Amigos leitores, nos diálogos em russo da Yelena, para dar uma diferenciada e trazer novidade ao texto, acabei mantendo a descontração do sotaque e a tradução logo após as falas. Não vou manter esse expediente nos textos em inglês da Anastásia, pois não agrega nada novo e deixa a leitura mais cansativa. Assim, todos ficam cientes que ela conversa em inglês, por enquanto.
Continuando:
Hélio não podia acreditar no que os seus olhos lhe mostravam. Ela era uma cópia exata de Yelena, só diferente nos olhos de um azul profundo da falecida esposa, a irmã tinha olhos verdes acinzentados. O cabelo também era loiro, mas um pouco mais escuro. E ela tinha uma tatuagem de beijo no pescoço, pela coloração já desbotada, feita na adolescência. Para completar, o mesmo pingente preso a uma fina corrente de ouro, a metade esquerda de um coração. Ela se apresentou:
– Hello! I'm Anastásia. Is Yelena here? From the photos I saw, you must be Hélio, her husband. Pleasure to meet you. (Olá! Eu sou a Anastásia. Yelena está? Pelas fotos que vi, você deve ser Hélio, marido dela. Prazer em conhecê-lo).
Hélio estava paralisado, sem conseguir falar.
– Eu não falo português. Pelo jeito, você também não fala inglês. Assim vai ser difícil. – Disse Anastácia.
Hélio se recompôs:
– Me desculpe! Só fiquei impressionado em ver o quanto você e sua irmã são parecidas. Entre, por favor!
Hélio deu passagem e Anastásia entrou na casa. Já no hall de entrada, uma pequena sala com um aparador e um cabideiro para casacos, ela se admirou com o local. Na sala de estar, seus olhos brilhavam com a decoração e as obras de arte. Ela parou em frente a um quadro específico, uma pintura de Natalia Goncharova, que além de uma proeminente pintora, era também cenógrafa, figurinista, ilustradora, desenhista, designer de moda e escritora avant-garde russa. Anastásia olhou ao redor e reconheceu mais três obras da consagrada artista e conterrânea:
– Foram escolhas da Yelena, tenho certeza. Ela é apaixonada pela artista.
Hélio apenas concordou, se preparando mentalmente e esperando a pergunta que o faria tremer. Anastásia, então, a fez:
– E então, cadê minha irmã? Ela está aqui? Posso falar com ela?
Sem conseguir disfarçar a tristeza, Hélio a conduziu até o sofá e pediu que ela se sentasse. Anastásia começava a perceber que algo não estava certo. Ele sabia que seria pior enrolar, então, foi direto ao ponto, mas tentando falar com o máximo de delicadeza que conseguia:
– Eu sinto muito, muito mesmo, mas a Yelena, minha amada esposa, faleceu há dois meses, num acidente de automóvel.
A expressão no rosto dela, de completo desespero e dor, fez Hélio reviver aquele dia fatídico. Para conseguir simpatia, tentar não ser transformado em culpado pela cunhada que acabara de conhecer, ele concluiu:
– Meu filho, meu único filho, também perdeu a vida naquele dia. Me desculpe por não informar a vocês, mas eu acabei ficando perdido, sozinho, sem saber o que fazer ou a quem recorrer. Ainda não me recuperei do luto.
Revoltada, buscando forças sem saber de onde, Anastásia se levantou, encarando Hélio sem reação, com lágrimas grossas escorrendo pelo rosto. Ela saiu da casa sem dizer uma única palavra. Sem entender a reação dela, ele foi atrás:
– Para onde você está indo? Você não pode sair assim, nessas condições. Fique aqui essa noite, depois você resolve o que vai fazer.
Com as mãos tremendo, caminhando com dificuldade, ela pegou o celular na bolsa e fez uma ligação:
– Vem me buscar, por favor! Minha irmã está morta ... um acidente de carro ... Por quê? Logo ela, a melhor entre nós ... Só vem me buscar, rápido.
Assim que ela desligou, finalmente cedendo de vez ao pranto mais forte, Hélio tentou se aproximar, a abraçando:
– Você pode ficar aqui. Ainda é a casa da sua irmã. Não precisa ir embora dessa …
Ela se livrou do abraço dele, falando com dificuldade por causa do choro, entre soluços, o interrompendo:
– Meu noivo está vindo me buscar. Foi ele que me trouxe ao Brasil. Ele veio a negócios e eu aproveitei a oportunidade para vir junto e procurar notícias sobre minha irmã. Mamãe estava preocupada. E agora? Como vou contar isso para ela?
Tentando ser gentil, Hélio achou que era seu papel dar a notícia:
– Deixe que eu falo com ela, é só você me passar o número de contato. Como marido, é minha obrigação.
Anastásia, olhando para ele furiosa, recusou veementemente:
– Não! Sua obrigação era dar a notícia no tempo certo. Você nunca quis nos conhecer, pode deixar que eu falo. – Ela enxugou as lágrimas e saiu andando. – Vou esperar meu noivo na portaria, não tenho mais nada a fazer aqui.
Enquanto Anastásia se afastava, Hélio via surgir em seu peito um sentimento novo, estranho. "Elas são tão parecidas e Yelena me foi tirada tão abruptamente … preciso conhecê-la melhor, tentar me aproximar. Quem será esse noivo?". Ele pensou. Sua mente maquiavélica, doentia, imaginava cenários de um novo futuro em que ele pudesse voltar no tempo e recomeçar. Mas não era uma volta no tempo para estar com o filho e a esposa, sua intenção era outra, mais egoísta, focada apenas nele mesmo.
Ao ver um dos vigilantes do condomínio fazendo sua habitual ronda de moto, Hélio o chamou. Ele entrou rapidamente em casa e voltou com uma nota de cem reais na mão. Entregou o dinheiro ao vigilante e pediu:
– Siga aquela moça que acabou de sair daqui sem que ela perceba e anote a placa do carro que ela irá entrar.
Conhecendo a fama do homem, o rapaz apenas obedeceu e seguiu, disfarçadamente, a linda jovem. Em menos de dez minutos ela entrou no carro que viera buscá-la. De posse da informação desejada pelo "ilustre" morador, ele usou o interfone da portaria para repassar as letras e números pedidos.
{…}
Mila estava sozinha no quarto cedido pela amiga, introspectiva e assustada. Por horas, conseguiu fugir do assunto, tentando dormir, mas a solidão, e principalmente o medo por tudo o que presenciou e que aquilo voltasse a se repetir, eram seus únicos companheiros. Percebeu que a amiga assistia televisão na sala e resolveu se juntar a ela. Foi recebida com um abraço carinhoso:
– Eu já tentei, não vou insistir, mas se quiser falar, sabe que eu estou aqui. Só depende de você se abrir.
Sem conseguir se controlar, começando a chorar, Mila se lamentou:
– É tudo culpa minha. Eu o matei, matei os dois … por quê? Eu sinto tanta falta dele, tanta … deveria ser eu a morrer, não ele.
A amiga viu a oportunidade:
– É por que você continua naquela casa? Continua aceitando as ordens daquele sujeito asqueroso? Ele é o verdadeiro culpado, foi ele que fez isso com você.
Mila sabia que aquilo não era verdade, mas precisando do apoio, acabou se deixando levar. A amiga continuou pressionando:
– Eu já disse pra você, a situação é favorável, é hora de agir.
Ela sabia onde a amiga queria chegar, pois meses antes do acidente, já tinha colocado aquele plano em prática. Foi a amiga que deu a ela a ideia de todo o plano. Conhecendo a vigarista, achou melhor não revelar nada e mentiu:
– Eu já disse que não dá. Os sistemas têm proteção, as contas são auditadas externamente … quantas vezes eu tenho que repetir? Roubar um homem como o Hélio não é a mesma coisa que dar golpes em cartões de crédito ou em solteirões solitários no Tinder.
Perdendo a paciência, a amiga foi direta:
– Então acho melhor você se recompor logo e voltar para onde pertence. Eu não tenho condições de alimentar mais uma boca. Nessas condições, você não me serve para nada.
Mila entendeu o recado. Estava sozinha no mundo, desamparada, desorientada. O único a quem poderia recorrer era Hélio. Voltou ao quarto e ligou para ele. Foi atendida sem demora e pediu:
– Posso voltar?
Ele precisava dela, pois já maquinava seus novos planos:
– Claro que pode. Quer que eu vá te buscar?
Sem forças ou a concentração necessária para dirigir, ela concordou:
– Sim! Pode mandar alguém buscar meu carro também?
Hélio se despediu dela e chamou seu funcionário de confiança, seu faz tudo, para acompanhá-lo. Enquanto Mila voltava com ele no carro, o funcionário conduziu o veículo dela.
Já em casa, deixou que ela tomasse banho e pediu à cozinheira que preparasse algo para os dois comerem. Enquanto comiam, contou a ela sobre a visita de Anastásia, irmã de Yelena. Quando queria alguma coisa, Hélio sabia seduzir. Não estava nem aí para o que Mila estava passando, se estava sofrendo ou com dificuldades. Ele tinha um novo plano em mente e precisava dela na sua melhor forma. Tinha poucos dias para que ela voltasse ao normal.
Naquela noite, até deixou que ela dormisse com ele no quarto de hóspedes, já que os quartos de ambos, só traziam dor e lembranças ruins. Não fizeram sexo, não havia clima, apenas ficaram fazendo companhia um ao outro.
Antes dela pegar no sono, com todo o cuidado e da forma manipuladora de sempre, ele pediu:
– Amanhã eu preciso de você nas melhores condições. Temos uma reunião com aquele investidor italiano interessado em tocar a fábrica que era do Toni. Você conhece bem o negócio, preciso da sua ajuda. – Ele olhou sério para ela. – Eu vou precisar cuidar de outras coisas. Preciso achar a irmã de Yelena. Você cuida da reunião com o investidor. De qualquer forma, esse é um assunto pequeno demais para precisar da minha atenção, tenho coisas mais importantes para fazer, não acho que ele vá se importar. Apenas se livre daquele lugar, como eu mandei.
Mila apenas concordou, estava cansada e esgotada mentalmente, acabou conseguindo dormir bem, enquanto Hélio só pensava no seu novo objetivo.
{…}
Anastásia esperou por menos de dez minutos na recepção daquele condomínio de alto padrão. Por três vezes encarou os porteiros que não conseguiam deixar de olhar para ela. Ela sabia muito bem o motivo daqueles olhares curiosos, mas preferiu ficar na dela, sem dar muita atenção. Tinha a certeza de que eles poderiam estar assustados, acostumados a Yelena, a confundindo.
Sorriu ao ver seu noivo estacionando, indo rapidamente ao seu encontro. Como todo italiano, Vincenzo era um homem romântico e fez questão de sair do carro para abrir a porta da amada. Anastásia não se cansava de olhar para ele, admirá-lo. Mesmo que apenas estivesse prendendo o cinto de segurança, ela achava seus movimentos graciosos. Estava completa e perdidamente apaixonada por ele.
Vincenzo era o típico Italiano. Queixo quadrado, másculo, barba por fazer, cabelos negros e rebeldes, mantidos penteados com a ajuda do gel. Os olhos eram o ponto de destaque do seu rosto: grandes, belos, negros como a noite. Em bom português, ele perguntou:
– E então, como foi?
O sorriso no rosto dela deu lugar a raiva:
– Não mudar! Sua pai ser uma desgraçada. Nau ter forças para continuar perto. – Ela deitou a cabeça no ombro dele - Ainda usar seu morte para tentar ganhar meu simpatia. Ele merecer tuda que a gente pensar fazer. Desculpa chamar você rápida. Acabar não conseguindo suportar muita tempo.
Vincenzo estava calmo:
– Eu imaginei. Amanhã será a minha vez de encará-lo. Vamos ver como será. Nossa amiga já está a postos dentro da empresa, preparada.
Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, ela pediu:
– Me levar naquela motel. Querer dar pra você noite inteiro. Eu precisar, esses preparaçaus deixar eu exausta. Ter saudade de você.
Vincenzo nem pensou duas vezes, dando um beijo na boca dela e acelerando a seguir. Não demoraram a chegar.
Já saíram do carro se pegando, não querendo perder tempo algum. Já fazia uma semana que não se viam, dez dias que não se amavam. A separação aumentou ainda mais o desejo e a saudade entre os dois. O colo dele era o lugar preferido dela no mundo. Ela segurou forte no rosto dele:
– Eu já amar muita você. Nós duas juntos não ser coincidência. Saber que não ser como sua pai. Saber que felicidade com você ser pra sempre.
Vincenzo protestou:
– Cuidado com o meu rosto. Essas próteses no queixo e no nariz ainda incomodam, não estou acostumado.
Carinhosamente, Yelena, quer dizer, Anastásia, beijou os dois lados da face dele, repetindo o movimento por diversas vezes:
– Doer aqui? – Ela beijava o outro lado e finalmente deu um beijinho delicado no nariz dele. – Aqui também doer?
Ela adorava despentear o cabelo dele, sua nova mania, seu jeito de estar sempre em contato, bagunçando o penteado cuidadoso, só parando ao ser arremessada na cama do motel.
Vincenzo colocou a banheira de hidromassagem para encher e voltou até ela. De joelhos, e com os braços abertos, ela esperava. Ele começou a desabotoar a blusa, dando beijos a cada botão aberto. Ela voltava a acariciar o cabelo dele. Ele desceu o zíper lateral da saia, admirando aquele corpo esbelto, perfeito, dando um beijo carinhoso no umbigo dela e depois a puxando para os seus braços. Os dois trocaram um beijo na boca intenso e demorado.
Voltando a empurrá-la carinhosamente sobre a cama, ele tirou os saltos que ela usava, massageando seus pés com calma, dando beijos na panturrilha e subindo pela parte interna das coxas, notando que os pelos se eriçaram. Ela o provocou:
– Não reparar, não perceber nada?
Ele fez um carinho na xoxota, por cima da calcinha:
– Claro que reparei, mas eu prefiro você sem.
Devagar, ele foi puxando a bonita calcinha tipo string, de renda fina, quase transparente para baixo, a despindo lentamente. Deu um beijo na testa da buceta e respirou profundamente, sentindo o odor da excitação que começava. Voltou a beijar a parte interna das coxas, brincando com a língua até a virilha, fazendo Anastásia estremecer, apertando sua cabeça entre as pernas.
Com apenas uma mão, ele desabotoou o fecho dianteiro do sutiã, entre os seios, apalpando carinhosamente o seio esquerdo, ganhando um elogio:
– Você estar muita bom nisso. Parabéns!
Com a língua, ele abriu caminho entre os grandes lábios da xoxota, lambendo de baixo para cima, prolongando a carícia no grelo, arrancando um gemido agudo dela:
– Assimmm … ser muita bom …
Vincenzo passou a lamber e sugar o grelo, descendo com a língua por toda a extensão da buceta, explorando a entrada do canal vaginal, como se a estivesse fodendo. Ela se tremia toda, com seus gemidos cada vez mais alucinados, em sua língua materna:
– Как я скучаю ... как я скучаю ... это не прекращается, как безумно … (Que saudade … como eu senti falta disso … não para, que loucura …)
Ele penetrou a xoxotinha apertada com os dedos e começou a movimentar com rapidez, mantendo a sucção exclusivamente no grelo. Anastásia gritava alucinada:
– Это невероятно … не останавливайся, я уже почти … ты меня вот так приканчиваешь … (Que incrível … não para, estou quase … você acaba comigo desse jeito …)
Anastásia, em êxtase, apertava a cabeça dele com as coxas, agarrava os cabelos, se debatia e era tomada por espasmos:
– Vai gozar … acabar com eu … estar gozando no seu boca …
Tendo cumprindo seu objetivo, ele se deitou ao lado dela e a abraçou, deixando-a se recuperar, esperando sua respiração voltar ao normal. Só então ele se despiu, voltou à banheira e desligou a água. Conferiu a temperatura, voltou até Anastásia e a tomou em seus braços, caminhando com ela de volta a banheira.
Se sentou e abriu espaço para que ela se posicionasse entre suas pernas, a abraçando por trás. Ela virou o rosto, procurando a boca dele, deixando que ele beijasse também seus ombros e costas, já voltando a levar as mãos aos seios, sentindo-a levantando o quadril e buscando se sentar em suas pernas, mas encontrando sua ereção.
Ela se virou e preferiu se sentar de frente, já posicionando o membro em sua xoxota e tendo a penetração prejudicada pela água. Vincenzo se levantou trazendo Anastásia junto com ele, se sentando na borda da banheira e passando a sugar os seios perfeitos com muita vontade, aumentando ainda mais a excitação dela.
O pau foi encontrando o caminho, ajudado pela lubrificação mais intensa, e só quando estava completamente dentro dela, ele voltou a se sentar na banheira. Ela o abraçou e começou a cavalgá-lo, ajustando o ângulo de seus movimentos para que seu clitóris tocasse sempre no púbis dele. Faziam amor com calma, sem afobação, trocando beijos cada vez mais demorados, mais apaixonados.
Anastásia tinha total controle dos músculos vaginais, fazendo a buceta que já era apertada, mastigar o pau dele. Quem gemia naquele momento, era Vincenzo:
– Caralho, mulher! Assim você me mata. Quem resiste a isso? Desse jeito eu vou gozar muito rápido …
Ela voltava a beijar sua boca e provocava:
– Goza! Eu querer, dá leitinho pra seu putinha … – Ela pompoava ainda mais forte. – Você ser minha macho, gozar pra eu.
Provocado, ele inverteu o jogo, colocando Anastásia deitada na borda da banheira e passando a estocar com mais força, socando o pau em movimentos rápidos, dedilhando o clitóris dela:
– Vamos gozar juntos, minha putinha gostosa.
Ela travou as pernas mais forte nas costas dele:
– Mete na seu putinha … Eu amar você muita … gozar dentro, eu adorar.
Mais um beijo intenso, sem se desgrudar dela, enquanto estocava fundo, sentindo-a se tremendo inteira e gozando pela segunda vez:
– Я иду, снова ... Ты слишком много, моя любовь. Как я люблю тебя … (Estou gozando, de novo … Você é demais, meu amor. Como eu te amo …)
Vincenzo explodiu dentro dela, em jatos fortes e fartos, tentando manter por mais alguns segundos os movimentos, mas desmontando por fim, puxando Anastásia com ele para a banheira, abraçados, apenas deslizando, deixando a gravidade fazer seu trabalho.
Se recuperaram namorando, curtindo um ao outro, mas após o êxtase, assim que a adrenalina baixou, a preocupação voltou com tudo. O dia seguinte era importante demais para não ser mencionado. Ansiosa, foi Anastásia quem tocou no assunto:
– Achar que consegue? Estar preparada para encarar sua pai? Nau preocupar com ela poder reconhecer você?
Tentando quebrar a tensão que se instalava, Vincenzo brincou:
– Nem eu me reconheço. Me olho no espelho e não me vejo. Nos preparamos para isso, usamos os contatos certos, vamos confiar no processo.
Ela percebeu a tensão na voz dele. Para acalmá-lo, o abraçou:
– Lembrar, falar apenas inglês, da mesma jeito que eu. Seu voz ser marcante, não esquecer. E também, seus olhos …
Vincenzo a interrompeu:
– A intenção é essa, mexer com eles. Foi por isso que mantive os olhos intocados.
Anastásia protestou:
– Mas a meu, você pedir pra mudar. E esse tatuagem na meu pescoço? Ser feia, não ficar bem, querer tirar logo.
Ele a abraçou mais forte e beijou sua boca:
– De um jeito ou de outro, isso vai acabar em breve. Precisamos ser fortes, não tem mais como voltarmos atrás.
Aceitando e desfrutando de seus carinhos, ela se resignou:
– Confiar em você. Entregar meu vida em suas mãos. Ganhar ou perder juntos.
Satisfeito, ele a alertou:
– A intenção é fazer com que ele me convide para uma festinha particular, tentando me agradar. Já imaginou quando ele descobrir nossa ligação? Toda essa coincidência? Vai ser engraçado. Quero ver a cara da vadia quando eu olhar no fundo dos olhos dela.
Os dois continuaram se amando durante aquela noite, retornando ao hotel na manhã seguinte. Em pouco tempo, ele estava pronto. Vincenzo estava impecável naquele terno preto feito sob medida pela alfaiataria William Fioravanti, uma das mais caras da Itália. Anastásia não resistiu:
– Estar lindo, causar impressau inesquecível na sua pai.
Antes de sair, Vincenzo pediu:
– Me espere junto com a Bá e a Mirian. Ontem você jogou a isca, hoje eu vou fisgar o peixe.
Após um beijo longo, Vincenzo finalmente deixou o quarto. No elevador, ia repassando mentalmente todos os passos necessários. Tudo fazia parte de um espetáculo bem planejado, inclusive, o carro alugado, um Porsche 911 Sport Classic. O carro perfeito para um jovem milionário arrojado.
{…}
Hélio acordou Mila cedo, era ela que iria representá-lo naquela reunião com o possível investidor. Ele a instruiu:
– Eu não tenho interesse em manter aquela fábrica. O acordo inicial gira em torno de quinhentos mil, uma participação menor e o investidor mantendo o controle dos rumos do negócio. Mas, se você achar que consegue, por um milhão e meio eu me desfaço de tudo aquilo, dando controle total da empresa. Se conseguir fechar, vender tudo, eu darei um prêmio inesquecível a você.
Mila estranhou:
– Vai vender a empresa que o Toni praticamente construiu? Tirou da falência e transformou em um negócio de sucesso?
Hélio não estava com paciência:
– Aquilo não vale nada, era apenas um teste para saber até onde ele conseguiria chegar … – Nervoso, ele se alterou ainda mais. – Quer saber, ele não está mais aqui, precisamos seguir em frente.
Mila queria socá-lo, mas se controlou. Hélio voltou a falar:
– E outra coisa, está hora de você voltar ao normal. Preciso da Mila safada de volta. Em breve, terei trabalho para você. Daquele tipo que só você sabe fazer. – Ele resmungou – Preciso saber quem é esse tal noivo …
Para não partir para cima dele de vez, Mila resolveu ir se arrumar. Escolheu um conjunto de saia e blusa comportados, com saltos médios e um blazer mais discreto para completar o conjunto. Uma maquiagem leve, destacando seu lindos olhos verdes e uma única borrifada de La Vie Est Belle, da Lancôme, um perfume floral moderno, com notas de pêssego, baunilha, íris e patchouli, leve e perfeito para trabalhar. Estava pronta. Em frente ao espelho, recitou para si mesma:
– Preciso retomar o controle da minha vida. Preciso me livrar do que me faz mal. Preciso me livrar de tudo isso e seguir em frente.
Pegou a chave do carro, o celular, a bolsa e saiu. Nem se deu ao trabalho de voltar para falar com Hélio, sabia o que precisava fazer e não queria se sentir uma escrava. O que a prendia a ele já não estava mais nesse plano, era hora de começar a pensar nela mesmo, no seu futuro longe dali. Entrou no carro e acelerou.
Chegou à fábrica de processamento de milho e soja em pouco menos de meia hora e assim que se identificou, foi imediatamente liberada pela segurança. Estacionou e subiu para área administrativa, indo diretamente para antiga sala de Toni, um local em que poucas vezes estivera. Foi recepcionada por Lícia, a secretária e amiga de Toni:
– Bom dia, Sra. Mila! Está tudo em ordem no escritório. Todos os documentos, a oferta de investimento e até a de compra, conforme o Sr. Hélio ordenou, estão todas preparadas. A Sra. Aceita um café ou um chá?
Mila, nem um pouco simpática, apenas queria que aquilo acabasse logo:
– Não, obrigada! Assim que o investidor chegar, pode mandá-lo entrar. – Ela olhou as horas. – Ele já deveria estar aqui, na verdade. Detesto gente sem compromisso.
Com um sorriso amarelo, Lícia informou:
– Na verdade, ele já chegou há uma hora. Está conferindo as máquinas da linha de produção. Quer que mande chamá-lo?
No corredor, em direção ao escritório, ao notar com quem iria se encontrar na verdade, e surpreso, Vincenzo respirou fundo. Esperava por Hélio, mas com Mila ali, precisava seguir em frente com o plano. Pensando melhor, com ela, as coisas fossem até mais fáceis. Para sacanear, desestabilizá-la, começou a cantarolar baixinho a música "Black Eyes", do Bradley Cooper:
Black eyes open wide
(Olhos negros bem abertos)
It's time to testify
(É hora de testemunhar)
There's no room for life
(Não há espaço para a vida)
And everyone's waiting for you
(E todo mundo está esperando por você)
And I'm gone, sitting by the phone
(E eu fui embora, sentado ao lado do telefone)
And I'm all alone by the wayside
(E eu estou sozinho à beira do caminho)
And I'm gone, sitting by the phone
(E eu fui embora, sentado ao lado do telefone)
And I'm all alone by the wayside
(E eu estou sozinho à beira do caminho)
By the wayside
(à beira do caminho)
Somente uma pessoa cantava aquela música. Mila achava que estava alucinando. Sem que ela esperasse, uma voz masculina, falando em inglês fluente, disse:
– Eu já estou aqui, não precisa me chamar.
Assim que Mila se virou, deu de cara com aquele homem lindo, que lhe estendia a mão. Seu sorriso de dentes perfeitos, a barba de dois dias, perfeitamente cuidada, os cabelos negros, perfeitamente penteados e moldados com gel … E os olhos? Aqueles olhos grandes e negros, que enxergavam no fundo da sua alma … perturbada, ela perguntou em inglês:
– Essa música que você estava cantando, de onde a conhece?
A encarando sem entender, Vincenzo disse:
– Música? Que música?
Mila se virou para Lícia:
– Você ouviu, não ouviu? Ele estava cantando no corredor …
Estranhado, e pensando rápido, sendo encarada por Vincenzo, a secretária respondeu:
– Não, senhora! Não ouvi nada.
Continua.