Da janela do ônibus intermunicipal que tinha acabado de se adentrar em Terra Quente, Josilina Estevesão contemplava com olhar fadigado a cidade grande ao pôr do sol. Ela vinha de Antalesa, município há oito horas de distância da Capital ensolarada. Ao desembarcar na rodoviária, sua tia, Manoelita Estevesão, a esperava para levá-la a sua casa. Ela facilmente reconheceu a jovem sobrinha. Josilina é uma mulher muito alta, cor de jabuticaba, cabelos ondulados brilhosos, lábios bicudos, nariz redondo buracudo e olhos pesados. Seu semblante era cabisbaixo e ansiava recomeço.
Ao chegar na casa de Manoelita e tomar um banho, Josilina contou à tia, em meio a um café com pupunha cozida, detalhes do desgosto recente que ela só sabia por altos.
— Ai!... Tia!... Nem sei por onde começar... Foi tão louco o final do meu casamento que é difícil de acreditar... — desabafou atrapalhada Josilina. A tia se esforçava para manter a sobrinha apaziguada.
Josilina foi casada com Dickson Magnino por quase 13 anos. Ele é um homem médio, cor de leite, lábios finos quase inexistentes, olhos de limão azedo, cabelos ruivos crespos e barba rala que lhe davam uma aparência de tocha apagando.
— Eu e o Dickson não távamos num momento bom, sabe... Mas não era pra ele ter me humilhado da forma que fez... A gente se conhece desde pequeno por conta do lance, como cê sabe tia, da venda da carne de carneiro da família do traste que o papai fazia no nosso mercado. Eu tava com ele desde meus quinze anos e dei a minha alma pra esse casamento! — colerou a jovem.
O início do namoro deles foi o melhor momento de todo o relacionamento. Quando eles casaram, ela com 19 e ele com 20 anos à época, foi quando tudo ficou insosso.
— Sabe, tia, não sei quando foi que deu tudo tão errado... Eu sei que ele se incomodava com o fato de eu ser dois palmos mais alto do que ele!... Ele não falava, mas eu sentia... Té uns 12 ou 13 anos ele sempre foi maior do que eu... Quando eu fiz 16 anos eu passei ele e ele estagnou. Enfim... — suspeitava Josilina.
Dickson trabalhava desde a adolescência no negócio de sua família, ajudando na criação do rebanho de ovelhas e carneiros. Após os primeiros anos do casório, ele se afastou gradativamente da rotina com a esposa.
— Ele quase não ficava mais em casa nem procurava mais, tia... Té que um dia eu resolvi seguir ele de mansinho depois que saiu de casa... O traste foi té o rebanho das ovelhas, pegou a Caju, aquela ovelha estranha, e levou a bicha té o galpão... Fiquei de mutuca vendo e não acreditei no que vi, tia... — começou a revelar Josilina.
Caju era uma ovelha de pelagem preta e que tinha nascido com a traseira avantajada, o que era estranhamente belo aos olhos humanos. Dickson dava a ela um tratamento especial.
— Não sei explicar, mas o rabo da Caju parecia uma bunda de mulher com pelos, e ainda tinha os buracos bem amostra... Ele conversava com a Caju como se fossem amantes... Diziam algo de que não podiam mais se encontrar... A ovelha esfregava a cabeça no pau do Dickson, agoniada... Eu fiquei passada quando notei que o traste ficou de pau duro... — dessegredou Josilina, dando uma pequena pausa para dar uma golada no café, que já estava quase frio.
Embora enauseada com o que via na situação do marido com a ovelha, Josilina contou a tia que criou coragem para pegar o celular e começou a gravar a pouca vergonha do marido com o animal.
— Aí, tia, a bicha virou pra ele... A perseguida da Caju pingava e borbulhava, tia... O traste disse alguma coisa de que não queria mais, mas pegou no popozão da Caju... Eu gravei tudinho... A bicha se tremeu todinha e fez um barulho... Aí... Ai, tia!... — Josilina hesitou e começou a chorar.
A tia a tranquilizou e lhe deu um copo de água, dizendo que se quisesse poderia parar de contar a história. Afinal, havia acabado de chegar de viagem. Entretanto, Josilina se recompôs e voltou a contar o acontecido.
— O traste colocou o pau pra fora... Tava duro como não via há um tempão... Comigo era o maior pau mole... E atochou o pau pequeno dentro da bichinha... Ele disse algo de que tava um calorzinho gostoso... Começou a comer a Caju... Nervoso que não cansava... A bichinha fazia uns grunhidos invocados... O sexo dos dois babava... Ficou uma pasta branca que pingava... Comecei a chorar em segredo... — desconfidenciou Joselina e a Manoelita estava pasma.
Josilina tomou um pouco da água, pensou um pouco e voltou a narrar.
— Aí os dois deitaram... Os dois começaram a transar de lado... O Dickson abraçava a Caju forte... Ele enfiava o pau dele té o talo... Rápido... A lapada da virilha dele era alta... Té a ovelha gemia alto... Confesso que fiquei com inveja tia, porque ele só me comia assim antes da gente casar... Depois eu posso té te mostrar o vídeo, tia... — disse Josilina.
Aparentando já estar bem cansada e incomodada em ter que relembrar a história toda, resolveu encurtá-la para seu desfecho.
— Depois de um tempo sofrendo com aquilo em silêncio, veio uma raiva, uma vergonha... Aí, me revelei!... E soltando os cachorros!... Foi um escândalo... Os dois deram um pulo assustados... O Dickson tentou me teleguiar com papo furado... Eu tava endemoniada!... Fui direto pra casa dos pais dele... Quando eu contei o que eu havia visto aos pais do traste, eles não acreditaram em mim... Mas quando mostrei o vídeo, ficaram muito envergonhados... O pai praguejou o filho violentamente e jurou abater a Caju pra dar a carne dela aos urubus, porque era uma carne do profanada... O Dickson ficou calando o tempo todo... Nem quando a gente foi conversar ele não disse nada... Que ódio que me deu!... Eu disse que o casamento tinha acabado... E ele lá todo bestão... No outro dia, ele tinha sumido e levado a Caju com ele... E desde então nem eu nem os Magninos tiveram qualquer notícia dele... E sabe qual é a pior, tia? Eu tô buchuda daquele traste... Uma vez que ele me comeu raquítico e eu fiquei buchuda... Pode isso?!... — finalizou Josilina engolindo seco, cabisbaixa.
Manoelita abraçou a sobrinha e disse palavras solidárias. Perguntou à sobrinha como faria para cuidar da criança.
— Essa criança não tem nada a ver com a cabeçada do pai dele... Falando nisso, ela não tem pai... Vai ser só eu e ela e pronto... Se perguntar vô dizer que fiz ela com o dedo... — afirmou Josilina.
Então, a conversa acabou. Josilina foi dormir no quarto que a tia arrumou. No outro dia ela começou aprender a trabalhar como cabeleireira com Manoelita. Josilita se esforçava todos os dias para expurgar o fantasma do fim do casamento com Dickson. A vida seguiu; a sua barriga cresceu. A tristeza deu lugar ao tédio com o tempo. Josilina estava subindo pelas paredes. Mas logo um evento inesperado iria saciar seus desejos libidinosos.