Do Inferno (Livre adaptação) Parte 01

Um conto erótico de O Bem Amado
Categoria: Heterossexual
Contém 2520 palavras
Data: 22/05/2023 17:09:01

O Sargento Inspetor da Scotland Yard vagava pelo bairro chinês situado a leste da cidade de Londres acompanhado por dois policiais procurando por alguém que somente poderia estar naquele esgoto a céu aberto; eram tabuleiros fétidos com comidas estranhas manipuladas por homens de baixa estatura, olhos rasgados e expressões sempre agressivas. Gormley, o chefe, não gostava de circular por aquela região e seus policiais muito menos, razão pela qual o desconforto era mútuo deixando-os em estado de alerta constante. Não demorou muito para chegarem ao seu destino que se tratava de uma estalagem instalada em um cortiço deteriorado bastando uma fagulha para transformar-se em um pilha de escombros ardentes.

“Não fale! Apenas aponte!”, disse ele ao sujeito negro e mal-encarado que se encontrava do outro lado do balcão; após uma troca de olhares agressivos o tal homem esticou o braço apontando para um corredor estreito que dava para uma escadaria que desaparecia nas entranhas do edifício. Gormley ordenou aos policiais que permanecessem por ali com os olhos abertos enquanto ele rumava para a escadaria. Ao chegar ao subsolo deparou-se com outro asiático que fez menção de impedir sua entrada no que parecia ser um recinto privativo. Gormley sacou seu distintivo exibindo-o para o sujeito que manteve-se impassível.

Estava pronto para surrar o atrevido quando uma mulher idosa surgiu abrindo um enorme sorriso e curvando-se em reverência para o policial. “Ele está aqui, sim, mas por favor, sem brigas!”, disse ela com tom apressado empurrando o vigia para o lado permitindo a entrada para Gormley que avançou para dentro do local pondo um lenço sobre a boca e narinas com a vã esperança de afastar o odor asqueroso do ópio que queimava nos cachimbos pendentes nas bocas dos homens que deitados em velhas camas de madeira e vime exibiam olhares mortiços e expressões cadavéricas. Como se estivesse vagando em uma catacumba viva mal iluminada por lamparinas penduradas nas paredes e pendendo do teto, ele caminhou por entre as camas até encontrar o que procurava.

Prostrado sobre a cama com uma expressão quase hipnótica segurando seu cachimbo de ópio o inspetor Francis Abbeline mal conseguia discernir a figura de seu superior. “Vamos, meu rapazote! Preciso de seus serviços!”, anunciou o policial estendendo a mão para seu subalterno que não esboçou uma reação imediata como se sua mente fosse incapaz de comandar seu corpo; com a ajuda do amigo corpulento, Francis levantou-se e apoiado por ele arrastou-se para fora daquele antro de perdição. Assim que chegaram ao balcão, a tal asiática idosa surgiu com uma caneca de café fumegante. “Tome isso, meu jovem! Vai lhe fazer bem!”, disse o Inspetor-chefe empurrando a caneca sobre o balcão para o rapaz que ainda tentava fazer sua mente funcionar.

-Só há dois motivos para você ter vindo até aqui – comentou o jovem policial com voz embargada após alguns goles de café – ou foi para me suspender, ou porque precisa de minha ajuda …, estou certo?

-Bah! Não posso te suspender porque você já foi suspenso! – respondeu Gormley com tom irritadiço enquanto enxugava a testa com o lenço – Venha! Vamos! Tem uma carruagem a nossa espera …

-Vamos? Vamos pra onde? – interrompeu Francis com uma certa desconfiança na voz.

-Whitechapel! – anunciou Gormley segurando-o pelo braço e caminhando em direção da porta de saída acompanhado pelos patrulheiros que vieram com ele.

-Porra! De novo, não! – resmungou Francis irresignado.

A carruagem disparou por entre as ruas pavimentadas com pedras irregulares e em poucos minutos chegou ao seu destino. Francis conhecia bem aquela região e sabia que voltar para lá significava retornar a um passado que ele fazia questão de esquecer; ao saltar da carruagem, ele pisou naquela rua de pedras imundas com um cheiro horrível abusando de suas narinas.

Caminhando ao lado de Gormley ele seguiu pelo labirinto de ruas e vielas sem saída até atingir o destino final: o pátio situado atrás dos depósitos fabris abandonados; estirada sobre o chão frio e sujo jazia o corpo de uma mulher jovem cuja palidez denotava que a morte ocorrera a um bom tempo. Francis examinou detidamente o cadáver e logo em seguida flexionou os joelhos pondo-se de cócoras ao seu lado; todos ficaram boquiabertos quando o jovem inspetor estendeu sua mão até o rosto lívido da morta acariciando-o gentilmente.

Repentinamente, Francis revirou os olhos enquanto era tomado por uma perda momentânea de sentidos chegando a perder o equilíbrio; e ele somente não desabou no chão imundo porque Gormley acorreu em segurá-lo fazendo com que ficasse de pé. “Calma, meu rapaz! Teve mais um presságio?”, questionou o Inspetor-chefe mirando o rosto aturdido do policial.

-Prefiro dizer que é a minha maldição! – respondeu Francis procurando se recompor – E sim tive um presságio …, e você sabe a quem me refiro!

-Porra! Você não está dizendo que é a mesma pessoa dos crimes anteriores! – insistiu Gormley em saber com uma expressão recalcitrante – Se for, eu não quer nem saber!

-É claro que você queria saber! – retrucou o rapaz com tom irritadiço – Se não quisesse não teria me arrancado do meu tratamento e me trazido até aqui …

Gormley franziu o cenho pedindo mais esclarecimentos do jovem policial. Francis sacou de seu bloco de notas e tornou a pôr-se de joelhos flexionados ao lado da vítima para um novo exame mais acurado; ele passou os dedos nos lábios do cadáver e os cheirou sentindo o forte odor de láudano; viu ainda que na mão direita jazia um ramo de uvas que ele tomou guardando-o em seu bolso. Examinou ainda o corte na garganta e depois levantou o vestido confirmando sua suspeita inicial ao ver que ela também havia sido eviscerada.

-A vítima não foi morta aqui – narrou Francis com tom comedido – Apenas seu corpo foi deixado aqui, como uma espécie de mensagem …, e não me pergunte qual a mensagem porque eu ainda não sei!

Enquanto uma troca de olhares entre o policial e seu superior pesava entre eles, Francis viu sua mente viajar para o passado; um passado não muito distante e que lhe trazia péssimas recordações; tudo aconteceu naquela noite quando ele, ainda um patrulheiro recém-saído da Academia de Polícia, foi chamado pelo apito estridente de um colega anunciando que um crime estava em curso; ele correu na direção do apito e logo estava no pátio escuro onde Josh, seu parceiro usando seu holofote de carbureto iluminava o cadáver de uma jovem de pele alva e cabelos ruivos. “O corpo ainda está quente! O criminoso deve estar por perto …, vamos procurá-lo!”, alertou Francis para seu parceiro que acenou com a cabeça.

Ambos começaram a busca em direções opostas e Francis acendeu seu holofote manual saindo na busca pelo assassino. A alguns metros do ocorrido ele ouviu os gritos histéricos de alguém que parecia estar em perigo; acelerou o passo até chegar a um beco sem saída onde vislumbrou silhuetas de alguns homens agredindo um outro; munido de seu cassetete, Francis acionou seu apito indo em direção dos agressores; em questão de minutos ele e seu parceiro estavam envolvidos em uma luta ferrenha contra os agressores que resistiram o quanto puderam antes de escaparem do cerco policial saindo do beco e desaparecendo nas sombras.

-Me ajude, por favor! – balbuciava o agredido estirado sobre o chão pedregoso – Preciso de ajuda!

-Edward, é você? – perguntou Francis inclinando-se com seu holofote em punho iluminando o rosto exangue e com alguns ferimentos visíveis do vitimado que ele reconheceu como sendo o jovem Duque de Wellington que conhecera em circunstâncias incomuns – Josh, peça ajuda para perseguir os malfeitores enquanto cuido da vítima!

Josh acenou com a cabeça afastando-se do local e deixando policial e vítima lidando com a surpresa do encontro. Francis ajudou Edward a levantar-se peguntando onde estava sua carruagem pessoal. “Nada de carruagem! Me leve para sua casa!”, respondeu o jovem com tom enérgico ainda padecendo de dores que o faziam grunhir; mesmo hesitando Francis fez Edward apoiar-se em seu braço e seguiu na direção pedida; após o suplício de subirem os degraus de madeira que rangiam como um velho moribundo espantando a morte, Francis ajudou Edward a sentar-se em uma poltrona enquanto dirigia-se até a cômoda, despejando um pouco de água da jarra de porcelana rústica sobre uma bacia também de porcelana retornando munido de um pedaço de algodão que parecia limpo.

-Era aqui, não era? – perguntou o nobre ainda com voz fraquejante enquanto recebia os primeiros socorros – Aqui é o seu lar …, com Madeleine.

-Sim é ..., mas ela não está aqui no momento – respondeu Francis com tom impessoal – E você sabe muito bem disso!

-Sim, eu sei …, me perdoe por isso – disse o Duque segurando a mão do policial – é que eu também me lembro quando …, estivemos aqui …, juntos …, lembra-se?

-Claro que me lembro - retrucou o jovem policial - E foi por conta disso que ela se afastou de mim! Eu me odeio por isso até hoje!

Após uma troca de olhares enigmáticos Francis e Edward deram-se derrotados pelo desejo insurgente e suas bocas colaram-se em beijos sequiosos; em dado momento e embora ainda se ressentisse dos ferimentos que lhe foram impostos, Edward mostrou-se dotado de enorme ímpeto enquanto abria sua calça pondo o membro rijo para fora levando a mão de Francis até ele que o cingiu sentindo aquela rigidez inquietante. Após lamber a glande inchada sem tirar os olhos do rosto excitado de Edward, o policial não fez rodeios em tê-lo dentro de sua boca sugando com a voracidade de um esfomeado.

E quando deram por si, os rapazes estavam nus sobre a cama desfrutando de uma felação mútua com direito a dedos marotos explorando seus selos anais; tomado por um arroubo desatinado, Edward desvencilhou-se do parceiro deitando-se sobre a cama elevando seu traseiro alvo para o policial que não titubeou em separar as nádegas com suas mãos mergulhando sua língua afoita no rego que logo assediava toda a região detendo-se no pequeno orifício cujas contrações insinuavam querer algo mais que apenas a língua hábil do parceiro.

Francis tomou posição sobre o parceiro que cuidou de manter as nádegas separadas aguardando ansioso pelo que estava por vir; o policial flexionou sua pélvis com o membro rijo cutucando o selo até conseguir arremeter a glande para seu interior laceando-o enquanto Edward gemia abafado sobre o lençol erguendo um pouco mais seu traseiro em uma clara provocação para continuar a receber o membro dentro de si; em questão de minutos o casal desfrutava de uma cópula veemente ainda com Edward abafando seus gemidos e suspiros sobre o tecido gasto do lençol e Francis arfando diante de seus movimentos céleres com o suor escorrendo por suas têmporas. O interlúdio seguiu seu curso inarredável até culminar com o jorro de sêmen sendo lançado nas entranhas do nobre que não continha mais o prazer que desfrutava em receber a carga espermática de seu parceiro. Suados e extenuados ambos caíram em sono profundo.

E quando a luminosidade acinzentada soprou um pequeno fôlego gelado por entre as frestas das paredes de madeira carcomida, Francis sentiu sua pele arrepiar forçando-o a entreabrir os olhos mesmo contra sua vontade; para sua surpresa viu-se sozinho sobre a cama, porém o odor impregnado nos lençóis testificava que a noite anterior não fora um sonho. Lembrando-se da agressão que presenciara, o jovem policial vestiu-se o mais rápido possível rumando para a sede Scotland Yard surpreendendo-se ao ver a aglomeração de outros policiais apinhados diante da porta da sala do Inspetor-chefe cuja expressão indicava que algo de muito tenebroso havia acontecido.

-Onde diabos você estava, novato! – gritou o superior apontando para Francis que se espremia entre os colegas para mais informações – deixou seu companheiro sozinho? Venha comigo e veja no que deu o seu gesto inadequado.

Retornando pelo corredor central Gormley e Francis saíram da sede da polícia inglesa tomando uma carruagem em direção à Whitechapel e ao chegarem lá Francis deparou-se com uma cena abominável; o cadáver da jovem fora desnudado e vilipendiado recebendo a pintura de uma Cruz de Davi sobre a testa e a palavra "vagabunda" estampada acima de seus seios. "Quanto ao seu parceiro, Josh, ele está no hospital porque a turba que atacou a pessoa que você fez questãode ajudar voltou-se contra ele!", arrematou o sargento Gormley com tom irritadiço.

-Então é o seguinte meu amigo: preciso de você! - disse o Inspetor-chefe extraindo Francis de suas lembranças dolorosas - Por isso mesmo estou interrompendo sua suspensão e também esse seu "tratamento" ..., trate de ficar sóbrio e volte ao trabalho!

Francis vacilou em responder permitindo que seu superior encerrasse o assunto e voltou seus olhos para o cadáver mirando atentamente a expressão vazia daquele rosto antes tão cheio de vida; mais uma vez foi tomado por suas lembranças fantasmagóricas que o assolavam desde sempre ..., desta vez foi Madeleine ..., naquela noite em que ele a teve em seus braços desnudando-a lentamente apreciando cada centímetro de sua nudez alva e esguia; começou beijando seus mamilos ouvindo-a gemer baixinho enquanto tocava seu clítoris com a ponta dos dedos massageando-o enfaticamente o que culiminou em um primeiro gozo alucinante.

Logo, Francis abandonou o dedilhado para valer-se de sua língua a desfrutar dos sabores da gruta quente e úmida da fêmea que mais uma vez viu-se assolada por um novo gozo muito mais intenso que o anterior levando as mãos até suas mamas apertando-as em êxtase clamando por mais delícias proporcionadas pela boca ávida e hábil de seu companheiro. Francis dedicou-se com esmero a propiciar uma sucessão orgásmica que deixou Madeleine tão arrebatada que temia perder os sentidos envidando esforços para manter atenta ao prazer que experimentava naquele momento.

-Vem, meu marido! Possua-me como mereço! - pediu ela com voz embargada em tom de súplica - Faça de mim tua mulher para sempre!

Francis então cobriu-a com seu corpo e sem usar as mãos moveu seu corpo posicionando seu membro rijo próximo da gruta de Madeleine e mirando seu rosto antes de mover sua cintura e pélvis contra o ventre dela obtendo êxito em penetrá-la de uma só vez; a jovem apertou os ombros do marido descendo até sua cintura ensejando desfrutar ao máximo a sensação de ver-se preenchida pelo falo enrijecido que alargava sua vulva tornando-a plena de excitação. Com movimentos profundos e cadenciados, Francis deu início a uma cópula febril que não tardou em provocar na esposa o desvario de novos e profusos orgasmos que sacudiam seu corpo fazendo-a tremelicar.

Mesmo após Madeleine imaginar que já obtivera todo o prazer que merecia sentindo seu corpo sujeitado ao impacto luxurioso surpreendeu-se com o desempenho do marido que prosseguiu na cópula com a mesma incitação inicial desferindo golpes mais açodados e profundos que resultaram em um gozo ainda mais veritiginoso que entorpecia os sentidos de Madeleine fazendo-a gemer e gritar descontroladamente sujeitada à indescritível volúpia que transformara seu marido em um amante de dotes excepcionais, cujo arrefecimento deu-se de forma anunciada por grunhidos roucos e contrações musculares involuntárias que culminou em uma capitulação coroada por ejaculações profusas irrigando as entranhas de sua esposa que ainda usufruiu de um desfecho extasiante feito de gozo e plenitude. Exaustos, suados e ofegantes, Madeleine e Francis quedaram-se sobre a cama entre sorrisos e beijos apaixonados.

Agora, não havia mais Madeleine e não havia mais nada em sua vida vazia.

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Comentários

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Parabéns, que conto fenomenal, diferente na escrita, muito bem narrado.

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Agradeço de coração pelo comentário elogioso e estimulante

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Gostei muito da sua escrita, Bem Amado. Texto excelente, misterioso e instigante. Erotismo na medida exata. Capturou a minha atenção. gabrielaapriori@tutanota.com

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Uau! Fiquei feliz em ter captado a sua atenção e peço que aguarde as continuações. Grato pelo comentário

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Oie. Disponha, amor. É legal quando alguém lembra de escrever um comentário nos nossos contos, né? Mas o seu merece mesmo. E merece muito.

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