Este início coloca o conto em sua posição histórica e apresenta alguns detalhes importantes para o desenvolvimento da narrativa. Como vocês sabem, eu gosto de detalhes.
Já se passaram alguns meses desde que a pandemia foi definitivamente controlada. Nos últimos dois anos, muitas coisas mudaram e muitas foram perdidas. Alguns eventos não aconteceram durante esse período, o que também foi o caso na minha cidade.
Por muitos anos, desde a década de 70, nossa cidade promovia uma gincana. O evento foi criado para reerguer a cidade após uma dupla tragédia que ocorreu naquele ano, com uma enchente que durou uma semana e causou danos a todos os habitantes da cidade e do campo. O inverno implacável que se seguiu fez surgir a ideia da gincana, na transição do inverno para a primavera.
Em 2020, estava prevista a celebração dos 15 anos desde que o evento foi oficializado e inserido definitivamente no calendário do município e região, dividido em dois eventos distintos: a Gincana de Outono e a Gincana da Primavera.
Antes desses 15 anos, ou seja, antes de 2004, era apenas um evento único, ocorrendo quase a cada 2 anos, dependendo da vontade política e empresarial para sua realização. Apesar de ter marcado o ressurgimento da cidade, a união do povo e a memória de alguns, a negligência com a história estava enfraquecendo o evento. No entanto, em 2005, uma nova onda de chuvas na virada do ano reavivou na população a necessidade de utilizar esse evento para se reerguer. De 2006 a 2019, a Gincana voltou no formato anual, com duas comemorações distintas, mas tudo estava sendo preparado para uma grande festa quando tudo foi interrompido por algo que ninguém havia previsto: a PANDEMIA COVID-19.
Nas últimas dez edições, existia uma regra que permitia que os patronos das equipes (cinco pessoas) fossem repetidos em um período de 2 anos, nos dois eventos, na mesma equipe, mas as outras 20 pessoas deveriam ser sempre diferentes. Isso promovia uma maior união na cidade, pois equipes sempre diferentes geravam um novo sentimento de pertencimento e evitavam que uma equipe vencesse repetidamente.
Em março de 2022, a cidade decidiu realizar a Gincana de Primavera. As inscrições para as equipes e seus patronos seriam abertas em abril. Uma semana depois, o comitê da gincana faria os ajustes na formação das equipes, lembrando que apenas os 5 patronos seriam inscritos e a inscrição da equipe seria fechada.
Também havia uma inscrição para membros do comitê, formado por antigos patronos das edições anteriores.
As equipes elegiam um representante para o comitê, membro que analisaria as tarefas, pontuações, falhas etc., e que também seria responsável por conduzir a gincana em sua equipe. A associação comercial foi definida como o quartel-general do comitê. Todos os bairros tinham pelo menos um ponto de inscrição, onde as pessoas colocavam seus dados e escolhiam as cinco equipes que gostariam de ter a chance de participar. O comitê e os fiscais recolhiam essas urnas na sexta-feira, sorteavam a ordem de abertura e apuravam as listas das equipes, disponibilizando-as na segunda-feira para redistribuição e inscrição de novos participantes, até que todos os nomes fossem preenchidos ou o prazo expirasse. Caso uma equipe estivesse cheia ou tivesse vagas excedentes, os candidatos seriam realocados para a próxima equipe de sua lista, garantindo que as pessoas fossem alocadas em equipes de interesse ou afinidade.
Geralmente, de 15 a 25 equipes se inscreviam. Nos primeiros anos, elas representavam quase que exclusivamente bairros específicos, mas com as regras de não repetição, as equipes começaram a se misturar, tornando-se mais diversificadas. Isso ajudava o município, pois todos os bairros interagiam, conheciam os problemas, as soluções adotadas, os costumes e os pontos fortes e fracos do turismo, comércio, saúde e habitação, já que a gincana explorava esses pontos de forma dinâmica.
Eu e meus amigos do cursinho nos inscrevemos. Éramos em 10, mas tínhamos opiniões e gostos diferentes. A surpresa era saber quem ficaria ou não na mesma equipe ou se seríamos todos separados. Eu e minha prima acabamos ficando na mesma equipe, e os outros ficaram divididos em 2 equipes com 3 amigos e outras 2 equipes com apenas 1 integrante.
Em 15 de maio, encerraram-se as inscrições e o comitê já tinha parte das tarefas elaboradas, bem como o número exato de equipes e participantes, que deveria estar entre 15 e 25 pessoas no total. Em 17 de maio, já teriam que ter indicado 2 nomes: um porta-voz e um mascote.
Em 16 de maio, com a lista em mãos e algumas regras para aquele ano, nossa equipe se reuniu em uma praça da cidade. A primeira mudança era que a gincana duraria aproximadamente 2 meses, não ocorrendo atividades todas as semanas. Ela iniciaria em 20 de junho e terminaria exatamente no primeiro dia da primavera.
As equipes deveriam escolher 1 porta-voz para se comunicar com o comitê e receber as tarefas, e também escolher uma pessoa para a tarefa surpresa do MASCOTE, tarefa que valeria o maior número de pontos e seria dividida em 5 etapas semanais, começando já na segunda semana do evento. Haveria um intervalo entre as etapas, totalizando 3 semanas até a etapa final. Nos demais dias, haveria outras tarefas a serem executadas de segunda a sexta por toda a equipe, de acordo com a estratégia de cada uma. O número de pessoas envolvidas nessas tarefas era livre, mas valia cumprir a tarefa do meio da semana e outra tarefa, que geralmente ocuparia todo o sábado, exigindo a participação de pelo menos 15 a 20 pessoas, incluindo obrigatoriamente 1 patrono.
Era tudo novo para nós, e não sabíamos que tipo de tarefa surpresa o MASCOTE teria que realizar. Nossa equipe imaginou que poderia estar relacionado ao conhecimento, habilidades e tecnologia, mas apenas três de nós possuíam essas habilidades. Se a tarefa exigisse força, quatro pessoas poderiam se sair bem, e assim por diante. Enfim, qualquer um poderia se dar bem ou se dar muito mal, dependendo do tipo de tarefa.
Nossa equipe resolveu arriscar, e fizemos uma votação. Eu e minha prima fomos os mais escolhidos. Cada um expôs seus pontos fortes e fracos, e depois de nova votação, eu acabei sendo escolhido como MASCOTE, que era o nome dado ao representante da equipe. Minha prima foi escolhida como porta-voz, também em consideração à sua votação.
Eu poderia optar por participar apenas das atividades surpresas designadas a mim, e as outras tarefas seriam uma decisão e estratégia da equipe.
Havia um dia para decidir e comunicar ao comitê por meio do porta-voz.
Em 17 de maio, fui oficialmente indicado como MASCOTE. Entre 17 e 20 de junho, houve total silêncio do comitê, mas já conhecemos todos os MASCOTES e porta-vozes das demais equipes, assim como seus participantes. No dia 20, recebemos as primeiras tarefas da semana, incluindo a primeira tarefa surpresa.
O MASCOTE deveria comparecer à associação comercial pela manhã, juntamente com o porta-voz, para ser avaliado para a primeira tarefa.
Eu e minha prima fomos, assim como um dos meus amigos, que era porta-voz de outra equipe.
Este ano, havia 19 equipes, pois uma não alcançou o quórum e seus membros foram realocados, e os patronos incorporados ao comitê.
A primeira atividade da semana era arrecadar o maior número possível de roupas de inverno para doação, sendo que deveriam estar em bom estado e não valeriam meias e roupas íntimas.
O MASCOTE deveria fornecer suas medidas de peso, tamanho, idade e sexo. Tirar algumas fotos e passar por exames físicos para verificar sua saúde, bem como medidas de roupas e sapatos.
O MASCOTE que apresentasse algum problema físico poderia ser substituído, pois algumas provas exigiriam um bom preparo físico. No entanto, essa substituição seria decidida pelo comitê com o apoio de uma junta médica formada pelo corpo de bombeiros e pessoal do SAMU/SIATE.
Eu passei pela avaliação no final da tarde, após 2 substituições. Em seguida, veio a primeira tarefa surpresa.
A partir daquele momento, o MASCOTE faria parte de uma gincana de inclusão. O MASCOTE deveria se apresentar com inversão de papéis, ou seja, o MASCOTE homem se vestiria como mulher, e o MASCOTE mulher se vestiria como homem, caracterizando-se como tal. Essa regra causou choque e discussão entre as equipes. O comitê, aguardando a acalmação dos ânimos, explicou melhor a regra e o propósito por trás dessa escolha.
O tema da Gincana seria "15 anos", e haveria um baile de debutantes para celebrar os 15 anos da retomada das gincanas. Assim, o MASCOTE seria o debutante ou debutante, devendo escolher na equipe quem seria seu par. Essa explicação acalmou os porta-vozes, mas alguns MASCOTES ainda não concordaram, embora tenham compreendido o propósito maior da dinâmica.
O par poderia ser do mesmo sexo biológico ou do sexo oposto. A performance do parceiro ou parceira não contaria pontos, apenas a do MASCOTE.
Saímos da reunião e pedimos uma reunião com toda a equipe. Eu teria até o próximo sábado para me apresentar de acordo com a tarefa: o antes e o depois da transformação. Nossa equipe tinha o número máximo de participantes, 25 no total, sendo 15 homens e 10 mulheres. Dos patronos, 3 eram homens e 2 mulheres, restando apenas 7 mulheres disponíveis para fazer par comigo invertida, ou escolher entre os outros 12 homens restantes para ser meu par masculino, já que eu seria a debutante.
Os homens decidiram que não tirariam sarro e me protegeriam caso alguém de outra equipe tentasse me humilhar ou fazer piadas. A gincana era levada a sério e com respeito pelos participantes, e isso era claro na nossa equipe.
Com uma semana para cumprir a tarefa, as meninas fizeram um plano. Eu iria para a casa da minha prima, experimentar algumas roupas, e as mulheres das equipes doariam itens para minha produção, incluindo maquiagem e sapatos.
Chegando na casa dos meus tios, todos já sabiam e me parabenizaram pela coragem. Minha prima pediu licença e me levou ao seu quarto. Ao entrar, ela trancou a porta e começou a conversar.
"Primo, digo, prima, para dar certo, precisamos fazer uma imersão na personagem. Por isso, acho que a partir de hoje até setembro você deverá se portar como mulher. Nas aulas, pode optar por usar algo unissex, mas nos finais de semana e à noite, aqui em casa, você será 100% mulher. Já falei com a tia, e ela concordou. Meus pais também. Você muda amanhã para cá, e meu irmão vai morar no seu quarto em sua casa."
"Mas como assim, e as aulas e tudo mais?"
"Já disse, nas aulas, você pode decidir por algo mais andrógino ou unissex. Vamos ver isso no dia a dia. Mas aqui será minha prima. Falando nisso, já pensou em algum nome?"
"Nome? É só uma gincana, nem pensei nisso. Por favor, hein."
"Tudo bem, vai ali no banheiro, tome um banho e use um tubo ali para depilação. É um creme, só não passe no cabelo, hein."
"Depilação? Você está louca."
"Vai lá, ou você quer perder a primeira tarefa? Um antes e depois com você peludo seria nota zero. E tem mais, daqui a pouco as meninas chegam, é melhor se apressar."
Consciente de que ela estava certa, entrei no banheiro. Como não havia chave, tratei de tomar banho rapidamente. Enquanto me preparava, ela abriu a porta, recolheu minha roupa e deixou uma saída de banho em cima do balcão antes de fechar a porta novamente.
Primeiro, testei o creme no braço. Li que tinha que aplicar, esperar um pouco e enxaguar. Removi todos os pelos com o creme nas coxas, peito, axila, mas estava receoso em relação às costas e à parte íntima. Vi uma esponja com um fio e entendi que a esfregava nas costas. Fiz o mesmo, e deu certo, mas não usei o creme na genitália e na bunda.
Passei o creme duas vezes e foi interessante sentir a suavidade do shampoo e a espuma escorrendo pela minha pele nua.
Até me enxugar foi diferente, precisei moderar a força, pois a pele parecia sensível e delicada.
Peguei o roupão e percebi que caiu algo no chão: uma calcinha. Optei por sair nu, mas logo minha prima notou e reagiu com pouca simpatia:
"Ei, é impressão minha ou você está nu por baixo e ainda todo peludo? Volte lá, tire todos esses pelos ou eu mesmo faço isso, e ao sair, vista-se com a calcinha."
"Mas é uma calcinha e ainda por cima minúscula."
"Minúscula? Você não viu nada ainda. Isso é o que chamamos de fio dental. Te dei a mais comportada que tenho, mas é melhor eu te depilar para não ficar horrível lá. Vou deixar um pouco mais apreciável, sei como os homens gostam de ver as mulheres."
Ela me levou para o box e, com creme, fez um desenho em minha genitália, me virou e passou em toda a bunda, enquanto conversava sobre como controlar novos pelos. Depois de enxaguar, deu um tapa em meu pênis, que estava mega duro, e rindo disse:
"Menina feia, recolha essa coisa aí. Agora não é o momento, mas se você se comportar, eu te dou uma mãozinha."