Tomamos nosso café da manhã e eu imaginei que ainda rolaria mais uma “saideira”. Infelizmente, ele disse que não poderia porque tinha um compromisso inadiável em seu escritório. Depois do café, nos despedimos e eu fiz questão de acompanhá-lo até a porta, com meu braço entrelaçado ao dele. Demos um último beijo e ele saiu de vez, entrando em seu carro e partindo. Voltei para dentro, pois precisava dar uma ajeitada na casa antes de sair para trabalhar. Em questão de minutos, minha campainha tocou novamente e ainda pensei “ele tem a chave, por que não entra?”, recriminando-me em seguida, pois as havia retomado no passado. Abri a porta, certa de que ele havia mudado de ideia:
- Oi, Vê.
- O… O… Oi, Leo, mas que surpresa!
PARTE 9 - A PROPOSTA
- O que é isso, Verônica? Realmente, eu não esperava isso de você. - Disse, deixando-me aflita quase ao ponto de chorar, mas antes que eu dissesse algo, ele continuou: - Parece que você viu um fantasma. Sou eu, Leo, seu namorado não oficial.
- Ah, oi, então… Desculpa, é que eu não te esperava aqui hoje e agora. Aliás, tenho que me arrumar para ir pra escola.
- Então, vai que eu te dou uma carona. - Disse e soltou o nó do meu robe: - Ou podemos dar uma rapidinha.
- Tira a mão, menino! - Disse e lhe dei um tapinha na mão, justificando: - Primeiro, a obrigação. Depois, o prazer.
- Então tá, né… Ah, não espera, quer dizer que hoje vamos ter um “depois”? - Disse e foi me empurrando pela bunda em direção ao corredor da minha casa: - Vai lá se arrumar que te espero.
Ele se sentou no sofá da sala e senti como se o peso de uma tonelada ou mais saísse do meus ombros. Fui para minha suíte e me arrumei rapidinho. Na verdade, não havia sequer o porquê da pressa, pois eu tinha tempo de sobra para chegar na escola até mesmo a pé, mas, se a carona se ofereceu, quem era eu para me negar.
Depois de me arrumar, rumamos para a escola. Ele, espertamente, estacionou numa rua um pouco mais afastada. Eu o olhei curiosa e ele se justificou:
- Vai pagar o preço da passagem como, moça? Xerecard ou boquePIX?
Comecei a rir da cara dele e ele veio para cima de mim, me beijando. Acabamos namorando um pouco, mas logo seguimos para a escola. Assim que entramos pela portaria, Seu Zé, um faz tudo, disse que o professor Arnaldo estava nos aguardando na sala dos professores. Agradecemos o recado e assim que nos afastamos um pouco dele, perguntei:
- Será que ele está sabendo da gente?
- Acho que não. Eu, pelo menos, estou me policiando, já você, não sei, né?
- Claro que estou tomando cuidado, Leo. Não queria que isso viesse a público agora.
- Por que não? Já faz um bom tempinho que a gente tá junto. Aposto que os nossos colegas irão adorar a novidade.
- Ah, Leo, não sei mesmo… Vamos ver mais pra frente, né?
- Tá bom, mulher. Ô bicho arisco que fui arrumar, cara!
Chegamos à sala dos professores e, na realidade, o professor Arnaldo queria apenas fazer uma breve reunião com os professores, apenas tratando de assuntos relacionados ao ambiente de ensino. Novo alívio em meus já combalidos ombros. Ao final da reunião, ele fez um anúncio inesperado:
- Amigos, infelizmente, todos sabem que a Solange está enfrentando um momento difícil em sua vida e ela não conseguirá retornar para terminar o ano letivo. Então, eu gostaria que dessem uma salva de palmas para nossa nova professora, a Verônica.
Uma tímida salva de palmas começou a ser ouvida. Alguns vieram me felicitar e eu encarei o professor Arnaldo, surpresa, que se corrigiu:
- Ah, é? Eu esqueci de perguntar para você se concorda em assumir a sala em definitivo, desculpa. Aceita?
Abri um sorriso grandão, mas depois me contive e fui sincera:
- Gente, estou adorando dar aulas para as crianças daqui. Eu só não queria ter sido contratada numa situação como essa que a professora Solange está enfrentando. Quero que saibam que aceito sim, mas também faço questão que saibam que abrirei mão da minha vaga assim que ela se recuperar. O lugar é dela, sou apenas uma substituta.
Todos me encararam ainda mais surpresos e agora as palmas foram ouvidas de longe. Minha atitude serviu para me inserir de vez no coração daquele grupo. Leonardo era o mais sorridente e fez questão de vir me abraçar. Exagerou na medida, extensão e na força. Logo ouvi:
- Oxi! Tá com cara de namoro, “visse”!? Professor Arnaldo gosta disso não! - Disse Marinana, uma baita mulata que todos haviam apelidado de “Naninaninaninaninha”, professora de dança e artes, que continuou: - Por que ninguém nunca deu um abraço desse em mim, oxi, oxi, oxi?
Sampaio, um careca barrigudo, professor de Biologia, se levantou da mesa e caminhou de braços abertos até ela que o recebeu com braços esticados e fazendo “não” com os dois indicadores de suas mãos:
- Saia pra lá, saliente! Guarde bem esse seu arroizinho dentro da sua calça… - Falou indicando em direção a sua púbis e completou: - E bem longe da minha menininha, “visse”!?
A gozação foi geral e Sampaio, se lixando para a rejeição, foi se afagar no colo da Geva, obviamente apresentando sua reclamação:
- Fui rejeitado, Geviiínha do meu coração. Fizeram bully, bula, bolim, ah, fizeram aquele negócio chato comigo.
- “Bullying”, Sampaio, “bullying”, vê se aprende de vez, e, por favor, me chama de Rosangelinova ou só de Geva. Não cria mais dificuldades na minha vida.
Ele a encarou por um momento e depois sorriu:
- Putz, com um nome desses, acho que quem está precisando de colo é você. - Brincou e deu dois tapinhas no próprio colo com as duas mãos: - Quer? O meu tá disponível.
- Vou perguntar pro meu marido e depois peço para ele te responder.
- Ô mulher, só tô brincando. Credo cês tudo, viu!? - Resmungou e saiu de seu colo, indo se sentar numa cadeira próxima, ainda dando risada de si mesmo.
Depois das risadas que se esperaria de tais situações, o professor Arnaldo voltou a comentar:
- Verônica, depois vou providenciar toda a papelada e você assina. Já é a efetiva. Parabéns.
- Até a Solange voltar.
- Tudo bem. Até a Solange voltar.
Passamos a conversar todos com todo mundo, bebendo café e comendo pãezinhos de queijo quentinhos. Depois, cada um foi cuidar de seus afazeres. Contei a novidade para meus alunos, explicando de uma forma simples que a Solange teria que se afastar por um tempinho até se curar e qual não foi a minha surpresa quando fui confrontada por uma aluna que disse categoricamente que ela não iria se curar:
- Mas porque está dizendo isso, Mary? Ela vai se tratar e se curar, sim, com a graça de Deus.
- Não vai, tia. - Respondeu, entristecida: - Minha mãe também teve isso e virou estrelinha no ano passado.
Senti um nó na boca do estômago e procurei explicar que poderia ser situações diferentes que, com tratamento, poderiam ter resultados diferentes. Ela pareceu entender, mas não compreendia exatamente porque sua mãe havia partido tão cedo. Não resisti e a abracei apertado, passando a fazer cócegas e a chamei para ser minha “ajudante do dia”, dando-lhe o apagador para limpar a lousa e depois algumas atividades que pedi que distribuísse para os colegas:
- Por que ela vai ser ajudante e não eu? - Comecei a ouvir comentários de vários na sala, mas todos nesse sentido.
Resultado: tive que instituir que haveria um “ajudante por dia” e que seria escolhidos conforme a lista de chamada, começando pela Mary. No final, essa decisão acabou se mostrando ótima para o aprendizado dos alunos, pois eles começaram a se empenhar cada vez mais para se mostrarem dignos de tal alta honraria.
No final desse dia, enquanto eu saía, lá estava ele, me aguardando feito um cão voraz e faminto, disposto a me degustar naquela noite: Carlos Henrique, o meu ex-marido. “Ai, caramba, quanto mais eu reza, mais capeta me aparece.”, pensei enquanto me aproximava dele, já olhando para os lados para não me enrolar negativamente com o Leo:
- O que cê tá fazendo aqui, Kaká? - Perguntei baixinho, após puxá-lo para um lado mais discreto.
- Ué!? Passei aqui para te dar uma carona. Não gostou?
- Ah, é? Então… - Falei e já ouvi a voz do Leo se aproximando: - Poxa, Kaká, eu… eu…
- Verônica!? - Ouvi o Leo ao nosso lado e quando me virei, ele nos encarava de uma forma séria, diria até desconfiada: - Não me apresenta?
- Ah, claro! - Disse sem a menor convicção, mas também sem qualquer possibilidade de fugir daquela situação: - Carlos, este é o Leo, um querido colega da escola. Leo, este é o Carlos Henrique, meu ex-marido…
O tempo fechou. Leo o encarou feio e Kaká rebateu o olhar, mais feio ainda. Deram-se as mãos, mas não houve amenidades e sim uma disputa entre dois machos pela fêmea que saiu do cio bem naquele momento:
- O que vocês estão fazendo? - Falei colocando uma de minhas mãos sobre as deles: - Olha o papelão, Kaká! Para, Leo!
Eles se soltaram, mas não deixaram de se encarar em nenhum momento. Kaká, advogado, agiu primeiro:
- Vamos? Te dou uma carona.
- Eu também posso te dar uma carona, Verônica, meu carro tá logo ali. - Disse o Leonardo: - Aliás, faço questão.
- Parem já os dois com isso ou eu vou a pé! - Falei, fazendo-os se acalmarem, enfim.
Apesar de tudo ficou um clima ruim e algumas crianças já passavam pela gente, encarando aquele estranho ali parado, vestido de terno e gravata. Eu queria evitar o pior e tive uma decisão que não sabia se seria a correta:
- Leo, eu ainda preciso resolver com o Kaká a situação da nossa casa. Ele me fez uma proposta de compra ontem e acredito que seja isso que ele veio me explicar se daria certo ou não. Estou certa?
O Kaká me encarou e balançou afirmativamente sua cabeça, complementado:
- Sim. Inclusive, meu gerente disse que quando eu quiser me libera a linha de crédito para comprar sua parte. É só questão de definirmos a entrada que eu te darei.
- Viu? - Falei para o Leo.
- Mas tem que ser hoje? Agora? - Leo insistiu.
- Nós trabalhamos durante o dia, Leo. É natural que resolvamos essas questões fora de hora, né? - Daí me aproximei dele e praticamente cochichei: - Além disso, a gente não tem nada público, se lembra?
- É fácil falar para eu me controlar, né? - Resmungou de bate pronto: - Bom, amanhã a gente se fala, então?
- Claro, como sempre. - Disse e me despedi dele com um beijo no rosto, ouvindo um sonoro coro de “Huuummmmm! Tá namorando! Tá namorando!” de algumas alunas minhas que passavam ao lado.
Fiquei roxa, ele sorriu encabulado, mas feliz com a constatação sutil daquelas crianças que, pelo jeito, ele torcia que todos, até mesmo os adultos, tivessem ouvido e se despediu, enfim, saindo pelo portão. Pouco depois, após meu último aluno sair, convidei Kaká para irmos também. Seguimos até seu carro, entramos e ele arrancou, duas ruas à frente e ele não aguentou:
- Você tá namorando?
- Olha só… Tô e não tô. Já faz tempo que a gente não se via e pensei que não teria mais chance alguma para a gente, afinal, você já estava num relacionamento há tempos com a Sandrinha e, além disso, você seria pai. Eu tinha que tocar minha vida.
- E tem chance pra gente?
- Ai, Kaká, aconteceu tanta coisa…
- Conheceu o pastelão de palmito e se apaixonou pelo palmito dele. - Disse e se recriminou em seguida: - Desculpa, desculpa… Eu só… Eu não tenho esse direito. Só responde uma coisa?
- O quê?
- Você ama ele?
Fiquei em silêncio por um bom tempo, avaliando a pergunta para dar uma resposta que fosse justa para os três. Acho que demorei demais e ele arrancou novamente, chegando em nossa casa minutos depois. Convidei-o para entrar, mas ele disse que poderíamos conversar outra hora. Insisti:
- Entra, por favor. Conversa comigo. A gente precisa conversar. Foi por falta de diálogo que nosso casamento acabou.
Ele me olhou consternado ainda por alguns segundos, mas aceitou, desligando seu carro e me seguindo em seguida. Dentro de casa, fomos para a cozinha porque eu queria resolver aquela situação de uma vez por toda:
- O que você espera de mim, Kaká? Aliás, o que você quer de mim?
- Eu quero você, oras! Quero nosso casamento, reconstruir tudo o que eu destruí.
- Você não o destruiu sozinho. - Falei ao tocar seu rosto: - Eu tive minha parcela de culpa.
- Não! Eu comecei, eu errei primeiro. Você só se defendeu, de uma forma violenta e acho que desnecessária, mas foi só isso. Eu preciso que você procure no seu coração a possibilidade de me perdoar, acho que só assim para conseguirmos ficar juntos.
- E você estaria disposto a me perdoar, mesmo depois de saber que eu estive com seis homens… - Parei e comecei a fazer conta nos dedos, me corrigindo em seguida: - Oito, nove, dez, homens além de você depois que nos casamos?
- Dez!?
- É, ué! Os seis que você já sabe, três no clube de swing e o Leonardo.
- É realmente não sei se dou conta, cê já tá muito rodada… - Disse e sorriu de uma forma divertida.
- Para, seu chato, a conversa é séria! - Falei, também sorrindo da brincadeira feita: - Mas e aí, acha que dá conta?
Ele ficou em silêncio por um tempo, me olhando em dúvida e retrucou:
- E você, consegue me perdoar?
- Já fiz isso há muito tempo, Kaká. Não gosto de guardar rancor nem de inimigo, quando muito de uma pessoa que quero bem.
- Eu… Eu acho que consigo te perdoar também. Aliás, você não precisa de perdão, já expliquei que você só se defendeu. Isso não é errado. Não há o que perdoar. - Insistiu, enquanto eu o ouvia: - Mas eu queria te pedir uma outra coisa, só não sei se você vai concordar…
- Que coisa?
- Eu queria que você me contasse como foram suas transas?
- Pra que isso, Kaká!? - Perguntei, surpresa e assustada: - Só vai fazer você ficar ainda mais magoado. Não tem razão para eu fazer isso!
- Tem sim, inclusive, foi ideia da minha terapeuta…
- Como é que é?
- Poucas pessoas sabem, mas depois que a gente se divorciou, fiquei mal, muito mal mesmo, Vê. Então procurei uma psicóloga e contei tudo o que havia acontecido. Depois ainda veio aquela pancada ao descobrir que o Carlinhos não era meu filho e, vou te contar, se não fosse a terapeuta, eu teria pirado.
- Caramba, por que você não me procurou para conversar?
- Você era minha ex, Verônica, qual o sentido de eu te procurar?
- Não sou sua inimiga, Kaká, nunca quis teu mal. Eu só tava magoada, mas é claro que, se você tivesse me procurado, eu teria tentado te ajudar de alguma forma…
- Não! - Ele me interrompeu: - Você tinha sua vida e queria seguir adiante. A própria terapeuta me falou que foi bom eu ter dado um espaço para você, enquanto tentava recriar meu próprio espaço.
Eu o ouvia curiosa e fui pegar a garrafa de café, porque precisava entender melhor tudo aquilo. Pus a garrafa e duas xícaras e nos servimos, ele então continuou:
- Nas sessões, depois de muito conversar e ela me explicar muito os fatos que nos levaram a chegar onde chegamos, ela me propôs uma reflexão: por que havíamos ido no clube de swing, se nunca havíamos nos relacionados sexualmente com terceiros após o casamento?
- Aham. E daí?
- Ela disse que, provavelmente, a gente já tivesse uma curiosidade, talvez até mesmo uma vontade de abrir o relacionamento…
- Eu pensei que fosse só pra gente apimentar na cama. - Eu o interrompi e prossegui: - Pelo menos, foi isso que você me disse para me convencer. Você já queria ficar com outras? Aliás, que pergunta idiota, você já estava ficando com a Sandrinha, né…
- Pois é! Aí é que ela me levou a pensar que eu talvez tivesse te levado para esse mundo justamente para não precisar de uma amante, mas sim para tornar você a minha amante, entende?
- Não exatamente…
- Ela disse que eu talvez tivesse tentando juntar a minha amante com a minha esposa numa única mulher, para poder aproveitar somente com você.
Bebi uma golada grande de café, encarando-o surpresa e desconcertada:
- Gente… Mas então eu não era a sua amante?
- Responda você! Acha realmente que a gente vivia uma vida sexual plena? Quantas vezes nesses anos que passamos casados você me fez um boquete de surpresa, do nada? Quantas vezes você me pegou para transar, só por transar, dar uma rapidinha, por exemplo?
- Ah, Kaká, qual é? Boquete você sabe que sou meio fresca mesmo. Só gosto quando ele tá limpinho, lavadinho, cheirosinho e de preferência depilado.
- Depilado!? - Perguntou-me surpreso.
- É. Isso eu aprendi com o Leo, ele mantém assim e vou te dizer é muito melhor assim, porque eu não engasgo com os pelos.
- Por que você nunca reclamou comigo?
- Porque eu não sabia como você iria reagir. - Insisti e continuei: - E eu te procurava sim, talvez não com muita frequência, mas eu te procurava.
- Durante o dia para uma rapidinha?
Coloquei o dedo na boca, tentando puxar alguma lembrança e salvo duas vezes durante nossa lua de mel, realmente eu não me lembrava de nenhuma assim:
- Nem vou falar do sexo anal.
- Eu sei. Desculpa!
- Entende? A terapeuta me fez enxergar que no fundo, bem lá no fundo, talvez eu só quisesse que você fosse mais ativa, mais ousada, mais puta mesmo.
- Poxa, porque a gente não procurou uma terapeuta dessas antes? Dava pra gente ter resolvido tudo sem nos magoarmos.
- Isso é… Bom, mas agora já foi. - Falou e tomou uma golada de seu café: - Acho que pra gente tentar novamente, se você quiser, primeiro temos que nos perdoar de todo o coração, dispostos mesmo a recomeçar do zero e, inclusive, recomeçar do zero significa que vou querer casar com você novamente.
- Ui! Tô sendo pedida em casamento? - Brinquei.
- Sério, Verônica, é sério. - Ele insistiu, realmente com semblante concentrado: - E quero te propor um pacto de total transparência, honestidade e cumplicidade. Quero saber de suas transas, de suas vontades, inclusive as mais ocultas e safadas, e se você quiser, conto tudo o que aconteceu entre mim e a Sandrinha, e com quem saí depois dela.
- Você saiu com outras? - Perguntei, curiosa.
- Cê sabe que eu não sou de ferro, né, Vê!? Tive uns dois ou três casinhos, sim.
- Com quem?
- Isso agora não vem ao caso. Se combinarmos isso e você quiser, conto tudo, com os mínimos detalhes.
Era informação demais para mim. A proposta dele não apenas reatava nosso casamento, mas poderia levá-lo a um novo patamar que eu tinha medo de enfrentar. Minha criação destoava de tudo aquilo e essa realidade nova me assustava. Já que ele queria sinceridade, eu fui sincera:
- Kaká, eu não sei o que te dizer, realmente eu não sei. Acho que eu preciso pensar em tudo isso. Sei lá, tentar entender isso que você quer para a gente. Talvez eu precise conversar com uma psicóloga também e saber se isso é viável.
- Ela nunca irá te dizer isso! A terapia serve para te ajudar a entender, mas a psicóloga ou terapeuta nunca irá te dar a resposta pronta. Essa terá que vir de você.
- Ah que ótimo, vou falar, falar, falar, vou ouvir, ouvir, ouvir e, no final, eu é que vou ter que decidir!? Pra que eu paguei então?
- Para ter o entendimento. - Falou, calmamente para ser ele o psicólogo: - Então pensa. Pensa com calma, sem pressa. Se quiser, procure sim uma psicóloga e se oriente. E não dispense o palmitão por enquanto? Fique com ele, mas depois eu vou querer saber de tudo o que fez, com detalhes.
- Posso continuar dando para ele!? - Perguntei de imediato dada a surpresa e me repreendi na sequência: - Desculpa. Mas que pergunta idiota, Verônica!
Ele riu e decidiu ir embora, porque, sinceramente, depois de tantas revelações, acho que nenhum de nós tinha cabeça para mais nada. Aliás, aquela conversa havia tomado mais tempo do que eu esperava, pois só aí vi que a noite já havia caído. Quanto nos levantamos da mesa, a campainha de casa soou e fomos até a porta, onde o Leo esperava ser atendido. Apesar da surpresa, foi providencial, pois eu não queria ficar sozinha. Despedi-me do Kaká com um beijo no rosto e prometi que ele teria uma resposta minha o quanto antes. Naturalmente, Leo deve ter imaginado que se tratava da venda de minha parte na casa. Eles se cumprimentaram com um simples meneio de cabeça e Kaká entrou no seu carro, saindo. Leo me beijou, mas algo lhe disse, como dizia para mim, que a minha vida daria uma guinada em breve.
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO TOTALMENTE FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.