O corno que nunca foi traído
Aquele foi um verão diferente, pois haviam acontecido tantas coisas durante o ano que ele acabou não se parecendo com nenhum dos outros que já havia vivido. Os verões eram meio que o auge de cada ano na cidadezinha litorânea da costa oeste dos Estados Unidos onde nasci e fui criado. Era a época em que os turistas afluíam aos milhares para curtir as belas paisagens, as pequenas enseadas com praias de areias quentes, o conjunto de ilhas que distavam apenas alguns minutos de barco e eram cobertas por uma vegetação nativa onde gaivotas, albatrozes e outras aves marinhas faziam seus ninhos nos costões rochosos, as noites de céu limpo que ofereciam diversas modalidades de diversão, baladas que varavam a madrugada e reuniam uma galera jovem focada em encontrar um amor de verão paquerando e transando muito. Também era a época em que as casas de veraneio eram disputadas a peso de ouro, gerando renda para os proprietários para subsistirem o restante do ano. O mesmo acontecia com os estabelecimentos comerciais, o que faturavam no verão teria que cobrir as despesas do ano todo. Tudo fervilhava tão intensamente quanto o próprio calor do sol, e essa agitação se refletia nas pessoas que pareciam rejuvenescer com a temporada. Meu pai era dono do único hotel da cidade que, já meses antes, tinha suas acomodações todas reservadas. Era um período exaustivo para ele e para a minha mãe que o ajudava na administração. Não raro, meu irmão mais velho e eu éramos convocados a dar uma força quando algum dos funcionários temporários faltava ou simplesmente desistia frente a grande quantidade de serviço a ser encarada.
Eu digo que foi diferente por que poucas semanas antes de seu início, quando íamos entrar no período de provas do colégio, o Tyler rompeu nosso namoro que já durava quase dois anos. Como aquele era nosso último ano antes de seguirmos para a universidade, ele alegou que não conseguiria manter um relacionamento à distância e, por isso, estava rompendo comigo de forma amigável, antes de incorrermos em brigas e discussões devido ao afastamento. Para mim aquilo foi um choque inesperado, ele foi meu primeiro namorado e eu precisei passar por muita coisa para que aquele namoro se tornasse viável. A mais dura delas, revelar aos meus pais que era gay. O que mais me magoou no rompimento foi ele ter dado essa desculpa, quando na verdade, o motivo era bem outro e, atendia pelo nome de Brad. Eu devia ter desconfiado quando aquele aluno recém-chegado ao colégio no começo do ano, começou a me cercar forçando uma amizade que só visava se aproximar do tesudo e musculoso capitão do time de basquete do colégio, meu namorado Tyler. Fui tão ingênuo que demorei a perceber as intenções do Brad e, mais tolo e estúpido ainda, quando passei a fazer de tudo para o Tyler não se interessar por ele, chegando ao ponto de deixá-lo tirar minha virgindade, o que ele andava louco para fazer quando me levava para salas ou laboratórios vazios do colégio, onde me encoxava e metia suas mãos pesadas dentro das minhas calças e apalpava minha bunda roliça despejando sacanagens nos meus ouvidos, enquanto seu cacetão endurecia entre suas pernas.
- Você não me ama! Se me amasse não ficava se fazendo de difícil, me deixando no sufoco com o cacete insatisfeito! – chantageava ele, toda vez que eu me recusava a ceder o cuzinho que ele tanto queria.
- Eu te amo, juro! Você é que não me ama, só está interessado em meter esse pauzão em mim! Você é um egoísta, sem alma! – retrucava eu desolado, pois sabia que ele ia me ignorar pelos próximos dias, se fazendo de ofendido.
Estávamos nesse impasse constante quando o Brad apareceu e começou a mudar toda a nossa relação. Ele se aproximou de mim se fazendo de vítima de uma situação familiar, de estar com dificuldade de tirar boas notas nas disciplinas o que fazia com que seu pai vivesse castigando-o; e eu, sempre de coração mole, fui abrindo espaço para ele se infiltrar no meu relacionamento com o Tyler. Só no dia em que ele rompeu comigo, é que fiquei sabendo que o Brad e ele transavam com muito mais frequência do que nós, e isso doeu bastante.
Outro aspecto que fez daquele verão uma temporada diferente, foi que meu irmão, dois anos mais velho, tinha ingressado na universidade e deixado a cidade, o que significava que não estaria presente para ajudar no trabalho do hotel, consequentemente me privando de muitas horas de folga que poderia usufruir com os amigos.
Colegas eu tinha aos montes, por muitos anos fui o garoto mais popular do colégio. Me dava bem com as mais diversas galeras e tinha trânsito fácil entre elas. Apenas quando me assumi gay, o que aconteceu nesse último ano, é que alguns desses “amigos” deixaram de falar comigo, e alguns, até passaram a me evitar, desmanchando as rodinhas nas quais estavam quando eu me aproximava, não me convidando mais para as festas ou, simplesmente fingindo não me ver quando cruzavam comigo nas ruas. Era como se, de repente, eu fosse algum tipo de leproso contagioso a ser banido do convívio deles.
Nesse rol se enquadrava o Ben, outro carinha que se valia da minha popularidade para conseguir algumas amizades. O Ben Moiser Fishman era filho do dono da maior imobiliária da cidade, que faturava grosso intermediando e administrando a locação de imóveis durante o verão. De família judia, muito mal vista na cidade, à exceção de uns poucos membros da comunidade judaica e de oportunistas que só mantinham uma relação visando interesses próprios, desde que o avô, Moiser Fishman foi o responsável pelo suicídio de um pescador local que arrendava o barco de pesca do velho e avarento Moiser. A história comoveu a cidade. Na época, muitos pescadores não tinham seus próprios barcos e o velho Fishman dispondo de um capital, comprou alguns e os arrendava num negócio bastante lucrativo para ele e massacrante para os pescadores que, apesar do trabalho árduo, sempre estavam a dever. Até que, um deles, atolado em dívidas e com a saúde debilitada devido a um câncer, se atirou no mar numa noite de tempestade quando as redes de pesca lançadas voltavam praticamente vazias a bordo. O corpo só foi encontrado uma semana depois, muitos quilômetros ao sul da cidade. Todos sabiam que ele tivera uma discussão com o velho Fishman naquela tarde que lhe cobrava a dívida fazendo ameaças contra a família. A partir de então, os demais pescadores autônomos que tinham seus próprios barcos, criaram uma cooperativa para dar apoio aos que não os tinham financiando a compra de barcos e negociando o resultado da pesca. Quase falido, o velho Moiser se viu obrigado a mudar de ramo, e fundou a imobiliária que hoje é administrada pelo pai do Ben. Como eu disse, o Ben e eu não éramos verdadeiramente amigos, éramos colegas de colégio, também por interesse dele. Ele se valia do nosso coleguismo e da minha até então “amizade” com o Tyler para ser mantido no time de basquete, e também para colar as minhas respostas das provas; pois, além de preguiçoso, era burro.
Em se tratando de meninas, eu tinha duas grandes amizades, a Cindy e a Tcheska. A Cindy era uma garota estranha, tinha algo que eu admirava nela, antes de me reconhecer gay, uma autoconfiança inabalável. Todo seu comportamento, seu modo de vestir, a maneira como lidava com as situações complicadas me fizeram sentir uma enorme admiração por ela. Eu queria ser ela. Apesar de bonita, não era vaidosa e até fazia de tudo para não ser vista como uma garota atraente para os rapazes. Eu era um dos poucos amigos que ela tinha, não fazia questão de ser popular, muito menos de ter amizades. Porém, comigo era diferente, não sei o que viu em mim, mas sei que gostava muito de mim desinteressadamente.
Já a Tcheska era uma daquelas garotas que rapaz algum deixa de observar. Ela estava sempre bem vestida, não importando a situação nem o lugar, parecia que seus looks tinham sido talhados para a ocasião. Ela usava os cabelos longos soltos emoldurando seu rosto meigo e de uma beleza indiscutível, que estavam sempre a esvoaçar, mesmo quando ela passava pelos corredores do colégio com uma centena de olhares seguindo sua passagem. Enquanto ainda estava em dúvida de quem eu realmente era, nos aproximamos tanto um do outro que todos pensavam que estávamos namorando. Para mim foi uma fase difícil, não sabia se gostava de garotas como ela ou se de garotos como o Tyler e, nesse dilema, deixei as coisas rolarem para ver no que dava. Foi para ela que contei pela primeira vez que era gay, depois dos meus pais e do Tyler, por quem eu já suspirava com toda a certeza de que era de rapazes musculosos como ele que gostava. Ela ficou decepcionada, me confessou que esperava que um dia eu percebesse que ela gostava de mim e queria me namorar, mas não deixou de ser minha amiga. Nesse novo período do nosso relacionamento, nos tornamos confidentes um do outro.
Quando contei à Cindy que era gay, ela não se mostrou nem um pouco surpresa, embora eu tivesse ensaiado bastante antes de me abrir, com receio de perder a amizade dela.
- Até que enfim, hein, seu toupeira! Demorou para cacete! Faz um tempão que eu sei que seu negócio são os rapazes. – afirmou, no dia em que me abri com ela.
- Como assim? Eu dou tanta bandeira assim? Fala a verdade, tenho cara de veado? Fala, Cindy! – questionei.
- Deixa de ser otário! Eu sou lésbica, enxergo um gay a quilômetros de distância, sem que ele precise ser bandeiroso! O que é exatamente o seu caso. Quem for um pouco esperto, vai notar esse seu comportamento de menino educado, sempre arrumadinho e cheiroso, esse cabelo sedoso que foi cuidadosamente escovado diante de um espelho para ter um ar displicente, seu jeitão desinteressado de olhar para as garotas, mesmo que apareçam nuas na sua frente, só mesmo cego ou otário para não saber que você gosta é de um cacetão e não de uma buceta. – sentenciou ela, toda convicta.
- Credo, Cindy! Isso é jeito de falar? Até parece que eu só penso no pinto dos caras! – protestei indignado com o descaramento dela.
- Pode até não pensar o tempo todo, uma vez que além de ser gay você, ainda é besta o bastante para ser romântico. Mas, no dia em que conhecer o primeiro caralhão, nunca mais vai pensar noutra coisa. – essa era a Cindy, objetiva, direta, sem papas na língua.
- Chega dessa conversa! Com você não dá para falar sério! – exclamei, ela se limitou a rir. Depois, me abraçou, pois gostava demais de mim e não queria me ver aborrecido com ela.
E, por fim, desse grupinho mais seleto de amigos, fazia parte o Jeff. Não que mencioná-lo por último estivesse ligado a importância que esses amigos tinham na minha vida, pelo contrário, ele era o mais importante de todos, aquele que no início do nosso relacionamento era como um irmão, tendo em vista que ele e meu irmão tinham a mesma idade. O Jeff e o pai Harold eram também nossos vizinhos, daí o coleguismo que iniciou com meu irmão quando eu ainda era um pirralho. Os dois andavam sempre juntos, aprontavam juntos e se divertiam juntos, até o fatídico dia em que ele perdeu a mãe numa idade bastante jovem. O pai do Jeff tocava um negócio de barcos turísticos, levando os veranistas para as ilhas próximas, para uma região mar adentro onde havia um atol e onde as condições de claridade e temperatura da água eram propícias a mergulhos com equipamentos. Como praticamente todos os outros empresários da cidade, o verão era a época áurea, quando seus quatro barcos e algumas lanchas não paravam no cais mais do que o suficiente para serem reabastecidos e apanharem os turistas. Com a morte repentina da esposa, o Harold entrou numa fase de depressão profunda, negligenciando até a atenção para com o filho. Sem uma supervisão mais rígida que lhe impusesse limites e lhe cobrasse responsabilidades, o Jeff se viu solto e livre para agir conforme sua vontade. Foi nessa fase que nos aproximamos um do outro, pois ele repetiu de ano em dois anos consecutivos vindo cair na minha turma; na qual também estava o Ben, como mencionei. Contudo, o Ben estava nessa turma por ser burro, enquanto o Jeff se encontrava nela devido a morte da mãe que acabou por modificar todo estilo de vida e o feito reprovar. Todos passaram a ter pena dele, era o órfão, o garoto sem mãe, o garoto que o pai em sua própria dor deixara de escanteio, exceto eu. Eu não tinha pena dele, para ser sincero, não sabia exatamente o que sentia por ele, só que me via cada dia mais ligado a ele. Minha mãe meio que assumiu o papel da que ele perdeu, sempre convidando-o para dormir em nossa casa, fazendo as festas de aniversário dele para que a data não passasse em branco, dando o mesmo carinho e afeto que dedicava a mim e a meu irmão, tudo para abrandar o sofrimento dele.
Ao chegar à puberdade, o Jeff e meu irmão pareciam estar sendo alimentados a base de fermento. De uma hora para outra, os hormônios que começaram a circular em suas veias transformaram radicalmente seus corpos. Os músculos pareciam surgir do nada, da noite para o dia tinham dobrado de tamanho. Nas caras onde até uns dias atrás havia apenas espinhas enormes e vermelhas, cresciam pelos grossos e densos, obrigando-os a se barbearem. O restante de seus corpos não ficou para trás, os pelos brotavam de todos os lados, revestindo braços, tronco e pernas como se fossem ervas daninhas crescendo na época das chuvas. Do Jeff eu não sabia, pois nunca o vi sem roupa; mas, no meu irmão, toda uma zona abaixo do umbigo que ia até o meio de suas coxas se transformou num matagal de pelos em rodeavam um cacete que também já não se parecia com aquele pinto de antes, era algo escandalosamente impudico, especialmente, quando balançava solto quando meu irmão estava nu. Foi por essa época que minha cabeça começou a ficar cheia de dúvidas. Por que eu gostava tanto de ver a molecada com seus corpos nus expostos no vestiário do ginásio de esportes? Por que aqueles pintos que iam se encorpando me deixavam naquele desassossego todo? Por que eu os achava tão lindos e perfeitos como se fossem obras de arte? Até o dia em que descobri que essas dúvidas tinham um nome, chama-se tesão.
Contudo, eu não sentia tesão pelo Jeff apesar do corpo dele ter se destacado dos demais colegas do colégio, inclusive do meu irmão, ficando com proporções que podiam ser chamadas de enormes. Em poucos anos ele virou um homem, sensual e atraente, e começaram os assédios. Algumas garotas não lhe davam trégua, só faltavam arrancar as calcinhas e erguer as saias para chamar a atenção dele. Não duvido que um par delas, mais espevitadas, não tenha chegado a esse ponto. Porém, ele parecia imune a essas demonstrações de assanhamento. Eu tinha para mim que ele arrastava um bonde pela Tcheska, mas não tinha coragem de confessar seus sentimentos para ela. Talvez por ela estar namorando o irmão mais velho de outra colega do colégio e nem reparar nele como alguém que fosse mais do que um simples amigo. Algo me dizia que ele vivia essa paixão sozinho, quem sabe, esperando a chance de um dia ela estar livre e se interessar por ele. Por outro lado, outras nem queriam chegar perto dele, achavam-no um troglodita sem nenhum tato que, diziam ser desleixado, cheirar mal e não ter modos. Essa era a imagem que quase todos faziam dele, uma vez que nunca fora cobrado a se vestir apropriadamente e a manter uma boa aparência. Era também a minha mãe quem o levava quase a força para fazer um corte nos cabelos quando me levava ao cabelereiro, quem lhe ajustava as roupas largas que comprava, quem o obrigava a fazer a barba em troca de alguns pedaços de seus bolos que o Jeff adorava. O engraçado era que eu nunca me importei com o jeitão desleixado dele; estranhava, é certo, mas não o criticava por isso. Quando muito, fazia algum comentário, não critico, nas poucas vezes que entrava no quarto dele, onde reinava um caos total, com roupas sujas espalhadas por todo lado, cadernos e livros da escola jogados pelo chão ou na cama, sobe os quais ele muitas vezes dormia amassando-os todos, tênis sujos e fedendo a chulé debaixo da cama, seus jogos de videogame forrando a escrivaninha onde deveria fazer as lições, toalhas de banho que deveriam ter ido para a máquina de lavar há semanas, e por aí vai. Era impossível encontrar um só canto daquele quarto que remotamente estivesse arrumado. Aquele espaço, no entanto, era seu templo sagrado, ninguém era bem-vindo ali, ninguém estava autorizado a entrar lá, como se a presença de um intruso naquele quarto expusesse todos os seus segredos. À exceção do pai, e da finada mãe, eu fui a única pessoa que ele levou para lá e, sabendo disso, me senti privilegiado e jamais mencionei a quem quer que fosse, que alguma vez estive ali. E, tudo isso, sem mencionar o que mais me deixava estarrecido, uma vez que eu era exatamente o oposto de tudo aquilo. O Jeff era muito calorento, dizia que estava cozinhando dentro das roupas e não tinha paciência de deixá-las sobre o corpo por muito tempo quando tinha que estar num lugar minimamente apresentável. No dia-a-dia, ou estava sem camisa, ou usava umas camisetas velhas e surradas das quais ele mesmo, de posse de uma tesoura, cortava as mangas sem nenhum critério, deixando cavas imensas das quais saíam seus braços musculosos e de onde se via seu sovaco peludo. Essas também só iam parar na máquina de lavar quando ele mesmo, ao cheirá-las já não suportava o fedor de suor. Toda vez que saíamos com galera, ele pedia minha opinião sobre sua aparência, e eu era sincero.
- Como está essa camiseta, combina com a calça?
- As duas já deviam ter virado pano de chão!
- Tá doido! São as minhas preferidas, estão amoldadas ao meu corpo!
- Amoldadas é eufemismo! Elas já saltam sozinhas sobre o seu corpo, você quer dizer!
- Nem sei por que ainda te pergunto essas coisas! Para você nunca nada está bom! – revidava ele. – Você acha que esta camiseta está fedendo, usei só ontem? – questionou, cheirando a peça amarrotada que tirou de cima de uma cadeira.
- Ontem? Quando fez 32 graus na sombra? Fala sério, Jeff! Às vezes tenho dúvidas se você tem um único sensor olfativo nesse nariz! – nunca mentia para ele e, embora nem sempre ele gostasse, era uma das coisas que mais valorizava em mim.
- Isso quer dizer que está fedendo! – concluiu ele
- Tem seu cheiro! Tem cheiro de suor! - amenizei
- Sair com você é um saco, sabia? Justamente por você estar sempre cheirosinho como se tivesse acabado de sair do chuveiro é que todos acham que estou fedendo como um gambá! – revidou.
- Aqui, vamos aplicar desodorante nesse sovaco cheio de pelos e vista essa camiseta e essa calça, elas combinam entre si e valorizam seu corpo, vai ficar lindo! – sugeri, pegando duas peças limpas no armário dele.
- Essa porra de desodorante me dá coceira, e essa camiseta tem mangas que vão ficar grudadas nas minhas axilas e vão dar um calorão danado! – protestou, ao ter parte do corpo coberto por tecido.
- Não seja exagerado! Nem está tão quente e você não vai sentir calorão algum, está de noite e até um pouco fresquinho lá fora. – devolvi, quando alisei a camiseta sobre o tronco maciço dele.
- Fresquinho é você, sempre todo arrumadinho! – resmungou.
E aqui cabe um segredo. Certa feita, ele esqueceu uma camiseta e uma cueca no meu quarto quando dormiu em casa um final de semana em que o pai tinha ido providenciar umas peças danificadas de um dos barcos, e que não conseguiu encontrar na loja da cidade. Foi justamente num dia em que tivemos educação física no colégio e ele ainda participou do jogo de basquete depois da aula. Como de costume, ao se enfiar debaixo do chuveiro do meu banheiro, ele atirou tudo o que estava sobre seu corpo para todos os lados. Fui recolhendo as peças pelo chão e, num ato impensado, ao estar com a camiseta suada nas mãos, levei-a até o rosto afundando-o nela e aspirando o cheiro do Jeff, fazendo o mesmo quando recolhi a cueca. Nenhuma das duas tinha um cheiro repugnante, tinham o cheiro de Jeff, um cheiro que inebriava, um cheiro que entrou nos meus pulmões e fez meu tórax se agitar. Enfiei ambas debaixo do meu travesseiro e, por uma semana, dormi sobre elas, aspirando aquele aroma másculo. Daí para afrente, nunca mais enxerguei o Jeff como antes, e tudo nele passou a me fascinar, detalhes que nunca observei antes faziam dele o cara mais incrível que eu conhecia, gigante forte e dócil.
Outro motivo que fez daquele um verão diferenciado, foi o fato de eu estar completando dezoito anos, bem no auge dele. Algumas semanas antes já comecei a me preocupar com as invencionices da minha mãe, para quem os aniversários constituíam um motivo para se fazer uma enorme festa com direito a todo tipo complementos. Tinham sido assim durante toda a minha infância e do meu irmão, festas com muitos convidados, faixas reluzentes, bandeirolas penduradas por toda casa, fotografias mostrando cenas marcantes de anos anteriores e, numa ocasião, diga-se de passagem bastante embaraçosa, todos os meus colegas de escola tiveram a chance de me ver completamente nu aos cinco anos durante um acampamento que fizemos naquele ano. Foi o assunto do mês, que circulou por todo colégio, com a galera zoando comigo o quanto podia. Desde então, eu ficava ressabiado com essas festas que ela fazia questão de organizar.
- Nada de festa este ano, OK, mãe! Vou me encontrar a noite com meus amigos e já está para lá de bom! – preveni
- Que graça tem isso, Ryan? É uma data importante, só se faz 18 anos uma vez, você é um meninão às portas da fase adulta, não vamos deixar de comemorar em grande estilo. E isso não está em discussão – disse ela fechando a questão
- Sua mãe tem razão filhote, é uma data especial! Precisa ser comemorada! – anuiu meu pai. O que significava que eu era voto vencido.
- Mas não me invente nada que vá me deixar constrangido! Nem faça parecer uma festa infantil, a do ano passado foi um vexame total! – exclamei, quase certo de que pagaria outro mico.
Quando o Tyler e eu começamos a andar juntos, ele tinha uma banda formada pelo primo dele, Lukas, por outros dois colegas do colégio, Hunter e Chase e por uma garota que era a vocalista da banda e cuja família se mudara para outro Estado. A banda surgira durante um festival promovido pelo colégio para despertar talentos e a criatividade dos alunos como parte da disciplina de artes. Eles venceram a competição e, a partir daí, começaram a se apresentar nas festas noturnas que aconteciam durante o verão, em festas comemorativas e até em alguns barzinhos descolados da cidade. Durante o verão passado, só por gozação, a garota e eu fizemos um dueto numa apresentação na praia para a qual a banda tinha sido convidada. Foi um sucesso tremendo e, com a saída dela, o Tyler me pediu para assumir o papel de vocalista. Desde então, eu fazia oficialmente parte da banda, e chegava até a juntar alguma grana com as apresentações pelas quais éramos pagos. Com o fim do nosso namoro, eu perdi o tesão e o Brad fez de um tudo para que o Tyler e os outros carinhas me tirassem da banda, pois temia que o Tyler pudesse ter uma recaída e voltasse a namorar comigo. Cheguei a presenciar algumas discussões entre os dois por conta desse ciúme, o Tyler alegando que minha função na banda não tinha nada a ver com o namoro deles, mas o Brad insistia no meu afastamento por começar a notar que o Tyler não era bem o que se podia chamar de um cara fiel. Em meio a muitas brigas entre os membros da banda, encontraram um cara que havia participado de outra banda que acabou se desfazendo à medida que os componentes ou ingressavam na universidade e se mudavam ou simplesmente encontravam outra distração. No primeiro mês daquele verão o cara foi o vocalista deles nas apresentações que já estavam agendadas. Porém, ele não suportava as intromissões do Brad que nem parte fazia da banda, e após uma briga na qual chegou a se engalfinhar com o Tyler que foi tomar as dores lamuriosas do Brad, ele deixou a banda desfalcada às portas de outras apresentações já contratadas.
- Volte para a banda, Ryan! É um pedido especial meu, pelo que tivemos juntos! – veio o Tyler numa tarde que me procurou em casa.
- O que tivemos juntos, Tyler? Você me trair com o Brad pelas minhas costas? – questionei, pois ainda não tinha superado a traição
- Sei que agi mal com você, mas tivemos bons momentos, você não pode negar! Aquela tarde chuvosa na minha casa em que tirei seu cabaço foi especial, não foi? – ele me fazer lembrar daquilo me deixou ainda mais furioso.
- Só se foi para você! Para mim foi o maior erro da minha vida! Me entreguei para um cafajeste e me arrependo até hoje! – retruquei
- Naquela tarde você não pensava assim! Seu cuzinho estava louco para encapar e sentir minha pica! – não negue que te fiz sentir sensações que você nunca tinha sentido antes. Formamos um casal cheio de tesão, eu gostava de te enrabar e você gostava de levar minha rola no cu.
- Cala essa boca, Tyler! Fico puto só de ouvir você falando desse jeito, como se eu fosse um veadinho que só se interessa por rolas. Vá se foder! Vá foder o Brad, aquele babaca iludido que fica arrumando confusão tentando não virar corno.
- Tá, então esquece o que eu falei, mas volta para a banda! Estamos fodidos sem você, essa é a verdade. Volta, a galera só quer você! – insistiu.
- Tem uma condição! Uma condição inegociável! Não quero ouvir uma única palavra que saia da boca do Brad, não quero ver a cara dele durante os ensaios e nas apresentações também, se possível. Se aquele filho da puta me disser um “ai” que seja, eu caio fora, combinado? – eu gostava dos demais componentes da banda, estava fazendo isso por eles, e por que curtia ver a galera dançando e se divertindo enquanto estávamos no palco.
- Vou tentar, prometo!
- Tentar o cacete, Tyler! Ou você mantém aquele desgraçado longe de mim, ou pode esquecer! – exigi
- Tá, eu juro que ele fica longe! – ele estava prometendo algo que sabia que não ia poder cumprir, mas arriscou.
Não sei qual foi a estratégia que ele usou, mas o Brad não me aporrinhou nenhuma vez durante aquele verão, e eu segui sendo o vocalista da banda.
Eu não sabia como eram os verões em outros países, especialmente naqueles em que o verão parecia ser a única estação do ano. Mas, na pequena cidade onde nasci e me criei, eles eram marcantes e também, seguindo meio que o que a própria natureza nos ensinava, era a estação antecedida pela primavera, do rejuvenescimento, do acasalamento, de casais estarem se formando, de pessoas instigadas pela leveza ou quase ausência de vestuário se sentirem estimuladas a transar até lhes faltarem as forças. As baladas findavam em verdadeiras orgias, trepava-se como se aquelas semanas, com data certa para terminar, fossem a única chance de fazer sexo, de encontrar uma paixão, um amor quando tudo dava certo. O fim do meu romance como Tyler, antes de se mostrar uma oportunidade para também sair à caça de uma nova paixão, deixou aquele verão com cara de nostalgia, de que a felicidade era mais efêmera do que se supõe, de que um grande amor talvez só existisse nos romances ou nos filmes, e de que eu não estava predestinado a viver esse sentimento.
- O mundo não acabou só porque o babaca do Tyler terminou com você! Essa tua cara só vai afastar os carinhas ao invés de te ajudar a conquistar um. – disse-me a Cindy, numa tarde em que estávamos andando de skate pelo calçadão que acompanhava a praia central da cidade.
- E o que você quer que eu faça, que compre outra cara na loja da esquina, que faça uma plástica para mudar essa aqui? Eu achava que o Tyler e eu fossemos ficar juntos para sempre! – retruquei.
- Para sempre não existe, enfia isso nessa sua cabecinha de romântico apaixonado, e iludido! Tudo acaba! E, para ser bem sincera com você, acho que foi o melhor que podia te acontecer! O Tyler não é homem para você! Seu homem está por aí, livre, desimpedido, esperando por você, esperando por todo esse amor que você tem guardado aí dentro! – devolveu ela.
- Virou psicóloga, ou vidente! Já que está tão sabichona, me diz onde está esse meu homem livre e desimpedido, que eu vou lá buscá-lo agora mesmo. – afirmei
- Você não vai encontrá-lo enquanto estiver com essa cara de “Ah, o Tyler me largou, e eu sou a mais infeliz das criaturas” – ninguém vai querer chegar nem perto. Bota um sorriso nessa cara, mostra que você está aberto e disponível, abre teu cuzinho e berra aos quatro ventos – vem que eu estou aqui te esperando. – a maluca não tinha papas na língua.
- Você sabe que eu não sou assim! Quer que me pareça com um veadinho rameiro? Ademais, eu seria um doido se seguisse seus conselhos. Se fossem coisa que presta você não estaria aí tão sozinha e desiludida quanto eu! – retorqui.
- Essa foi cruel! Tá bom, não falo mais nada! Quer curtir sua dor de cotovelo, pois curta! – revidou zangada.
Agosto estava terminando, mais duas semanas e eu teria que deixar a cidade, minha casa, meus pais para seguir para a universidade na Califórnia. Havia um misto apreensão e medo em mim, nunca tinha deixado nenhuma dessas coisas por mais que umas poucas semanas quando ia passar férias na casa dos meus avós. De resto, minha vida sempre foi aqui. Apesar de achar a Cindy uma maluquinha, me deixei influenciar por sua sugestão, nem tanto por acreditar nas palavras dela, mas por puro desespero mesmo. Não queria que aquele verão terminasse sem eu ter encontrado um carinha legal, mesmo que fosse para trocar apenas uns amassos e uns beijos, pois a falta dessa intimidade que eu tinha o Tyler ainda me doía. Assim, acabei dando trela para dois turistas que tinham acompanhado quase todas as apresentações da banda e me procuraram no final das baladas com aqueles papos típicos de uma chavecada, lançando a isca para ver se pescavam o vocalista tesudo, e que ele recebesse seus cacetes estourando de tesão na bundinha rechonchuda. Só que, na hora H rolaram apenas os amassos e uns beijos, muito dos chochos para falar a verdade; porque meu cuzinho não merecia que eu me comportasse levianamente.
Meu aniversário, como eu havia previsto, virou o mesmo mico dos anos anteriores, o que me fez ter uma discussão com a minha mãe, depois outra com meu pai que tomou as dores e o partido dela, fazendo com que não nos falássemos por toda uma semana, deixando um clima horrível às vésperas da minha partida. Eu me sentia incompreendido, nada estava dando certo naquele verão, virar adulto é uma verdadeira merda.
Na penúltima apresentação da banda, na maior e mais sofisticada balada em que nos apresentamos, acabei me desentendendo com o Tyler por conta do Brad que ele não conseguiu controlar como havia prometido e que, de última hora, quis que ele mudasse o repertório. Nenhum dos componentes da banda concordou com o palpite furado do Brad, não tínhamos ensaiado o bastante as músicas que ele quis que o Tyler incluísse na apresentação.
- Sou eu quem vai cantar essas porras e não me sinto preparado, teria que ter ensaiado bem mais, não vou pagar vexame na frente de todo mundo! – aleguei, já sem paciência, depois que os outros componentes tinham gasto seu repertório de objeções.
- A verdade é que você nunca esteve preparado! Entrou para a banda por pura falta de opção, eu sempre fui contra! – exclamou o Brad.
- Cala essa sua boca, imbecil do caralho! Você nem ao menos faz parte da banda, o que está opinando, seu merda? – revidei descontrolado.
- Meu namorado é o dono da banda, o que me dá o direito de falar o que eu quiser! – retrucou.
- O Tyler não é dono de nada! A banda só existe porque todos nós estamos empenhados nela! E você é um filho da puta de um palpiteiro intrometido que não apita porra nenhuma! Vá se foder, cretino! – eu tinha chegado no meu limite.
- Enquanto ele fodia seu cu você o achava o máximo, agora desdenha dele, é isso seu veado? Todo esse seu mau humor é falta de um cacete no cu! – sentenciou o infeliz, antes de eu partir para cima dele, derrubando-o sobre a areia fofa e cobrindo-o de porradas.
A galera precisou me tirar de cima dele, quando a bicha, gritando histericamente, viu que o nariz estava sangrando. De tanta adrenalina alimentando minha raiva, eu continuava socando aquela cara entojada sem dó nem piedade, enquanto ele berrava pedindo a ajuda do Tyler. Ele me mandou parar e, como não lhe dei ouvidos, me arrancou de cima do namorado e minha raiva se voltou contra ele, fazendo com que também lhe desse uns socos. Puto comigo, o Tyler me deu uns bofetões, e ia me bater mais, não fosse o Jeff intervir.
- Seu merda! Pois fique com a sua banda e esse veado do caralho, eu estou fora! – berrei, enquanto o Jeff me apertava em seus braços para que eu não voltasse à briga.
A banda acabou ali, naquele meio de madrugada, pois os outros componentes, também putos e desgastados pela intromissão do Brad, resolveram debandar.
- Ainda temos a última apresentação desse verão contratada, o pessoal já pagou pelo show, vocês não podem sair agora! – exclamou o Tyler, numa tentativa de nos fazer desistir. Ninguém se sujeitou e ele teve que devolver a grana para o contratante, da qual já havia gasto uma boa parte comprando uma moto para o Brad.
Foi mais uma coisa que foi para o brejo naquele verão e na minha vida. Depois disso, o pouco do havia restado da minha relação com o Tyler, respeito, coleguismo, consideração por tudo que tivemos juntos, se acabou. O cara que tirou meu cabaço agora era meu inimigo, um sujeito que eu não queria ver nem pintado a ouro na minha frente.
- Que verão de merda! – afirmei, quando o Jeff e eu nos afastamos do barzinho onde havia ocorrido a balada e fomos dar uma caminhada pela praia na tentativa de desanuviar a raiva e a frustração que eu estava sentindo.
- Não se deixe influenciar pelos acontecimentos ruins, se você pensar bem, eles nem foram tantos assim, teve muito mais coisas legais. E, daqui a duas semanas estaremos na Califórnia, numa nova vida, com outras coisas com que se preocupar e distrair. – ponderou ele, pois também deixaria a cidade por ter entrado na mesma universidade que eu, apenas num curso diferente.
- Estou me sentindo perdido, Jeff! Eu sempre sabia o que queria, sempre fiz as coisas que gostava e elas davam certo, todos gostavam de mim e agora tudo desandou. É só encrenca para todos os lados! Será que vai ser sempre assim de agora em diante? – questionei.
- Claro que não! Você continua sendo o cara legal, talentoso, amigo e tesudo de sempre. Acho que a pressão por estar deixando sua casa e sua família e o receio do desconhecido é que estão te deixando tão angustiado. Vai dar tudo certo, você vai ver! E depois, eu estarei por perto, vai poder contar comigo toda vez que precisar. – disse ele, quando interrompemos a caminhada e nos sentamos frente a frente numa pequena elevação próxima a altura onde a maré estava trazendo as ondas com sua crista branca de espuma.
- Promete não se afastar de mim? – eu estava numa carência danada, e aquele gigante gentil de olhar doce seria meu único vínculo com o passado que eu estava deixando para trás.
- Prometo! – asseverou, me puxando contra seu tronco nu e quente.
Por alguns minutos não dissemos nada, ficamos observando a lua e as estrelas sobre o mar escuro que parecia não ter fim no horizonte, e tinha a mesma aparência sombria que estava em nossos peitos. O verão do Jeff também não foi o que ele esperava. Aconselhado por mim, ele foi procurar a Tcheska quando ela e o namorado romperam. Declarou-se para ela, confessando que fazia tempo estava gostando dela e nunca havia dito nada para que ela não se sentisse pressionada.
- Fiquei esperando a minha vez, mas ela disse que não queria se envolver com ninguém por enquanto, que precisava de um tempo sozinha para avaliar o que queria. Eu achei que íamos nos entender, e que íamos transar. Que idiota iludido eu fui! – revelou-me ele, pois a conversa entre ele e a Tcheska tinha ocorrido naquela tarde.
- Sinto muito, Jeff! Ela não faz ideia do cara maravilhoso que está perdendo! Não repita que é um idiota! Você é o cara mais doce e generoso que eu conheço! – devolvi consternado.
- Considerando que você não conhece tanta gente assim, isso não é nenhum consolo! – retrucou
- Não estou te consolando! Só estou dizendo que você é maravilhoso!
O Jeff sempre colocava os interesses dos outros na frente dos próprios. Era um amigo leal que sempre estava ali para apoiar todo mundo, sem que ninguém enxergasse a tristeza que trazia dentro de si, ou se importasse com ela. O jeitão calado e retraído dele impedia que as pessoas se aproximassem ou ousassem invadir sua privacidade, exceto eu. Já tinha tentado entrar naquele mundo em que se escondia nas poucas aberturas que ele dava, mas sempre acabava esbarrando numa barreira intransponível com a qual ele se blindava. Ele me encarava desolado e num rompante de ternura, encostei minha boca na dele. Sua primeira reação foi de imobilidade total, depois me afastou desnorteado.
- Desculpe, não sei o que me deu! Desculpe, eu não ... sei que você é heterossexual, eu não quis te ofender! – disse, todo atrapalhado achando que ele também acabaria brigando comigo por ter feito aquilo.
- Não foi nada! Esquece!
- Jura que não está bravo comigo? Sei que você gosta de garotas, eu não fiz por mal. – eu não sabia como me justificar. Tudo o que não queria era perder aquela amizade de tantos anos, isso seria o fim para mim.
- Eu nunca te enxerguei como gay, para mim você sempre foi o cara legal, lindo, carinhoso que não tem sexo. Não é homem nem mulher, é simplesmente o Ryan, a pessoa de quem eu mais gosto nessa vida. – confessou ele, voltando a aproximar seu rosto tão perigosamente do meu que cheguei a sentir um frenesi perpassando minha coluna.
- Eu também gosto muito de você Jeff, sempre gostei! – afirmei, confirmando o que ele já sabia e sentia fazia tempo.
Naquela noite estávamos ambos carentes, frustrados, com um sentimento de solidão que deixava um enorme vazio e que parecia nunca mais querer sair do nosso peito. E, de repente, nossos olhares enxergaram o que nunca tinham visto antes, um ao outro. Os rostos foram se aproximando, um reboliço fazia os corações baterem mais rápido, os lábios titubeantes se tocaram fazendo o calor penetrar fundo na alma, o beijo cauteloso começou a ganhar ímpeto, virou tesão, as línguas impacientes e excitadas se procuravam. As mãos, inicialmente perdidas, foram encontrando um espaço no corpo do outro, deslizavam vorazes sobre a pele quente que tocavam e faziam crescer o tesão. Um puxou o tronco do outro para mais próximo de si, eles se roçavam num abraço que prendia, que sufocava e que permitia sentir o frenesi do outro pulsando ávido. O desejo explícito estava ali, os corpos ardentes pediam pela conjunção, arfava-se em êxtase, balbuciavam-se palavras desconexas, o Jeff se inclinava cada vez mais sobre mim, enquanto eu afagava sua nunca e ia lentamente abrindo as pernas para que ele ficasse encaixado entre elas. Uma de suas mãos desceu pelo meu flanco até agarrar uma das minhas nádegas amassando-a, a excitação ao sentir sua ereção roçando minha coxa me fez gemer.
- Não! – exclamou ele, de repente. O encanto se desfez. – Isso não vai dar certo! Eu não ... – sem concluir a frase e sem conseguir me soltar, havia se formado uma interrogação em seu semblante.
- Por que não vai dar certo, Jeff? Eu te quero, e sinto que você também me quer! – retruquei incrédulo. – É por que eu sou gay? Você não quer fazer comigo por que não sou uma garota?
- Não! É que eu nunca ... – novamente a frase ficou pela metade, sem que ele tivesse coragem de prosseguir, temendo parecer ridículo diante de mim.
- Você nunca transou? – perguntei, o que o fez se retrair.
- Você vai tirar uma com a minha cara, mas é isso. Sou virgem, ridícula e avexadamente virgem! – exclamou.
- Jeff, você é maravilhoso! Nem ridículo nem vexatório, você é lindo, atraente, tem tudo o que se pode desejar num parceiro. Eu te quero, Jeff! – devolvi, acariciando o rosto dele.
- E se você não gostar! Eu não sei fazer!
- Eu tenho certeza que vou adorar! Você vai saber exatamente o que fazer, na hora certa, do jeito certo, do seu jeito. – respondi.
- Você sempre sabe o que eu sinto Ryan, sempre sabe o que me dizer, sempre me entende é por isso que gosto tanto de você! – retorquiu, deixando que meus afagos e meus beijos fizessem o tesão fluir.
O cacetão estava encaixado entre as bandas da minha bunda, pulsando impaciente. Eu o prendi travando os glúteos, o que fez o Jeff agir rápido, guiando a cabeçorra até apontá-la sobre a maciez da minha rosquinha anal. A penetração foi desajeitada e bruta desferida pelo tesão incontido, e rasgou minhas preguinhas com a mesma pungência do gume de uma faca. Eu soltei um grito ao mesmo tempo que meus esfíncteres se travavam involuntariamente numa reação primitiva de autopreservação.
- Viu, eu disse que isso não ia dar certo! Estou te machucando! – exclamou ele, sem saber se tirava a pica da maciez que a prendia ou se continuava a enfiá-la naquele casulo úmido e receptivo.
- Devagar, Jeff! Vai devagar, senão eu não aguento! – respondi, voltando a puxá-lo sobre mim e beijando sua boca.
O sabor dele foi me fazendo relaxar a musculatura anal, ele sentiu como ela envolvia estritamente sua rola grossa e, lentamente a meteu em mim com impulsos fortes, mas gentis. À medida em que entrava em mim, dilacerando meus esfíncteres, eu gania e gemia, recebendo-o com todo o carinho que sentia por ele. Os beijos tórridos me traziam alento para o cu que estava sendo arregaçado pelo caralhão voraz dele. Ele metia, fazia o cacetão deslizar justo e apertado pela minha mucosa anal me preenchendo como nunca tinha sido preenchido antes, profunda e determinadamente. O Jeff grunhia e arfava pronunciando meu nome em total êxtase. Deixava-se aninhar pelos braços que o envolviam, pelas minhas mãos que acariciavam suas costas largas, pela minha bunda que se abria para receber seu falo e onde o sacão dele batia a cada estocada vibrante.
- Ryan, seu tesão! Agora eu sei porque os caras andam tão loucos atrás do seu rabo, nunca senti nada tão maravilhoso quanto esse cuzinho apertando meu cacete! – balbuciou ele, na cadência excitada do vaivém que abrasava meu ânus estreito.
Quando ele me encarou, cheio de ternura e deslumbramento pelo que estava sentindo, e aquela cumplicidade que era só nossa, eu não consegui mais me segurar, gemi alto e gozei esporrando fartamente meu ventre. Ele também já ia se perdendo no clímax incontrolável que se apoderava de seu baixo ventre, contraindo toda a musculatura, retesando o sacão ingurgitado e pronto para explodir. O grunhido gutural aflorou com tudo em seus lábios cerrados enquanto os jatos de porra cremosa iam se derramando dentro de mim, inundando meu cuzinho com seu sêmen profícuo.
- É a noite mais feliz da minha vida, Jeff! Obrigado, meu querido! Obrigado! – sussurrei com os olhos marejados, numa felicidade que não cabia em mim.
- É a minha mais feliz também, Ryan! Você a fez tão especial! Você me fez o cara mais feliz desse mundo, Ryan! – ronronava ele deleitado pelo prazer inusitado e ímpar daquele gozo farto que acabara de liberar.
Ficamos engatados até o cacetão dele amolecer por completo, o que levou um bom tempo, como se o desejo ainda o estivesse mantendo à postos. Os espasmos e o ardor no meu cuzinho também pareciam não estar dispostos a se privar daquela carne quente que pulsava dentro dele. Enquanto isso, nós nos beijávamos selando aquela intimidade que seria só nossa dali para a frente.
Ao me levantar, após ele ter tirado o caralhão do meu cuzinho, notei que aquele visgo pegajoso que escorria pela parte interna das minhas coxas não era o esperma dele, mas sangue das minhas preguinhas dilaceradas. Isso nunca tinha acontecido antes, nem mesmo no dia em que o Tyler tirou a minha virgindade. Eu só consegui olhar para o Jeff ainda mais radiante e emotivo. Ele acabara de tirar meu cabaço, ele me fez sentir o que é perder a virgindade para um macho, e eu, naquele momento, só queria abraçá-lo e cobri-lo de beijos.
- Olhe o que eu fiz com você! Te machuquei! Eu disse que isso não ia dar certo! Como pude fazer isso com você? – penitenciava-se ele, me apertando contra seu tronco
- Você não podia ter sido mais maravilhoso, Jeff! Eu nunca tinha sentido isso antes, eu nunca tinha sentido o que é me entregar para um homem de verdade. – devolvi, com os olhos úmidos.
Estava amanhecendo quando chegamos à casa dele. Nenhum dos dois cabia em si de tanto contentamento. Todos aqueles anos morando vizinhos, todos aqueles anos de uma amizade pura e única, todos aqueles anos sem nem desconfiar que nos completávamos tão plenamente.
Eu estava sob a ducha do banheiro do quarto dele, tirando a areia da praia que havia se impregnado nos meus cabelos e parecia estar pinicando por todo o corpo, bem como lavando aquele sangue que ainda estava no meu reguinho, mesmo depois de eu ter entrado no mar para lavá-lo. O Jeff se enfiou em seguida comigo no box, e me abraçou por trás. Junto com a encoxada voraz veio um chupão no pescoço e um beijo ardente na boca. Quando me virei de frente para ele para encarar aquela carinha satisfeita e resplandecendo de contentamento, pude avaliar as dimensões daquele corpão completamente nu. Foi a primeira vez que o vi nessas condições, e com toda aquela exuberância de músculos, não consegui refrear o frenesi do qual fui tomado. Confiante e assanhado com sua primeira experiência sexual, com o sucesso e o prazer daquela foda, ele só pensava na próxima.
- Gostou? – perguntou, com um sorrisinho lascivo, quando me viu admirando seu dote sob uma luz clara que enaltecia todo seu tamanho e potência.
- É fofo! – respondi, fazendo meus dedos indicador e médio caminharem sobre a trilha central de pelos de seu tórax maciço.
- Fofo? Só fofo? – questionou, com certa indignação. – Eu achei que você pelo menos ia dizer, fascinante, maravilhoso! Mas, fofo! – exclamou, fazendo uma carinha de decepção. – Eu gostaria de ter ouvido – grande – isso sim! – emendou.
- Isso eu não precisava confirmar, basta olhar para ele e ver que é enorme! Enorme e fofo! – repeti, tomando seu rosto entre as mãos e beijando-o com todo meu carinho. Um sorriso de satisfação e orgulho se formou na carinha petulante e hirsuta dele.
A água que caía da ducha escorria pelo corpão maçudo dele que eu não conseguia parar de admirar. Como nunca me dei conta do Jeff ser um macho tão tesudo? Todos esses anos ele foi apenas o vizinho colega, o molecão parrudo que era como se fosse um irmão, o garotão cheio de músculos e testosterona que estava sempre ali para os papos típicos de adolescentes. Agora, depois do que aconteceu na praia e, especialmente nesse momento, quando esse caralhão que está no meio das pernas musculosas dele e que me arregaçou o cuzinho, se mostra tão sensual quanto ele próprio, eu só conseguia enxergar o mais incrível e fantástico homem que conhecia.
- O que está me olhando tanto? O que há de errado comigo? – perguntou, ao notar meu olhar de fascínio sobre seu corpo nu e molhado.
- Não há nada de errado com você, pelo contrário, tudo é tão perfeito, tão incrivelmente lindo! – respondi, ao mesmo tempo em começava a me ajoelhar a seus pés enquanto a mão espalmada sobre seu tronco ia deslizando e acariciando seu ventre trincado.
- O que está fazendo? – perguntou, quando o toque libertino da minha mão voltou a excitá-lo.
- Nada! – respondi, com o rosto quase colado à benga retona, grossa e cabeçuda que começava a salientar o emaranhado de veias que a circundava, provocando uma ereção sedutora. – Ou melhor, isso! – emendei, colocando o falo pesado na boca e lambendo a glande exposta.
- Ryan! Ryan! – grunhiu ele excitado, circundando meu rosto com uma das mãos.
- O que foi, Jeff? Não está gostando?
- Não, não é isso! Você está me deixando maluco, Ryan! Você está com meu caralho na boca, Ryan! Cacete, Ryan, isso é ... isso é .... Ryan, como isso é maravilhoso! – balbuciou, deixando-se envolver pelo prazer que minha boca aveludada chupando sua verga proporcionava.
Ele não tirava os olhos de mim, não perdia um lance sequer, enquanto eu chupava devotamente aquela cabeçorra que preenchia toda minha boca. Logo comecei a sentir a sabor salgado de seus eflúvios e sorvia-os deliciado por seu sabor viril e seu aroma almiscarado. A pica do Jeff era suculenta e saborosa, e endurecia numa rapidez estonteante com meus toques e afagos. Lambendo e mordiscando aquele mastro de mais de um palmo de comprimento meus lábios se dirigiam ao sacão globoso e enorme que pendia abaixo do caralhão parcialmente imerso naquele matagal de pentelhos grossos. O Jeff não parava de emitir uma espécie de arrulhar gutural, suas pernas, onde eu apoiava uma das mãos não paravam quietas no lugar, ele tinha minha cabeça entre as suas mãos, e inspirava profundamente puxando o máximo de ar que conseguia como se não houvesse o suficiente para arrefecer aquele tesão que queimava dentro dele.
- Ryan! Não vou conseguir segurar, Ryan! Caralho, Ryan, eu vou ... eu vou ... – ergui os olhos na direção dele, ele me encarava, a mão espalmada sobre o ventre dele conseguia sentir a musculatura dele se retesando, a chapeleta inchava cada vez mais na minha boca, e minha expressão determinada lhe dizia que eu queria seu néctar virileu vou gozar, Ryan! – explodiu entre os lábios dele, simultaneamente a esporrada que ia colocando um jato atrás do outro do esperma almiscarado dele na minha boca, e que eu ia engolindo com a avidez de um viajante sedento no deserto. Ele não parava de me encarar, incrédulo, satisfeito, explodindo de tanto prazer ao sentir meus lábios sugando sua virilidade.
Quando saímos da ducha, mal conseguíamos nos secar na urgência que ardia em nossos corpos. O Jeff me ergueu em seus braços e me deitou sobre sua cama bagunçada. O cheiro másculo dele estava impregnado em tudo, eu gemi o nome dele e, de ladinho, montou sobre a minha bunda, cujo reguinho ligeiramente apartado, facilitava o encaixe de sua virilha e do cacetão que continuava tão duro quanto uma rocha. Eu gani quando o caralhão me penetrou a musculatura rota e sensível do coito anterior, e ele voltou a se lembrar do quão delicada e frágil era aquela rosquinha plissada que o encapava. Senti seu beijo carinhoso selando meus lábios como forma de me recompensar pela dor. Ao retribuí-lo na mesma intensidade e paixão, o Jeff foi se empurrando para dentro mim, com estocadas potentes, até seus bagos baterem contra meu reguinho arreganhado. Eu empinava a bunda, me oferecendo a sua sanha, e sentia minhas entranhas sendo profundamente estocadas pela rigidez maciça de seu membro sequioso. A dor e o prazer estavam tão mesclados que eu não os diferenciava, o que me levava a ganir pronunciando o nome dele numa bruma de êxtase sem tamanho e, em meio a ela, gozei com o pinto comprimido contra o lençol, quase sufocado pelo orgasmo. O ímpeto dele não esmorecia, o movimento de vaivém do cacetão esfolava minha mucosa anal ao mesmo tempo em que, contraída pela dor, se apertava firmemente ao redor dele amplificando o prazer que o Jeff sentia no meu casulo tenro, ainda encharcado de porra do coito anterior. Quando se derramou mais uma vez abundantemente nas minhas entranhas, ele se estremeceu todo agarrado ao meu corpo enquanto sussurrava meu nome junto ao meu ouvido. Exaustos por estarmos há vinte e quatro horas sem dormir, adormecemos engatados e abraçados, com os raios do sol que entravam pela janela cobrindo nossos corpos nus.
Passava do meio-dia quando acordei sentindo que o Jeff ainda estava dentro de mim. O sentimento de nunca ter experimentado uma felicidade tão plena me impediu de sair daqueles braços musculosos que me envolviam. Levei um tempo até me conscientizar de que meus pais deveriam estar aflitos com a minha ausência. Eu nunca ficava tanto tempo fora de casa sem uma explicação.
- Jeff! Jeff!
- Hã!
- Jeff!
- Hã! É cedo, estou um bagaço!
- Jeff! Acorda, passa do meio-dia! Tenho que voltar para casa! – exclamei, o que o fez se agarrar ainda mais ao meu tronco e a encaixar sua virilha às curvas das minhas nádegas. – Meus pais devem estar malucos com o meu sumiço!
- Seja bonzinho e fique aqui comigo! Eu amo você, Ryan! Não quero sair de dentro do seu cuzinho! – ronronou sonolento.
- O que seu pai vai pensar quando nos vir aqui nessas condições?
- Que você e eu trepamos a noite toda!
- E você diz isso nessa cara de pau? Vai ser um puta escândalo!
- Vou dizer que você é meu namorado! Depois, vou na sua casa te pedir em casamento! Aí vou poder te comer a hora que eu quiser! – ele apenas grunhia as palavras e se esfregava todo em mim como um gato pedindo dengo.
- Você não está falando coisa com coisa! Junto com essa porção de esperma que você inoculou em mim deve ter vindo metade do seu cérebro, seu maluco! Acorda, Jeff! Preciso ir, é sério! – retruquei, procurando sair dos braços dele.
- Você é meu agora! Seu lugar é aqui, na minha cama, fazendo amor comigo!
- Só que o mundo lá fora não parou, não se vive só de transar, seu safado tarado! – devolvi, pois ele não me soltava.
- Estraga prazeres! – balbuciou, mais desperto e menos disposto a se separar de mim.
Quando descemos demos direto com o pai dele. Fiquei encabulado e percebi que corei. O pai do Jeff me viu crescer na casa ao lado, era amigo do meu pai, o que só aumentava meu constrangimento.
- Bom dia, senhor Dusen! – cumprimentei, sem coragem de encará-lo.
- Boa tarde, seria o mais apropriado! – respondeu ele. – O que andaram aprontando a madrugada toda? Sua mãe esteve aqui esta manhã te procurando. – revelou.
- Foi a última apresentação da banda na temporada! Demorou mais do que imaginávamos. – respondi.
- Ficou tarde e eu disse que o Ryan podia dormir aqui para não ter que acordar os pais! – ajudou-me o Jeff.
- Sei! E aí resolveram dormir pelados e agarrados no meio daquela bagunça do seu quarto? – ele sabia o que havia rolado entre nós e eu queria evaporar no ar.
- Existe outro jeito de a gente transar sem ser agarrado e pelado? – perguntou o Jeff, com a maior cara de pau.
- Jeff! – recriminei-o
- Agora sentem-se aí que o almoço saiu atrasado, e vocês deve estar famintos depois de queimarem tantas calorias! – exclamou o pai dele com um sorriso irônico tirando uma com a nossa cara.
- Tenho mesmo que ir para casa, senhor Dusen, obrigado!
- Senta aí moleque, seus pais já sabem onde você está e estão despreocupados! E pode tirar essa expressão de culpado da cara que ninguém aqui vai julgar o que vocês fizeram! Isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde, portanto, não pensem que alguém vai se surpreender com isso. – sentenciou ele, espalhando meus cabelos como se eu fosse um garotinho. Eu e o Jeff nos entreolhamos com um sorriso traquinas.
Passamos boa parte daqueles poucos dias que faltavam para a nossa ida à Califórnia envolvidos com os preparativos para mudança e transando assim que surgia uma brecha de oportunidade. Nossos pais decidiram rachar as despesas de uma pequena moradia próxima à universidade. Não sei precisar de quem partiu essa ideia, mas parecia estar claro para eles que o Jeff e eu estávamos começando uma relação que resultaria num casal homossexual num futuro não muito distante. Eu, secretamente, tinha as mesmas esperanças, pois aquela noite na praia foi tão marcante para mim que fez desabrochar uma paixão por ele.
Disciplinar o Jeff não foi uma tarefa fácil. Acostumado com seu quarto desarrumado, exemplo irrefutável do caos, ele levou esse estilo de vida para o pequeno apartamento que dividíamos. Em questão de dias, a zorra reinava entre aquelas paredes de espaço exíguo, o que para mim era algo inaceitável. Na segunda semana tivemos nossa primeira briga, e fomos dormir em quartos separados. Ele achou que bastava fechar a porta de seu quarto com toda a desordem lá dentro, para que eu voltasse às boas com ele e permitisse que ele voltasse a enfiar o caralhão no meu cuzinho, ou no meu quarto, ou nalgum outro lugar do apartamento. Para manter a coerência da minha decisão, não o deixava dormir na minha cama, mas com a clareza dos pensamentos embotada pelo tesão, aceitava que ele me enrabasse quando estava tomando banho ou quando estava preparando uns lanches a título de janta quando regressávamos da universidade esfomeados. Logo, até isso me aborrecia, pois toda vez que chegava em casa, o apartamento parecia ter sido varrido por um tsunami. Eu já não me espantaria se um dia fosse abrir a geladeira e fosse dar de cara com uma cueca dele lá dentro. Rolou mais uma briga, dessa vez um pouco mais séria, um mês sem trocarmos uma única palavra.
- Fui à secretaria de apoio aos estudantes e requisitei uma vaga num dormitório da universidade. Tão logo obtenha uma resposta vou me mudar daqui. O apartamento é todo seu, faça a zorra que quiser por aqui, já não me importo mais. – comuniquei, depois daquelas quatro semanas em que estivemos de cara virada um para o outro.
- Você não pode fazer isso! Amanhã mesmo você volta lá e avisa que não quer mais a vaga! Eu não vou permitir que você saia daqui! – ameaçou ele.
- Não aguento viver assim, no meio da sujeira e da baderna que você faz! Já tomei minha decisão e está acabado! – retruquei
- Você é um veado cheio de frescuras! Não tem nada de errado na minha maneira de ser e de fazer as coisas. Aliás, é assim que os homens são, os homens machos eu me refiro. Por isso você não está acostumado com a minha maneira de organizar as coisas. – o safado ainda se considerava o certo nessa questão.
- Sua maneira de organizar as coisas? Que piada é essa? Você nunca soube o significado da palavra organizar. Você vive no caos! Seu pai pode ter sido muito tolerante com você, mas eu não sou e não vou me sujeitar a isso! – afirmei
- Arre Ryan, que às vezes me dá vontade de ... de ... Cacete, Ryan, não me provoque, seu molequinho mimado, veadinho reclamão, detalhista, exigente, que não quer se sujar, não pode ver uma roupa amassada, não pode ver uma coisinha qualquer fora do lugar que já começa a ter chiliques. – bradou zangado
- Você tem vontade do quê, Jeff? Fala para mim, do que você tem vontade? De me dar umas porradas, é isso Jeff? Eu falo isso e cobro que você seja mais ordeiro para o seu próprio bem, seu imbecil, e não porque sou um veadinho com chiliques! – devolvi exasperado. – Quero ver como vai ser sua vida profissional se continuar com esses hábitos, ninguém vai tolerar tanta desorganização. E já que chegamos ao ponto de você querer me dar umas porradas por eu te cobrar um pouco de organização, o melhor a fazer é mesmo me mudar daqui. – concluí.
- Você não pode me deixar, eu não vou permitir! – revidou obstinado
- E desde quando você manda em mim, ou no que eu decido? – questionei desafiador
- Ah, Ryan! Cacete, cacete, cacete, Ryan! – rosnou ele, fechando ambos os punhos e esmurrando a parede. – Tudo bem, eu aceito fazer umas mudanças! Me diga o que devo fazer para você parar de ter achaques de frescura! Porém, vou logo avisando, vou ceder só um pouco, em nome do amor que sinto por você e do bom convívio! – eu sabia o quanto aquilo estava sendo difícil para ele, por mais lógico e racional que fosse o meu pedido. Fui até ele, tomei seu rosto em minhas mãos e o beijei. Ele se fez de durão no início, mas quando sentiu meus lábios se movimentando sobre os dele, me puxou contra seu tórax e me devorou num beijo devasso.
Como era um sábado, quando não havia aulas, fizemos uma faxina geral no apartamento, o que não levou mais de três horas. Para mim o resultado foi um ambiente salutar, para o Jeff era indiferente. Contudo, ele admitiu que gostou de me enrabar naquela tarde chuvosa entre os lençóis recém lavados e perfumados. Tenho para mim que foi menos a limpeza de sua cama e mais o meu corpo saído do banho e a chuca no meu cuzinho os responsáveis pela satisfação dele. Até houve uma melhora, mas de tempos em tempos voltávamos a ter discussões sobre o mesmo assunto.
O fato de estarmos morando juntos, de transarmos com regularidade, de termos feito um círculo de amizades comuns e de termos muitas afinidades, nunca nos levou a conversar sobre o nosso relacionamento. Aquele acordo tácito jamais foi verbalizado, embora eu entendesse que estávamos namorando ou que, pelo menos, estávamos sentimentalmente juntos. Por isso, quando o Jeff começou a fazer programas com algumas garotas que conheceu na faculdade onde eu não havia sido convidado, senti que não éramos tão unidos quanto eu imaginava, nem que aquele compromisso não formalmente expresso, de fato existia. O que eu podia cobrar dele, se nunca nos comprometemos um com o outro? Como eu podia exigir qualquer tipo de fidelidade, se jamais houve um acordo que nos prendesse um ao outro? Entre nós havia tão somente aquela antiga amizade de infância, aquela noite mágica em que eu o ajudei a deixar de ser virgem, e aquelas transas deliciosas que aconteciam quando o tesão nos levava por esse caminho. Afora isso, cada um tinha sua vida, e não se via obrigado a dar satisfações a respeito dela. Infelizmente, eu conhecia esse novo sentimento que surgiu assim que o Jeff começou a sair com essas garotas, eu estava com ciúmes dele, e com medo de o perder, já que ele agora sabia muito bem como conquistar alguém e fazer sexo com quem quer que fosse para explorar ao máximo seu potencial viril.
Ele não se prendeu a ninguém por muito tempo, o que procurava nessas garotas e até com uns carinhas pelo que também constatei era sexo. Depois que descobriu como era bom foder, como era bom ter suas necessidades de macho saciadas, como era fabuloso usar e ter prazer com aquele seu dote descomunal, ele apenas estava dando vazão aos seus instintos, estava aproveitando a sua juventude e seu vigor físico. Sua ligação mais longa e relativamente constante, continuava sendo comigo. Porém, me doía saber que quando transávamos era porque ele não tinha outro compromisso. O que eu podia fazer, prensá-lo contra a parede e mandá-lo se decidir se queria ou não namorar comigo? Exigir que me fosse fiel quando nunca falamos sobre estarmos comprometidos? Fazer imposições que talvez acabassem com a nossa amizade, que era o que de mais puro a valioso eu tinha? Não, eu não podia fazer ou exigir nada dele. Eu podia sim, confessar minha paixão, mas que peso isso teria sobre a liberdade a que ele tinha pleno direito por estar no auge da juventude, quando ainda se está descobrindo quem somos e o que queremos? Seria injusto para ambos, pois eu mesmo ainda estava tentando descobrir o que queria da vida e com quem. E assim, continuamos a levar aquela amizade sem que nenhum dos dois fizesse imposições ao outro. Passamos os cinco anos da universidade nessa indefinição do que era aquele relacionamento que tínhamos.
A cada verão voltávamos para a nossa cidade, matávamos a saudade de casa e da família, reencontrávamos os antigos amigos que também regressavam de seus compromissos fora, e ajudávamos nossos pais nos negócios que fervilhavam na temporada. Ao longo desses cinco anos, em dois deles, fui convidado a participar como vocalista de outra banda que se formara durante a minha ausência, mas que emplacou já no primeiro verão, sendo requisitada para quase todas as baladas da temporada. Era uma galera que eu não conhecia, tinham se formado amadoristicamente como diversas outras bandas na garagem de um dos componentes, e foi ele quem tinha ouvido falar de mim em verões passados e resolveu me procurar. Mesmo tendo que ajudar meu pai no hotel, de querer usufruir das férias surfando ou fazendo programas com os amigos que não via há meses, acabei aceitando o convite. O cara que montou a banda se chamava Todd, a família tinha se mudado para a cidade pouco depois de eu ter me mudado para a Califórnia, era poucos anos mais velho do que eu e rolou uma empatia entre nós já no primeiro encontro. Ele trabalhava com o pai e um irmão na oficina de barcos que montaram na cidade, próximo ao cais. Quando me procurou para fazer o convite, estava acompanhado de uma garota da cidade que eu já conhecia de vista, mas com quem nunca havia tido contato. Deu para perceber que o interesse dele pela garota devia se restringir a foder a buceta dela, enquanto ela parecia alimentar esperanças de um compromisso mais sério e duradouro, o que a fazia agir como um cão de guarda cada vez que uma garota de aproximava do Todd. Em poucos ensaios da banda, aos quais ela sempre dava um jeito de estar presente, percebi que ela estendeu sua vigília sobre mim também. Devia ser aquele sexto sentido que as mulheres têm ao farejarem que seus machos estão dedicando um interesse maior que o necessário a uma potencial rival. Ela já devia saber que eu era gay, embora não fosse notório; alguns antigos amigos sabiam que o Tyler não tinha sido apenas um amigo, mas que eu era seu namorado, e deviam ter contado para o Todd a minha condição. Daí ela achar prudente manter uma vigilância estrita sobre mim e o namorado. Carinhas com meu corpo, minha fisionomia, minha expansividade e, principalmente, com uma bunda tão generosa quanto a minha eram tão ou mais perigosos do que qualquer outra garota, na visão dessas mulheres inseguras e ciumentas.
O Todd não escondeu a surpresa ao me ver pela primeira vez; ele não imaginava que eu tivesse tanto carisma, nem que tivesse um corpo tão sedutor, e expressou seu agrado com essa constatação na frente da garota, afirmando que seria um bom chamariz para as apresentações da banda. No íntimo talvez estivesse pessoalmente interessado por esses predicados, mas isso ele só expressaria mais tarde, quando não houvesse testemunhas para julgar seu interesse e seu tesão por outro cara.
Quem também não gostou de eu ter aceito o convite para participar da banda foi o Jeff. Sua implicância com o Todd foi imediata e até resultou numa discussão que quase chega às vias de fato, quando de um incidente sem importância, ocorrido numa noite em que estávamos num barzinho acompanhados pela galera de sempre. Na hora, achei que o Jeff tinha ficado tão puto por ciúmes, mas depois percebi que sua implicação era pura questão de dois machos que não conseguem dividir o mesmo território e que isso nada tinha a ver comigo. Cheguei a pensar que ele finalmente tinha se rendido a mesma paixão que eu sentia por ele, porém, foi só imaginação minha, nada mais.
Depois daqueles cinco anos na Califórnia, onde nunca me envolvi com ninguém, sempre achando que a qualquer momento o Jeff ia descobrir que me amava e queria ficar comigo, regressamos já formados para a nossa cidade, eu publicitário e ele engenheiro. Diversos outros amigos do tempo de adolescentes também estavam na cidade naquele verão, igualmente regressados de universidades espalhadas pelo país e com seus respectivos diplomas debaixo do braço. Portanto, aquele verão também teve um sabor especial, seria o início de uma nova fase em nossas vidas, a adulta, a de passar a batalhar pela nossa independência financeira e profissional.
Naquele ano não participei das apresentações da banda do Todd, tínhamos tido alguns conflitos entre os componentes e eu não queria arrumar mais confusão com a persistente implicação do Jeff com ele. Porém, naquele verão conheci o Drew, um publicitário que gerenciava a área de marketing numa renomada agência em Baltimore, ele estava passando as férias na cidade acompanhado de uns parentes que moravam no Estado e costumeiramente alugavam uma residência durante os verões.
Ainda era cedo, o sol começava a esquentar, eu tinha pego minha prancha e fui curtir as ondas que tinham a previsão de serem propícias para aquele dia. Havia um bocado de surfistas na água, sentados sobre as pranchas esperando por uma onda ideal. Vesti o Short John sobre a sunga ali mesmo na praia e me juntei a eles na linha antes da arrebentação. Cumprimentei a galera que já conhecia e esperei por uma onda propícia. Quando uma delas começou a se formar, diversos surfistas se prepararam para dropar o paredão de água azul escuro que se elevava com força total. Fui um deles e, quando estava dentro do túnel, fui abalroado pela lateral e lançado para dentro d’água junto com o sufista que me atingiu.
- Tá doido cara! Que porra foi essa? – questionei furioso pelo descuido perigoso do sujeito.
- Cara, foi mal! Perdi o equilíbrio, desculpa! – retrucou ele, sincero e gentil.
- Podíamos estar fodidos a essa hora! – exclamei, ainda sob o impacto da besteira dele.
- Eu sei, desculpe! Não foi intencional, juro! Você está bem? Se machucou? – perguntou preocupado.
- Não! Estou bem! Não graças a você! – respondi, embora o local onde a prancha dele bateu na minha coxa estivesse latejando, e me obrigasse a sair da água mancando e tendo que dar por encerrada minha tão sonhada manhã surfando.
- Foi mal, verdade! Machucou a coxa! – exclamou, quando tirei o Short John para massagear o local atingido. – Sou o Drew! Posso fazer alguma coisa por você? – emendou prestativo, só então reparei bem naquele rosto.
Que macho! Foi tudo que consegui pensar naquele momento. O cara era simplesmente um tesão de macho, grande, ombros largos, braços que começavam com deltoides proeminentes e continuavam com bíceps enormes, pernas grossas e robustas igualmente musculosas tudo salientado sob o Long John aderido ao corpão atlético. Sua cabeleira adquiriu uma aparência selvagem quando sacudiu a cabeça para tirar a água dos cabelos e uma barba densa por fazer deixava aquele rosto viril incrivelmente sedutor. Minha raiva passou no momento em que aquele par de olhos verdes pousou interessado na minha nudez, apenas coberta pela sunga.
- Ryan! – exclamei amistoso. – Não precisa perder as ondas por minha causa, estou bem! – afirmei.
- Haverá outras! Mora aqui perto, quer que te acompanhe até em casa? Estava mancando, deve estar doendo bastante.
- Estou legal! Vou massagear a coxa um pouco, e deve melhorar. – disse, sem conseguir me concentrar noutra coisa que não naquele macho sentado tão próximo de mim.
- Posso? – perguntou, começando a amassar os músculos da minha coxa com suas mãos enormes, antes mesmo de eu lhe dar uma resposta. Eu ia dizer que não precisava, mas ao sentir o calor delas, senti meu cuzinho se contorcendo.
Alguns amigos que tinham visto a queda também saíram da água e vieram me prestar assistência, e um deles acabou me dando uma carona até em casa. O Drew, sensibilizado, se desculpou mais uma vez quando lhe sorri timidamente ao nos despedirmos.
Na noite seguinte, encontrei-o numa balada, acompanhado dos primos onde estava hospedado. Apresentei-o ao Jeff, à Cindy, à Tcheska e aos demais amigos que estavam comigo.
- Como está a coxa? – perguntou, assim que se sentou ao meu lado, apoiando o braço sobre o espaldar da cadeira na qual eu estava sentado. Notei que o Jeff arregalou os olhos quando viu aquele braço musculoso tão próximo das minhas costas.
- Com um hematoma multicolorido, mas ainda aqui, pronta para outra. – respondi brincando, enquanto minha imaginação voltou a ver aquelas mãos deslizando sobre a minha pele.
- Ainda bem, seria um crime se algo de mais sério acontecesse a ela! – ninguém que ouviu a observação dele duvidou de se tratar de uma cantada, e eu fiquei sem resposta e senti minhas faces mais quentes do que deveriam estar.
Ao longo das semanas seguintes daquele verão a minha conexão com o Drew só foi crescendo, fazia tempo que eu não ficava tão interessado num cara que, diga-se de passagem, tinha tudo com o que um gay podia sonhar. Nossas conversas duravam horas sem nos darmos conta disso, os assuntos fluíam e, embora nem sempre concordássemos com o ponto de vista do outro, havia, no final, uma compreensão e um respeito que só nos faziam engrandecer aos olhos do outro. Durante uma dessas conversas, que aliás desagradavam o Jeff profundamente, o Drew me perguntou como era uma relação entre dois homens, como era ser gay apaixonado por um heterossexual, e se eu já havia tido essa experiência. Até ali eu nunca havia mencionado meu relacionamento como Tyler, nem que fazia uns cinco anos que estava tendo relações sexuais com o Jeff com alguma regularidade e, muito menos, mencionei que nutria uma paixão nunca confessada por ele. Minha resposta à pergunta dele foi que sim, pois ambos eram heterossexuais com alguma afinidade por gays. Não citei os nomes deles, mas acredito que do Jeff, por conhecê-lo, ele desconfiasse de alguma coisa, uma vez que aquele ciúme que ele demonstrava por mim não era algo sem importância. Depois da minha resposta, fui eu quem lhe dirigiu a mesma pergunta.
- Não! Nunca tive nenhuma experiência com outro cara. Já notei que alguns gays olhavam com certo interesse por mim, pelo físico muito provavelmente, mas nunca me importei com isso ou demonstrei qualquer interesse que os encorajasse a prosseguir. – respondeu. – Por quê? – emendou
- Por nada, só curiosidade! Não é uma pergunta que um hetero costuma fazer a um gay, só por isso! – respondi.
- É que nunca conheci um gay como você! – exclamou
- O que você quer dizer com isso? Por acaso sou algum tipo diferente de gay? – questionei intrigado.
- Não se ofenda! Nem sei se existem tipos diferentes de gays, o que eu sei e constato a cada um dos nossos encontros, é que você é um gay especial. – a maneira como ele olhava para mim ao dar sua resposta me deixou surpreso. – Um gay por quem estou fortemente atraído, um gay que eu gostaria de conviver e conhecer na intimidade. Eu gosto de você Ryan! – completou, me deixando sem chão e sem argumentos.
- Veja só do que são capazes esses verões de sol abundante, de corpos expostos, de emoções afloradas! Não à toa tantos amores passageiros de verão acontecem a cada temporada, tenho visto isso desde adolescente. – afirmei.
- Eu gostaria de viver um amor desses com você, porém não passageiro, não que finda com a estação, mas que se prolongue. – ele havia deixado as indiretas de lado, bem como as cantadas sutis, e estava afirmando com todas as letras as suas intenções para comigo.
- Não sei o que te dizer! Só sei que te acho atraente e sedutor, que fazia tempo não encontrava alguém tão maravilhoso como você e, também não nego, que te acho um tesão de homem. – consegui finalmente expressar, pois já não conseguia mais esconder meus sentimentos.
- Talvez estejamos prontos para ir adiante, o que me diz? – perguntou, segundos antes de aproximar seu rosto do meu e começar a tocar suavemente seus lábios nos meus, o que acabou se transformando num demorado e sensual beijo que instigou a ambos.
A noite só não acabou com nossos corpos nus enroscados e engatados numa cama porque eu inventei uma desculpa esfarrapada para não trepar com ele. Ao pressentir que estávamos caminhando para esse desfecho, me foquei no Jeff, no que sentia por ele, em nosso relacionamento indefinido e achei que se me deitasse com o Drew o estaria traindo de alguma maneira.
Enquanto isso me impedia de me envolver com o Drew, o Jeff voltou a correr atrás da Tcheska que estava novamente livre. Dessa vez ela não o dispensou como fizera anos antes, ela trepou com ele semana após semana, fazendo-o acreditar que finalmente tinham um caso. Não, um caso não, que ela também nutria algum sentimento por ele. E talvez eu fosse o único que sabia que aquilo não era verdade, que ela tinha encontrado no Jeff o alento pelo fim de seu relacionamento anterior, que ele não passava de um pinto útil para o saudosismo de sua vagina, enquanto ele vivia a ilusão de um sonho que estava se realizando.
- Estou tentando entender esse seu súbito interesse pelo Jeff! Pelo que me lembro você já o dispensou uma vez com a afirmação de que jamais teriam nada juntos. O que mudou, Tcheska? – perguntei, numa tarde em que fomos tomar um sorvete nos quiosques da orla.
- Ele gosta de mim, eu dele, não tem nada para entender! – a resposta seca dela já era um indicador de que aquele sentimento não era recíproco.
- Você sabe que o Jeff, por trás aquele corpão de macho, não passa de um meninão sensível e carente, não sabe? Não o machuque, Tcheska! Você já fez isso uma vez! Ele não merece! – afirmei.
- Agora sou eu quem está querendo entender qual é o seu interesse nisso! Por acaso você virou o guardião dele? Ou será porque está com ciúme do que ele sente por mim e não por você? – devolveu ela, irônica.
- Eu me importo com ele, com a felicidade dele, não quero ver ninguém se aproveitando dos sentimentos dele para encobrir as próprias carências. – respondi
- Você deveria cuidar da sua vida, não da dos outros! Eu sei que vocês andaram trepando, eu e muita gente mais, mas isso não te dá o direito de controlar os passos dele. – naquele momento percebi que a Tcheska havia mudado ao longo daqueles anos, que não era mais aquela garota com quem eu tinha uma amizade sincera e sólida.
- Estou longe de controlar os passos do Jeff! Como eu disse, só quero que ele seja feliz, não importa com quem. Assim como também sempre quis a sua felicidade, embora você talvez duvide disso!
- Tanto eu quanto o Jeff somos adultos, sabemos o que queremos, e não precisamos da opinião ou conselhos dos outros para isso! – retrucou ela.
- Assim espero Tcheska! Assim espero! E, principalmente, que ninguém saia ferido dessa história. – revidei.
Uma vez que minha conversa com a Tcheska se mostrou infrutífera, caí na besteira de querer alertar o Jeff quanto a ele talvez estar se iludindo com aquele pseudo romance. Ele ficou furioso comigo, me acusou de estar dando o cu para o Drew e quem sabe para quantos mais como tinha feito na faculdade, me disse que nunca tinha se enganado tanto com uma pessoa quanto comigo, me acusou de estar querendo acabar com o amor que a Tcheska sentia por ele, por puro despeito, e me jogou na cara nem sei quantas coisas que não sei porque ficou guardando todo esse tempo.
- Você está me traindo com esse cara! Desde que o conheceu está diferente! O cacete dele deve ser muito bom ou bem maior que o meu para você se oferecer todo para ele, feito uma puta. Então faça bom proveito, fique com ele! Faça como fez na faculdade, dê o rabo para o primeiro caralho que queira te enrabar! Eu já não sirvo para você, portanto, me deixe em paz, me deixe viver o amor da minha vida! Me esquece, Ryan! Vá se foder com o Drew no raio que os partam! – despejou enraivecido, sem eu menos saber de onde vinha tanta mágoa.
- Eu nunca te traí! Nunca, Jeff, nem uma única vez! Quem fez isso foi você, durante cinco anos na universidade transou com quem aparecia pela frente. Eu nunca disse nada porque sabia que você como homem estava experimentando de tudo, que estava testando todas as possibilidades da sua virilidade, e nunca reclamei ou falei nada para te impedir de viver suas experiências. Mas, elas me machucavam Jeff, você não faz ideia do quanto elas me machucavam. Só espero que, quando a Tcheska te revelar que não te ama como você imagina, haja alguém do seu lado para segurar sua mão e te dar o colo que eu sempre te dei. – devolvi magoado.
- Esteja certo de que esse dia nunca chegará! Não se você parar de se intrometer onde não deve! – não consegui conter o choro, a atitude dele era totalmente injusta.
Diante desse término abrupto, se é que se pode chamar de término algo que nunca teve uma definição, eu acabei cometendo o mesmo erro que a Tcheska, apoiei-me no Drew. Não foi intencional ou premeditado, aconteceu devido as circunstâncias e me vi envolvido com ele antes do que esperava. Não o usei, apenas deixei que aquela atração mutua fosse aumentando até estarmos num relacionamento onde havia muito sexo, muito sexo e muito bem-querer que fazia a ambos felizes.
Com o fim do verão, o Drew me chamou para trabalhar com ele na agência de Baltimore. Tinha conversado com os donos e falado de mim, obtendo carta aberta para me contratar. Fiquei animado e feliz com meu primeiro emprego, com o fato de ter um cara tão especial e tesudo como ele na minha vida e, mais uma vez, deixei a minha pequena cidade litorânea para trás, com tudo o que ela e as pessoas que sempre estiveram comigo desde criança representavam.
Morei os dois primeiros anos em Baltimore com o Drew, tivemos um relacionamento puro e verdadeiro, com muito sexo e entrosamento. Ao mesmo tempo, minha carreira deslanchou, aprendi muito com ele, um professor tão generoso quanto era o macho que metia seu cacetão no meu cuzinho todas as noites. Nunca imaginamos que aquilo teria um fim, até o dia em que ele recebeu uma proposta para ser o CEO de uma agência ainda maior em Nova Iorque. Ele não tinha como recusar e eu senti que não faria mais parte desse sonho dele. Eu estava bem em Baltimore, tinha sido convidado a ocupar a vaga dele e, em termos amorosos, sabíamos que tínhamos vivido tudo que era possível. Não houve discussões, desentendimentos, houve apenas um adeus consensual, sem mágoas ou ressentimentos.
Eu podia seguir com ele para Nova Iorque e procurar outro emprego por lá, podia. Ele podia, como CEO me colocar nalguma função na agência, podia. Mas, cada um analisando suas próprias necessidades, sabia que nosso tempo juntos tinha acabado. Não o que continuávamos a sentir um pelo outro, isso não acabaria nunca, porém o convívio sob o mesmo teto, esse sim, findou.
Ao todo fiquei oito anos em Baltimore. Nunca mais havia regressado a minha cidade, nunca mais tinha visitado meus pais ou passado as férias de verão por lá com receio de me deparar com velhos fantasmas e recordações dolorosas. Porém, um incidente mudou tudo. Meu pai tivera um enfarto, se recuperou, mas já não estava mais em condições de tocar toda a administração do hotel sozinho, comigo e com meu irmão vivendo longe. A mudança para meu irmão com esposa tocando uma carreira promissora e filhos em idade escolar era bem mais complexa e difícil do que a minha. Assim, de comum acordo, resolvi que ajudaria meu pai no negócio da família, abdicando da minha carreira. Em termos financeiros eu não estava perdendo nada, pelo contrário, mas quanto ao resto, especialmente aquele retorno forçado às lembranças do passado, tudo ainda era uma incógnita.
Os primeiros quinze dias após o meu retorno passei analisando a contabilidade do hotel que estava atrasada e me inteirando de tudo que tinha ficado para trás com a doença do meu pai. Só depois disso, entrei em contato com aqueles velhos amigos que ainda moravam na cidade, exceto o Jeff. Fomos marcando encontros para matar saudade e colocar o papo em dia conforme a disponibilidade de cada um, o que me fazia sair quase todas as noites. Devo ter deixado uma lacuna ao me mudar para Baltimore, pois todos se mostraram felizes com a minha volta.
- Já se encontrou com o Jeff? – perguntou a Cindy, que havia aberto uma confeitaria e com a esposa, uma garota belga que ela conheceu numa de suas viagens e com quem estava casada; de papel e tudo, como ela não se esqueceu de frisar.
- Não! – até então ninguém tinha me feito essa pergunta, o que achei bom, pois esse era o maior fantasma que deixei para trás ao partir.
- Não? Só, não! Vocês são vizinhos, e não se viram até agora? – perguntou indignada
- Não tive tempo! – inventei
- Ora Ryan, que desculpa sem pé nem cabeça! Faz três semanas que você voltou e não teve tempo de dar um oi para seu vizinho do lado! Ele está solteiro, você sabia? – o que eu bem sabia é onde ela queria chegar com aquele interrogatório todo.
- Ah, é! – foi tudo que respondi.
- Caralho, Ryan! Eu duvido que você não esteja interessado em saber como ele está, por que está solteiro, o que fez todos esses anos? Vocês sempre foram bons amigos, até mais do que isso, se bem me recordo. Como pode não estar curioso sobre tudo que aconteceu com ele. – ela estava louca de vontade de dar o serviço completo e meu desinteresse a estava mortificando.
- Sei que sua língua deve estar coçando de vontade de me fazer um relatório completo. Mas, sinceramente, Cindy, não estou interessado!
- Mas eu vou contar assim mesmo! Não me aguento mais! Ele e a Tcheska não ficaram juntos nem um ano. Ela deu um pé na bunda dele assim que conheceu o atual marido, que a engravidou antes mesmo do casamento. E que ninguém nos ouça, dizem estar por um fio, tamanhas as brigas. O Jeff ficou deprimido por nem sei quanto tempo. Primeiro sumiu, não se encontrava mais com a galera, não dava notícias, não respondia as ligações e mensagens, enfim desapareceu de circulação, embora estivesse na cidade. Quando voltou a dar as caras, era outro Jeff, aquele de antigamente, caladão, retraído, sem interesse por nada. Quando encontrava com alguém casualmente ficava perguntado de você, se tínhamos notícias suas, se ainda estava em Baltimore, se continuava casado com o Drew, se tinha conhecido mais alguém por lá. O cara era um verdadeiro saco, só falava de você o tempo todo. Teve algumas vezes em que, para não o mandar à merda, mandei que fosse atrás de você e se declarasse de uma vez por todas para acabar com essa agonia. Nem preciso te dizer para onde ele me mandava; e sumia novamente. Pelo que se saiba, nunca mais se envolveu com ninguém; ao menos seriamente, pois tarado como ficou depois que você o ajudou a perder a virgindade, umas trepadas sem compromisso ele com certeza deu. Fale com ele, Ryan, ele te ama! – exclamou, ao final de seu relato.
- E por que eu faria isso, Cindy? Para dizer a ele que eu o avisei sobre a Tcheska? Isso agora não faz mais nenhum sentido! – devolvi
- Não, sua toupeira! Para dizer que ainda o ama! – retrucou imperiosa.
- Quem te disse que eu ainda o amo? Foram oito anos Cindy, oito anos em que muita coisa aconteceu na minha vida, não quero andar para trás feito um caranguejo! – afirmei
- Só o fato de você o estar evitando é sinal de que seu amor por ele nunca morreu. – sentenciou
- Não diga besteiras! Deu para ser vidente?
- Está na sua cara, ô tontão! Nem adianta negar! – a Cindy sempre teve essa capacidade de me irritar quando atirava as verdades na cara da gente, sem dó nem piedade.
- Nem sei porque ainda continuo sendo seu amigo! Já devia ter te mandado à merda faz tempo! – retorqui
- Já perdi as contas de quantas vezes você fez isso, e eu continuo aqui, te obrigando a ouvir a verdade que você insiste em negar. – ela era mesmo um saco!
A aparição do Jeff no dia seguinte à minha casa não foi uma casualidade como ele quis fazer parecer quando entrou pela cozinha perguntando pela minha mãe e afirmando que o cheiro de bolo no forno tinha chegado até a casa dele, e que esperava ser o bolo de chocolate do qual ele tanto gostava. Minha mãe já estava habituada a essas aparições repentinas toda vez que assava um de seus bolos, pois isso acontecia desde a nossa infância.
- É o de chocolate sim, Jeff! Estou terminando de colocar a cobertura, só um pouco de paciência e uma generosa fatia será toda sua! – respondeu minha mãe, ao receber o beijo que ele lhe colocou na testa. – Prepare um café para nós, você sabe onde estão as coisas! – emendou ela, enquanto relutava em lhe contar que eu tinha voltado para casa, pois eu tinha proibido expressamente a ela e ao meu pai que comentassem sobre isso com ele. – Sabe quem está de volta? – indagou, não conseguindo segurar a língua.
- Não! Quem? – ele se fez de tonto, a Cindy dera todo o serviço, por isso ele estava lá bisbilhotando.
- O Ryan! Voltou faz umas três semanas. Vocês não se encontraram?
- Não, não nos encontramos! Ele perguntou por mim? – quis saber.
- Não! E até parece que o simples fato de mencionar seu nome dentro dessa casa já o deixa aborrecido. Vocês brigaram, Jeff? Quer dizer, vocês brigaram antes de ele tomar aquela decisão de se mudar para Baltimore às pressas? – perguntou minha mãe.
- Eu briguei com ele! Fui um estúpido! – confessou, pois para minha mãe ele não fazia segredo de nada e nunca lhe mentia.
- Então conserte a sua estupidez!
- Não sei se isso será possível! O Ryan agora me odeia! – disse ele
- Que odeia nada, Jeff! O Ryan jamais te odiaria, vocês cresceram juntos, foram melhores amigos. O que eu sei é que o Ryan gosta muito de você. Nunca entendemos porque vocês dois não se acertaram; desde que nos revelou que era gay, o Ryan sempre teve uma queda por você, nunca foi segredo. – minha mãe quando queria ajudar a consertar uma situação falava mais do que devia e dava sugestões demais.
- Ele disse que gosta de mim? – perguntou o Jeff, vendo uma luz surgir no fim do túnel.
- E precisa, Jeff? – inquiriu minha mãe, ciente da minha paixão reprimida por ele.
Eu estava descendo as escadas quando ouvi essa conversa entre os dois e, sorrateiro, saí pela porta do escritório do meu pai, atravessei o jardim para chegar à garagem e saí sem rumo, para digerir aquele diálogo que voltou a mexer com todas as minhas convicções. O sol estava se pondo quando, depois de estacionar o carro no calçadão da praia, fui caminhando descalço por ela, remoendo aquele passado doloroso. O céu tinha tons de alaranjado mesclados a azuis escuros, cinzas chumbo e violetas pálidos quando cheguei à ponta da enseada, no ponto exato onde naquela madrugada perdida na história eu o fiz descobrir os prazeres de deixar de ser virgem. Chutei a areia quando notei que tinha lágrimas nos olhos. Eu ainda amava perdidamente aquele desgraçado, e meu coração gritava isso com todas as suas forças em meu peito.
Na manhã do dia seguinte ele veio me procurar no hotel. Achei que meu coração fosse sair pela boca, ele estava ainda mais lindo e forte do que me lembrava. De repente, senti um calor, as mãos frias e suadas, um reboliço inexplicável pelo corpo e espasmos no cuzinho.
- Oi!
- Oi!
- Sua mãe me disse que você havia voltado. – mentiu, para salvar a pele da Cindy. – Três semanas, disse ela. Por que não me procurou? – Me desviei dele quando ele se aproximou para me abraçar, pois não sabia se não ia me atirar em seus braços só de sentir o calor daquele corpo; e eu não ia fraquejar agora, quando a culpa pelo nosso afastamento foi toda dele.
- Estive ocupado! Aliás, ainda estou! Tenho muitas coisas para checar! – exclamei, na expectativa de ele se tocar, e aquela conversa embaraçosa ficar para a posteridade.
- Ainda está zangado comigo? – era muita cara de pau.
- Por que eu haveria de estar zangado com você? Faz oito anos que não te vejo!
- Pelo que aconteceu!
- E o que foi que aconteceu, Jeff?
- Você me traiu com o Drew! – exclamou. Isso passou dos limites.
- Como é? Eu te traí? Essa conversa outra vez! Creio que vivemos histórias diferentes, pois a que me lembro não era assim! – a afirmação dele me eixou furioso, e eu não queria continuar aquela conversa nesse estado. – Aqui não é lugar para falarmos sobre isso! Além do mais, estou muito ocupado, Jeff! Se puder me dar licença! – exclamei, despachando-o ao me voltar para o funcionário que me aguardava com uma papelada a ser conferida.
- Que porra, Ryan! Temos que conversar! Faz três semanas que você voltou e não me avisou, nem deu as caras. Eu quero uma explicação! – insistiu petulante.
- Ah, você quer uma explicação! Pois bem, Jeff Dusen, você vai ter a sua explicação! – revidei soltando fogo pelas ventas. – Eu fui embora com o Drew, não porque te traí com ele, mas porque você me mandou, como foi mesmo a sua frase – ... me deixe em paz, me deixe viver o amor da minha vida! Me esquece, Ryan! Vá se foder com o Drew no raio que os partam! – não foram essas as tuas palavras? – questionei. – Pois eu fui, Jeff! Eu fui foder com o Drew sim, mas só depois de você ter me mandado, nunca antes! Eu nunca te traí com homem algum, já te disse isso, mas você não quer acreditar. Em vez de me exigir explicações, era você quem as devia dar, para que eu pudesse entender porque nunca foi capaz de me amar como eu te amo. – despejei, enquanto os funcionários a nossa volta, de ouvidos atentos, tentavam disfarçar com a cara afundada em qualquer coisa que estivesse diante deles.
- Você me ama? – aparentemente foi tudo o que ele ouviu do meu discurso.
- E isso importa? Isso alguma vez importou? – questionei.
- Sou um idiota! Fui tolo e estúpido!
- É, foi!
- Você estava certo, a Tcheska nunca me amou. Como pude ser tão imbecil? Como pude duvidar de você, Ryan? No fundo eu sabia que você não estava me traindo, mas eu tinha que achar um culpado para as cagadas que estava fazendo. E quem melhor que você, que esteve sempre ao meu lado, que estava lá quando não tinha com quem trepar, que estava lá quietinho tentando esconder a paixão que sentia por mim. Eu também estava apaixonado por você, perdida e loucamente; mas também queria curtir a minha masculinidade, experimentando tudo o que a vida tem a oferecer. Porque, no fundo, eu sabia que você sempre estaria comigo. Até o dia em que apareceu o Drew, eu já não tendo mais certeza de nada, e ele acabou te levando. Ele te comia com os olhos, parecia estar te fodendo só com o ar que exalava, e você já não recusava o assédio dele.
- Porque você me disse que eu estava atravancando o seu namoro com a Tcheska, então resolvi fazer o que me mandou, deixar o caminho livre e ir embora. Eu não ia esperar ela te abandonar e ver o sofrimento dessa ruptura no teu olhar, eu não ia aguentar, Jeff!
- O que aconteceu com a gente, Ryan?
- Aconteceu que nenhum dos dois estava pronto para assumir algo mais sério. Nos deixamos levar pelas suposições que cada um criou para si. Você achando que eu te traí, o que nunca aconteceu. Eu só me envolvi com o Drew depois que você me expulsou da sua vida. Eu, sentindo que você precisava de liberdade, tendo seus casos desde a faculdade e depois com a Tcheska, e onde meu amor por você não encontrava eco. O resultado foi que acabamos nos perdendo pelo caminho. – respondi.
- Eu sempre te amei, Ryan, sempre! O único garoto que me compreendia e não me censurava pelo meu modo de ser, o garoto que me chamava para sua casa e me emprestava sua mãe para que eu pudesse sentir o que é ter uma mãe que nos ama, o único garoto que eu permitia entrar no meu quarto, pois ele nunca compartilhava o que via ali dentro com mais ninguém; o garoto que me ensinou como o sexo é prazeroso, me proporcionando a noite e a melhor transa da minha vida. Eu te magoei, te machuquei física e emocionalmente, mas você continuava do meu lado, me suportando e acalentando minhas dores. Como pude ser tão imbecil a ponto de não perceber tanta paixão, tanto amor?
- Apesar de dois anos mais novo que você, sempre fui mais maduro! E você, imaturo!
- Imaturo, burro, idiota, imbecil, ciumento, grosseiro e mesmo assim você acabou de dizer que me ama! Eu só descobri o quanto te amava quando você foi embora, e eu achei que nunca mais fosse voltar. Quero consertar meu erro, Ryan! Quero que você seja meu, só meu, como antigamente.
Ele mal terminou de proferir essas palavras e interceptou o funcionário que se dirigia à recepção, embora o hotel estivesse praticamente vazio por não estarmos na temporada, e pediu a chave da suíte mais luxuosa. O funcionário me encarou em dúvida, se devia ou não atender o pedido. Quando questionei o Jeff sobre suas intenções ele fez mistério, apenas me mandou subir até a suíte, meio relutante acabei cedendo. Ele puxou o funcionário pelo braço afastando-o mais de mim, para que não pudesse ouvir o que estava tramando. Depois, me conduziu até os elevadores sem me dar respostas às perguntas que lhe fazia.
- Estou bastante ocupado, Jeff, é sério! Faltam quatro semanas para o verão e eu preciso resolver muitas pendências antes disso. Seja lá o que ainda quiser me falar, vamos deixar isso para mais tarde, à noite, lá em casa, ou amanhã talvez. – ponderei
- Não dá! Tem que ser agora, nem um minuto a mais! Não vou te deixar escapar, nunca mais, Ryan! – devolveu
Quando chegamos à suíte, ele me prensou contra a parede assim que fechou a porta. Colou desesperadamente sua boca na minha e começou a arrancar as minhas roupas, tão rápido que eu mal conseguia saber onde exatamente estavam suas mãos. Eu só fui senti-las quando se fecharam agarrando minhas nádegas nuas. Ele me ergueu por elas e me fez enlaçar sua cintura com as pernas. Sua boca quente e úmida não se separava da minha, a língua dele se movia dentro dela numa sofreguidão tamanha que nossas salivas já não tinham dono. O sabor de Jeff descendo pela minha garganta desencadeou um frenesi por todo o corpo, sobrevieram espasmos e tremores que ele podia sentir com seu corpo colado ao meu. O dedo impudico que roçava meu introito pregueado me fez soltar um gemido libertino. Enfiei minhas mãos sob a camiseta dele, espalmando-as sobre o peito e ajudando-o a se livrar dela. Ele me espremia feito uma lagartixa contra a parede com seu corpão tomado pelo tesão, enquanto abria o jeans para liberar o caralhão duro e melado. Eu gani quando o segundo dedo entrou no meu cuzinho vasculhando lascivamente minha intimidade. Pendurado ao pescoço dele, ele me deitou sobre a cama, terminou a tirar o jeans e nu, com o olhar cobiçoso ardendo de desejo, veio para cima de mim. Os beijos foram descendo dos meus ombros para os mamilos, que logo sentiram o ardor desenfreado do tesão que o consumia; foram chupões e mordidas que os deixavam marcados. Minhas entranhas convulsionavam, como se estivessem acometidas de uma cólica, desejosas daquele cacetão que resvalava nas minhas coxas.
- Ai Jeff! – gemi, como um pedido ansioso para ser fodido.
Quando ele pincelou o caralhão úmido no meu rosto, com aquele aroma almiscarado que eu conhecia tão bem, coloquei-o na boca e comecei a chupar. Foi a vez de ele grunhir, saudoso daquela boca que tantas vezes tinha lhe sugado o esperma abundante.
- Nenhuma boca trabalhou minha pica como a sua, com tanto afinco e carinho. – gemeu ele.
Tive a impressão daquele caralho estar maior do que da última vez que o tive na boca. Os latejos potentes o enrijeciam sob efeito das minhas lambidas e sugadas, fazendo verter um pré-gozo perfumado de macho. Coloquei uma de suas bolonas por vez na boca e as chupei e massageei com afagos de língua. Os gemidos dele mais pareciam o rosnar de um leão. Num rompante, ele me virou de bruços, abriu minhas nádegas, mordeu-as até me ouvir ganir, enfiou o rosto hirsuto no meu reguinho e lambeu meu anel corrugado. Eu me contorcia com o corpo clamando para ser possuído e usado da forma mais devassa que ele quisesse. Um dedo voltou a entrar no meu cuzinho, quase sem ar, soltei um gritinho libidinoso, uma espécie de pedido para que ele me fodesse. O dedo trabalhou minha fendinha estreita por um tempo, enquanto ele sentia como meus esfíncteres o aprisionavam e o queriam engolir. Quando o sacou lá de dentro, a cabeçorra do caralhão já estava pronta para ocupar o lugar, forçando as pregas que se distendiam aos poucos e começavam a desencadear aquela dor que todo passivo conhece muito bem quando o macho está prestes a enrabá-lo.
- Vai com calma, Jeff! Não se esqueça que você é enorme! – consegui balbuciar, enquanto meu cuzinho piscava na ponta do cacetão dele.
Com um único impulso impetuoso e forte, ele me penetrou. Meses sem entregar meu cu para um macho tinham estreitado meu introito e o deixado sem elasticidade. Eu gritei quando senti as pregas arrebentando, e os esfíncteres se rasgando para permitir a passagem daquela verga colossal e grossa. Instintivamente, meu corpo quis sair engatinhando para sair debaixo dele, mas o Jeff me abraçou o tronco e mordeu minha nuca, enquanto com suas estocadas potentes se empurrava para dentro de mim, assegurando a posse total do meu corpo. Mais rápido do que eu me abria para o cacetão dele, empinando a bunda, ele forçava a entrada através do casulo apertado socando minha próstata profundamente. Eram minutos de uma agonia que parecia não acabar nunca, antes dos primeiros sinais de um prazer mágico começar a se materializar. Quando estava tomado por ele, comecei a agasalhar aquela jeba que pulsava em mim como um animal selvagem. Dali em diante, era só me entregar aquele macho, desfrutando do prazer que sua sanha me proporcionava e dar a ele todo amor e carinho que havia no meu ser. Quando a boca dele se juntou à minha, meu gozo veio e me esporrei todo, gemendo e ganindo com ele bombando meu cuzinho. À medida em que intensificava as estocadas, se prendia com mais força ao meu tronco, amassando uma das minhas tetinhas em sua mão e dando chupões no meu cangote, seu corpo pesado se retesava, o vaivém ficava cada vez mais truncado, o Jeff arfava perdido no tesão da posse, do domínio assumido. Um estremecimento e liberação de um urro rouco antecedeu o gozo, e ele se derramou todo em mim, esporrando meu cuzinho arregaçado até deixá-lo encharcado com sua virilidade.
- Ryan, meu Ryan! Amo você mais do que tudo nessa vida! – ronronou ele, liberando os últimos jatos mornos de sêmen, envolto num prazer inebriante.
Demorou para o Jeff me soltar, o cacetão parecia não estar disposto a sair do meu cuzinho acolhedor, e amolecia sem pressa. Ele me abraçava com um dos braços, enquanto o outro tinha minha mão entrelaçada com a dele.
- Também te amo, Jeff! Nenhum homem me fez sentir o que você me proporciona. – confessei.
Eu estava deitado com a cabeça sobre o peito dele, meus dedos brincavam com os pelos que desciam do umbigo dele em direção à virilha; de quando em quando, ele colocava a mão dele sobre a minha e a conduzia até o caralhão, onde eu o envolvia e afagava, fazendo-o ronronar de tesão. Fui tirado daquele devaneio com as batidas na porta.
- Quanto tempo estamos aqui? Devem estar loucos à minha procura! – exclamei aflito, sabendo que aqueles momentos nos braços do Jeff estavam negligenciando coisas importantes a serem resolvidas.
- Fique exatamente onde está, eu ainda não terminei com você, e nem sei quando isso vai acontecer, até lá você é só meu! – disse ele, levantando e caminhando até a porta.
Ouvi ele cochichando com um funcionário, provavelmente o mesmo que ele interceptou na recepção. Após a porta se fechar novamente, ele surgiu empurrando um carrinho sobre o qual havia um balde com uma garrafa de champanhe e um buquê multicolorido de rosas brancas, vermelhas, rosa e champanhe. De repente, ele ficou sério, pegou o buquê e veio na minha direção, precisei segurar o riso, pois a seriedade de sua expressão não combinava com aquele caralhão balançando no meio de suas pernas.
- Quer se casar comigo, Ryan McKinley? – perguntou, ao se ajoelhar junto a cama.
Do quase riso, fui às lágrimas, ele nunca teve uma expressão tão séria e decidida estampada naquela cara que já devia ter visto um barbeador há pelo menos quatro dias. Então era mesmo verdade, ele estava mesmo apaixonado por mim. Ia pedir para ele me beliscar para saber se não estava sonhando outra vez com esse pedido que achei nunca fosse acontecer.
- Vai me deixar ajoelhado aqui o dia todo? – indagou. Só consegui pular no pescoço dele e cobrir sua boca com beijos tórridos e úmidos. – Acho que isso é um “sim”! – exclamou, com um baita sorriso na cara.
- Você acha que eu teria outra resposta a essa pergunta?
Ele não respondeu, soltou o buquê do meu lado, voltou a me agarrar, se enfiou no meio das minhas pernas e as colocou sobre os ombros, o caralhão entrou no meu cuzinho com a mesma intrepidez que um trem adentra a um túnel, e só parou quando o sacão dele bateu no meu reguinho apartado. Agarrei-me ao torso sólido dele, cravei as pontas dos dedos em suas costas e pedi para aquele prazer jamais acabar.
