Vincenzo e Anastásia acordaram cedo naquele dia e ele foi direto:
– É hoje o jantar. Agora estamos na reta final, no momento de decisão. Ele acha que tem uma vantagem, é hora do golpe final.
Anastásia ainda não tinha certeza sobre os seus sentimentos, mesmo assim o abraçou, repousando a cabeça em seu peito e disse:
– Chegar até aqui, agora ser tarde pra voltar. Precisar dar última gás.
No fundo, aquelas foram palavras ditas da boca para fora. Anastásia estava extremamente triste. O fato de ter falado que não queria saber dos detalhes da tarde do dia anterior era apenas uma forma de se proteger da dor. Talvez, Natasha e Vincenzo tenham pegado leve, apenas alguns beijos e carícias, tudo poderia ser apenas paranoia, efeitos do que acontecera no relacionamento anterior com Hélio.
Ela sabia que jamais o amou como agora amava seu filho, sentia que Toni era sua verdadeira alma gêmea, e só o fato de ele ter estado com outra mulher, mesmo com sua concordância, a fazia sentir-se mal física e emocionalmente.
Sentiu o nó na garganta subindo, sentimentos contraditórios se apossando dela e não conseguiu segurar o pranto, chorando baixinho no peito dele, que assustado, rapidamente a abraçou mais forte, tentando entender:
– O que aconteceu? Por que isso agora?
Ela não queria falar nada, apenas se livrar de toda aquela sensação ruim:
– Deixar eu quieta, nau estar bem.
Ainda mais preocupado, ele insistiu:
– Fala comigo, por favor. É por causa de ontem?
Ela continuava chorando baixinho, escondendo mais o rosto no peito dele. Vincenzo acariciou os cabelos dela e parou de falar, respeitando o pedido que ela fez. Deixou que se acalmasse antes de tentar tirar alguma confissão, mas ela apenas se levantou e foi tomar banho, não dando nenhuma abertura para que o assunto continuasse.
Ele esperou que ela terminasse e também tomou seu banho, precisava voltar à fábrica, tinha um dia importante pela frente. Márcio, seu tio, irmão de Miriam, assumiria como encarregado geral de produção. Precisava, com a ajuda de Lícia, mostrar tudo a ele e apresentá-lo aos funcionários.
Enquanto se secava, pensava no que poderia fazer para melhorar o humor de Anastásia, mas foi surpreendido ao vê-la entrando no banheiro, indo se maquiar já com um tímido sorriso no rosto:
– Hoje dia ser agitada, precisar nos preparar. Hélio vir com tuda, nau podemos perder a tempo com picuinhas.
Vincenzo não entendeu nada:
– Mas a dois minutos …
Decidida, Anastásia o calou com um beijo demorado, apaixonado, bastante intenso e depois disse:
– Eu me desviar da propósito, desculpa. Focar agora na que importa.
Ele preferiu aproveitar a súbita mudança e dar o assunto por encerrado. Voltou ao quarto e se arrumou. Tomaram juntos o café da manhã e se despediram carinhosamente, sem tocar em qualquer assunto ligado à noite anterior.
Anastasia se preparava psicologicamente para o que enfrentaria naquela noite. Ela também se arrumou e, precisando buscar apoio emocional, foi se encontrar com Mirian. As duas se transformaram em grandes amigas nos últimos meses. Se não fosse pela ajuda da "sogra", provavelmente não teria conseguido chegar tão longe.
{…}
Hélio, concentrado em suas artimanhas, estava alheio a Mila, dando a ela a chance de fazer o que quisesse. Dizendo que iria resolver alguns assuntos em sua agência bancária, ela conseguiu uma pequena pausa da vigilância cerrada dele.
Desde antes da mudança brutal em sua vida e sua rotina, da perda do namorado e toda a humilhação que Hélio a submetia, ela tinha seus próprios planos. Com a ajuda de um dos funcionários, um contador de nível mais baixo, seduzido por ela, não via a hora de chegar à quantia estipulada para se livrar de todo o pesadelo, sumir no mundo sem deixar rastros.
Há nove meses vinha desviando quantias mensais, de diversas contas diferentes, sempre em pequenas quantidades, mas que somadas, iam se transformando em uma pequena fortuna. Estava próxima do valor necessário para viver confortavelmente longe de tudo e de todos, mas ainda seriam necessários mais alguns meses.
Naquele final de manhã conseguiu finalmente se encontrar com seu cúmplice e após semanas de ameaças por parte dele, se sentindo usado, poderia dar a ele a atenção que ele tanto cobrava. Prometera a ele que os dois ficariam juntos, o seduziu com promessas vazias, usando o amor e a devoção daquele idiota facilmente manipulável para manter seus próprios planos em ação.
Deu a ele uma transa inesquecível, num motel de quinta categoria, o deixando extasiado e ainda mais apaixonado. Explicou que Hélio estava no pé dela e que aqueles encontros eram perigosos para os dois, que Hélio não era bobo e que não podia demorar. Pediu a ele que se mantivesse focado no plano dos dois, e que em poucos meses estariam longe dali, vivendo juntos e felizes como tinham planejado no começo.
Ele, em nenhum momento, desconfiou que estava sendo usado, que era um boi de piranha para os planos dela. Assim que o montante fosse alcançado, a intenção dela era deixá-lo arcar com toda a culpa e sumir do país, de preferência, algum outro que não tivesse acordo de extradição, um lugar isolado onde pudesse viver em paz e desfrutar dos rendimentos roubados. Ela achava que merecia aquilo, que aquele valor era uma indenização por toda a humilhação a que fora submetida.
É lógico que ela passou no banco também, trazendo consigo extratos e outros documentos para provar onde esteve. Hélio estava pouco se lixando para ela, nem se dignou a perguntar o que ela fez ou deixou de fazer. Essa indiferença dava a ela a certeza de que merecia ser indenizada por seu tempo ao lado daquele canalha arrogante que se achava um rei, um escolhido.
{…}
O dia passou rapidamente e Anastásia e Vincenzo voltaram a se encontrar no hotel no final da tarde. Precisavam começar a se arrumar para o jantar fatídico. Ele colocou um de seus ternos clássicos, mas ela estava belíssima, simplesmente deslumbrante. Um vestido strapless, o popular tomara que caia, na cor salmão, de caimento perfeito, não tão justo para parecer vulgar, nem tão largo a ponto de esconder as delicadas curvas de seu corpo esbelto. Um salto médio, de cor neutra e uma generosa borrifada de House of Sillage, da Cherry Garden, o mesmo perfume de Yelena, estrategicamente escolhido para mexer com os sentidos de Hélio. O cabelo solto, também da mesma forma que ela usava, apenas um tom mais escuro. Sabia o efeito que queria causar e pelo semblante de Vincenzo, tinha acertado em cheio. Ele estava embasbacado, admirando sua beleza clássica.
O hall do hotel estava cheio e todos os pescoços se torciam ao vê-la passar em direção a garagem. Orgulhoso, Vincenzo também se iluminava com o brilho que ela emanava, o toque da mão dela em seu braço o aquecia. Todos admiravam aquele jovem e lindo casal.
Não demoraram a chegar à portaria do condomínio de alto padrão que conheciam tão bem. A entrada foi liberada rapidamente. Foram recebidos por uma sorridente Mila na entrada da casa.
Ela também estava muito bela e elegante em seu vestido de alças finas bem ajustado ao corpo. A maquiagem destacava os incríveis olhos verdes, duas esmeraldas, escaneando os convidados de cima a baixo. Anastásia entrou no seu papel, sempre falando em inglês:
– Boa noite! Você está linda.
A falsidade de Mila era digna das grandes vilãs de novela. Por um instante, ela pareceu se entristecer:
– Você também está incrível, me lembrando a nossa querida Lena. Que saudade!
A vontade de Anastásia era de cravar as unhas no pescoço dela, mas se controlou, usando do mesmo fingimento:
– Como eu sinto a falta dela. Aproveitei o convite do meu noivo para reencontrá-la, mas quando cheguei …
Uma lágrima escorreu pela bochecha de Anastásia, que logo foi abraçada por Mila:
– Só podemos esperar que ela esteja em um lugar melhor, um dia iremos nos reencontrar.
Anastásia pensou: "vocês não irão se reencontrar, não, tenha certeza disso. Vocês vão para o inferno, sua vadia. Irão pagar pelo que fizeram a nós".
Mila fez sinal para que eles entrassem e os levou até a sala de visitas, logo na entrada da casa, pedindo a um garçom contratado que servisse bebidas. Por um momento Vincenzo pensou em recusar, mas acabou aceitando, não acreditando que eles seriam capazes de drogar os dois naquele momento. Hélio, em sua cabeça doentia, pensava estar com a faca e o queijo na mão. E ele logo apareceu, também vestido com um terno caro, ainda mais exclusivo que os de Vincenzo, parecia até querer competir com ele pela atenção. Ele os saudou:
– Bem-vindos a minha casa. – Ele se virou primeiro para Anastásia. – Esse também foi o lar da sua irmã, sinta-se à vontade.
Ele cumprimentou Vincenzo com um sorriso sacana no rosto e voltou a falar com Anastásia:
– Eu gostaria que você acompanhasse a Mila até o meu quarto, o quarto que dividi com sua irmã. Mila irá explicar melhor.
Mila, então, fez com que Anastásia a acompanhasse e chegando ao quarto, ela viu todos os seus antigos pertences, vestidos, bolsas, sapatos, devidamente organizados no cômodo. Vendo a surpresa no olhar dela, Mila explicou:
– Hélio gostaria que você ficasse com tudo que era da sua irmã. Yelena era uma pessoa alegre, de bem com a vida, ela ia querer que ele seguisse em frente, se livrasse do luto e voltasse a viver.
Anastásia jamais imaginaria que tal situação acontecesse. Existia ali uma pequena fortuna entre roupas, joias, bolsas e sapatos. Ela estava tentada a reaver todas as suas coisas, mas a maioria eram presente do homem que ela gostaria de nunca mais ver. Poderia colocar tudo a perder se fosse gananciosa e achou melhor ser inteligente. Pegou apenas o pingente com a metade do coração, a única coisa ali com verdadeiro valor sentimental. Apertou forte a joia contra o peito e depois a colocou junto com a outra metade no cordão:
– Essa é a única coisa que eu quero. Yelena e eu temos gostos bem diferentes. Eu sou mais moleca, prefiro roupas confortáveis. Eu nem sei se haveria ocasiões para usar essas roupas.
Mila, invejosa, perguntou:
– Você tem certeza disso? Essas roupas são o sonho de consumo de qualquer mulher.
Anastásia deu de ombros. Aquele quarto, aquelas roupas, tudo ali a lembravam do motivo de não ser mais Yelena:
– Por mim, você deveria ficar com tudo. Tenho certeza de que, independentemente de onde estiver, Yelena ficaria feliz por sua melhor amiga herdar todas as suas coisas. Não tenho interesse em nada, nem é o meu estilo. Yelena e eu somos gêmeas, mas como eu disse, temos gostos complementarmente diferentes.
Mila insistiu:
– Não parece! Seu vestido é lindo, ficou muito bem em você.
Anastásia sorriu, um pouco debochada:
– Isso foi por causa do jantar, para que vocês não pensem mal de mim. Por mim, eu estaria de jeans, camisa e All Star.
As duas riram juntas. Mila não podia acreditar na sua sorte. Só precisava convencer Hélio a deixar que ela ficasse com tudo. Resolveu tentar fazer Anastásia ajudá-la:
– Eu não sei, acho que Hélio não me deixaria ficar com nada disso.
Anastásia entendeu a intenção dela, mas desconversou:
– Vamos voltar? Meu noivo já deve estar curioso, se perguntando por que eu estou demorando.
Sem opções, vendo que sua indireta não alcançou o efeito desejado, Mila a acompanhou de volta à sala de visitas, onde Hélio e Vincenzo tomavam whisky e falavam sobre negócios.
Anastásia se sentou ao lado do noivo no sofá e acompanhou a conversa com atenção, por quase quinze minutos, mas sem falar nada, apenas ouvindo. Hélio logo chamou todos para a sala de jantar.
Apesar dos temores de Vincenzo, tudo corria bem. A comida era ótima, a bebida também, a conversa seguia agradável … até o celular de Anastásia emitir o som característico do recebimento de uma mensagem. Ela pediu licença para conferir o conteúdo, pois havia prometido a Mirian que a manteria informada, inclusive, havia uma palavra de socorro previamente combinada entre as duas se tudo desse errado.
Ela pegou o celular e o desbloqueou. Percebeu que havia recebido um vídeo de um número desconhecido. Hélio não conseguia disfarçar o sorriso cínico, o deleite pela situação. Vincenzo a encarava, esperando alguma resposta. Mila sabia do que se tratava e pela primeira vez na vida se sentiu tentada a impedir que aquela maldade continuasse, mas se lembrou do seu lugar, de quem era Hélio e achou melhor não intervir, não se colocar no caminho dele.
Anastásia começou a assistir e aos poucos, seu semblante foi mudando, a tristeza ia tomando conta de seu rosto. Imaginava o que acontecera entre Vincenzo e Natasha, mas jamais pensou que o sexo pudesse ter sido tão ardente, tão cheio de química, que os dois tivessem se entregando tanto.
"Natasha se esfregava para frente e para trás, subia e descia, sentava mais forte … Vincenzo apalpava os seios dela, tentava sugar, apertava os biquinhos pontudos, segurava em seu quadril e tentava socar mais forte, sincronizando os movimentos …".
Ela não suportou mais ver aquilo, por isso não queria saber detalhes. Ela apenas virou o celular para Vincenzo, e furiosa, quase tropeçando no inglês, explodiu:
– Que porra é essa?
Vincenzo olhou para a tela do celular, não estava preparado para aquele momento. Mesmo assim, tentou encarnar rapidamente o personagem. Ele olhou para o Hélio e, se levantando nervoso da mesa, disse:
– Isso é alguma armação sua? Eu confiei em você.
Anastásia parecia um pouco dentro do personagem demais, investindo contra o noivo e dando socos no peito dele:
– Seu desgraçado, eu não mereço isso. Por que Vincenzo?
Ele tentou acalmá-la:
– Amor, eu posso explicar …
Hélio resolveu intervir:
– Eu não sei quem mandou o vídeo, mas ele é real. Eu já estava pensando em desmascarar o seu noivo, mostrar quem ele realmente é. Eu não poderia, como seu cunhado, deixar que você continuasse sendo enganada.
Vincenzo se livrou rapidamente de Anastásia e partiu para cima de Hélio, mas dois seguranças, vindo não se sabe de onde, tomaram a frente e o imobilizaram. Anastásia continuava seu show, chorando copiosamente e pedindo uma explicação:
– Por que Vicenzo? Dois anos da minha vida desperdiçados com você. Não vai nem se defender?
Ainda contido pelos dois seguranças, ele tentou falar:
– Eu não lembro de muita coisa, estávamos apenas conversando e depois eu acordei numa cama estranha, na suíte desse canalha, com essa mulher ao meu lado …
Hélio fez sinal para Mila, e ela sabia que deveria fazer sua parte, mesmo não querendo:
– Ele também tentou dar em cima de mim e quando eu o rejeitei, ele foi com tudo para cima dessa garota.
Mila buscou um vídeo no celular e mostrou a ela:
"Mila dançando na frente de Vincenzo, de forma sensual, ele fala alguma coisa para ela e ela sai correndo do local, virando sua atenção em seguida para a garota loira com quem havia transado no vídeo enviado para Anastásia".
Vincenzo insistiu:
– Meu amor, acredite em mim. Vamos embora daqui. A gente conversa a sós e resolve …
Hélio novamente o interrompeu:
– Você não precisa ir com ele. Aqui sempre será a casa da sua irmã, nós somos família. Pode ficar comigo e com a Mila, você não precisa mais se sujeitar a esse traidor de merda. A decisão é sua.
Hélio fez sinal para seus homens, que começaram a carregar Vincenzo para fora da casa. Ele olhava em desespero para Anastásia:
– Meu amor, por favor …
Um dos seguranças deu uma gravata nele e naquele momento, Anastásia tentou ir em seu socorro, mas Hélio a segurou:
– Ninguém vai machucá-lo, fique tranquila. Você está segura comigo e com Mila. Não se preocupe.
Os homens levaram Vincenzo até seu carro e o fizeram entrar, mostrando para ele as armas na cintura. Sem opções, ele obedeceu. Aquilo tudo estava muito além do que fora previamente combinado. Precisava se acalmar e esperar pela mensagem de Anastásia. Em sua cabeça, tudo aquilo era um jogo, e ele precisava continuar movendo suas peças, sem se desesperar.
Ela ficar ali, sozinha com os dois, era arriscado e ele precisava, de alguma forma, manter um pouco de controle sobre a situação. Não conseguiria ficar sozinho no hotel, seria uma noite tensa demais. Só tinha um caminho a tomar, a única decisão possível: ir para a casa da mãe e vigiar Yelena pelo sistema de monitoramento da mansão.
Estava tão agitado que nem se preocupou com os limites de velocidade, cruzando sinais vermelhos e chegando na metade do tempo normal em seu destino.
Foi recebido inicialmente por Bá, sorridente, saudosa e preocupada por vê-lo tão tenso. Após um abraço carinhoso, ele se acalmou um pouco, mas só sossegou de vez quando Mirian lhe deu o controle do notebook e ele passou a acompanhar o que acontecia com sua amada na mansão do pai.
"Sentada no sofá da sala, com Hélio de um lado e Mila do outro, Anastásia ainda chorava muito, perguntando, num inglês enrolado e atrapalhado pelo choro:
– Como ele pôde fazer isso comigo? Eu mudei toda a minha vida por causa dele. Eu não merecia …
Mila tentava consolá-la, incentivada por Hélio:
– Eu nem imagino o que você deve estar sentindo, mas eu estou aqui por você. Como Hélio disse, nós somos praticamente família e por nossa amada Lena, vamos cuidar de você. Fique aqui com a gente, assim você pode pensar melhor, sem se afobar …
Chorando ainda mais forte, Anastásia tentava dizer:
– O que eu vou fazer agora? Estou em um país estranho, não conheço ninguém, estou sozinha …
Hélio resolveu intervir:
– Você não está sozinha. Está com o seu cunhado, a melhor amiga da sua irmã e eu, se esse for o seu desejo, posso lhe mandar de volta para casa.
Mila sabia qual era o seu papel:
– Você está sofrendo, não é hora de tomar decisões precipitadas. Venha comigo, fique aqui essa noite, me deixe cuidar de você.
Mila, com jeito e cuidado, conseguiu fazer com que ela a acompanhasse até um dos quartos de hóspedes. Pegou uma das camisolas de Yelena e fez ela se trocar. Se deitou ao seu lado na cama e enquanto a abraçava, continuava sua manipulação, com carinho e palavras doces. Levou quase uma hora para Anastásia finalmente dormir.
Durante esse tempo, Hélio apenas aguardava pacientemente. Assim que Mila voltou a sala e disse que ela estava mais calma, que finalmente tinha pegado no sono, Hélio pediu:
– Essa foi a parte fácil, separar os dois. Agora é hora de você fazer o seu papel, convencê-la a ficar e me dar o tempo que eu preciso. É hora de falar com o idiota do italiano. Fique com ela.
Mila voltou ao quarto, se deitando junto com Anastásia e velando seu sono por alguns minutos, até adormecer também. Hélio se trancou no escritório, buscou o telefone de Vincenzo e fez a ligação.
Vendo que, a princípio, Anastásia não corria perigo, Vincenzo relaxou de vez. Enquanto Bá lhe servia um chá e Mirian, sentada ao seu lado, apenas ficava na dela, sentiu seu celular vibrando no bolso. Fez sinal para que as duas ficassem em silêncio e atendeu:
– Você armou tudo isso, não é?
Hélio sorria debochado:
– Eu não. Quem fodeu a loirinha? Quem é o desleal na história?
Vincenzo apertava o celular com força. Sua vontade era voltar à mansão e espancar o pai, dar uma surra naquele homem desgraçado que nunca demonstrou um pingo de amor por ele. Ele disse:
– Isso não vai ficar assim, você vai me pagar.
Hélio achou que era hora de parar com o deboche e falar sério:
– Presta bem atenção, moleque! Vocês, europeus, acham que o Brasil é uma colônia até hoje. Escute bem minhas palavras, pois eu só direi uma vez: se recolha a sua insignificância, vá administrar sua fabriquinha e deixe minha cunhada em paz. Esse será o seu único aviso, não me teste, não queira saber quem eu sou de verdade.
Hélio desligou, sorrindo sozinho. Vincenzo acompanhava as reações dele pelo notebook, guardou o celular no bolso e disse para Bá e Mirian:
– Agora é só esperar. Mesmo que Yelena tenha fugido do roteiro, e mesmo que eu ainda não entenda o porquê, eu preciso confiar que ela tomou a melhor decisão. Tenho certeza de que ela entrará em contato em breve.
Mirian estava preocupada e resolveu ser honesta com ele:
– Acho que ela está com ciúme. Nós conversamos muito hoje. Por mais que ela tenha dito que não queria saber os detalhes, acho que você acabou se empolgando um pouco com a tal Natasha. O vídeo deve ter sido o estopim para ela. Precisava de tanto?
Vincenzo foi honesto:
– Sinceramente, eu sei que passei do ponto, mas eu não me lembro de muita coisa. Tenho certeza de que ele me drogou. Natasha tem a mesma sensação. Ela disse que é o modus operandi dele, sua marca registrada para obter vantagens.
Bá se lamentou:
– Seu avô transformou o seu pai nesse monstro. É tudo culpa dele. – Com olhos marejados, ela perguntou. – Você tem certeza de que não existe uma forma de vocês se perdoarem? Disso acabar e tudo voltar ao normal?
Ele também se lamentou:
– Infelizmente Bá, ele nunca me amou. Eu sempre fui um fardo. Ele nunca quis ser meu pai, nunca esteve presente … nunca existiu um “normal”, não existe motivos para perdão.
Bá não tinha como discordar e Mirian alertou:
– Você percebeu a intenção dele, né? Está de acordo com os planos de vocês?
Vincenzo pensou por um momento, não podia mentir para si mesmo:
– Ele vai com tudo pra cima dela, tentar seduzi-la.
Mirian insistiu:
– E você está bem com tudo isso? Não vamos tapar o sol com a peneira aqui, seu pai é um homem muito atraente e domina, como ninguém, a arte de seduzir uma mulher. Você confia tanto assim em Yelena? Tem certeza de que ela é incapaz de perdoá-los?
Ele, sinceramente, não tinha a resposta para aquela pergunta. Resolveu ser honesto novamente:
– Se essa for a escolha dela, não há nada que eu possa fazer …
Continua.
Consultoria, revisão e co-autoria: Id@
