Continuando:
Jéssica estava muito abalada. Eu a abracei e demos a volta pelo lado oposto da piscina. Como eu não vi nem Marcel ou Marcela na área externa, saímos sem ninguém notar. Não achei que era hora de confrontá-la ou exigir uma explicação. Não éramos nada além de amigos naquele momento e eu preferi esperar até estarmos a sós. Se alguma coisa aconteceu, eu precisava apoiá-la, fazer com que se abrisse.
Chegamos ao carro e ela tremia, incapaz de destravar as portas. Peguei o chaveiro de sua mão e acionei o botão correto. Antes que ela entrasse, eu disse:
- Você não está em condições de dirigir. Está tremendo de nervoso. O que aconteceu?
A sós comigo, ela desabou de vez, chorando muito sentida. Dei o tempo necessário para ela se recompor e não pressionei, esperando que ela confiasse em mim. Aos poucos, ela foi se acalmando e desvendando o mistério:
- Eu desci até o banheiro e precisei esperar um pouco, pois era a última da fila. As meninas estavam entrando três ou quatro por vez…
Ela enxugou as lágrimas antes de continuar:
- Fiz o que tinha que fazer, mas ao sair, escutei gemidos vindo da porta mais ao fundo e fiquei curiosa…
Eu pedi que ela esperasse um pouco e dei a volta no carro, entrando do lado do carona e me sentando. Ela voltou a contar:
- A porta estava entreaberta, então, não tive dificuldades para ver o que acontecia. - Ela hesitou por alguns segundos, mas prosseguiu. - Marcela estava fazendo coisas com aquela menina loira, a que estava junto com a gente.
Eu até entendi, mas precisei perguntar:
- Coisas? Que coisas?
Envergonhada, Jéssica parecia uma menina inocente:
- Ah, você sabe…
Com o rosto muito vermelho, ela, enfim, disse:
- A Marcela estava chupando a xoxota da loira…
Meu pau deu um tranco naquele momento, imaginando a cena. Era estranho ver a forma com que Jéssica falava xoxota, a vergonha em seu olhar. A loirinha também era uma mulher bonita e muito gostosa. E como eu sempre falo antes de pensar, deixei escapar:
- E você gostou do que viu? Sentiu tesão?
Jéssica me olhou assustada, respondendo sem pensar muito também:
- Elas são bonitas, quem não ficaria excitada?
Sorri para ela, tentando passar segurança, para que entendesse que aquilo não era nada demais. Achei que era hora de pressionar, mas de forma inteligente:
- Mas o que aconteceu com você, o que lhe deixou tão nervosa e assustada? Você sabe que pode confiar em mim, já tivemos essa conversa.
Jéssica me encarou aflita, parecendo temer a minha reação. Eu não desviei o olhar, a incentivando. Ela ainda tentou desconversar:
- Eu acho que você vai ficar com raiva de mim, não quero perder você de novo.
Escolhi as palavras com calma, tentando passar a mensagem correta, mas sem ter como enrolar, fui direto:
- Se você ficou com alguém, é um direito seu. Não estamos em um relacionamento amoroso. Somos amigos, combinamos que seria assim.
Ela me olhou com tristeza, mas sem poder discordar. Decidi fazer o certo, falar o que tinha acontecido comigo, mesmo que a machucasse:
- Você reparou na mulher madura de maiô preto na espreguiçadeira?
Jéssica me olhou sem entender:
- Sim! Ela é uma mulher muito bonita. Mas o que tem ela?
Eu revelei:
- Foi na casa dela que o seu pai me encontrou.
Jéssica ainda não estava entendendo:
- Então você estava com aquela garota que é filha dela? Marcela me contou sobre ela, elas não se dão bem, apesar de terem crescido juntas. A mãe, a de maiô, é uma advogada do escritório que você trabalha, ex-mulher do seu patrão, não é?
Lembrando das palavras de Natasha: "Não se protege ninguém escondendo a verdade." Resolvi ser totalmente honesto:
- A filha não, foi com a mãe que eu estava. Ela também tentou ficar comigo aqui, mas eu não deixei acontecer, apenas trocamos um beijo e eu consegui escapar.
Percebi que Jéssica sentiu o baque da minha revelação, se mostrando ainda mais triste, mas também entendeu o meu ponto, não tendo motivos para me cobrar nada. Achei que estava ajudando, tentando diminuir qualquer culpa que ela estivesse sentindo, mas o que ela tinha a dizer, o que mais me surpreenderia, me deixando furioso, foi o que ela contou a seguir:
- Meu caso foi diferente. Tentaram me agarrar à força…
Senti a raiva me dominando, pois tinha falhado como protetor e amigo:
- Como assim, Jéssica? Quem fez isso com você? O que aconteceu?
Apesar de ser um cara calmo, pacífico, Jéssica me conhece muito bem e sabe que eu não tolero covardia ou assédio contra mulheres. Sendo irmão mais velho de duas meninas, meu instinto protetor sempre me domina. Mesmo envergonhada, ela foi honesta:
- Confesso que eu fiquei parada, em transe, assistindo a loira se deliciando com Marcela, nem percebi que alguém se aproximava…
Jéssica suspirou profundamente, me avaliou e criou coragem para revelar:
- Só senti alguém agarrando a minha bunda e me virando com força, tentando beijar minha boca e me empurrando para dentro do quarto. Acho que ela disse que eu não deveria só olhar, mas também participar, algo assim… eu tentei me soltar, mas ela era mais forte…
Eu estava me segurando para não voltar até a casa e procurar por Marcel. Ainda mantendo a sanidade, e a interrompendo, perguntei:
- Ela? Uma mulher? Você a reconheceu?
Prontamente, Jéssica respondeu:
- Sim! É aquela negra bonita, amiga da Marcela e da loira.
Senti meu celular tocando e era justamente com quem eu queria falar. Atendi já explodindo:
- Porra Marcela, você sugeriu que eu trouxesse a Jéssica para vocês se conhecerem e vocês fazem essa sacanagem com ela?
Nervosa, Jéssica tomou o celular da minha mão:
- Não, JB! Foi a Marcela que me defendeu, que gritou com a amiga e assim eu consegui me livrar e sair de lá.
Antes que eu pegasse o celular de volta, ela começou a falar com Marcela:
- Estou bem, sim… estamos na frente da casa… não precisa, já estamos indo embora.
Olhei para a casa e Marcela vinha apressada em direção ao carro. Jéssica já tinha desligado a ligação. Eu perguntei:
- Quer fazer o que? Quer ir embora ou falar com ela? - Apontei na direção de Marcela, que atravessava correndo o longo gramado.
Jéssica parecia ainda mais preocupada:
- Vamos embora, eu não quero problemas. Nada mais grave aconteceu. Só vamos sair daqui.
Eu ainda insisti:
- Está bem para dirigir? Posso confiar?
Ela me olhou com ternura:
- Sim! Falar com você sempre me acalma. É sempre você, JB! Obrigada.
Entreguei as chaves do carro e antes que Marcela pudesse nos alcançar, ela deu partida no motor e nós saímos dali.
Meus pensamentos fervilhavam, mas Jéssica conduzia o carro com segurança. Eu pensava em tudo o que aconteceu e em como poderia ajudar para que aquela situação não se transformasse em uma nova recaída para a depressão.
Jéssica acabou estacionando em um posto. Segurando forte no volante, parecia que ela iria desabar outra vez. Explodindo, socando o volante com as duas mãos, ela esbravejou:
- Droga, droga, droga… por que isso foi acontecer? Por que eu estou sempre causando problemas a quem mais amo?
Percebi que ela começava a se culpar por ter sido assediada e não deixei que ela continuasse. A abracei forte, fazendo sua cabeça repousar em meu peito e disse:
- Para! Você não tem culpa de nada. E que bobagem é essa que está falando? Você não me causou problemas em momento algum. Você é a vítima aqui.
Deixei ela colocar para fora de vez toda a frustração que sentia enquanto a mantinha junto a mim, acariciando seus cabelos. Como sempre acontece, ela foi se acalmando aos poucos e se sentindo melhor.
Naquele momento, foi o celular dela que tocou. Eu acabei não olhando para a tela e aproveitei o momento para ir até a loja de conveniência comprar alguma bebida para nós dois. Antes dela atender, disse o que faria e saí.
Voltei poucos minutos depois e ela estava sorrindo enquanto conversava ao telefone:
- Para, sua boba! Não aconteceu nada disso… ele acabou de chegar… vou colocar no viva-voz.
Aquela voz era inconfundível:
- JB, como foi a festa? Acabei não viajando. Vou mandar minha localização, venham encontrar comigo.
Natasha tentou disfarçar a preocupação, mas eu percebi. Será que Jéssica contou o que aconteceu? Decidi deixar a decisão com ela:
- E aí, quer ir?
Ela me passou a bola:
- Se você quiser, eu vou. Não quero ir pra casa. Não estou a fim de ficar sozinha.
Na última semana, andei lendo muito sobre depressão. Entendi que Jéssica estava pedindo ajuda de forma indireta. Depressão faz as pessoas se sentirem solitárias mesmo que estejam acompanhadas e como a depressão da Jéssica tinha muito a ver com as consequências de suas escolhas ligadas diretamente a mim, minha companhia, me ter de volta a sua vida, se mostrava o ponto de partida para a sua recuperação.
Entreguei à ela a garrafa de água que comprei e enquanto ela tomava um pouco, eu disse:
- Já que vocês duas parecem estar se dando tão bem, podemos esticar um pouco mais a noite. Vamos sim.
Jéssica sorriu e já foi ligando o carro, colocando o cinto e acelerando. Eu mesmo programei o GPS e liguei o som, tentando criar um ambiente mais leve e animado. A primeira música era ótima, mas triste, "Bring me to life," do Evanescence. Quando levei a mão ao rádio, na intenção de achar algo mais alegre, Jéssica me interrompeu:
- Não! Eu amo essa música.
E começou a cantar junto, baixinho:
"How can you see into my eyes like open doors?
(Como você pode ver nos meus olhos como portas abertas?)
Leading you down into my core where I’ve become so numb
(Levando você para dentro do meu núcleo, onde eu me tornei tão insensível)
Without a soul my spirit's sleeping somewhere cold
(Sem alma, meu espírito está dormindo em algum lugar frio)
Until you find it there and lead it back home
(Até você encontrá-lo e levá-lo de volta para casa)
Wake me up inside (2x)
(Me acorde por dentro)
Call my name and save me from the dark
(Chame meu nome e me salve do escuro)
Bid my blood to run
(Faça meu sangue correr)
Before I come undone
(Antes que eu me desfaça)
Save me from the nothing I’ve become
(Salve-me do nada em que me tornei)"
Eu sempre tive o costume de pesquisar traduções de música e sabia exatamente o que aquela letra dizia. "Será que nesse um ano de depressão, Jéssica se sentia daquela forma?" Pensei, lembrando das minhas leituras sobre depressão e entendendo um pouco melhor o que ela tinha passado.
Ela me surpreendeu novamente:
- Você não lembra dessa música? Ela estava tocando quando nos beijamos pela primeira vez, no primeiro ano.
Sinceramente, eu mal me lembrava do beijo, da música muito menos. Acabei, mais uma vez, falando sem pensar:
- Pra ser honesto, eu acredito que o nosso primeiro beijo, um beijo de verdade, aconteceu no domingo passado, na praça. Daquele eu me lembro muito bem…
Sem saber o que dizer, Jéssica apenas me encarou. Tentei explicar:
- Nós já conversamos sobre o namoro estranho que tivemos, não acho que temos muito a considerar. Nos confundimos e acabamos deixando a correnteza nos levar.
Ela pareceu entender:
- Acho que você tem razão.
Mas não deixou passar batido o que eu falei:
- Então está combinado, nosso primeiro beijo foi na semana passada. Nossos primeiros beijos, né?
Vendo que ela melhorava, e sorria, já parecendo se refazer do ocorrido na festa do Marcel, não tive coragem de destruir sua ilusão. Vendo o quanto ela tinha evoluído na última semana, achei até que poderíamos ficar, sem compromisso, lógico, mas também, eu não queria que ela criasse expectativas exageradas. Apenas concordei, vendo que estávamos chegando ao endereço passado por Natasha.
Peguei o telefone e mandei uma mensagem informando que já tínhamos chegado. Jéssica estacionou o carro na vaga de visitantes do prédio e nós fomos liberados pela portaria.
Era um prédio simples, nada muito especial, igual a milhares de outros prédios residenciais espalhados pela cidade. Subimos até o apartamento de Natasha e fomos recebidos com abraços apertados e beijos carinhosos. Ela estava feliz por nos ver. Brinquei:
- Deixou de ir para o litoral e passou o dia sozinha?
Ela entrou na onda:
- O "amigo" acabou tendo uma emergência no trabalho e decidiu remarcar.
Até Jéssica brincou:
- Amigo… sei…
Natasha estava mesmo alegre por receber a gente, mas eu estava confuso. Antes que eu perguntasse qualquer coisa, ela já se adiantou:
- Gostaram do meu apê? É simples, mas é meu.
E logo nos fez uma proposta:
- Por que vocês não ficam aqui comigo hoje? Vamos fazer uma noite de amigos. Estou precisando de companhia, me sentindo só.
Jéssica me encarou, parecendo tentada a aceitar o convite. Eu encorajei:
- Por mim, tudo bem. Só vou avisar minha mãe.
Aproveitei o momento para dar um empurrão em Jéssica, deixar ela decidir sozinha. Perguntei à Natasha:
- Posso usar o banheiro?
Acho que Jéssica percebeu minha intenção, pois assim que Natasha indicou o caminho, eu saí rapidamente. Até demorei um pouco no banheiro, de propósito. Quando voltava à sala, recebi uma mensagem do Sr. Sérgio, pai da Jéssica:
"JB, desculpa incomodar, mas Jéssica disse que vocês passarão a noite na casa de uma amiga, a Natasha. Por favor, cuide da minha menina. Ela costumava ter pesadelos nesse último ano. Confio em você."
Para acalmá-lo, me sentei entre as duas e tirei uma selfie de nós três, enviando para ele em seguida. Elas me olhavam sem entender. Expliquei:
- É para nossos pais ficarem despreocupados.
Natasha sorria:
- Tanto a minha mãe, quanto o pai da Jéssica são muito preocupados. É bom que eles saibam que realmente estamos juntos e que estamos na sua casa.
Natasha fez um carinho na minha cabeça e sentiu meu cabelo embaraçado:
- Teve piscina? Quer tomar um banho para tirar esse cloro?
Aquela era uma ótima ideia e eu aceitei. Ela pediu licença por um minuto, saindo da sala, mas logo voltou trazendo uma toalha, uma cueca e um roupão de tecido felpudo. Ela me entregou e disse:
- A cueca é minha mesmo, adoro usar em casa, é muito confortável. Como não tenho roupas masculinas, pode usar o meu roupão.
Ela me mostrou o banheiro e Jéssica nos seguia dando risada. Natasha se virou para ela e disse:
- Pra você eu tenho roupa, temos praticamente o mesmo tamanho e tipo físico. Depois é a sua vez.
Até tentei ser cavalheiro:
- Se quiser, pode ir primeiro.
Jéssica voltou para a sala com Natasha:
- Você precisa mais, deve estar sentindo coceiras por causa do cloro.
Deixei que as duas se fossem e entrei no banheiro. Tomei um banho caprichado, o chuveiro era grande e a água caía em abundância. Ao sair, pude ouvir uma parte da conversa das duas e parei no corredor para escutar. Natasha dizia:
- Eu estou no segundo ano de direito e o que aconteceu com você foi um crime.
Eu sabia que Natasha fazia programas para pagar a faculdade, mas nunca cheguei a perguntar qual era o curso. Voltei a ouvir:
- Segundo as novas normas penais, beijar e agarrar à força, é importunação sexual, sendo considerada como agressão sexual e a pessoa que pratica esse ato pode ser severamente punida. Deixa eu mostrar.
Ouvi sons característicos de alguém teclando no celular. Natasha continuou:
- Toma aqui, pega. O artigo 213 do Código Penal diz: Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso é crime com pena de reclusão entre seis a dez anos.
Jéssica parecia determinada a negar:
- Não! Eu não posso fazer isso. Não é tão simples.
Eu fiquei muito curioso sobre a motivação de Jéssica para não levar em consideração o que Natasha explicava. Ela insistiu:
- Então você vai deixar ela se safar? Quem garante que você foi a primeira pessoa que ela fez isso? Só porque ela é mulher, não lhe dá o direito de fazer isso com ninguém. A gravidade é a mesma e se fosse um homem, ninguém teria piedade.
Jéssica foi direta:
- Você está se esquecendo de quem seria o maior prejudicado em toda a história. E se tudo isso respingar no JB e ele perder o emprego e a bolsa de estudos? Já não chega o que eu fiz com ele no passado? Eu jamais me perdoaria se ele fosse prejudicado por minha causa. Deixa isso pra lá. Ele é mais importante pra mim do que uma passada de mão na bunda e um beijo que eu consegui recusar.
Natasha entendeu e não teve mais forças para continuar. Eu me senti muito mal, pois Jéssica era a minha acompanhante na festa e estava disposta a se conformar para não me prejudicar. Fiz barulho no corredor e voltei à sala, fingindo que não tinha ouvido a conversa.
Natasha disfarçou e disse à Jéssica:
- Sua vez. Vamos esperar para pedir comida e escolher o filme. Não demore.
As duas entraram no quarto de Jéssica e eu fiquei esperando um pouco na sala. Natasha voltou e eu ouvi o chuveiro do quarto dela sendo ligado. Ela foi direta:
- Por que você não dá uma nova chance para a Jéssica? Eu sei que você ouviu o que ela disse. Essa garota é louca por você.
Eu não tinha argumentos para rebater. Natasha continuou:
- Seja honesto, diga que não quer compromisso, mas que gosta de estar com ela. Por mais que você negue, eu sei que existe um sentimento forte aí dentro. Ela está se guardando para você. É só estalar o dedo que ela vem correndo. Ela mesmo me confessou que quer que você seja o primeiro.
Eu tentei argumentar:
- Ok! A gente transa, a noite é maravilhosa, e depois? E se eu não quiser namorar? Jéssica conseguiria lidar com isso?
Natasha riu de mim:
- Jéssica é mais forte do que todos vocês pensam. Eu sei, ela se abriu comigo.
Eu fiquei curioso, esperando que ela continuasse, mas não ouvi o que queria:
- Essa é uma conversa que vocês dois precisam ter, não seria justo que eu contasse. E outra, eu também não tenho a mínima pretensão de perder você e já deixei bem isso bem claro para ela.
"Porra! Como assim? Me perder como?" Era só o que faltava, Natasha com sentimentos românticos por mim. Precisei perguntar:
- De onde veio isso? Deixou bem claro para quem?
Natasha não fez rodeios:
- Eu contei à Jéssica que a gente se pega de vez em quando. Ela já sabia, mulher sente essas coisas.
Eu precisei sentar para digerir a informação. Natasha não parou ali:
- Ela é inteligente, sabe que os tempos são outros e que precisa reconquistar a sua confiança. Ela entende que um relacionamento mais sério entre vocês não será refeito com mágica, mas sim com esforço, com ela mostrando a você que é a pessoa certa.
Era informação demais, eu não sabia o que falar. Mas Natasha ainda tinha mais a dizer:
- E sendo honesta com você, eu ainda não tenho certeza, mas arrisco a dizer que ela tem muita curiosidade sobre garotas. Se você deixar, eu posso ser a pessoa certa para ir mais a fundo.
Eu me espantei, era muita informação nova em tão pouco tempo. Falei sem pensar:
- Você acha que consegue seduzir a Jéssica? Eu pensei que quando você falou em brincar a três, que estava só me provocando mesmo…
Natasha deu o tiro de misericórdia:
- Você já brincou a três comigo, mas era com outro homem. Já imaginou se fosse com duas mulheres?
Eu não sabia se Natasha estava mesmo falando sério ou só me provocando. Seu olhar, apesar de malicioso, era sincero. Resolvi abusar da experiência dela:
- Você tem certeza de que é assim que Jéssica pensa? Eu confio em você, mas sinceramente, me preocupo com ela…
Natasha me interrompeu:
- Jéssica é uma mulher forte. Eu não sei como estava antes, só sei o que ela me disse, mas em apenas uma semana, só de estar ao seu lado, ela já se mostra outra pessoa. Hoje mesmo, já a vejo bem diferente de ontem e quinta.
Ela tinha total razão, a evolução de Jéssica acontecia rápido. Natasha foi cirúrgica:
- Se vocês pararem de tratá-la como uma doente, uma incapaz, ela não tem porquê não evoluir. O que a deprimia era a falta de você. Com você ao lado, o céu é o limite.
Quando eu pensei em responder, Natasha foi mais rápida:
- Só não esqueçam de mim, quero voar também.
Dei uma abraço apertado nela e um beijo gostoso naquela boca. Eu precisava ouvir tudo o que ela falou, aquilo abriu os meus olhos de vez. Decidi deixar rolar, tanto com Jéssica como com Natasha. Se fosse com as duas juntas, melhor ainda.
Ouvimos o chuveiro sendo desligado e nos concentramos no pedido de comida. Jéssica se juntou a nós logo depois e escolhemos o filme. Para a minha infelicidade, mais uma comédia romântica. Como Jéssica já sabia do meu envolvimento com Natasha, não me preocupei com mais nada, sendo carinhoso com as duas na mesma proporção. Mas nada erótico, apenas três amigos passando tempo juntos.
O apartamento tinha dois quartos e eu disse que dormiria na sala sem problemas. Aquele sofá era mais macio do que a minha cama. Natasha dormiu nos meus braços, enquanto assistíamos ao filme. Eu a carreguei até a cama e Jéssica a cobriu.
Voltamos para a sala e terminamos de assistir o filme coladinhos, trocando carinhos, mas eu não avancei o sinal. Deixei Jéssica à vontade para deitar a cabeça em meu colo e fiz um cafuné gostoso nela. Ela acabou não resistindo e também adormeceu. Também a carreguei no colo até a cama do outro quarto, ajeitei seu corpinho e a cobri. Dei um selinho carinhoso em seus lábios e voltei para a sala.
Eu já sabia que o meu celular estaria explodindo de mensagens, tanto de Marcel, como de Marcela, mas não queria falar com nenhum deles naquele momento. Ainda estava chateado pelo que aconteceu com Jéssica. Eu começava a avaliar o que era mais importante na minha vida: meus princípios ou o meu projeto profissional? Eu sabia muito bem o que precisava fazer, mas não podia fazer de qualquer jeito. E também, como a maior prejudicada, não poderia passar por cima da vontade de Jéssica. Acabei adormecendo sem perceber.
No meio da madrugada, achei que estava sonhando, pois aquela carícia estava tão gostosa e a sensação era tão real, parecia até a boca de Natasha mamando o meu pau. Acabei acordando e tendo a certeza de que aquilo não era sonho: sentada no chão, apoiada na beira do sofá, Natasha me chupava com muita habilidade. Até me assustei:
- Você é foda… ai caralho, que delícia… que boca maravilhosa…
Natasha era inigualável:
- Relaxa, mas tenta não fazer barulho para não acordar a Jéssica.
Ela continuava mamando muito gostoso, mas quando abri os olhos, olhando para o corredor, o susto foi grande, pois Jéssica estava em pé ali, nos olhando, esfregando uma coxa na outra, visivelmente excitada. Sem falar nada, apenas em transe, sem acreditar.
Continua.