Foi uma bosta rever a Luna. Esse é o meu lado racional falando. Pensa numa garota que poderia te fazer de cachorrinho num estalar de dedos. Nunca encontrou uma dessas? Porra, tu tem sorte. Porque é uma bosta. Quando eu era adolescente, acreditava em amor romântico, como as crianças acreditam em Papai Noel. De lá pra cá, vi tanto camarada meu se fodendo por causa de uma carne mijada que fui desencantando, sabe? Não só isso, eu mesmo já tive a minha cota de relacionamentos destrutivos. Então, racionalmente, eu sei que uma garota que nem a Luna, que parece ter sido feita sob medida pra mim, que faria com que eu acreditasse de novo no amor, porra, uma garota assim pode me foder direitinho se ela quiser. Basta ela desejar isso, de fato.
Mas a ereção não é racional. O sangue desce para o baixo ventre e o cérebro para de funcionar.
Naquela hora em que ela parou pra conversar comigo. E me chamou de “paizinho”. Bem, eu lembrei de todas as vezes que aquela palavra veio entre gemidos e putarias. O coração velho disparou, a boca secou, a pica subiu e toda a racionalidade, o senso de perigo, tudo isso foi pra casa do caralho.
Havia uma atração gravitacional entre as nossas bocas. Nossas línguas queriam se atracar, se enroscar, se perder num abraço de afogado. Era só uma questão de tempo. Como dizia Bryan Adams, eu conseguia ver meus filhos ainda não nascidos em seus olhos.
“To really love a woman To understand her, you gotta know her deep inside Hear every thought, see every dream And give her wings when she wants to fly Then when you find yourself lyin' helpless in her arms You know you really love a woman When you love a woman, you tell her that she's really wanted When you love a woman, you tell her that she's the one 'Cause she needs somebody, to tell her that it's gonna last forever So, tell me have you ever really, really, really, ever loved a woman? Yeah To really love a woman Let her hold you, 'til you know how she needs to be touched You've gotta breathe her, really taste her, 'til you can feel her in your blood And when you can see your unborn children in her eyes You know you really love a woman When you love a woman, you tell her that she's really wanted When you love a woman, you tell her that she's the one 'Cause she needs somebody, to tell her that you'll always be together So, tell me, have you ever really, really, really, ever loved a woman? (Oh) You got to give her some faith, hold her tight A little tenderness gotta treat her right She will be there for you, takin' good care of you You really gotta love your woman, yeah And when you find yourself lyin' helpless in her arms You know you really love a woman When you love a woman, you tell her that she's really wanted When you love a woman, you tell her that she's the one 'Cause she needs somebody to tell her that it's gonna last forever So, tell me, have you ever really, really, really, ever loved a woman? (Yeah) Just tell me, have you ever really, really, really, ever loved a woman? (Oh) Just tell me, have you ever really, really, really, ever loved a woman?”
Pra um cara como eu, praticamente um MGTOW, falar em filhos é porque o negócio tá feio.
— Faz tempo — eu comentei casualmente. Na verdade, eu estava ganhando tempo. Tentando botar a cabeça no lugar, mesmo sabendo que era perda de tempo. Como Macbeth, ao encontrar as bruxas no seu caminho, o meu destino estava traçado.
Ela me disse exatamente quanto tempo. Exatamente a conta exata. E passava de uma década.
— Parece que foi ontem — eu comentei. E, de novo, eu estava enrolando, ganhando tempo. Quase desconversando.
— A Mila e a Gi ainda não tinham nascido — ela falou. Havia um sorriso meio tristonho no seu rosto. Tive vontade de abraçá-la, mas não fui. Deixei a dor morrer no meu peito, aquela ânsia louca de sentir seu corpinho entre meus braços, suas tetinhas contra o meu peito, sentir o seu calor me comprimindo a ereção. Respirar era difícil. Difícil soltar o ar sem dar um suspiro. Difícil deixar de pensar na falta que eu senti dela. Sempre me distraindo com outras coisas, outras bucetas pra não pensar, não lembrar, não me desesperar. Eu, que sempre prezei a liberdade acima de tudo, só queria me deixar prender nos seus laços. O peixe com saudades da rede. “Eu não sei parar de te olhar” — como diria Damien Rice.
“And so it is Just like you said it would be Life goes easy on me Most of the time And so it's The shorter story No love, no glory No hero in her sky I can't take my eyes off you I can't take my eyes off you I can't take my eyes off you I can't take my eyes off you I can't take my eyes off you I can't take my eyes… And so it is Just like you said it should be We'll both forget the breeze Most of the time And so it's The colder water The blower's daughter The pupil in denial I can't take my eyes off you I can't take my eyes off you I can't take my eyes off you I can't take my eyes off you I can't take my eyes off you I can't take my eyes… Did I say that I loathe you? Did I say that I want to Leave it all behind? I can't take my mind off you I can't take my mind off you I can't take my mind off you I can't take my mind off you I can't take my mind off you I can't take my mind… My mind... my mind… 'til I find somebody new”.
— Elas são a cara da mãe — eu disse.
— É o que dizem — ela concordou sorrindo. Um sorriso de verdade. Daqueles que iluminam seu rosto, que fazem resplandecer os seus olhos. Eu sorri junto, mesmo sem querer. A energia selvagem dela me contagiando. Entrando pelos meus poros, me dando motivos para continuar. Como se há muito tempo eu não colocasse a cabeça para fora da água e respirasse ar puro. Como se até então eu não tivesse vivido, só existido indefinidamente.
Se ela tivesse parado por aí, meu mundo continuaria no lugar, mas a desgraçada continuou — “mas, pra mim, elas me lembram o paizinho”. Disse isso olhando diretamente nos meus olhos, com aquele sorriso cheio de segundas intenções. “Não” — uma voz dentro de mim gritou — “Não pode ser”. Mais de uma década atrás, quase duas, na verdade.
Minhas pernas amoleceram. Eu precisei sentar.
— O Luquinha é um cara legal — eu falei, ligando o nome dele às suas filhas.
— Meio molecão — Luna criticou, dando de ombros.
— Mas tem bom coração — eu defendi.
“É o pai dos seus filhos” — eu teria dito, mas as palavras não saíram. Paternidade era um assunto que me parecia insalubre naquele momento.
Nessa hora, uma das gêmeas veio me servir outro pedaço de pizza.
Assim como a Bia e a Drica, aquelas duas não pareciam mãe e filha, mas sim irmãs. A Luna, ainda mais do que a Drica, não aparentava a idade que tinha. Perpetuamente menina, como se tivesse mergulhado na fonte da eterna juventude ou provado da maçã das hespérides.
— Olha, tio, eu salvei esse pedaço pra você — a menina disse. Ela parecia uma cópia da Luna, só que mais nova. Por mais que eu me esforçasse, não conseguia distinguir nenhum traço do Luquinha nela. A menina parecia mesmo um clone da mãe — Mãe, acho que vai ter que pegar outra pizza, o pai só pegou uma.
A Luna suspirou.
— O que eu te falei, paizinho? Ele é um molecão.
— “Paizinho”, mãe? O tio é o seu pai, agora?
— Se ele é o seu “tio”, por que não pode ser o meu “paizinho”?
— Bom, nesse caso, ele é o meu vovô.
— Pode ser, mas não conte para ninguém, tá?
— Nem pra Mila?
— Pra Mila pode, mas só pra ela.
— Vai ser nosso segredo, né?
— Isso, filha. Vai ser um segredinho só nosso — Luna disse — Agora, pergunta pro pessoal qual sabor de pizza eles querem.
— Você devia evitar me chamar de “paizinho” na frente dos outros — eu falei, assim que a menina foi embora.
— Ah, desculpa. Saiu sem querer, mas não se preocupe que as meninas sabem guardar segredo. Você ainda gosta de quatro queijos?
Quando eu a conheci, ela tinha acabado de entrar na noite. Diz ela que fui um dos seus primeiros clientes, mas essa é uma conversinha que a gente ouve muito em boates. Lembro do Bussunda caindo no papinho de uma GP. Isso nos meus idos dias de putanheiro.
“Fiz ela gozar” — o Bussunda me disse, assim que voltou ao salão. Ele estava com aquele sorrisão aberto.
“De onde você tirou isso?” — eu lembro de ter perguntado.
“Ela me falou” — ele respondeu.
“Nesse caso, eu faço todas gozarem também, Bussunda” — eu falei, rindo — “Inclusive o meu é o maior pau do mundo, foi o que elas disseram”.
No meio do atendimento, seu pau sempre é grande, ela sempre é novata, você sempre faz ela gozar. Agora pague mais um drink, estique o programa por mais meia hora, passe o seu zap e marque alguma coisa por fora. É sempre a mesma conversa.
Quando as outras pizzas chegaram, eu peguei o meu pedaço e voltei pra varanda. Luna e as gêmeas me seguiram. Essa coisa de conseguir ver meus filhos nos olhos dela sempre foi real, mas agora, era como se fôssemos mesmo uma família. A Gi ficava me sacaneando, falando que eu era o seu vovô agora. Ela é a atentada da dupla. A Mila era uma corujinha, sempre na dela, observando atentamente as presas com aqueles grandes olhos verdes. Luna sempre foi da zoeira, do tipo que perde o amigo, mas não perde a piada. Foi uma das várias coisas que me atraíram nela. Isso e aquela chave de buceta que ela sabe aplicar.
— Ô, Lobão — o Luquinha chamou — vamos comigo na adega pegar umas brejas. O Bussunda falou que vai colar com os caras pra gente jogar.
“Nesse caso, vou trancar a porta do quarto” — pensei. Quando se trata do Bussunda e do Bocaberta, melhor se precaver.
A Luna balançou a cabeça, sorrindo. Eu sei exatamente o que ela estava pensando. O folgado já se sentia dono da casa, convidando os amigos pra colar na goma sem nem me perguntar nada.
A Bia tomou o meu lugar e ficou jogando conversa fora. Diferente de muitas garotas que eu conheço, ela era super cordial com a ex do seu namorado, mesmo quando ela não estava presente.
Fingi que ia buscar a carteira e fui trancar a porta do meu quarto e do quarto de visitas. Aproveitei e tranquei a casinha dos fundos também. Só depois eu saí com o Luquinha.
— Valeu mesmo por distrair a Andressa, cara — o Luquinha já foi falando. Levei um tempo pra lembrar que Andressa e Luna eram a mesma pessoa.
— Disponha — eu respondi.
Pensei em dizer algo do tipo — “amigo é pra essas coisas” — mas achei muita falsidade, já que estava doido pra meter um par de chifres nele. Pior que isso, existia a possibilidade de eu já ter metido esses chifres sem nem mesmo conhecer o malandro. “Ele tá com a Bia agora” — eu tentava racionalizar — “não tem mais nada a ver com a Luna”.
Ela mal voltara pra a minha vida e eu já estava querendo brincar de casinha com a menina.
Pegamos duas caixas de Skoll, o Luquinha pediu um whisky com energético e voltamos.
Pouco tempo depois chegou o Bussunda e o Comequieto.
— O Shakira falou que vai colar depois — o Bussunda falou, já abrindo a geladeira — Porra, essa breja tá quente.
— A gente acabou de pegar — explicou o Luquinha, oferecendo o whisky — Vai aê?
“Mi casa es su casa” — já ouviu falar? Pois para o Luquinha, o Bussunda e o Bocaberta é o contrário — “su casa es mi casa”. Eles são socialistas na casa dos outros e conservadores na sua propriedade privada. Era o MVSV – Movimento dos Vagabundos Sem Vergonha.
O Comequieto, fazendo valer a sua fama, já colou na Monique. Quando o Shakira e o Bocaberta chegaram, o casal saiu de fininho. Lembro que pensei — “O bicho não perde tempo”. A minha dúvida era se a Monique estava na folga ou na extra.
A Bia tirou o Luquinha de perto, me deixando na varanda com a Luna e as gêmeas. Ela chegou junto de mim e a atração entre as nossas bocas ficou irresistível. A menina tem uma boca de nuvem, uma lingua encapetada. Ela se entrega toda no beijo. Eu sinto ela derretendo na minha boca, se espalhando por dentro de mim como cachaça das boas, me esquentando por dentro. Não tem comparação com nenhum outro beijo. É mágico, um encantamento de bruxa que me tira o juízo.
— Credo, mãe — a Gi provocou — tá beijando o vovô. Isso é incesto, sabia?
— Tem razão, filha — Luna disse, olhando nos meus olhos — Beijar meu paizinho é incesto, mas quem disse que eu resisto à essa boca gostosa dele?
Meu queixo foi ao chão. Senti o rubor de vergonha tomando o meu rosto. Olhão esbugalhado nas gêmeas, sem saber o que dizer. A Mila me encarava com aquele olhar de coruja. A Gi sorria de uma forma sacana.
— Mas você também não resiste aos beijinhos da mamãe, né Gi? — ela falou, agarrando a menina e enchendo ela de beijos e cócegas.
— Não, mãe, para! — a menina falava, entre risos — Vovô, me ajuda.
Os beijinhos foram se transformando em selinhos, quando eu decidi intervir.
— Luna, deixa a menina — eu falei. Meio segundo depois, eu percebi que tinha chamado ela pelo nome de guerra — Hã, desculpa, Andressa.
Mas elas nem se abalaram.
— Tudo bem, paizinho. Não tenho segredo para as minhas filhas. Elas sabem tudo.
As gêmeas assentiram com a cabeça. Acho que foi a primeira vez que eu vi a Mila sorrir. O sorriso da Luna sempre foi luminoso, o da Gi é sacana, mas o sorriso da Mila é meio perturbador. Lembra-me um pouco aquele sorriso de vitória que a Rose abre quando alguém está se fodendo na mão dela.
— É, vovô — a Gi disse — a gente sabe que a mamãe trabalhava na noite. E não precisa ser genial pra saber que o senhor foi cliente dela. Aliás, o senhor deve ser aquele cliente especial de quem ela vive falando: o Massagista.
Foi a vez da Luna enrubescer.
— Seu avô tem mãos mágicas, meninas — ela se limitou a dizer — Vocês precisam experimentar um dia.
— Credo, mãe.
— Não precisa ser nada sexual, se você não quiser, Gi. Seu avô não é desse tipo. Você vai ver.
“Se você não quiser” — aquele papo estava um tantinho mais liberal do que eu estou acostumado. Assim como a Monique, a Luna falava de sexo como quem fala de um assunto qualquer. Sem o menor pudor, mas eu achava que na frente das filhas fosse diferente. Bem, não é.
— Eu quero, por favor — a Mila se manifestou, como quem pede um milkshake ou um caldo de cana.
— O que você quer? — eu perguntei, meio receoso do que seria a resposta.
— Quero a massagem do vovô. Nada sexual, por favor.
As outras duas caíram na gargalhada.
Foi nesse momento que eu percebi que a Monique e o Comequieto tinham voltado. Meio rápido na minha opinião. Estava pensando nisso quando avistei a Bruninha e a Fabi.
“Ô merda” — eu pensei.
Os cuecas estavam ouriçados com as meninas. O Luquinha mantinha a Bia sob suas vistas, talvez antecipando a talaricagem, enquanto o Comequieto não saia de perto da Monique, mas a Bruninha e a Fabi estavam sendo disputadas entre o Bussunda, o Shakira e o Bocaberta. E eu me perguntando se a Drica sabia que a Fabi estava lá em casa.
“Bom, o que não tem remédio, remediado está” — eu pensei. Meu lema de vida, junto com “nunca deixe para amanhã o que você pode adiar para depois de amanhã” e “é fazendo merda que se aduba a vida”. Também tem “se você tá no inferno, abrace o capeta”.
Eu queria mesmo era ficar curtindo a Luna e as gêmeas, já me sentindo o paizão coruja delas, mas a minha educação me mandava cumprimentar as visitas e fazer um pouco de sala pra elas.
Fui lá e cumprimentei a Fabi e a Bruninha. Não foi só educação, admito, o clima entre eu e a estagiária parecia ter esfriado e eu fui lá pra ver se era isso mesmo ou se ela tinha se afastado de mim por conta do barraco da Rose ou porque a Drica falou alguma coisa. O sorriso safado que ela me deu, elucidou algumas coisas. Eu também sou burrão, né? A garota estava na minha goma, provavelmente chamada pela Monique. Uma coisa é preciso ficar claro sobre a Monique, ela gosta de fogo no parquinho. Não perde a chance de ver o circo pegando fogo. Na minha cabeça, a culpa da Luna estar aqui era dela, de alguma maneira. Ela tava aprontando e eu sabia disso. Pra merda bater de vez no ventilador, só faltava mesmo a safadinha ter chamado a Rose.
Por falar em Monique, ela tava lá no canto com o Comequieto. E aquele mesmo senso de civilidade que me obrigou a cumprimentar a Fabi e a Bruninha, me fazia desejar falar com ela. Apesar de tudo, parecia que a gente tava ficando e eu não podia simplesmente ignorar a menina, enquanto ficava babando pra Luna. Por outro lado, se ela ficasse com o Comequieto, tanto melhor.
Mas antes de decidir se ia até lá ou não, eu resolvi dar uma volta pela casa. Queria dar uma checada na Bia também. O porra do Luquinha tinha a mania de largar a namorada sozinha enquanto se divertia com os amigos. Talvez por isso a Luna tenha largado ele. Quem não dá assistência, abre concorrência, perde a preferência, sofre a consequência e pode decretar falência.
O Bussunda, o Bocaberta e o Shakira estavam na sala com a Fabi e a Bruninha.
— Qual é a senha? — o Bussunda perguntou ao ligar meu PS4.
Eu não costumava usava senha, mas foi justamente o Bussunda quem deletou boa parte dos meus saves, me obrigando a meter a senha no perfil.
— Entra como convidado.
— Como faz isso?
— Dá aqui o controle — disse o Shakira — eu faço isso.
A Bruninha e a Fabi já reviravam os olhos de tédio, quando o Bussunda começou a exibir seus dotes de gamer.
O Luquinha estava com a Bia na cozinha. Cada um de um lado da mesa mexendo no celular.
O Comequieto e a Monique estavam no quintal de trás, perto da lavanderia.
— Quer uma breja? — perguntei pra ele, mas era só uma desculpa — Vou pegar uma pra mim.
— Quero sim.
— Tem vinho? — a Monique perguntou.
— Não tem, mas a gente pode pegar depois.
Peguei duas latinhas e voltei. Entreguei uma para o Comequieto e abri a minha. Ficamos um tempinho jogando conversa fora, daí a Monique me cobrou aquele vinho.
Quando passamos pela varanda, a Monique provocou a Luna.
— Vou roubar o Lobão um pouquinho, tá amiga?
Pra minha surpresa, foi a Gi quem respondeu.
— Você não acha que tá muito abusada não, miga? Onde vocês pensam que vão?
— Ôxe! Tô falando com a tua mãe, piveta — a Monique falou, rindo — A gente vai pro motel, viu? Quer vir junto? Mas você vai no porta-malas que menor não entra.
— Vou junto mesmo. Quem disse que sou menor de idade?
— Quem falou de idade? Tô falando de tamanho, sua nanica.
E ela foi junto mesmo.
As duas ficaram se provocando na ida e na volta.
Eu saí com a Monique mais pra ver se tava tudo bem entre a gente. E estava mais do que bem. A safada a toda hora inventava uma desculpa para pegar no meu pau, mesmo na frente da Gi.
— Tem moeda, paizinho? — ela perguntava, já enfiando a mão no meu bolso lá no fundo.
— Ele não é o seu pai, Monique. Ele é pai da minha mãe.
— Ôxe! Ele é teu avô?
— É, ué! Por que? Não pode?
— Nada contra, gatinha. Vê se ele tem moeda nesse bolso também.
— Você tá querendo moeda ou outra coisa?
— Eu tô querendo um pirulitão bem gostoso pra chupar, gata. Hmmm, acho que encontrei alguma coisa aqui. Vem, paizinho, tem um terreno baldio ali.
Uma coisa que eu já tinha percebido na Monique em nosso primeiro encontro. Ela se amarra em me chupar em público. Não podia ver um portão aberto que já me puxava para o quintal de alguém.
— Você é muito puta, Monique — a Gi resmungou, mas mordeu os lábios numa expressão safada quando a Monique puxou a minha pica pra fora das calças.
— Eu estou pagando a pizza, gatinha. Não gosto de ficar devendo. Olha e aprende como se chupa um vovozão gostoso como o seu.
Caralho, não sei se a Monique ficou empolgada por ter platéia. Ainda mais uma novinha como a Gi, mas ela caprichou naquele boquete. Uma gulosa bem babada, daquelas barulhentas. Profissional do sexo é outra coisa. Sem o menor pudor, Monique batia com a minha pica no seu rostinho, lambia as bolas, subia medindo a minha rola com a língua, dava aquele trato na cabeçona do meu pau, depois engolia ele todo, metendo tudo a garganta e ainda esticando a língua pra me tocar as bolas. Depois tirava de uma vez um estampido e começava tudo de novo. Aquela gosta de chupar gostoso uma pica.
— Você também é um velho safado, né vovô? — ela dizia, mesmo com aquela expressão de volúpia no rosto — Deixando essa putinha te arrastar pra cá. Nossa, ela tá gostando mesmo disso, né? Olha como essa vadia chupa sua pica, vovô. Aposto como o senhor tá doido pra encher essa boca de vagabunda dela de leitinho, né? Vai gozar na boca dessa vaca, vai? Vai jorrar bastante porra na garganta dessa puta, vovô?
Eu já não ia me aguentar muito com aquele boquete babado da Monique. Ouvir a novinha da Gi falando aquelas porras só acelerou o processo.
Agarrei a Monique pelos cabelos, travei os dentes e gozei fartamente na sua boquinha gostosa.
— O que, você? Não! — a Gi reclamou, quando a Monique levantou de súbito e a beijou. Puta que pariu, foi foda. Depois de uma breve resistência inicial, as duas se beijavam sofregamente, meu leite escorrendo da boca delas.
— Sua putinha safada — a Gi reclamou, após ficar atracada com a Monique um tempinho. Resmungou, mas voltou a beijar. E como beijava gostoso. Vez por outra, parava pra xingar ela de vadia e voltava a beijar.
Ouvimos um barulho e achamos que era alguém, mas foi só um cachorro. Quando dei por mim, já estava com um pedaço de pau na mão que nem sei onde arrumei.
As meninas limparam o esperma na boca uma da outra com a língua, compramos as garras de vinho e voltamos. Como na ida, uma provocando a outra.
Assim que chegamos em casa, a Monique foi logo beijar a Luna na boca. A expressão do Comequieto foi a melhor. A Bruninha, estava saindo para a varanda e também viu. Ela mordeu os lábios num sorriso tão sacana que, se eu não tivesse acabado de gozar, teria ficado duro na mesma hora.
A Monique sussurrou alguma coisa no ouvido da Luna, pegou as garrafas de vinho e entrou na casa.
— A Monique pagou a pizza, paizinho? — ela me perguntou, assim que sentei.
Eu fiquei vermelho na mesma hora. Mesmo sabendo que a Luna já fora GP, eu me sentia constrangido. Não só eu. A Gi tentou correr dali, mas a mãe dela chamou de volta.
— Volta aqui, mocinha.
— Eu não fiz nada, mãe.
— Isso não é bem verdade, né? Pega a sua cadeira e senta aqui, entre a mamãe e o seu avô.
A menina fez como ordenado, isolando a Mila, que nos observava com aqueles olhos de coruja.
— Tava gostoso o leitinho do seu avô, filha?
A Gi não sabia onde enfiar a cara.
— Não, mãe. Para!
— Você ficou com tesão, filha? Conta pra mamãe.
— Para, mãe! Não na frente do vovô.
— A gente não tem segredos pro vovô, lembra? Fala, filha.
— Fiquei, mãe. Só um pouquinho.
— Então olha pro vovô fala isso pra ele.
— Mãe!
— Anda, sua mãe tá esperando.
— Vovô — a menina falou pra mim com súplica no olhar — eu fiquei com vontade de chupar o senhor.
Foi nessa hora que eu tive uma ereção culposa. Sim, inventei esse termo. É quando você tem uma ereção naquele momento em que é moralmente errado. E errado em vários níveis. Eu reclamando da educação que o Luquinha dava pras meninas, mas isso não era nada perto do que a Luna tava fazendo.
— Luna, isso é errado — eu falei.
— Não tem nada de errado, paizinho — ela falou com convicção — Você mesmo deve ter visto o desejo nos olhos dela, não estou certa? O certo, então, é ela fingir que não sente tesão por você, paizinho? Tudo bem não querer falar isso para os outros, mas entre nós não existe segredo. É perfeitamente normal sentir desejo por uma rola. Ainda mais em público. O que eu não quero é que a minha filha se acostume a esconder suas próprias taras. E você, paizinho, deseja o corpinho da sua neta?
O olhar dela me desafiava. A Luna sempre foi uma garota atrevida. Meiga, mas sem papas na língua.
— Desejo — falei sem titubear. Ambas sorriram pra mim — Claro que desejo. Como poderia não desejar. Você é linda, Gi. A gente não controla esse tipo de coisa.
Quase beijei a minha suposta filha na boca naquele exato momento, mas o Bocaberta estragou o momento, perguntando se tinha mais pizza.
A Luna, com um sorriso, disse que ia pedir mais, enquanto a Gi botava a cadeira de volta no lugar, ao lado da irmã, que me observava com o mais condenatório dos olhares.
Como eu previa, a gente voltou várias vezes na adega. Peguei uns colchonetes e sacos de dormir, pros caras dormirem na sala. Parece que tínhamos voltado à adolescência, quando chegávamos na casa do Shakira na sexta à noite e saíamos de lá no domingo à tarde. Vivíamos a base de groselha, Traquinas e hambúrgueres fritos no George Foreman Grill da mãe do Shakira.
O Luquinha, a Bia e as gêmeas dormiram no quarto da visita. O Comequieto levou a Monique embora. A Fabi e a Bruninha deveriam dormir na casinha de cima, mas a estagiária ficou comigo e com a Luna na varanda, empatando a nossa foda. Fosse a Monique, eu teria comido as duas, mas a Luna não era tão descarada com estranhas como era com as próprias filhas.
Eu só fui dormir mesmo depois do almoço, no dia seguinte. Depois de passar a noite em claro conversando com as duas, estava só no bico do corvo.
O Shakira levou a Fabi, supostamente, pra casa e o Bussunda deu carona pra Bruninha e pro Bocaberta.
O Luquinha levou a ex-mulher, a namorada e as gêmeas.
E eu capotei na cama, só acordando de noite.
Isso foi no sábado. Passei o domingo arrumando a bagunça que tinha virado a minha casa.
De alguma maneira, a Gi havia conseguido meu zap e ficou mandando mensagens o dia inteiro.
Ela me botou num grupo chamado "Putinhas do Vovô” junto com a irmã, mas a Mila mudou o nome do grupo pra “Gatinhas do Vovô”.
A primeira coisa que notei na segunda de manhã foi a maneira como a Drica passou a me tratar.
Toda hora ela vinha me encher o saco.
Por eu ser flutuante, os supervisores só me chamam quando é pra apagar algum incêndio. Alguém faz alguma cagada e o trouxa aqui tem que resolver o BO. Então, se a merda não bateu no ventilador, os supervisores costumam me ignorar solenemente. Ainda mais a Drica que já tem o seu fã clube.
Mas, naquela segunda-feira, foi diferente. A toda hora, eu sentia aquele perfume dela – uma coisa meio refrescante, meio açucarada, com toques exóticos – ao meu redor, como uma névoa de refrescância e aconchego. Instintivamente, eu fechava os olhos por um momento e me permitia encher os pulmões antes de fazer qualquer coisa. Daí vinham aquelas unhas bem cuidadas, roçando de leve a minha pele. Normalmente no braço, mas vez por outra no ombro ou na nuca, eriçando pelos em lugares que eu nem sabia existirem. E, então, o timbre suave, de uma leveza sublime, transmitindo doçura e delicadeza. Uma voz sedosa, cada nota parecendo dançar com graciosa leveza, produzindo uma sensação aveludada, que faz cócegas no ouvido. Ao me virar, a primeira coisa que captura a minha atenção são seus olhos, transitando entre o azul e o verde, dependendo da luz do ambiente, olhos hipnóticos. Seu belo rosto de traços marcados é como uma moldura distante daqueles olhos brilhantes. Até noto as sobrancelhas bem desenhadas, a boca carnuda de contornos clássicos, a estrutura triangular do seu rosto, mas tudo se empalidece frente ao fulgor do seu olhar.
E nunca era algo importante. Como se ela quisesse só me presentear com a alegria da sua presença. Ficava um tempinho, falava alguma coisa e ia embora, deixando saudades, aquela rabeta deliciosa rebolando para longe.
De tarde, quando fomos para o bar, vez por outra Drica me chamava a atenção. A Rose não deixou de notar isso. Se olhares matassem, eu certamente cairia fulminado ali mesmo. Normalmente, eu passo incógnito no bar, mas a todo momento a Drica me puxava de volta para a ribalta.
Quando os casados da Távola Redonda começaram a ir embora, eu parti também, deixando a Drica e a Rose à sós, mas me perguntando o motivo daquela mudança de atitude.
No decorrer da semana, eu percebi uma certa hostilidade dos membros da Távola Redonda, umas brincadeiras mais ácidas, uma provocações mais desproporcionais. Eu havia me tornado um player em um game que não pedi para participar.
Eu continuava bancando o Uber para a Monique. E ela continuava me pagando daquele jeitinho gostoso que só ela sabe, mas agora, quando a safada caia de boca na minha rola, ela fazia uma chamada de vídeo pra Luna. Fogo no parquinho.
— Olha que delícia de pica, miga — ela dizia, batendo com a minha rola na cara.
E, ao anunciar o orgasmo, ela pedia leitinho olhando pra câmera do celular.
— Vai paizinho, jorra esse leitinho gostoso na minha boca, anda. Olha, miga, o papai enchendo a minha boquinha de porra, olha!
Pouco antes de gozar, eu ouvi a voz da Gi do outro lado — “É o vovô, mãe?”
FALA PESSOAL
Chegamos ao final de mais um conto. Não se esqueçam de dar aquela moral com estrelas e comentários.
BUCETINHAS DO TRAMPO
Adriana [Drica], a buceta mais cobiçada do trampo.
Rose, doida, manipuladora, bipolar.
Bel, casada certinha.
Bruninha, novinha, estagiária e discípula da Monique.
QUATRO CADEIRAS [Fã Clube da Rose]
Beta, a primeira cadeira, escravoceta da Rose.
Pogobol, segunda cadeira, deu uns pegas na Rose, mas foi abandonado.
Beque, terceira cadeira, fã da Rose, mas finge ser só amigo.
Roger [casado], quarta cadeira.
OUTROS CARAS DO TRAMPO
Gepeto, o veterano do trampo, cabeça quente, já trabalhou na noite.
Biri [delegado sindical], descontrolado com dinheiro [deve pro agiota]
Toninho [gerente], vez por outra cola no bar pra tomar umas brejas com a gente.
Thiagão [gerente de outro setor], pau no cu do caralho, faz de tudo pra foder o nosso setor por ciúme da Drica.
Carlão [supervisor], garanhão.
CAMARADAS DA VILA
Shakira [ex da Vadia], motoqueiro e porra louca.
Bocaberta, vampiro astral.
Biroleibe, o sossegado.
Bussunda, RPGista, nerdola, acha que é pro gamer.
Comequieto, tranquilo, na dele, mineirinho, come pelas beiradas.
BUCETINHAS DA VILA
Doida, ex do Shakira que todo mundo passou a vara.
TÁVOLA REDONDA [fã clube da Drica]
Juba [casado], o paladino da justiça, o cara mais gente boa do trampo.
Grilão [Natália (noiva)], garanhão, cafajeste e descolado.
Gepeto [casado]
Roger [casado], mão de vaca, gosta de serrar uma breja.
Papanjo [casado], gosta de pegar uma novinha, contador de histórias, mitomaníaco.
Beque, motoqueiro, gosta de vodka, gente boa, fofoqueiro pra caralho.
Rose
BUCETINHAS DO PUTEIRO
Monique, mora com a Rose
Luna, minha ex namoradinha de puteiro
Cowboy, maconheira, ganhou o apelido por beber whisky puro, bebe pra caralho.
FAMÍLIA DA DRICA
Bia [primogênita]
Fabi [filha do meio]
Aninha [caçula]
Seu Pereira [pai]
Dona Gertrudes [mãe]
AGREGADOS DA DRICA
Augusto e Giovanna [melhores amigos]
Luquinha [filho dos melhores amigos e namorado da Bia]