O sol se põe no horizonte marcando o fim de mais um dia quente de verão. Risos e gargalhadas histéricas ecoam nas paredes de um quarto decorado com móveis e objetos antigos. Em uma poltrona gasta pelo tempo, uma senhora simpática, de cabelos totalmente brancos, pele alva, usando óculos de armação e lentes grossas , rí loucamente.
- AAAAHAHAHAHA
-HIHIHI ISSO É BOMMM
-HAHAHAHA
Seus pés descalços, grandes e largos para sua estatura, repousam sobre o assento de couro de um banco de madeira. Seus pés e dedos dançam ao ritmo alucinante de mãos que tocam nas solas desta adorável senhora de forma rápida e ágil, provocando fortes cócegas. Não é a primeira vez que essas mãos fazem isso. Elas arrancam essas gargalhadas desta senhora, conhecida como Dona Fernanda, já tem alguns anos.
-Dona fernanda, quer que eu pare?
-AHAHAHAHA!
-AGORA NÃOOO, AINDA NÃOOO!!!
-AHAHAHAHA!
Essas gargalhadas levam Dona Fernanda a reviver memórias de décadas atrás, quando essas mão que arrancam esses risos ainda nem existiam.
Estamos agora em meados dos anos 40. Uma jovem recém formada, de cabelos castanhos levemente cacheados na altura dos ombros, ainda sem óculos e de expressão séria, caminha rapidamente pelo centro da cidade. Embora ela não demonstre, por dentro está vibrando e explodindo de alegria por ter sido selecionada para seu primeiro emprego. Seria auxiliar administrativa em uma escola bem conceituada. Para comemorar, resolve ir ao cinema se divertir com uma comédia em cartaz.
No cinema, esta jovem, assim como os outros ao seu redor, riem e sorriem com as divertidas cenas do filme. Em determinado momento, uma cena mexe profundamente com a jovem Dona Fernanda, ou melhor, Fernandinha para os amigos.
Na cena, projetada em preto e branco, uma mulher rica e bem vestida está amarrada com cordas a uma cadeira de madeira no centro de um grande salão. O vilão desta estória, representado por um senhor magro, com um longo bigode, usando terno e um chapéu, pergunta qual a senha do cofre da mansão. A mulher se recusa a falar e ele prontamente a decalça, tira uma pena de dentro do bolso do paletó e começa a passar nas solas dos pés dela. A mulher rí muito e faz caretas, tentando suportar aquele tormento. Os espectadores se divertem com essa cena. Mas a Fernandinha não. Ela fica introspectiva com essa a visão dessa cena em particular. Uma sensação estranha surge na boca de seu estômago e se alastra. Tentando dissipar essa sensação estranha, Fernandinha mexe os pés nervosamente sobre o piso a sua frente. Em determinado momento, por conta do movimento, uma de suas sapatilhas de couro sai de seu pé. Mesmo sem uma das sapatilhas, ela ainda permanece mexendo os pés nervosamente por causa desta sensação estranha. Em determinado momento, a sola de seu pé descalço passa sobre um dos parafusos que fixa a cadeira da sua frente ao piso do cinema. Aquilo faz uma cócega forte, um pulso de energia atravessa seu corpo. Se ela não tivesse se contido, um grito forte teria sido ouvido em todo cinema. Nesse momento, ela começa a partilhar do que aquela mulher amarrada na cena do filme estaria sentindo com aquela terrivel pena percorrendo os seus pés. O filme continuou e todos os espectadores passaram a se divertir com as cenas que vieram em seguida. Mas Fernandinha passou o resto do filme quieta e pensativa. Ficou imaginando o que a atriz tinha sentido ao gravar aquelas cenas. Se perguntava se ela teve essa vontade de rir e gritar quando a pena percorreu as solas. Se a energia nascia nos pés e se dissipava ao longo do corpo a cada toque da terrivel pena. Nessa noite, a jovem Fernanda pegou no sono olhando para seus pés e sonhou com o homem de bigode longo e pena de ganso na mão. Ele saia das sombras de seu quarto para torturá-la, passando a pena em seus pés.
Os dias foram passando e Fernanda, empolgada, se envolveu com o trabalho de modo que a lembrança do homem da pena e da mulher rindo ficaram guardadas nos recônditos de sua mente.
Alguns anos depois, a respeitada senhorita Fernanda foi convidada para fazer um curso em uma cidade bem distante da sua. Ela precisava fazer uma viagem de navio e ficar algumas semanas hospedada em uma pensão. Todos da família foram contra, mas, ela que sempre foi muito decidida e independente, resolveu ir.
Chegando lá, fez logo amizade com alguns moradores e com a responsável pelo estabelecimento, que era uma senhora idosa e controladora. A Fernanda passou a ter muita proximidade principalmente com a vizinha de quarto, uma moça um pouco mais velha que ela, chamada Inêz. Ela era muito bonita, mas tímida, e buscava sempre se vestir de forma discreta e não fazia uso de maquiagem. Diziam as más línguas da pensão que a forma que ela se vestia eram ordens do marido, um homem bem mais velho, ciumento e de poucos amigos. A Inêz gostava da Fernanda porque via nela a mulher independente que ela queria ter sido. Certa noite, Fernanda estava sem sono, o que era raro pois ela sempre chegava bem cansada das exaustivas aulas. Susurros e risadas baixinhas pareciam vir da parede de madeira que fazia divisão entre seu quarto e o da Inêz. Ela, muito curiosa, encostou o ouvido na parede para saber o que ocorria. Uma voz masculina falava:
- Deixa eu pegar no seu pezinho inês!
-Nesse pezinho lindo!!
-Que solas macias, cutch cutch cutch.
Em seguida eram ouvidos risos de uma suave voz feminina.
-AHAHAHAHAHA
-PARA, FAZ COSQUINHA
-HAHAHAHA
COSQUINHA NOS PÉS NÃOO!
-HAHAHAHAHAHA
Ao ouvir isso, as lembranças do homem da pena voltaram. Cada gargalhada que ela ouvia, uma pontada da tal energia surgia nos pés dela. Eram estranhas essas vozes da parede. A Inêz, sempre tão contida, sempre uma lady, gargalhava como uma louca. O seu marido, tão sério e austero, parecia se divertir tocando os pés da esposa. Nada daquilo fazia sentido para Fernanda.
Após uns dias do ocorrido, Fernanda estava no quarto se trocando para ir ao teatro, já que essa cidade era um polo cultural. A Inêz olhou para os pés descalço de Fernanda e saiu sem dizer uma palavra. Voltou com uma pequena bacia de alumínio e uma sacola de palha com uma série de instrumentos, já falando, em tom imperativo, para Fernanda:
- Garota, acho que desde que chegou aqui, nunca mais tratou seus pés. Eles estão com calosidades. Deixa que eu te ajudo. Senta nessa poltrona e me deixa trabalhar. Sou boa nisso.
Fernanda foi pega de surpresa e se sentou no sofá de seu quarto sob as ordens de Inês.
Quando inês se ajoelhou no chão para começar a tocar seus pés, Fernanda só conseguia enxergar o homem da pena se aproximando de forma ameaçadora dela. Sentia algo diferente mas, com muito esforço deixou Inêz tocá-los.
Em determinado momento, a Inês segurou firme os tornozelos de Fernanda e disse:
-Esse é o momento da cócega. Aguenta aí que vou lixar suas solas.
A medida que a lixa percorria as solas dos pés de Fernanda, risos descontrolados ecoavam pelo quarto. A Fernanda puxava o pé, que estava bem preso pelo braço da Inêz, mas não conseguia se libertar. -AHAHAHAHAHA
- PARAAA INÊS HAHAHA
-MORRO DE CÓCEGAS HI HI HI
-AAAAHAAAA É TERRÍVEL
-AHAHAHAHA
E a Inês calmamente respondia:
-Que gostoso fazer cosquinha no seu pé. É muito sensível.
As risadas não paravam. Nisso, a agonia ou melhor, a energia que ela sentiu no dia da cena do homem da pena apareceu. A energia surgia no pé torturado por cócegas e se espalhava pelo corpo. Era torturante, mas era estranhamente bom.
-PARAAAAAAAA INÊS. NÃO AGUENTO!
-AHAAAHAHAHAHA!
E Inês sempre calma e metódica continuava seu trabalho.
Naquele ponto, podia estar sofrendo cócegas a 1 hora ou a apenas 1 minuto, Fernanda perdeu a noção de tempo.
A intensidade ia aumentando, a energia não conseguia se dissipar apenas pelo corpo. Fernanda precisava rir cada vez mais alto. A.energia, que surgia nos seus pés, torturados com cócegas por terríveis lixas, atravessava todo seu corpo, fazendo-o vibrar, e saia por sua forte gargalhada. Era uma tortura, mas no fundo era gostoso. O trabalho de Inês nos pés de Fernanda tinha terminado. Fernanda estava confusa, suada, sem forças nas pernas e voz levemente rouca de tanto rir, mas estava se sentindo diferente. No fundo, tudo aquilo tinha sido bom. Não sabia explicar. Os dias se passaram e Inez manteve a rotina de semanalmente tratar os pés de Fernanda. O tratamento sempre resultava nessa mistura de sofrimento e prazer por parte de Fernanda, que nunca chegou a comentar com Inêz.
Finalmente chegou o dia da volta. Fernanda se despediu de todos, principalmente da Inez, sua mulher da peninha, que era como Fernanda a chamava em seus pensamentos. O navio partiu, trazendo a senhirita Fernanda de volta à sua terra natal para continuar sua busca por novos horizontes.