Amor em atos - Beija-Flor

Um conto erótico de João Fayol
Categoria: Homossexual
Contém 4138 palavras
Data: 27/07/2023 22:55:04

A vida seguiu, e aqui, por uma mera imposição de si mesma, não por uma opção minha. Depois da derradeira noite em que Benja veio de madrugada dormir comigo, optamos, da maneira mais madura possível, romper nosso contato até que estivéssemos bem o bastante para lidar com tudo o que vivemos e tudo o mais que estava por vir, inclusive a possibilidade de nada vir.

Mas a bem da verdade é que, romper um relacionamento longo já na casa dos vinte e poucos, mais perto dos 30 do que de fato dos 20, implica em um certo rompimento com todo o eixo que nos liga àquele passado, e estando no meio de uma emergência sanitária e de uma transição de carreira, eu também estava revendo o meu círculo de amizades. De repente, laços que você julgava nunca se romper, se rompia, e outros, vão se formando. Nesse balaio, nossas amizades em comum deixaram de ser tão comuns; o grupão tomou seu rumo: uns casaram, outros mudaram de estado, outros de país, muitos se tornaram pais e, enfim, a vida por si só nos deslocou, embora preservando todo o amor e carinho que tínhamos uns pelos outros e pelas histórias que vivemos durante anos que serão inesquecíveis para mim.

Viver na mesma cidade, mas em bairros grandes e com eixos culturais não tão amigáveis e sem amigos em comum, tornaram muito fácil a missão de esquecer o Benjamin. Quando menos notei, o tempo correu e, mesmo sem ser minha intenção, eu estava vivendo novos romances, que eram de certo modo efêmeros e fugazes, mas não menos importantes. Apesar de trabalharmos no mesmo jornal, nossos modelos de contratação - eu home office com uma coluna semanal, e ele, promovido a gerente de redação, presencial - não propiciavam maiores contatos.

A vida estava seguindo. Esquecer o Benjamin era realmente muito fácil. O único problema, é que eu tinha o terrível defeito de não esquecer.

*

Foi um erro meu dizer que não tínhamos mais qualquer tipo de vínculo. Tínhamos um fortíssimo: Caroline Menezes Côrtes, popularmente, Carol. Como já comentado aqui, Carol se apaixonou por um brasileiro, que a levou para Miami, lá eles engravidaram e são pais de um belíssimo bebê, que, nesse momento, já é um bebê que corre loucamente sempre que tem oportunidade. Fofo.

Carol e Matheus, seu respectivo, se casaram no meio da pandemia, em um casamento por procuração aqui no Brasil - lê-se, seus respectivos advogados, em nome de ambos, firmaram casamento em um cartório, enquanto ambos estavam em Miami. Apesar de se amarem profundamente, naquele contexto, o casamento foi uma maneira de salvaguardar os direitos dela e do bebê Bernardo, mas, agora, o contexto era outro. A pandemia não havia acabado, mas estávamos vacinados com duas doses obrigatórias e mais duas extras, era finalmente o momento propício à celebração. Um ano antes, no momento em que eu Benjamin estávamos nos separando, Carol nos notificou sobre o casamento e nos intimou a sermos padrinhos. Era impossível negar aquele convite.

Na minha cabeça, dali a um ano, eu estaria preparado e forte para encontrá-lo, e um ano depois, eu descobri que não estava tão preparado e menos ainda tão forte como eu imaginei. Apesar de ser padrinho, eu estava tão atarefado com as demandas do jornal, que não tive tempo para ser ativo em ajudar nos preparativos do casamento e nem para ir no ensaio dos padrinhos. Consegui ir somente no último ensaio, e nesse, Benjamin não estava, por motivos profissionais - foi o que ela comentou muito por alto.

A título de informação, eu estava solteiro, Benjamin, nem tanto. O Rio de Janeiro não deixa de ser um tanto provinciano quando o tema é fofoca, e eu obviamente, nessas andanças da vida, fiquei sabendo que ele havia se envolvido com uma jornalista de outro veículo, e que após alguns meses de relacionamento, havia a trocado para fica com um amigo dela, do mesmo jornal. Parecia estar ficando sério, já que Carol me alertou que o rapaz iria comparecer à cerimônia. Dei de ombros. Eu não tinha ciúmes. Eu estava mentalmente evoluído. Claro.

*

O dia do casamento chegou. Eu estava nervoso para encontrar Benjamin, mas muito além disso, eu estava esfuziante de felicidade em ver a alegria da minha melhor amiga. Não irei ficar enumerando as dores da Carol para justificar o porquê ela merecia estar vivendo aquele momento, vou dizer que ela merecia viver aquele momento e fim. Carol merecia viver toda a alegria do mundo que estava tendo.

O casamento aconteceu em um lindo casarão no bairro de Santa Teresa, um limbo entre o Centro e a Zona Sul. A cerimônia aconteceu bem no meio da tarde, às 15h, com o Cristo Redentor bem acima de nós e uma vista linda da Baía de Guanabara e do Pão de Açúcar. Tudo lindo, exceto pelo fato que o fudido deste padrinho que vos fala, adiou até a última hora a entrega de burocracias ao RH, e teve de fazer isso, após uma solicitação emergencial na redação, no dia do casamento. Apesar de ter me programado e cronometrado cada segundo daquele dia, não contei com um simples detalhe: o trânsito do Túnel Rebouças. Logo, fiquei parado durante horas dentro do uber, enquanto os demais padrinhos me acalmavam via mensagem.

Cheguei ao casarão faltando exatos 30 minutos para o início da cerimônia. Subi correndo para o andar dos padrinhos, com minha roupa e sapato em mãos. Encontrei minha suíte e em contados 20 minutos, tomei banho, me vesti e o mais importante: finalizei e sequei meu meu cabelo. Tópico muito importante para crespos e cacheados, até mais do que a roupa. Às 14:25, com a cerimonialista já desesperada com a ausência do último padrinho, saí do quarto.

Os padrinhos estavam padronizados conforme a roupa do noivo, logo, eu estava usando uma calça de alfaiataria cinza, mesma cor da camisa, que estava dobrada até meu antebraço e por dentro da calça, com um colete de alfaiataria da mesma cor e com uma pequena flor de lapela no colete. No pescoço uma gravata borboleta e nos pés um sapato social marrom claro. O que nos diferenciava do noivo era a gravata - a dele não era borboleta - e o fato dele estar com o paletó - na mesma palheta.

As madrinhas, todas lindíssimas, figuravam com vestidos rosés belíssimos. Tudo estava belíssimo.

Quando cheguei ao salão onde a cerimônia estava ocorrendo, a entrada já havia sido iniciada. A passagem pelo tapete vermelho era individual e ordenada: 1 padrinho, seguido por 1 madrinha. Lá dentro, enquanto entrávamos, estava um pianista tocando Ainda Bem, do Thiaguinho, enquanto acompanhado de um violonista e um cantor.

Benjamin já havia entrado e meu coração estava disparado, tanto pela tensão em vê-lo como pelo nervosismo natural de percorrer aquele pequeno trajeto. Finalmente chegou a minha vez de entrar e, ao acaso, eu era o último padrinho, quando estava chegando a minha hora, vi o carro com Carol se aproximar.

A cerimonialista indicou que eu deveria entrar e então as portas do salão abriram. Na minha frente, aproximadamente 300 pessoas me olhavam, sorriam e filmavam, os flashes da câmera me incomodavam um pouco, mas mantive a pose, sorri e comecei a dar meus primeiros passos, devagar, mas firme.

Em poucos segundos eu estava no meio do percurso e parei para a equipe de fotografia realizar mais algumas imagens. Nessa parada programada, assim como as lentes focaram em mim, meu olhar finalmente focou em um padrinho específico. De pé, em um semicírculo que se formava ao redor da celebrante, lá estava ele, com as mesmas roupas que eu, mas TÃO mais lindo. Nesse um ano que não nos vimos, parece que ele deu um giro de 180 graus. O cabelo estava maior, a barba que ele fazia sempre, estava por fazer - mas levemente desenhada, e ele parecia estar mais forte, mais gostoso, na realidade. Mais do que eu me lembrava.

Tudo isso em uma fração de segundos. Assim que os fotógrafos se afastaram, voltei a caminhar e, ao final do trajeto, me acheguei no semicírculo. Pelo acaso, movimentação da vida ou talvez um pedido da noiva - jamais saberemos - o único lugar ainda vago era ao lado do Benjamin. Parei ao seu lado e sorri, o que foi retribuído por ele. Os músicos concluíram a música e houve um rearranjo rápido até a chegada da noiva. Nesse breve minuto, ele conseguiu puxar assunto.

- Muito tempo, né. - não nos olhamos, permanecemos fixos aos portões que iriam se abrir a qualquer momento.

- Nem tanto assim. - acenei para um amigo, no final do salão. Não foi intencional, mas Benjamin detestava aquele cara desde sempre.

- Tu veio acompanhado daquele coxinha? - ele terminou a frase com um risinho sarcástico que eu odiava admitir que achava charmoso nele.

- Perguntas íntimas demais pra quem tá reclamando que não me vê há tanto tempo.

- Não tô reclamando, tô comentando. - nesse momento, nos olhamos, e a contragosto, ri daquela papagaiada toda. A sensação é que nos vimos pela última vez ontem. Era impossível negar que havia algum tipo de química entre nós.

- Não fica rindo pra mim não, Benjamin. Teu amigo não vai gostar. - eu e o atual já nos conhecíamos, só não éramos amigos.

- Ele não liga… e mesmo que ligasse, você é você.

- Isso quer dizer o quê?

- Que se eu tivesse pra casar com ele e você estalasse o dedo, eu já não ia mais me casar. - os portões abriram, Carol estava linda, radiante diante de nós e eu não poderia mais falar nada.

O cara do piano começou a tocar If i ain’t got you, minha música favorita. A beleza da Carol estava sobressaltada, e com isso,quero dizer que minha amiga estava radiante. Carol sempre chamou atenção pela sua beleza, e não digo apenas pelo conjunto da obra, cada detalhe chamava atenção por onde ela passava. Sua pele, seus olhos, seus lábios, seus cabelos cacheados e altura… tudo a destacava e se destacava, mas naquele dia ela estava brilhando, reluzindo. O branco lhe caía perfeitamente bem e gerava um equilíbrio com o tom de sua pele. Não sei dizer mais, só sei que foi perfeito.

As palavras da celebrante, a entrega das alianças pelo Bernardo, a leitura dos votos da Carol e do Matheus, tudo foi lindo. Ao final da cerimônia, eu já havia me debulhado de tanto chorar. Chorei tanto que, em dado momento, Benjamin descolou um lenço de papel para eu parar de chorar. Fofo.

*

O encerramento da cerimônia e o enlace dos meus, agora, afilhados, indicava que a festa estava liberada. Foram feitas algumas fotos com os padrinhos e os noivos, mas, jogo rápido, Carol amava festas e sabia que seus padrinhos também, e mais do que tudo, aquele era nosso primeiro grande evento desde que o mundo voltou razoavelmente ao normal ou seja lá o que isso signifique.

Evitei ficar próximo do Benjamin, porque, afinal, ele estava acompanhado do que ele negava ser seu namorado. Não me deixava feliz, mas eu precisava aceitar e evitar maiores desconfortos. Porém, se por um lado eu evitava o contato, para o Benjamin, aquilo era uma selva. Em diversos momentos, eu o peguei quase me devorando com os olhos. Seu olhar era o de quem sabia perfeitamente cada detalhe do meu corpo por baixo daquela roupa cara e cheirosa. A sensação é a de que ele me olhava como se soubesse que, por trás daquela estirpe de menino da sociedade carioca, havia uma grande safada. Não creio que ele estivesse errado.

A pista de dança era o meu lugar, e para aquele evento, Carol e Matheus contrataram um grupo para uma verdadeira roda de samba. Quando dei por mim, depois de muitos drinks depois, eu já estava no meio da roda, descendo na boquinha da garrafa junto com a noiva e outros padrinhos. Tive o desprazer de ver Benjamin ficar com o namorado dele, e por vingança, bebedeira ou puro tesão, acabei ficando naquela noite com o amigo que ele não gostava. O problema dessa disputa, é que eu nunca fui bom em ter limites. Antes das 20h, eu já havia pegado uma parcela significativa dos convidados daquela festa, e há quem diga que convidadas também, mas jamais confirmarei essa informação. Mais do que tudo, era uma noite feliz, e eu estava feliz.

Às 21h, minha bateria social ainda estava on fire, e meu pique também, mas eu precisava descansar por alguns minutos. Me acheguei em um cantinho do salão, e de lá observei a vista da zona sul e do Pão de Açúcar. Não demorou muito até que eu tivesse a sensação de não estar mais sozinho. Fechei meus olhos e apenas deixei que as coisas seguissem seu fluxo natural.

- Me seguindo pra o cantinho, agora? - eu sabia perfeitamente que era o Benjamin muito antes de vê-lo. Seus passos e cheiro eram característicos demais para mim.

- Bem que tu queria, né? - ele parou ao meu lado e deu um riso arfado.

- Claro que não. Tô de boa.

- Eu vi você de boa. Metade da festa você já pegou e a outra metade deve pegar agora. - um tom levemente irônico, mas não muito agradável para mim.

- Também te vi de boa com seu namorado. - me virei e finalmente nos encaramos.

- Ele não é meu namorado, porra. - ele revirou os olhos

- Você também ficou 6 meses me pegando todos os dias sem me assumir. Acho que é um padrão, Benja. - ele quis rir, mas se segurou.

- Totalmente diferente. Você que quis um tempo maior. E nesse caso, ele realmente não é meu namorado.

- Certo, então onde está o seu não namorado, que você não está com ele?

- Não sei, ele foi embora.

- Já? Por que?

- Porque eu tava errado. Ele liga.

- Liga pra o quê?

- Pro jeito que eu te olho.

Um ano se passou, tanta coisa aconteceu, mas parecia que nada havia mudado. Eu não havia me esquecido dos porquês que nos separaram, mas ali, naquele milésimo de segundo em que eu não sabia o que dizer, tudo parecia tão pequeno, tão efêmero, e tudo o que eu queria, era cair nos braços - fortes - daquele homem, que havia mudado tanto, mas permanecia o mesmo.

- Vamo voltar. - ameacei me afastar, mas ele me segurou pelo braço.

- Tô praticamente te falando que eu dispensei meu ficante premium por você e tu nada?

- Benjamin, aqui não é o lugar, e eu não sei se você ter sido meio babaca com esse garoto é algo sobre o qual se orgulhar de ter feito. - tentei me soltar dele, mas foi a mesma coisa que nada.

- Ele se amigou com aquele mesmo coxinha que tu pegou, te garanto que sofrendo por mim ele não tá.

- Que seja. A gente não vai discutir isso aqui e nem agora. - tentei me soltar novamente, mas ele soltou meu braço e passou a me segurar pela cintura, o que só piorava.

- Por que não? - ele tava fazendo aquela carinha de cachorro que caiu da mudança, que eu ainda não entendia como me pegava tanto ainda.

- Porque dos meus quase 26 anos de idade, 4 eu passei namorando com você, 3 eu passei sendo seu roommate, e outros 6 eu passei apaixonado por você. Isso dá 13 anos, é metade de 26. Metade da minha vida eu passei apaixonado, envolvido e pensando em você, então, isso significa que eu não posso me dispor a resolver a gente, que é um negócio que eu achei que já tava resolvido, comigo bêbado, no matinho da festa de casamento da minha melhor amiga. Satisfeito?

- Sabe qual o problema? - ele ainda me segurava pela cintura, mas agora estava ainda mais próximo.

- Você pensa demais. - ele se aproximou para me beijar, mas eu ainda recuei.

- Agora não, Benjamin. Vamos voltar, e eu não estou te convidando ou fazendo um pedido, eu só estou te comunicando. - ele respirou fundo, reclamou um pouco, mas me soltou, não sem antes me dizer que não iria terminar a noite sem me beijar.

Eu sabia que ele iria me beijar e também sabia o que poderia vir depois, mas naquele momento eu não queria me debruçar sobre o universo de possibilidades para onde cada ação minha, em conjunto com as dele, poderia nos conduzir.

Quando chegamos de volta ao salão, percebemos que a festa não dava o menor sinal de que ia acabar, e que os noivos estavam ainda em plena disposição. Ao me ver, Carol veio correndo em minha direção e disse:

- Essa que vai tocar agora, eu pedi pra gente. Vem! - ela me segurou pelo pulso e me puxou para o meio da pista de dança, enquanto chegávamos ao centro, o dj liberou Beija-Flor, na versão do Timbalada. Aquela era para nós. Quando nos tornamos amigos, tínhamos o hábito de nos reunirmos na casa da Urca, os 3, e realizar pequenos saraus. Com Benjamin ao violão, sempre acabávamos cantando Beija-Flor. Uma música com tantos significados e amores, que nos representava tanto.

A dança ali era livre, todos os que estavam na pista dançavam livremente ao som da música, os passos não eram pensados, eram apenas livres e leves como a música. Carol e eu dançávamos juntos, quase como num abraço de agradecimento por tudo o que vivemos e que nos permitiu chegar até àquele dia. Eu estava de olhos fechados, desfrutando da experiência sensorial daquele dia. Vez ou outra abria meus olhos e via que Matheus e Benjamin também estavam entre nós, dançando conosco. Em dado momento, ao acaso ou por uma interferência da noiva - jamais saberemos a verdade - os pares se trocaram, e eu estava dançando, com as mãos de Benjamin na minha cintura, ao som do Timbalada.

Ouvir Timbalada na pista e Benjamin no meu ouvido cantando “Tu levas as palavras soltas pelo ar, yo quiero te namorar, amor” no meu ouvido, foi e segue sendo uma das experiências mais fodas que eu tive na minha vida. “Yo quiero te namorar, amor” se repetiu mais uma vez e, dessa vez, eu cantei junto com ela. “Yo quiero te namorar, amor” se repetiu mais uma vez, e nessa, nem eu e nem ele cantamos, porque eu penso demais, e naquele momento, eu decidi não pensar em nada, apenas deixei que nossos lábios se encontrassem. Foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado.

Durante o tempo de duração daquele beijo, eu senti as mesmas borboletas no estômago de quando nos beijamos pela primeira vez, mais de dez anos antes, pós-festa de aniversário de uma amiga nossa, e tão nervoso quanto na noite em que transamos pela primeira vez, lá na Urca. Eu senti que éramos somente eu, ele e o Timbalada, encerrando a música com versos em coro de “Yo quiero te namorar”. Quando enfim a música acabou, não éramos mais somente nós naquela pista, que já fritava em outro ritmo, mas, definitivamente, éramos nós novamente. Não sei se eu me desconectei do Benjamin em algum momento, mas sei que a nossa frequência estava diferente, e naquele momento, eu apenas entendi que ser diferente, não necessariamente precisava ser ruim. Ainda éramos nós. Do Timbalada até Paradinha, não nos desgrudamos mais, e nem houve mais ninguém além dele naquela festa.

*

A festa acabou às 06:30 da manhã - o casarão ficava estrategicamente mais afastado das demais residências - e nós, padrinhos, tínhamos suítes reservadas. A grande maioria optou por voltar para suas residências, mas no meu estado de cansaço, eu decidi permanecer. Era mais cômodo dormir um pouco lá e depois ir para a minha casa do que seguir cansado para lá.

Benjamin também já havia decidido dormir lá. Não nos desgrudamos o restante da festa, e após nos despedirmos da Carol e do Matheus, que seguiram em direção ao aeroporto Santos Dumont rumo às praias do litoral sul da Bahia. Nesse momento de despedida, já estávamos todos de banho tomado e com outras mudas de roupa. Após ver o carro particular descer as ladeiras do bairro, voltamos ao casarão. A equipe que organizou a festa já chegava para o desmonte e limpeza do evento, e mais alguns convidados já estavam seguindo para seus quartos.

Benjamin e eu ficamos no último andar, até onde eu queria, cada um em um quarto.

- Você vai ficar? - ele questionou quando passamos em frente ao meu quarto. Os aposentos dele ficavam ao final do corredor.

- Não sei. - toquei a maçaneta, mas não a abri.

- Tudo bem. - ele acariciou minha cintura.

- Tudo bem? - ele me pegou um pouco desprevenido. Esperava uma argumentação. Não que eu quisesse ser convencido.

- Tudo bem, ué. É uma escolha sua. Você pode ficar aqui e a gente vai recomeçar do zero, com todo tempo e paciência. Ou - a mão que estava acariciando a minha cintura, a segurou com firmeza e me puxou para trás, colando meu corpo no seu; imediatamente, sua mão livre foi de encontro à minha nuca, ao mesmo tempo, seus lábios deslizaram do meu pescoço até minha orelha - você pode ir pra o meu quarto e a gente continua de onde parou. Sua escolha. - e se afastou subitamente, encostando o seu corpo na parede à frente. Suas mãos foram ao bolso e ele me observava com um sorrisinho sarcástico.

Pensei um pouco, e abri a porta do meu quarto, fechando-a em seguida. Em menos de 10 segundos, eu a abri e a tranquei novamente. Precisava somente buscar meu carregador e as chaves para trancar os aposentos. Assim que a tranquei, andei firmemente até o final do corredor e parei em frente a porta do quarto. Ele ainda estava na mesma posição. Quando olhei para trás, ele ainda estava com o mesmo sorrisinho de canto. Ele sabia que tinha ganho.

- Não vai abrir a porta não?

*

No momento em que a porta se abriu, já estávamos nos beijando. Fazia um ano que eu não sentia a firmeza do toque do Benjamin, o calor do seus beijos e o seu corpo pesando sobre o meu. Eu queria tocá-lo, queria tê-lo ao máximo, mas ele estava com o controle. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele me afastou do seu corpo. Quando tentei me reaproximar, ele me recriminou com apenas um olhar, me mobilizando no meio do caminho. Estávamos ambos já um tanto suados e descabelados, ambos usando short e camiseta. Eu podia ver a definição do seu corpo e isso me deixava alucinado. Ao longo do último ano, eu havia retornado à academia e tinha conseguido um corpo bacana, que me deixava satisfeito ao me olhar no espelho e despertava olhares de desejo nos momentos em que eu queria ser desejado.

- Não. - ameacei caminhar, mas ele me parou.

- Por que?

- Não.

- Tudo bem. - minha respiração estava ofegante e a dele também.

Ele caminhou até mim e parou por trás, com um único movimento, fez com que a minha bunda encaixasse em seu quadril. Pude sentir o quão duro ele estava, e eu sabia que aquela era a intenção dele.

- Você não sabe quanta saudade eu senti. - ele me segurou pelo pescoço e o puxou suavemente para trás, deixando uma área livre, que foi prontamente preenchida pela sua língua quente, tirando de mim um gemido - Saudade do teu gosto.

- Eu também. - fechei meus olhos e deixei que ele fizesse o que quisesse. Em um movimento igualmente rápido, ele me empurrou contra a parede mais próxima, tomando o cuidado de não causar um choque com o meu rosto. Ali, de costas para ele e pressionado contra a parede, ele começou a movimentar seu quadril, como se estivesse me fudendo. Ele ia com força, enquanto mordiscava minha orelha e tirava de mim gemidos altos. Eu não tinha a menor chance contra ela. Eu não queria ter a menor chance contra ele.

- Era disso que tu tava com saudade, amor? - ele chupou o lóbulo da minha orelha.

- Sim - a respiração ofegante.

- Desse jeitinho, é? - ele estocou com força, movimentando todo o meu corpo de uma só vez.

- Não para, por favor.

E então, ele parou. Quando suas mãos me soltaram, imediatamente procurei entender o que havia acontecido. Ele ainda estava atrás de mim, mas, agora, sentado na cama. Ele olhou para mim, em seguida para a grande penteadeira de madeira maciça do quarto e apontou para ela. Eu entendi. Me sentei nela sob o seu olhar firme. O olhar de quem estava prestes a atacar sua pobre vítima. Eu não era uma vítima. Ele sabia disso, e estava gostando de me ver naquele lugar de submissão e, acima de tudo, de tesão.

- Tira a roupa. - a voz ecoou firme e grave pelo quarto.

Não houve questionamento. Retirei as poucas peças aparentes, mas mantive a cueca boxer preta. Eu não iria tirar. Ele sabia que era um convite para se aproximar.

Ele se levantou e me encarou. Mesmo sorrisinho presente no rosto. Mesmo olhar de predador. Mesmo olhar de tesão sobre o meu corpo.

Ele estava pronto. Eu estava pronto para ser sua vítima. E fui. Fui com todo o prazer do mundo.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 9 estrelas.
Incentive João Fayol a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil de Jota_

JOÃO que mestre nas palavras você é!! Adorei a volta dos dois, esse casal que é tão gostoso de acompanhar (em vários sentidos)

0 0