Episódio 5 - Vicente em dúvida sobre Júnior
Já tinha um mês que Vicente e Júnior estavam "namorando". Júnior estava totalmente recuperado e, segundo os pais, mais feliz do que nunca. Vicente seguia reconfortado, pelos constantes agradecimentos que recebia de Danilo, que agora só chamava Vicente de "meu filho", para grande alegria de Vicente. Júnior e Vicente faziam sexo pelo menos três vezes por semana, por enquanto em motéis. Júnior até queria que Vicente passasse a dormir com ele em casa, mas Vicente disse que tinha constrangimento em fazer isso por causa da desembargadora, o que era verdade, mas também Vicente achava que não conseguiria manter o ritmo sexual, caso fizessem sexo todos os dias, como era a vontade de Júnior. Para Vicente, o sexo com Júnior era, no máximo, "gostosinho". O que agradava um pouco Vicente é que Júnior era muito atencioso e carinhoso, bem mais que muitas das mulheres com quem Vicente já tinha transado.
Júnior também estava mudado. Antes de transarem, Júnior sempre se vestia de camisas pretas largas, calças largas, tons escuros. Agora, estava visivelmente tentando se vestir melhor, na moda, cores suaves, mas vivas. Para isso, Júnior até chamou o juiz do trabalho que namorava com Danilo para irem ao shopping fazer compras. O juiz se vestia muito bem e, obviamente, entendia muito de moda e como um gay assumido devia se vestir com elegância. Júnior e o juiz combinaram de encontrar Vicente no shopping, após uma manhã inteira de compras no sábado.
Vicente encontrou os dois em uma das lojas mais caras do shopping. Estavam no meio das escolhas de roupas. Júnior mandou descer metade da coleção da loja e estava escolhendo. Isso em meio a sacolas e mais sacolas de outras lojas que tinham passado antes. Danilo tinha emprestado o cartão de crédito para Júnior. O que sempre impressionava Vicente era como, para algumas pessoas, o dinheiro era simplesmente uma abstração, uma coisa que não importava, exatamente por terem muito. Danilo, ao entregar o cartão para Júnior, simplesmente não falou nada de um limite de despesas ou um valor combinado. Estava implícito que Júnior poderia gastar o quanto quisesse. Júnior, criado desde o berço tendo tudo, também não se preocupava com o custo de nada. Mesmo quando saia com Vicente, Júnior simplesmente não se preocupava com valores de contas ou despesas. Júnior entrava e saia do provador, mostrando algumas peças para o juiz. Os dois faziam comentários que Vicente não entendia o significado, sobre moda. Júnior, por ser pequeno e magro, tinha a vantagem de que qualquer peça do seu tamanho caia muito bem.
"Isso tudo é para você. Sabe disso, né?", murmurou o juiz no ouvido de Vicente, dando uma piscadinha, enquanto Júnior estava dentro do provador, trocando mais uma peça. Vicente engoliu em seco, um pouco preocupado com suas novas responsabilidades para com Júnior.
Após mais de uma hora de escolhas só naquela loja, para júbilo do vendedor, Júnior e o juiz decidiram levar quase tudo. Quando o vendedor disse o total da conta, Vicente abriu a boca de espanto com o valor surreal apenas naquela loja, muito superior a sua renda mensal. O juiz e Júnior, contudo, ouviram o valor impassíveis, como se fosse uma simples conta de 200 reais. Júnior passou o cartão despreocupado como se estivesse pagando um único hamburguer e os três saíram carregando as muitas sacolas das melhores lojas do shopping.
No restaurante, encontraram com Danilo, que já os esperava. Júnior devolveu o cartão de crédito ao pai. Nenhuma pergunta do pai sobre os gastos, nenhuma menção de Júnior do quanto gastou. Vicente seguia impressionado de como podiam existir pessoas para quem o dinheiro não era preocupação, enquanto ele, até os 18 anos, lutava com a mãe e a avó para terem dinheiro para comprar arroz e feijão. Porém, Vicente estava muito feliz, em família, com Danilo e Júnior. Ser acolhido como família por Danilo, como um "filho", era sua maior recompensa por tudo. Júnior já sabia que o juiz e Danilo namoravam, mas nunca comentou nada com a mãe, para não se meter na confusão.
"Estive pensando, que tal irmos os quatro final de semana que vem, que é feriado prolongado, para um hotel-fazenda?", perguntou Danilo,
"Hummm, encontro duplo dos dois casalzinhos", brincou o juiz, com voz maliciosa.
Vicente ficou vermelho com a insinuação. Ainda não tinha se acostumado a ideia de ser "namorado" de Júnior, muito menos de ser agora "gay". Percebendo o constrangimento de Vicente, o juiz disparou.
"Calma, Vicente, não vamos fazer uma suruba não. Fique tranquilo que eu não vou pular de boca em cima do seu pau no hotel-fazenda", disse o juiz em tom irônico. Júnior, Danilo e o juiz caíram imediatamente em uma longa gargalhada, deixando Vicente ainda mais constrangido e vermelho de vergonha.
"Vamos, amor?", pediu depois Júnior manhoso para Vicente.
"Claro", respondeu Vicente, ainda envergonhado de ter ficado constrangido com algo tão normal. Vicente também estava muito feliz de, pela primeira vez, estar passando um fim de semana de lazer com o "pai" Danilo.
A semana seguiu com o namoro de Vicente e Júnior correndo normalmente. Nos dias que não iam para o motel a noite, quando não tinha outro compromisso profissional, Vicente buscava Júnior na faculdade e os dois almoçavam juntos em algum restaurante. Ao pegar Júnior na faculdade, Vicente já reparava que alguns colegas percebiam o namoro dos dois. Após o almoço, em algum bom restaurante, Vicente deixava Júnior em casa, após uns breves amassos no estacionamento do prédio de Júnior, mas não avançavam o sinal. Vicente tinha dito para Júnior não retomar o estágio no escritório, para Júnior se dedicar apenas aos estudos, sendo prontamente atendido, sem questionamentos. A ascendência de Vicente sobre Júnior era visível. Júnior fazia tudo que Vicente queria, sem questionar, para agradar o namorado.
Ao chegar ao hotel-fazenda, Vicente, que nunca tinha estado em um lugar como aquele, se impressionou com tanto luxo e conforto. Vicente e Júnior ficaram em um chalé, com lareira e tudo. Danilo e o juiz em outro ao lado. O hotel-fazenda tinha muitas trilhas para caminhada e, no mesmo dia da chegada, os quatro foram fazer uma trilha que terminava em um mirante. Durante a caminhada de uma hora, Danilo e Júnior se adiantaram um pouco, deixando o juiz e Vicente mais para trás. O juiz aproveitou para abordar Vicente sobre o namoro, pois há semanas Vicente não pedia nenhuma orientação.
"Como estão as coisas para você? Pois para Júnior está óbvio que tudo está as mil maravilhas. Juninho está flutuando nas nuvens", perguntou o juiz.
"Está tudo bem", disse Vicente, um pouco melancólico. O juiz fez uma cara de dúvida, mas preferiu não dizer mais nada.
Danilo chamou Vicente para perto dele e de Júnior. Vicente correu um pouco e os alcançou. Ao chegar ao lado dos dois, Danilo colocou um braço sobre o ombro de Vicente e o outro sobre o ombro de Júnior e olhou para a paisagem do mirante, muito bonita.
"Meus dois filhos, que bom estar aqui com vocês dois, nesse lugar tão lindo", disse Danilo admirando a bonita paisagem, agarrado aos dois. Vicente ficou com os olhos molhados de emoção ao ouvir isso, quase chorando. Ainda lhe abalava muito não ter tido um pai até os 18 anos. O reconhecimento de Danilo como seu pai afetivo agora fazia o peito de Vicente esquentar de tanta emoção.
Depois de um jantar luxuoso no restaurante do hotel-fazenda, cada casal se recolheu ao respectivo chalé. A lareira de Júnior e Vicente já estava acessa por um funcionário do hotel. Uma tela, quase transparente, impedia que alguma fagulha saísse da lareira. Um tapete muito felpudo estava na frente da lareira. Júnior pegou um lençol fino e colocou por cima do tapete, com algumas almofadas. "Vamos deitar aqui um pouquinho", pediu Júnior.
As chamas da lareira, única iluminação do ambiente, dançavam suavemente, espalhando um brilho dourado pela sala, enquanto Vicente e Júnior se acomodavam no tapete macio em frente ao calor reconfortante. O ambiente era preenchido com calor e carinho. Os olhares dos dois se encontraram, revelando a ternura que transbordava dos olhos de Júnior. As mãos entrelaçadas, os dedos dos dois se acariciavam suavemente. Vicente sorriu, um brilho afetuoso em seus olhos, e Júnior retribuiu com uma leve inclinação de cabeça. Sem a necessidade de falar, os dois sabiam o que ia acontecer. Com uma delicadeza terna, Vicente tocou o rosto de Júnior, acariciando sua bochecha com o polegar. Júnior, com os olhos brilhando de afeto, inclinou-se lentamente em direção a Vicente, unindo seus lábios em um beijo suave e apaixonado. O beijo era doce, cheio de ternura. As mãos de Júnior percorriam suavemente as costas de Vicente, enquanto ele se inclinava levemente para trás, apoiando-se com os cotovelos no tapete macio. A lareira continuava a queimar, iluminando suas silhuetas com uma luz quente e acolhedora.
"Posso te chupar?", perguntou Júnior. "Vem, meu amor", respondeu Vicente, colocando o pau para fora da bermuda. Júnior desceu até o pau de Vicente e começou a sorver. O pau mole foi crescendo aos poucos na boca de Júnior, como o jovem gostava. Vicente fazia carinho nos cabelos caramelo-ouro de Júnior, enquanto o rapaz chupava seu pênis. Júnior já estava um craque. "Não goza ainda, hoje quero fazer uma coisa diferente", disse Júnior tirando toda a roupa e sendo seguido por Vicente. Ambos nus, em frente da lareira, Júnior se agachou em cima de Vicente, pegou o pau do advogado e apontou para seu ânus. Júnior foi sentando na pica de Vicente, fazendo uma cara de leve dor, mas muito prazer e tesão. Foi sentando aos poucos, até engolir tudo. Júnior se acostumou com o respeitável cacete de Vicente naquela posição e começou a cavalgar no pau do advogado. Júnior cavalgava com força e brutalidade, como gostava no sexo. Vicente gozou inebriado pela situação ao ver a cara de sofrimento prazeroso que estava causando em Júnior. O pau de Vicente amoleceu dentro de Júnior e o rapaz desmontou de Vicente. Vicente abraçou Júnior por trás, pegou o pau do rapaz com uma mão e bateu uma punheta rápida e forte para Júnior, enquanto falava putarias no ouvido de Júnior, coisa que Júnior apreciava cada vez mais. "Estagiária putinha safada que dá o cu...", dizia Vicente. "Goza na minha mão, estagiária putinha vagabunda que seduziu o chefe advogado", dizia Vicente, no ouvido de Júnior, levando o jovem ao delírio e a gozar forte na mão de Vicente.
Os dois continuaram abraçados, no tapete, na frente da lareira e se cobriram com um cobertor.
"Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, obrigado por tudo, Vicente", disse Júnior, pensativo, olhando para o fogo. Vicente beijou os cabelos do rapaz e o abraçou forte, puxando para si. Ouvindo a respiração de Vicente na sua nuca, Júnior adormeceu e foi depois carregado por Vicente para a cama. Vicente, colocou o rapaz delicadamente na cama, sem acordá-lo, se deitando ao lado. Vicente ficou pensativo sobre como tinha chegado ali. Ficou divagando sobre Danilo e Júnior, em como se inseriu na afetividade desta família.
No início do namoro, na hora do sexo, para se motivar, Vicente buscava a ereção pensando na raiva que sentia de Júnior por o rapaz ter tudo, inclusive o pai maravilhoso que era Danilo, e ele, Vicente, nunca ter tido nada, tendo que sofrer, sem pai, até conhecer Danilo. Era apenas uma fantasia na hora do sexo e apenas uma motivação para a eração vir, de início. Júnior nada percebia, pois isso ficava restrito aos momentos que Vicente precisava ter ereção. E também Júnior gostava de sexo forte. De resto, fora dos momentos sexuais, havia apenas muito carinho por Júnior da parte de Vicente. Um carinho, da parte de Vicente, de início, para um irmão mais novo. Porém, até isso estava mudando. Vicente estava se acostumando a ser namorado de Júnior e já não achava impossível que isso se tornasse definitivo. E para Vicente, a maior motivação para essa hipótese seria a felicidade de seu "pai" Danilo e sua posição como parte da família do chefe ficar consolidada, caso ficasse em definitivo com Júnior. Divagando sobre o que deveria fazer em seu futuro, em relação a Danilo e Júnior, o advogado adormeceu.
Na manhã seguinte, Vicente acordou antes de Júnior, tomou uma ducha, vestiu uma roupa e saiu para tomar um café, deixando Júnior dormindo. No restaurante do hotel-fazenda, encontrou o juiz sozinho tomando café e lendo um tablet. Após Vicente se sentar na frente dele, o juiz olhou o advogado de alto a baixo e disparou.
"Você não pode querer ficar com Júnior só para Danilo te amar mais ainda, isso não vai prestar", disse o juiz, deixando Vicente de olhos arregalados, espantado da primeira frase do juiz ser o assunto que tinha lhe deixado acordado parte da noite. Após se recuperar do susto, o advogado respondeu.
"Eu não estou fazendo apenas por isso, como no começo. Eu estou gostando de namorar o Júnior, independente de Danilo", tentou rebater Vicente.
"Ainda não é o momento, mas você vai ter que decidir. Se quiser ficar com Júnior, muito bem, mas não pode ser apenas para seu paizão Danilo gostar mais ainda de você. Eu tenho certeza que Danilo vai continuar te amando como um filho, mesmo que você e o Júnior terminem", disse o juiz.
"E se Júnior voltar a piorar, se a gente terminar?", perguntou Vicente.
"Não se preocupe. Nós dois vamos preparar Júnior juntos para esse desmame, com trocadilho... Ele é um viadinho reprimido de bundinha tesuda. Vai ser muito fácil incutir nele a curiosidade de ter outros machos dentro dele. Eu sei, eu vivi isso", respondeu o juiz. Vicente respeitava todas as avaliações do juiz, pois ele sempre acertava em tudo sobre o assunto.
"Mas eu não sei se eu vou querer isso. Júnior é muito carinhoso. É um namorado maravilhoso. Nós podemos ficar juntos", rebateu Vicente, depois de um minuto de silêncio. O juiz fez um olhar de contrariedade e fez mais uma pergunta certeira.
"Só uma pergunta... o sexo com Júnior para você é extasiante, ou apenas e tão-somente gostosinho?", perguntou o juiz.
Vicente abaixou os olhos, sem coragem de encarar o juiz. O gesto revelou tudo.
"Tá aí a resposta então...", disse o juiz mordaz.
Ao ver Danilo e Júnior chegando no salão abraçados, o juiz olhou para Vicente e disse rápido, antes dos dois chegarem na mesa. "Depois conversamos, dr. Vicente", disse o magistrado com um tom irônico. Vicente, contudo, ficou com medo da futura conversa. Sabia que não tinha uma forte atração sexual por Júnior, mas tinha muito medo de perder tudo o que tinha na vida naquele momento, especialmente o amor paternal de Danilo, que era a coisa mais importante da sua vida.
Na volta do hotel-fazenda, o namoro seguiu normal, por mais um mês. Vicente foi buscar Júnior na faculdade. Estacionou e entrou no corredor das salas de aula, pois sabia que Júnior gostava quando Vicente entrava para pegar o namorado e não ficava apenas estacionado no carro esperando. Vicente viu Júnior de costas, conversando com outro aluno. Ao se aproximar, ouviu o outro aluno falar. "Chegou o seu namorado para te pegar", disse o estudante, com um tom que Vicente achou um tanto irônico e não gostou. O rapaz era tão alto quanto Vicente e também bem musculoso, apesar de visivelmente mais jovem. Júnior se virou e sorriu para Vicente, se despediu do colega e foi embora andando ao lado do namorado. Ao se virar para trás, de relance, Vicente viu o rapaz olhando para a bundinha de Júnior, na calça da moda bem justa, que deixava a bundinha de Júnior bem empinada e redondinha.
Já no carro, Vicente perguntou para Júnior se o comentário do rapaz sobre o namorado ter chegado não tinha sido discriminatório, por eles serem gays.
"Não! Imagina! Pedro é meu amigo, sempre fazemos trabalhos juntos. Foi apenas um comentário", disse Júnior, surpreso com a pergunta.
"Eu vi esse cara olhando para sua bundinha. Não quero mais você dando conversa para esse babaca", disse Vicente, ainda com raiva. Porém, logo após dizer isso, o próprio Vicente ficou surpreso do quanto ter ficado mexido ao ver outro homem cobiçando a bundinha de Júnior, que ele tinha inaugurado e era único dono. Júnior estava com uma cara de aflito e respondeu Vicente.
"Sim, meu amor, me desculpe por isso...", disse o rapaz, visivelmente preocupado com Vicente não ter gostado de suas interações com Pedro.
"Esse otário quer te comer, eu tenho certeza", falou Vicente, ainda sem conseguir esconder a raiva que estava.
Vicente ficou tão contrariado que mudou o planejamento dos dois no dia, que era apenas almoçarem juntos no shopping. Vicente levou Júnior direto para um motel. Lá chegou sem conversar e já foi comendo Júnior com força, macetando o cuzinho do rapaz. Júnior até se assustou com a força do sexo inesperado ao meio-dia, mas ficou extasiado. Na ducha depois do sexo, Júnior estava de joelhos, chupando o pau novamente duro de Vicente. "Não admito outro macho usando sua bundinha e sua boca, entendeu?", disse Vicente, num tom autoritário que surpreendeu o próprio advogado. Júnior olhou surpreso para cima, tirou o pau de Vicente da boca e respondeu. "Sim, meu amor, eu sempre vou obedecer tudo que você mandar", respondeu Júnior, voltando a chupar o saco e as bolas de Vicente, enquanto a água quente caia sobre os dois.
O ocorrido mexeu no íntimo de Vicente por vários dias. O advogado lutava com sentimentos contraditórios sobre o ocorrido. Aproveitando que estava um dia despachando no TRT, foi até o gabinete do juiz que namorava Danilo. O juiz já percebeu pelo olhar de Vicente que o assunto não era um processo ou um alvará. Vicente contou todo o ocorrido.
"Bem, eu já sabia que se vestindo bem e mudando de atitude, o Júnior ia despertar o interesse de outros machos com aquela bundinha tesudinha dele", disse o juiz divagando.
"Eu não sei de onde veio aquela minha raiva contra o colega do Júnior", desabafou Vicente.
"Bom, está chegando a hora que você precisa se decidir, Vicente. Vai ficar mesmo com Júnior, ou vai deixar ele entrar no mercado e ir conhecendo outros machos, sendo um viadinho feliz?", perguntou o juiz, mas sabia que era uma pergunta retórica e que Vicente não ia responder naquele momento.
"Eu não sei o que eu quero", disse Vicente envergonhado, de cabeça baixa.
"Uma coisa é certa, você não pode querer ficar com o Júnior só por medo de perder o afeto do Danilo. Isso é inaceitável! Vai ser uma merda, tanto para você como para o Júnior. Ou você fica com o Júnior por causa dele apenas, ou você deixa o Júnior seguir em frente com outros homens, numa vida sexual saudável. O Danilo não pode, de jeito nenhum, ser um fator na sua decisão sobre o Júnior", disse o juiz sério.
Vicente ficou calado, pois o juiz tinha ido exatamente ao centro das suas muitas dúvidas. Vicente sabia em seu íntimo que seu medo em perder o monopólio da boquinha e cuzinho de Júnior era eventualmente se afastar de Danilo e perder seu afeto de pai. Vicente sabia que era traumatizado por não ter tido um pai. Enquanto os amigos da comunidade iam jogar futebol com os respectivos pais, Vicente ficava na calçada, vendo-os passar, chorando de raiva. Essa raiva só tinha passado com Danilo. E Vicente tinha um medo atávico de perder isso. Vicente pensava, de forma tortuosa, que enquanto estivesse com Júnior não haveria risco de Danilo deixar de amar ele como um filho. Após um longo silêncio no gabinete do juiz, Vicente falou.
"Eu vou decidir, não se preocupe. Eu só preciso de um tempo", disse Vicente melancólico.
O namoro de Júnior e Vicente seguiu por mais um mês. Dois acontecimentos decisivos para Vicente ocorreram nesse período. O primeiro foi uma pausa na correria do escritório. Danilo e Vicente ficaram uma tarde-noite de quinta-feira tomando uísque na sala de Danilo e jogando conversa fora. Uma conversa da pai e filho, sobre a vida, sobre as respectivas famílias, amigos em comum. Há muito tempo Vicente não tinha uma conversa tão agradável com Danilo. O advogado mais velho a todo tempo se referia a Vicente como "filho" e em como estava feliz com o namoro dele com Júnior, encantado em ver seus "dois filhos" juntos e felizes. Outro acontecimento decisivo foi uma ida ao shopping com Júnior, para jantar e cinema, como faziam há tantos anos, mas agora diferente, como namorados. Os dois subiram a escada rolante juntinhos, com o braço musculoso de Vicente sobre o ombro de Júnior, depois andaram no shopping de mãos dadas. Eram já namorados. A situação não era mais estranha para Vicente, era normal. Ele até se aceitou como um homem gay, vivendo um relacionamento público com outro homem. E naquela noite Vicente viu mais uma vez o quanto Júnior era carinhoso e atencioso com ele, como nunca nenhuma mulher jamais tinha sido. Vicente percebeu o quanto Júnior o amava. Amor de verdade. Vicente se sentia muito bem nesta convivência com Danilo e Júnior. Será que isso que era a felicidade, que ele, Vicente, tinha lutado tanto para conquistar desde a miséria?
Um mês depois da última conversa no gabinete, Vicente foi novamente até a sala do juiz do trabalho.
"Eu me decidi", disse Vicente para o juiz, sem rodeios.
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NOTA DO AUTOR: O próximo episódio será o episódio final da temporada única desta minisérie. Meu planejamento é depois fazer um "Episódio especial de 15 anos depois", com todos os principais personagens, para encerrar em definitivo esta história. No episódio final, vai ficar um pequeno gancho para ser resolvido 15 anos depois. Então não percam o próximo episódio. Vicente decidiu ficar com Júnior, ou não? Eu já sei a resposta !!! Só falta escrever. Esta série aqui começou com uma foto real que vi no Instagram de três pessoas, pai, filho e empregado, que me inspiraram para criar os personagens Danilo, Júnior e Vicente. Para quem ainda não leu, há outra série minha neste site "Apostando Converter um Hetero", recomendo. Meu e-mail é christophercura@protonmail.com moro no Recife, no momento sem namorado, querendo conhecer pessoas interessantes para um relacionamento sério. Em breve, o próximo episódio.