente para que eu fosse deslocado a um quarto comum, uma infecção hospitalar me derrubou, e mais uma rodada de bolsas de sangue e antibióticos se fez necessária. Não achei que fosse morrer, mas após a quinta bolsa, eu quis.

Após longos 30 dias, enfim tive alta da UTI, e depois de mais 20 dias de cuidados, agora em um quarto comum de andar, obtive alta hospitalar. Durante todo esse período, estive cercado pelos meus pais, Benjamin e Carol. Meus pais foram fenomenais e abriram mão de toda a rotina de negócios para ficar ao meu lado enquanto estive internado. Quando obtive alta, eles permaneceram comigo por mais 2 semanas, e só retornaram a São Paulo quando tiveram certeza que eu estava bem e, claro, após eu bater o pé e afirmar que não iria para lá junto com eles. A concessão para eu permanecer no Rio sem eles, era o Benjamin cuidar de mim. Isso tem um motivo específico: Ben apoiou a minha decisão de permanecer no Rio, e como quer - como se fosse necessário - ganhar a aprovação dos meus pais, agora que estamos tendo algo - ainda não nomeado namoro, já que não houve pedido oficial -, afirmou para ambos que eu permaneceria sob seus cuidados até que eu estivesse plenamente recuperado.

Meus pais e Benjamin sempre tiveram uma boa relação, que se manteve estável durante todo esse tempo, mas ser alçado à categoria de “genro” alterou esse status quo de tranquilidade. Não é que subitamente meus pais passaram a odiar ele, ou mudaram a forma como o tratavam, mas havia uma certa desconfiança no ar. Seja porque eu disfarçava muito bem ou porque eles trabalhavam tanto para manter nosso padrão de vida que mal me viam, meus pais NUNCA desconfiaram que havia algo entre nós dois, e ficaram extremamente chocados quando souberam que estávamos juntos.

O choque inicial deu lugar a essa desconfiança, a esse receio de que as coisas dessem errado e eu além de estar fisicamente longe deles e dessa rede se segurança e proteção, ficasse também sem meu melhor amigo. O medo que eu não tive, eles estavam tendo. Para o Ben, isso perpassa por um outro caminho, ele realmente considerava que meus pais tinham dúvidas se ele seria ou não o cara ideal para mim, e para isso, ele tinha de se mostrar digno, como se realmente vivêssemos em um filme da Marvel, no qual ele era o Thor e eu martelo que ele somente conseguiria pegar caso fosse considerado digno.

Eu achava tudo isso uma grande papagaiada, mas culminou no meu retorno à Urca para ficar mais próximo dele. De uma forma prática, aquele retorno seria benéfico para todos, já que ele não precisaria se deslocar todos os dias ao Flamengo para me ver, e retornar à Urca para cuidar da Carol, que ainda morava lá e já havia entrado no segundo trimestre da gestação, necessitando de mais cuidados.

Nada disso deveria ser um problema, afinal, eu havia passado 10 anos enfiado na casa do Ben e ele na minha, e outros 5 dividindo uma casa com ele, mas agora as coisas eram diferentes, não éramos somente bons amigos… melhor, não éramos somente bons amigos, havia muito mais coisa em jogo e muito mais a se perder caso algo desse errado - talvez eu realmente estivesse tendo a mesma desconfiança que meus pais -. E além disso, minha relação com a Carol havia finalmente voltado às boas, e eu tinha um grande medo de que a proximidade fizesse mal a nossa relação recém-estabelecida. Não moraríamos na mesma casa, mas ainda assim, havia um grande receio de que tudo desse errado.

E, felizmente, todos os meus receios se mostraram infundados. Não é que tudo saiu perfeito, até porque, eu não possuía nenhum padrão de perfeição para a situação em que estávamos vivendo, mas era realmente bom estar em uma casa com o Benjamin, no bairro em que aprendemos a amar juntos. Eu amava estar no Flamengo e ter a vista da Baía e da Urca do outro lado, mas mais do que isso, eu amava estar do outro lado da Baía. A Urca tem uma magia que é somente dela. É um pedaço quase intocado de um Rio de Janeiro que é uma quimera para a maior parte da população. Lá eu conseguia sair de casa e assistir ao pôr-do-sol na mureta; caminhar para uma das praias e tomar um banho de sol; caminhar com certa tranquilidade, fosse pela segurança do bairro ou pela sensação de que a vida corria mais devagar por aquelas ruas de casas grandes e paisagens bucólicas.

Estar na Urca me tirava da agitação frenética que a Zona Sul, de certa forma impõe aos seus residentes. Adentrando aos meus vinte e poucos anos, que já se aproximavam mais do trinta do que dos vinte, ter aquela atmosfera foi o diferencial para ajudar na minha recuperação.

Na outra ponta da história, estava o Ben, estar morando com ele novamente, nesse momento comum em que somos mais do que amigos, era como viver um gay dream adolescente. Nós nos complementamos de muitas formas, não no que nos faltava, mas no que nos abundava. Benjamin sempre foi cuidadoso e atencioso comigo, mas agora, não era o meu amigo cuidando de mim, era o meu… meu homem! Prefiro dizer “meu homem” do que “meu namorado”, já que ainda não houve pedido formal algum da parte dele. Sim, coloco como responsabilidade dele me pedir em namoro. Enxergo como uma devolutiva dos mais de 200 dias em que ele me manteve bloqueado em redes sociais. Amá-lo não anula o fato que eu ainda sou de escorpiãoE se eu largar tudo pra viver essa vida de branquela dondoca burguesa da Urca? - era pra ser somente um pensamento, mas externei-o enquanto mexia com uma espátula de silicone, no fogão, a mistura de leite condensado e chocolate que brevemente se tornaria brigadeiro.

- O quê tu falou, Joãozinho? - Ben também estava na cozinha. Pode ter sido um ato falho não tão falho assim.

- Hã?! - tentei disfarçar voltando a mexer o chocolate - Nada não, meu amor. Eu só tava pensando alto.

- E falando em pensar alto - ele se aproximou de mim por trás e encaixou o seu corpo no meu, apertando firmemente minha cintura - Já te falei que tu tá uma delícia hoje? - ele mordeu minha orelha.

- Não lembro se você já me falou - falou! - Mas eu preferia que você me mostrasse. - desliguei o fogão e me virei.

Ambos estávamos sem camisa e usando um short simples de ficar em casa, desses que ficava acima do joelho. No processo de recuperação do acidente, até mesmo pelas constantes dietas líquidas que tive de fazer, eu perdi muito peso, e uma das metas do Benjamin era me ajudar a recuperar peso, o que estava ocorrendo. Mas como em todo processo de ganho de massa sem poder gerar tanto esforço, eu estava um pouco maior do que o meu normal, não era nada anormal e nem me causava qualquer desconforto, ao Benjamin, menos ainda, pois a sensação é de que desde que eu pulei de 63 para 68 kg, mais excitado ele demonstrava estar.

- Acho que eu tenho te demonstrado demais, João. Chegou a hora de tu me retribuir um pouco, não acha? - ele estava falando de sexo, mas não somente sobre.

Uma de suas mãos segurou o meu pescoço, e antes que eu cogitasse falar qualquer coisa, ele me puxou para ainda mais perto e me beijou. Havia muito tempo que eu não entrava em contato com esse Benjamin. Nossa vida sexual estava sendo retomada aos poucos, e por mais que houvesse muito desejo entre nós, estávamos indo com calma, aos poucos, mas naquela noite quente de verão, como na noite em que transamos pela primeira vez, havia algo de diferente. Algo que nos conectava instintivamente, como naquela noite.

Da mesma forma que começamos a nos beijar, nos separamos, eu o empurrei para longe. Tudo era rápido, mas com muita cumplicidade. Ele me olhou surpreso, mas em milésimos de segundos entendeu o que eu queria e mordeu seu lábio inferior enquanto dava um sorrisinho. Minha intenção era somente guiá-lo para fora da cozinha; ele entendeu o sinal, mas decidiu fazer o contrário do que eu gostaria. Em um movimento rápido, ele voltou para perto de mim, segurou firme a minha cintura e me colocou em cima do balcão da cozinha. Eu quis protestar, mas não tive tempo, antes que eu fizesse qualquer outra coisa, ele me beijou novamente.

- Esquece o que eu falei sobre você fazer algo por mim. - ele ameaçava me beijar, mas não concretizava a ação. A intenção era me torturar. Ele iria conseguir tudo o que quisesse.

- Esquecer por quê? - minha respiração estava ofegante, ameacei jogar minha cabeça para trás, mas ele segurou meus cabelos e retomou a minha cabeça para frente, indo de encontro ao seu rosto.

- Porque você é intransigente, João. Tu é teimoso, marrento demais comigo. Sabia? - ele deslizou a língua pelo meu pescoço, me tirando um gemido que jamais teve a pretensão de ser baixo. - Tem marra de mais aí dentro de tu, João. Te deixa muito mais gostoso, mas complica muito a minha vida. Então, eu vou complicar agora a tua.

Ele deslizou a língua do pescoço para o meu peito nu. Sua língua quente encontrou o meu primeiro mamilo, e me levou à loucura com os movimentos que ele fazia. No contato com o segundo, eu achei que fosse gozar. Num impulso, deslizei uma das minhas mãos para dentro da bermuda, tentando tocar o meu pau, que já latejava dentro da cueca, mas antes que eu fizesse isso, uma de suas mãos encontrou a minha e a suspendeu no ar; ele refez o movimento com a outra mão.

Com o peso de somente uma mão, ele prendeu ambos os meus pulsos, acima da minha cabeça e contra a parede, me impedindo de alcançar o meu próprio prazer enquanto ele brincava comigo.

- Ben, por favor… não faz isso. - chorominguei enquanto ele brincava com a ponta instrumecida do meu mamilo.

- Tu sabe o que eu quero que tu diga, não sabe? - com a mão que estava livre, ele apertou o volume que estava na minha bermuda, arrancando de mim um gemido alto.

- Amor, por favor. - me contorcia no balcão, sem saber se queria que ele me soltasse ou não, mas aproveitando cada segundo daquela experiência.

- Então é isso que te deixa, mansinho, João. Vai, fala o que eu quero ouvir. Tu sabe o que eu quero ouvir pra te tirar dessa situação.

Quantas vezes eu já disse aqui que o Benjamin era mestre em me ganhar na hora certa e no momento certo? Muitas, suponho eu. Aquela cozinha recém-limpa não era o local em que eu gostaria de transar; o meu corpo ainda não estava 100% pronto pra todas as estripulias, e se eu dissesse o que ele queria ouvir, eu iria perder nesse nosso sistema de disputa sexual que não era mais velado há muito tempo. Eu era teimoso e detestava perder; mas ele disse a coisa certa, na hora certa, fazendo a coisa mais certa ainda. Ele ganhou.

- Me fode, Benjamin. Por favor. - ele deixou minha cabeça tombar, mas logo em seguida a puxou para frente.

- Olha no meu olho, caralho. Repete olhando no meu olho. - ele me pegou com ainda mais força.

- Benjamin - eu o encarei - Me fode, agora! Me bate, me arranha, faz o que tu quiser comigo, eu não ligo, mas me fode, eu não aguento mais.

Ele já tinha ganho, mas ele queria mais. Ele queria mostrar pra mim que havia ganho essa e que ganharia todas as outras disputas.

- Por que? - tentei beijá-lo, mas ele desviou seus lábios dos meus;

- Porque você é meu homem. Porque eu sou teu, caralho. Você é meu e eu sou teu. Agora, pelo amor, Benjamin, ou você me come ou você cai for… - e antes que eu concluísse, ele me beijou.

Benjamin era carinhoso, e nos seus momentos de maior carinho, eu, com esse meu jeito um tanto prático demais, acabava por devorar ele com palavras, gestos e ações. Ele não era frágil, indefeso e menos ainda calmo, mas perto de mim ele cedia, e ele sabia que eu usava isso a meu favor. Porém tudo, na realidade, era um mecanismo de defesa. Eu agia assim porque ele me quebrava. Fosse no bom-dia que ele desejava enquanto me beijava todas as manhãs; nas mensagens carinhosas que me mandava de tarde, ou na forma que sempre me surpreendia trazendo algo diferente quando voltava da redação e passava pelo calçadão que há em Botafogo. Ele me quebrava. Ele ganhava, e o sexo era um dos espaços onde ele mais ganhava. Ele sabia que não havia mais marra alguma quando ele me amarrava junto ao seu corpo.

- Fala de novo o que eu sou teu. - nossos corpos já estavam suados e exaustos na cama. Como chegamos lá, eu não sei. Seu pau estava dentro de mim e eu já estava fora de mim. Suas mãos seguravam firmemente meu pescoço e cabelo, nossas respirações estavam ofegantes e nossos rostos colados.

- Você é meu homem. - dessa vez, eu que o beijei.

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Acho uma perda de tempo ficar aqui descrevendo quanto tempo transamos, o tamanho do pau do Ben, o meu e a quantidade de coisas que fizemos naquela noite. O que vale a pena saber é que atingimos nosso objetivo: gozamos incontáveis vezes. Fosse pela insaciedade dele, ora pela minha. Ao final da noite, já era dia, e dali a poucas horas ele teria que se levantar para cumprir a rotina de estudos na ECO, e depois seguir para a redação da emissora em que atuava como trainee.

Ainda estávamos na cama, e dessa vez, era ele quem estava deitado no meu peito, recebendo cafuné. Estávamos debaixo de uma camada grossa de lençol - sim, tomamos banho pós-sexo, pois sempre fomos amigos da higiene - por causa do ar-condicionado, que marcava 16º.

- Que bom que eu tenho você. - ele estava quase dormindo.

- Que bom que a gente se tem, Ben.- o movimento da minha mão estava quase parando, porque eu também já estava caindo de sono.

- Lá no aterro, pra me deixarem ir contigo na ambulância, eu falei que tu era meu namorado. - ele queria me despertar. Atingiu seu objetivo.

- E eu sou? - continuamos nas mesmas posições.

- Não sei. Nunca me fizeram pedido algum.

- Eu tenho que fazer desde quando? - minhas mãos, que deslizavam pelos fios do seu cabelo, começaram a suar.

- Desde que tu me chamou de “teu homem”. Sou teu homem por que se tu não me fez pedido nenhum, filho da puta? Me comprou na central. - ele riu, mas eu ainda estava tenso.

- Tá! Inferno, eu peço. Quer namorar comigo? - e o empurrei, ele havia me irritado.

Ele subiu à cama já rindo e se deitou ao meu lado.

- Olha pra cá, nervosinho. - eu estava emburrado, mas o encarei.

- Claro que eu quero, caralho. Agora tu é meu namorado. - não deveria, mas sorri e o abracei.

Aquela história de quebrar? Pois é… nunca falha.

---

Os dias seguintes seguiram sob a mesma tranquilidade. Aos poucos, fui retornando à sala de aula e sendo muito bem recepcionado pelos meus alunos. De pouco a pouco, voltei a dirigir. Ainda evitava pegar o aterro, mas estava avançando bem. Meu oficial namoro com Benjamin seguia naquele ritmo intenso de início de relação: sexo a qualquer hora, em qualquer lugar, sempre que possível.

Minha relação com Carol também havia melhorado e muito. A gestação já avançava para seu sétimo mês e ela já havia trancado a faculdade e entrado de licença para se dedicar ao bebê, obviamente, junto com o pai, Benjamin. Por uma opção de ambos, eles descobririam o sexo somente na hora do parto. Soube que antes do meu acidente, uma das ultras deu que era menino, mas nas consultas seguintes, a médica não conseguiu confirmar a sexagem, já que o bebê estava sempre numa posição que dificultava a visão. Sendo assim, voltamos ao estado de desconhecimento.

Quando Benja estava trabalhando, cabia a mim ir até o apartamento dela checar se tudo estava bem, e nessa, criamos o hábito de tomar café da tarde juntos, quase sempre na varanda.

Naquele dia, havia uma consulta marcada com a obstetra. Ben estava preso na redação e não conseguiria ir buscá-la na Urca para levá-la até lá e nem queria que ela dirigisse ou tomasse um carro de aplicativo, sendo assim, me disponibilizei para levá-la até a clínica, no meu carro. Naquele dia, a obstetra estava atendendo no Riosul, shopping próximo a nossa casa e que possui uma torre empresarial em seu interior; apesar da proximidade, optamos por ir de carro. O trajeto curto me deixava mais confiante e tranquilo. E assim fomos.

Chegamos ao shopping às 15h, a consulta estava agendada para às 15:30, e às 15:15 Benjamin chegou. Eu jamais me envolvi além do necessário naquela gestação, e iria embora para que o Ben assumisse, mas ambos insistiram para que eu também entrasse no consultório para participar do ultrassom; mais do que o pedido do meu namorado, era também o pedido da melhor amiga que eu havia acabado de reconquistar, não havia como negar.

- Tu vai amar, João. Ela, ou ele, tem um coração que bate no mesmo ritmo de uma britadeira. O bebê britadeira é um fenômeno. - Benja estava animadíssimo. Ele havia mudado de ideia e estava disposto a perguntar, depois, ao médico, qual era o sexo do bebê, sem Carol saber, claro. Tinha certeza que era um menino.

- Pois é, não é só o coração que bate como uma britadeira, ele também chuta como uma. Ultimamente tem sido difícil achar posição, porque toda hora as costas doem com o peso e ele chuta as minhas costelas. - a médica já havia passado o gel sobre a grande barriga dela e deslizava o transdutor do ultrassom sobre a barriga dela.

Permanecemos mais alguns segundos conversando amenidades e rindo, até que fez-se silêncio na sala.

- Doutora, tudo certo aí? - Carol perguntou com um sorriso no rosto. A médica a encarou e voltou seus olhos à tela; os movimentos começaram a cessar.

- Doutora, deu pau aí no ultrassom? - Ben chamou sua atenção novamente, e mais uma vez ela olhou atentamente à tela. Até que, por fim, seus olhos nos fitaram novamente. E ela rompeu o silêncio.

- Eu sinto muito, pessoal. Não há mais batimento cardíaco.

Permanecemos os 3 em silêncio enquanto ouvíamos ela consolar a Carol, que estava em choque, e Benjamin, que segurava em sua mão e estava com o olhar vago. Nos foi passado que ainda naquele dia seria induzido um parto normal. O que somente piorava tudo. Ambos iriam passar pela dor do parto sem a recompensa de ouvir o chorinho daquele tão desejado bebê.

Após mais de 12h entre atendimento, notícia, comunicar os pais da Carol, que chegaram correndo à clínica, o deslocamento para um hospital de grande porte, em Copacabana e todo o processo de “parto”, Benjamin, que não desgrudou dela em momento algum, saiu do centro cirúrgico. Eu o aguardava aflito no corredor. Ele veio caminhando em minha direção totalmente aéreo e sem rumo.

- Meu amor… - estendi minhas mãos em seus ombros, o fazendo parar e me encarar. Seus olhos estavam cheios de lágrimas.

- Era um menino, João. Era o meu garoto. Eu sabia que era o meu menino.

Ele caiu de joelhos na minha frente, chorando desesperado. Fiz tudo o que eu podia fazer naquele momento: o abracei, quase o embalei. Naquele momento eu quis que o meu abraço fosse suficiente para tirar dele toda a dor do mundo.

Nada seria suficiente, mas eu estava lá. E permaneceria lá. Que bom que a gente se tinha.

- Eu tô aqui, meu amor. Eu tô aqui. Você me tem, meu Benja.

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Comentários

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Uma amiga indicou a sua história hoje para mim e desde então não consegui parar de ler. É a primeira vez que maratono uma história. Sua narrativa é envolvente e fluida, me viciado. Fiquei triste pela perda do bebê da Carol, mas estou muito ansioso pela continuação.

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Sou mulher, sou hetero, escrevo um romance heterossexual. No entanto, possuo ZERO preconceitos com romances e contos LGBTQIA+ desde que eles sejam bem escritos e envolventes. E preciso dizer que o seu está de PARABÉNS!👏👏👏

Eu passava o olho no título da sua história e então decidi ler. Simplesmente não parei até chegar ao capítulo atual. Você escreve muito, muito bem. Narrativa dos fatos flui tranquilamente e quando dei por mim já estava no fim do capítulo hahahahaha.

Só fiquei triste com este devido ao que aconteceu com o bebê.

Por uma coincidência a minha história também se passa no Rio de Janeiro, a protagonista mora em Laranjeiras(embora eu não explicite) e misturo elementos de realidade e ficção.

E mais uma vez, parabéns pela sua história.

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Caraca voce demorou tanto que pensei que tivesse acabado com a história. E aí voltou com João das cinzas e melhor, num romance lindo. Só não contava com esse final tão triste e a perda do bebê. E agora?

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Joãozinho e Benjaleco são como fênix: sempre ressurgem. Já estamos avançando para um pouco além do meio da história e nos aproximando do fim, mas ainda há MUITA história até lá.

Nossos garotos vão passar por mais essa. Não será fácil, mas passarão <3

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Tanta verdade na escrita que transborda

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Obrigado, querido. Infelizmente, se trata de uma ficção da realidade.

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João, caramba, não vou cansar de escrever como vc escreve bem. E bem precisou descrever a cena do sexo, só a preliminar na cozinha já deixa mega excitado hehehe

Vou te falar, um dia quero escrever bem assim hahaha, por enquanto tô só reaquecendo 😉

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Obrigado, querido. Seus comentários sempre me animam. E se cabe um conselho: comece a mostrar ao mundo sua escrita. Tenho certeza que há muito talento aí esperando ser conhecido.

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Hahaha ensaiei com dois contos, o primeiro mais levinho o segundo mais intenso (pq o sentimento por trás ficou mais intenso tb), qdo puder da uma olhada, seria uma honra 😉

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