ONDE AS SOMBRAS ACABAM - CAPÍTULO 1: VALE A PENA?

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2222 palavras
Data: 11/07/2023 02:25:34
Última revisão: 22/09/2023 02:19:49

"Onde as sombras acabam" é um romance inspirador que explora os encontros e desafios de um casal LGBTQIAP+ formado por um atleta e um desajustado, em meio a um cenário familiar opressor por ambas as partes.

Na história, conhecemos Jimmy, de 18 anos, um talentoso atleta que se destaca no time de futebol da escola. Ele é popular e carismático, sempre ajudando os colegas e amigos próximos. Porém, por trás da sua confiança, ele carrega um segredo: ele é gay. A pressão do mundo esportivo, familiar e o medo de ser julgado têm mantido Alex em um armário emocional, impedindo-o de viver autenticamente.

Outro personagem importante é Ethan Ward, um novo aluno que vai abalar as estruturas de Jimmy. O novato é apaixonado por literatura e ama escrever histórias fantásticas. Assim como Jimmy, Ethan enfrenta suas próprias batalhas e precisa lidar com os pais homofóbicos.

De início, Jimmy e Ethan se evitam, apesar de uma faísca surgir entre eles. Porém, depois de um incidente os dois passam a desenvolver uma arriscada e sedutora relação, que vai levá-los ao extremo da auto descoberta e aceitação, principalmente ao que diz respeito às suas famílias.

"Onde as sombras acabam" é uma história de superação de traumas, amor e aceitação, que destaca a diversidade e a importância de se abraçar a própria identidade. Mostra como a conexão entre pessoas que aparentemente são opostas pode ser o catalisador para uma transformação poderosa, não apenas para o indivíduo, mas também para a sociedade como um todo.

OBS: ALGUNS CAPÍTULOS VÃO TRATAR DE TEMAS DELICADOS COMO DEPRESSÃO E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. ENTÃO, SE VOCÊ FOR SENSÍVEL A QUALQUER UM DESSES TÓPICOS EU PEÇO QUE CONFIRA OUTRAS HISTÓRIAS MINHAS.

CAPÍTULO 1: VALE A PENA?

JIMMY

— Jimmy, porra! — gritou meu pai, enquanto eu estava no quarto. Levantei assustado e segui para a sala.

— O que...

Sou surpreendido com um soco no estômago, que me faz perder os sentidos e ficar de joelhos no chão. O meu pai gritava comigo sobre uma fatura, mas eu lutava para me manter acordado. Ele me levanta do chão e esfrega o papel no meu rosto.

— Estão me cobrando $ 13 para você participar do time de futebol. — papai se afasta e vai até a pia. — Você é um homem. Já tem 18 anos e pode arcar com os seus gastos!

— É a taxa padrão, pai. — o meu estômago ainda dói devido ao soco e tenho dificuldade para respirar.

— Sai daqui, porra! — a atenção dele se volta para a vizinha gostosa, que está dando um show no seu jardim. Aproveitei a oportunidade e escapei dele.

Eu não lembro como as surras começaram, mas elas sempre estiveram presentes na minha vida. A violência do meu pai é algo descomunal e que consumiu toda a minha família. A única pessoa que me quis, a tia Aileen, o desgraçado fez questão de afastar. Todos se afastaram, porém, me deixaram sozinho com ele, o meu pior pesadelo.

Qualquer coisa é motivo para descontrolar o meu pai. Eu lembro o dia em que ele me deu um soco por causa de um pouco de leite que derramei no chão. Eu não sei qual o problema dele, na verdade, eu não faço questão de saber. O meu único objetivo é me formar e vazar desse lugar horrível.

Nos corredores da escola, eu sou Jimmy Robinson, o garoto de ouro do futebol americano. Todos os alunos me conhecem e torcem pelo meu sucesso. Cumprimento alguns colegas e o meu melhor amigo, Trevor, que está animado com o término do ensino médio.

— E aí, Jimmy! Como foram as férias? — ele pergunta me abraçando e fazendo o meu estômago doer.

— Ótimo. Só malhei e trabalhei. — afirmo, mas não quis contar sobre o soco de bom dia que o meu pai me deu.

Nas últimas semanas, eu estou usando camisas de manga longa para esconder os hematomas e machucados. Eu poderia matar o meu pai, eu tenho forças para isso. Mas do que adiantaria? A única solução é ir embora. Ir embora e nunca mais voltar.

— James Robinson. — o professor de Geografia me chama, mas eu não escuto. — Jimmy. — ele me chama pelo apelido e os alunos riem da minha falta de atenção.

— Presente, professor. — respondo com o meu ânimo matinal de sempre.

A escola era uma espécie de refúgio. Aqui eu era o garoto de ouro, o capitão do time de futebol americano. Fazia de tudo para ter mais horas extras e não ter o desprazer de encontrar o meu pai em casa.

Alguns professores tinham noção do que acontecia comigo, mas eles se fingem de cegos. Afinal, eles temiam que o meu pai tomasse alguma atitude drástica caso fosse denunciado. Como um homem pode colocar medo em tantas pessoas? Eu não entendo.

Eu só preciso fazer o máximo para sobreviver e fugir. Deixar tudo para trás e esquecer as dores que essa cidade me trouxe. Eu tenho umas economias e posso contar com o Trevor. Ele é outro que salva a minha vida todos os dias.

— Ei, moleque. — Trevor bate no meu ombro com uma caneta. — Acorda, parceiro.

— Vai se foder. — resmungo, tirando uma risada de Trevor.

— Adivinha quem vai sair com a Samantha? — ele questiona, batucando com a caneta no meu ombro.

— O Papa?

— Não, engraçadinho. Eu. Euzinho. A gostosa da Samantha vai saborear um pouco do Trevor. — ele diz me fazendo revirar os olhos.

— Com licença, Sr. Allen. — a secretária Lucy entra na sala e entrega um papel para o professor.

— Ah, claro. Ele pode entrar. — o professor acena na direção da porta e sorriu.

Sabe o momento em que o tempo para? Eu tive esse momento. Eu nunca vi um rapaz tão bonito na minha vida. Os seus lábios eram carnudos e rosados, um rosto moreno e olhos cor de mel, que eram cobertos por um óculos de grau. Infelizmente, não tive um vislumbre do corpo dele, pois usava um moletom que fazia propaganda da escola e uma calça cargo preta.

— Ethan Ward? — pergunta o professor, olhando para o documento.

— Sim.

— Se apresente para os seus colegas, querido. — pede a secretária Lucy pegando no ombro de Ethan.

— Olá, eu me chamo Ethan Ward, tenho 18 anos e fui transferido da Escola Sagrado Coração de Cristo. — se apresenta o rapaz, ficando vermelho. Algo que me tira um sorriso.

— Sagrado Coração? Um internato. Olha só. — comenta o professor, que pediu para Ethan se sentar em uma carteira próxima a minha.

A aula continuou com os cochichos das meninas e a explicação interminável sobre pontos cardeais. Na segunda aula, eu teria um teste no campo de futebol. Essa era uma das vantagens de ser atleta, pular algumas aulas chatas. Todo início de semestre, o treinador Stuart prepara um percurso para verificar a nossa condição física.

Eu não me considero alguém super forte ou resistente, mas eu consigo fingir bem. Afinal, isso é o que eu tenho feito nos últimos anos da minha vida. Eu finjo que está tudo bem em casa. Eu finjo que não sinto atração por homens. Eu finjo que gosto do futebol americano. Eu só finjo.

***

ETHAN

Tá tudo bem, Ethan. Eu consigo ouvir a voz da minha mãe ecoando dentro de mim. É só finalizar o ensino médio sem mais problemas. Eu sou o catalisador de todos os problemas da minha família. Preciso dar um jeito neste impulso que existe dentro do meu coração.

— E então, Ethan. — perguntA o psicólogo da escola. — os seus pais pediram para cuidar do seu caso. — olhando no prontuário. — Escola Sagrado Coração de Jesus. Eles tem um dos melhores programas de missões. Você nunca se interessou em fazer missões para a igreja?

— Não, senhor. Na verdade, eu não sei o que eu quero. — respondo, puxando os cordões do moletom.

— Isso é comum na sua idade, filho. Ainda mais agora que você já fez 18 anos, em pouco tempo fará 19. Esses impulsos e desejos são normais, só não podemos deixá-los nos controlar. — garante o Sr. Griffin. — Eu conheço o seu pai há anos. Eu tenho certeza que ele está pensando no melhor para você. E eu vou ajudá-lo.

Ótimo. Além de ser expulso da minha antiga escola, agora vou ter um cão de guarda aqui. Para variar, estou sem acesso ao meu computador e ao celular. Como será que estão os meus amigos do internato? E o Drake? Ele nem quis se despedir de mim. Eu sou muito burro. Burro.

A escola nova é legal, mas não é como eu esperava terminar o meu ensino médio. Eu queria me formar com os meus amigos. Mas como eu só causei vergonha, tive que fugir da minha cidade e me refugiar aqui.

Pelo menos, eles não conseguiram me tirar a literatura. Vou até a biblioteca e empresto alguns livros para me distrair nos intervalos. É uma pena que não posso levar para casa. Acho que o meu gosto literário não vai agradar aos meus pais, principalmente, depois de tudo o que aprontei nos últimos meses.

Porque a religião precisa ser tão complicada? Deus é amor. Se Deus me ama pelo o que eu sou, porque raios eu mudaria a minha essência? Não faz sentido. Nada faz. O jeito é baixar a minha cabeça e seguir as regras. Ser um bom garoto, sorrir e fingir que nada aconteceu. A vida continua perfeita.

A minha crença em Deus sempre foi genuína. Infelizmente, a mesma religiosidade que nos abraça é aquela que nos sufoca. Eu não posso mudar meus sentimentos, mas fiquei ótimo em escondê-los. É sobre isso. E tá tudo bem, ou não.

Vou caminhando pelo corredor da escola e os alunos passam por mim quase como se eu fosse um fantasma. Isso é bom. Não ser notado tem as suas vantagens. Ninguém olha, aponta ou comenta nada. Eu coloquei o capuz do moletom verde, um presente do diretor da escola e segui para a minha próxima aula, matemática.

— Ei, garoto. — uma voz feminina chama por mim.

Ao virar, eu me deparo com uma moça alta e com uma tatuagem tribal no ombro. Seus cabelos são pretos, mas as pontas estão pintadas de roxo. A garota usa moletom preto e meias-calças gastas, que combinam com a sua bota preta.

— Oi.

— Tem um isqueiro? — ela pergunta ao puxar um xicarro da orelha.

— Não.

— Porra. Me enganei, né? Foi expulso por mal comportamento? — ela questiona, colocando o cigarro de volta na orelha.

— Não.

— Perda de tempo. — ela comenta, passando por mim e sumindo atrás da porta.

Ok. Quem é ela? Eu chato não conhecer ninguém. Eu sigo para a sala de aula, mas escuto alguns alunos comentando sobre a moça em questão. Aparentemente, ela se chama Bettany e não era tão gótica assim, só que as pessoas mudam.

Todos estão desesperados pela chegada do SAT (vestibular americano). É essa prova que determinará para qual faculdade vamos. Os meus pais nunca me deixarão sair deste Estado. Com certeza, vou fazer teologia em alguma universidade comunitária de Wisconsin e os ajudarei na igreja.

Da escola para casa. De casa para a escola. Essa vai ser a minha vida na semana. Aos domingos, vou ajudar os meus pais na Igreja Adventista. O meu pai pegou o emprego no primeiro templo que encontrou e a culpa é minha. Ao entrar em casa, eu encontro a minha mãe na cozinha. Ela canta uma música evangélica, que sai do sistema de som.

— Boa tarde, filho. — ela me deseja. — Vou preparar um lanche para você.

— Bom tarde, mãe. — eu desejo de volta e me aproximo da cozinha.

— A irmã Mary me ligou hoje. A sobrinha dela está solteira e....

— Não, mãe. Eu ainda não estou preparado para conhecer ninguém. — soltei e recebi aquele olhar de reprovação no qual a mamãe é especialista.

— Esse ano você vai encontrar uma namorada, Ethan. Vai alegrar muito o seu pai. — ela pede, enquanto serve um sanduíche de queijo com suco de laranja.

Alegrar o meu pai. A minha vida é para alegrar o pastor Ward. Ele não faz o mínimo esforço de tentar se conectar comigo e com a minha verdade. Já pensei em tirar a própria vida. Dessa maneira, eu já não seria um problema para os meus pais. Posso fingir um acidente, que tal?

A minha mãe fala pelos cotovelos. Eu finjo acompanhar todos os seus comentários, mas, na realidade, queria estar longe desta cidade e de todos. Talvez, o meu destino seja a morte. Todos ficariam felizes com isso, não é?

— Boa tarde. — meu pai atravessa a porta e deixa os seus pertences sobre a mesa. — Ethan, falou com o Sr. Griffin?

— Falei. — respondi, ainda olhando para o sanduíche que a mamãe fez.

— Ótimo. Ele disse que tem um centro que trata pessoas iguais a você. Pode ser o nosso último recurso. — avisa o meu pai.

— Que tipo de centro? — questiona a mamãe, colocando outro prato de sanduíches na mesa.

— De conversão. — solta o meu pai. Desesperado, busco o olhar da mamãe, mas ela não disse uma palavra. — Depois do que esse menino aprontou em Boston, eu acho que é a única saída, Martha. O Senhor vai libertar o Ethan. Eu tenho certeza. O Ethan é adulto, mas enquanto morar sob o meu teto vai ter que seguir as minhas regras!

— Tudo bem.

É isso. Eu vou pagar o preço por ter nascido assim. Eu não vejo mais esperança no meu caminho. Eu preciso dar um jeito de acabar com tudo.

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