Nos primeiros dias do grupo do Whatsapp praticamente o único que falava era o Pablo. Ele ficava mandando memes, falando palhaçadas, mandando gifs. Eu só sabia rir porque não sabia direito como me portar com eles nem até que ponto eu poderia falar lá. O Miguel só visualizava e não esboçava qualquer reação. Nós sabíamos que tinha visto pelas informações das mensagens, mas ele não falava nada.
E por todo o resto daquela semana o Miguel seguia com poucas palavras e seus olhos sempre vermelhos pela manhã, demonstrando que havia chorado. E assim passou dia após dia. Eu achava interessante como o bem-estar do Miguel afetava a empresa toda. Ele contagiava a todos com o jeito dele. Seja porque transmitia felicidade ou porque alguém estava puto com ele. Mas desde que ele ficou recluso, o clima era pesado.
Foi chegando ao fim da semana e nada mudava. Até que Pablo decidiu que ia fazer o Miguel reagir de um jeito ou de outro. Ele perguntou ao Miguel o que ele faria no fim de semana.
Miguel: “Não sei. Devo ficar em casa.”
Olha, eu não aguentava mais o Miguel com poucas palavras. E aquilo estava até me afetando. Eu estava meio triste e eu me fazia acreditar que era porque não queria ver meu amigo daquele jeito. Mas no fundo era alguma coisa diferente. Mas não tenho como negar, aquele cara com aquele rosto fechado conseguiu ficar infinitamente mais gato. Aquela testa franzida, aquelas poucas palavras dele, estava falando até mais grosso. Aquilo estava mexendo comigo.
Pablo: “Bom, então você não tinha planos? Agora você tem. Você e Ben na sexta-feira tragam roupa extra porque vou sequestrar vocês pra casa na serra dos meus pais e a gente só volta na segunda-feira direto pro trampo.”
Uau, os pais dele tinham uma casa na serra? Nós que moramos em região de praia acabamos amando ir para serra porque tira um pouco esse clima. Não que eu não goste de praia. Eu amo! Mas tudo em excesso também cansa e eu não teria nada para o fim de semana mesmo. Eu topei logo, mas o Miguel...
Miguel: “Eu falei que tenho planos. Vou ficar em casa.”
Pablo: “Você vai e pronto. Você não quer falar mas eu sei que cê tá tretado com seus pais e ficar em casa vai ser pior. Você vai e não tem saída. Vai ser o primeiro rolê dos irmãos. Afinal de contas, você tem que demonstrar que ama teus irmãos e, se não for, vai tá dizendo o contrário. O que me diz?”
Eu na hora só conseguia pensar o quanto que o Pablo apelou. Apelou muito. Quis tocar o lado sentimental do Miguel e conseguiu. Ele só consentiu com a cabeça e Pablo ficou todo animado. Ligou para a namorada avisando que o final de semana ia viajar com os amigos. Ela não ficou muito satisfeita, mas o Pablo nem ligou. Ele também desmarcou os compromissos com a igreja e falou que estava já pensando em várias coisas para fazer. Ele nos deu algumas instruções: falou para levarmos roupa para entrar na cachoeira, dividiu o que cada um ia levar de coisas para comer e disse que ele ia levar as bebidas.
Miguel: “Mas você não tá na igreja? Você mesmo me deu vários sermões sobre bebida e agora tá dizendo que vai levar cerveja?”
Pablo: “Miguel, me deixa. Vamos estar só meus irmãos e eu. Ninguém vai saber. E já que eu não tô conseguindo acessar o que meu amigo tá sentindo, eu vou me render ao que ele gosta de fazer pra ver se ele volta a se abrir comigo.”
Miguel: “Hahaha... muito engraçado você” – Miguel sendo irônico foi lindo de se ver. “Se for levar bebida que leve cerveja boa e leve bastante. Acho que tô precisando beber até cair. Esteja disposto a cair comigo. Mas pelo tempo que cê não bebe vai bater rapidinho...”
Pablo: “Não importa, pelo menos você na sua maluquice vai ver que tem amigos dispostos a se sacrificar por você. Se prepara que a gente vai curtir muito... Ben, às vezes eu não consigo entender por quê você do nada fica quieto. Cê tem que entrar na conversa também se não só eu e o Miguel falamos.”
O Pablo estava certo. Eu ficava observando eles dois falando e até saía de mim. Eram dois bonitões conversando e ouso dizer que era lindo ver a amizade dos dois e a forma como eles se tratavam. Mas ao mesmo tempo eu estava preocupado porque eu nunca tinha bebido e eu sabia que uma hora ou outra eles iam falar de putaria e eu não ia conseguir sustentar o personagem de alguém que sabia do que eles falavam. Mas fui esperto, falei que estava fazendo meus planos mentais para viajar e que seria muito foda.
Chegou a esperada sexta-feira. Finalizamos nosso expediente às 18h00 e entramos os três no carro do Pablo. Era um puta carrão, não cansava de dizer. Porra, um Jeep Compass daquele elétrico que lançou neste ano. Era carro de patrão e geral olhava para o carro quando passava. Era uma sensação ótima de estar por cima sabe? E ficou melhor ainda quando, no meio do caminho que a estrada estava vazia, o Pablo perguntou se eu não queria dirigir. Fiquei extasiado, eu havia acabado de tirar minha carteira e só tinha dirigido a Palio da minha mãe.
Benjamin: “Você confia mesmo de eu dirigir teu carro?”
Pablo: “Claro que sim. Miguel já dirigiu. Cê é meu outro irmão, tem o direito de dirigir também.”
Que sensação foi aquela. Parou o carro, assumi o volante, ajeitei o banco para mim e soltei o freio de mão. Era uma nave mesmo. Automático, não fazia qualquer barulho por ser elétrico. Era maravilhosa a sensação de estar por cima. Acho que a minha cara devia estar de muito encantado porque o Pablo ria e o Miguel esboçava a reação de que estava por rir.
Pablo: “Olha a cara do Ben dirigindo o carrão. Deve tá se achando. Se pá te empresto ele lá na serra pra ir em algum barzinho pra cê impressionar alguma gata e fuder. Cê tá com muita cara de virgem ainda. Tem que aparentar ser mais homem.”
Aí Miguel não se aguentou e gargalhou no carro.
Miguel: “Vou ter que concordar com o Pablo. Cê já é um homem feito mas se porta como se fosse um adolescente. Tem que mostrar que cê é um homem que sabe o que tá fazendo porque atrai as minas. Vou ter que te ensinar lá no sítio.”
Pablo: “Exatamente. Te ensinar a se portar como homem adulto que cê é. Cê vai mostrar pras pessoas que no nosso grupo só tem homem feito e fudedor. Eu não to fudendo por conta da igreja mas quem me vê sabe que já fudi muito.”
Nesse momento eu decidi me concentrar só na estrada. Os caras estavam botando maior fé em mim e eu não sabia de nada daquilo. E eu não sei mentir. Na verdade, não sei nem omitir. E eles perceberam.
Miguel: “Calma aí. Cê é virgem? Cabaço mesmo? Cê nunca fez nada, nada? Não é possível! Agora eu entendi porque quando a gente fala de putaria você nunca fala nada. Não acredito que achamos o último virgem de 40 anos? Kkkkkkk”
Benjamin: “Não tenho 40 anos.” – Eu só consegui dizer isso tamanha a vergonha que estava sentindo.
Pablo: “Hahahahaha, não acredito. Vem cá? É algo religioso ou o que?”
Benjamin: “Não é religioso não. Só não tive a oportunidade. Na verdade, as meninas não costumam olhar pra um cara como eu. Vocês costumam ser o foco delas. Caras com idade por volta dos 30, atraentes, gostosões...”
Puta merda, acho que falei demais. Como falei na cara deles que acho eles atraentes e gostosões? Onde que eu estava com minha cabeça? Eu falo essas coisas com gente próxima e sabem que eu falo mesmo, mas tecnicamente conheci os caras agora. Eles vão me crucificar. Então fiquei em silêncio esperando o que falariam.
Pablo: “Continua... atraentes, gostosões... o que cê ia falar depois? Pauzudos? Kkkkkkkkkk”
Miguel: “Ihhh será que ele fica manjando a gente? Mas cê nem viu a gente pelado ainda?”
Minha cabeça estava ficando maluca. Não sabia onde enfiar a minha cara. Será que estavam me zoando? Será que estavam já cogitando me tirar fora da vida deles? Pera aí? Ele disse que não vi pelado AINDA? Será que vou ver? Em que momento isso vai acontecer? Minha mente começou a girar e por 1 segundo eu perdi a noção de que estava dirigindo e o carro foi para o meio da pista em cima da faixa que divide as pistas e nessa hora o Pablo se assustou e pegou o volante para acertar o carro. Ainda bem que não tinha carro algum vindo de frente senão era acidente na certa. Pablo decidiu então pararmos no próximo posto para tomar um café e depois ele ia seguir dirigindo.
Depois do incidente eles ficaram preocupados em como eu estava. Eu fiquei tão sem graça que fiquei um pouco distante deles. Estava sentado fisicamente ao lado, mas minha cabeça queria estar longe com vergonha sabe. Entramos na lanchonete, pedimos nossos cafés e sentamos. E Pablo começou:
Pablo: “Cara, cê ficou bolado com o que a gente tava falando. Não foi nossa intenção não. A gente ficou surpreso que cê é bem moleque mesmo. Que não conhece a vida. E a gente teve que zoar. A gente é assim. Desculpa!”
Miguel: “É mesmo cara. A gente só tava te zoando mesmo. Não julgo você ser virgem não. Todo mundo aqui já foi. Só acho que cê tem que começar a se abrir pras oportunidades da vida. Cê só vai saber como são as coisas se você se deixar viver sabe. Cê é um cara bonitão, também é atraente, gostosão, só tem que se portar como tal pra pegar mulher. E outra, a gente entre a gente também sabe elogiar gente bonita também. A gente é muito firme do que a gente gosta pra qualquer elogio e achar outro cara bonito não nos faz menos homens.”
Pablo: “Exatamente. Aqui tem 3 caras bonitões. 2 seguros de si e 1 não, mas isso vai mudar daqui pra frente. A gente só não resistiu de te gastar... Ben, tá aí? BENNN!!”
Eu estava viajando no que eles estavam falando. Eles são mais legais do que eu imaginava e infelizmente eles estavam muito certos com a sexualidade deles. Eu já não estava tão certo da minha mais. Será que eu ainda era hétero? Será que era bi? Quais seriam as consequências disso? Será que minha família levaria na boa? Será que eles levariam na boa? Mas como saber do que gosto? Eu teria que experimentar. Mas como? Eu estava com a cabeça quente quando escutei o Pablo me chamando. Ele chegou a gritar e eu voltei a mim e respondi:
Benjamin: “Desculpa, eu só estava pensando no quanto vocês são legais. Obrigado por aceitarem ser amigos do virjão aqui.”
Terminamos nosso café e voltamos para a estrada. Ainda levaria 1 hora para chegar. Pablo seguiu dirigindo. Continuamos conversando amenidades, eles me zoando por ser virgem. Ficavam rindo de como eu conseguia fugir dos assuntos antes, que devia ser difícil demais para mim. Miguel chegou a melhorar 70% do que ele estava antes só pela zoação no carro. Nem vimos a hora passar e quando demos por nós o Pablo estava avisando que estávamos passando na porteira do sítio. Isso já eram 21h00. Quando olhei para a casa, senti um frio na barriga, algo dizia que algo começaria a mudar daqui para frente.
NOTA DO AUTOR: Este é meu terceiro conto. Quero fazer dele uma espécie de história em vários capítulos e capítulos grandes. Estou escrevendo assim porque gosto de ler contos deste tipo que me envolvem na história pra que quando chegar o clímax e as reviravoltas eu estar envolvido na história. Espero que gostem e que escrevam seus feedbacks nos comentários. Vou lançar os capítulos à medida que for escrevendo. Não vou demorar muito. Se curtirem vou amar os comentários. Se quiser pode me mandar um e-mail para o endereço a seguir: benjamin.autordelivros@gmail.com Vou ficar feliz de ler seus comentários e seus e-mails. Um grande abraço a todos que leem.