ONDE AS SOMBRAS ACABAM - CAPÍTULO 2: LAVANDA

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 1366 palavras
Data: 11/07/2023 02:36:30

JIMMY

O quarterback é o jogador mais importante da partida. Somos considerados a peça central do ataque e temos a missão de distribuir a bola. Durante as partidas oficiais, eu uso uma espécie de comunicação no meu capacete. O treinador precisa me passar todas as coordenadas e, dessa maneira, eu posso pensar estratégias de jogadas.

Esse é o meu momento. Eu o uso com sabedoria. Às vezes, eu treino até tarde. O meu pai trabalha em um frigorífico no turno da madrugada, ou seja, eu tenho paz. Quando o jogo termina, eu me ofereço para guardar os equipamentos.

Satisfeito, o treinador leva a equipe para a pizzaria, mas preciso de um momento só meu. A melhor parte de andar pela escola à noite é o silêncio. Ninguém gritando comigo ou me ameaçando. Ao terminar de organizar tudo, eu vou em direção às arquibancadas. Eu acho uma faixa escrito 'Orgulho do Papai'.

Com certeza, essa faixa é da família do Richard, um dos recebedores do time. Como será ser amado pelo pai? O meu nunca quis acompanhar uma partida. Antes de ser popular na equipe, eu não ouvia ninguém gritando meu nome. Hoje a realidade é outra, mas, mesmo assim, eu não me sinto feliz.

Levo a faixa até a lixeira mais próxima. Para chegar na Avenida Labron é preciso passar por um bosque. Eu me preocupei com as histórias do lugar. Alguns dizem que é amaldiçoado. Eu duvido. A natureza toma de conta do caminho e um cheiro diferente se espalha no ar. É um aroma de flor, quase adocicado.

O frio começa a apertar, então passo a andar mais rápido. Estou usando o moletom do time, apesar disso, o meu corpo está gelado. Ok. Acho que estou perdido no bosque. O meu coração acelera e ao olhar para trás me deparo com uma sombra.

— Droga. — solto, mas tapo a minha boca.

Eu não sei o que fazer, pois estou perdido. A única opção viável é seguir a sombra misteriosa. De noite, essa porcaria de bosque parece igual. Estou andando em círculos? Não pode ser. A sombra para próximo a uma árvore. Eu me abaixo para evitar ser pego.

Aparentemente, a minha visão se acostumou com a escuridão. Então, reconheço a pessoa, é o Ethan Ward, o aluno novo. O que ele está fazendo no bosque? Será um feiticeiro ou cultista? Eu vou embora.

Quando dou dois passos para trás, escuto uns grunhidos. Ao me aproximar, os meus olhos se arregalaram. Ethan está pendurado na árvore e seus pés lutam no ar. Eu não sei o que fazer. Eu não sei.

*****

ETHAN

É isso. Eu não vou ser mais uma decepção para os meus pais. A única saída é a morte. Pessoas pecadoras e escravizadas pela luxúria precisam pagar o preço. A corda aperta o meu pescoço e me impede de respirar. Aos poucos, os sentidos vão desaparecendo. A luta é inevitável. Uma parte de mim quer lutar e se manter vivo, porém, a outra aceitou o destino. O que vão escrever na minha lápide? "Aqui Jaz Ethan Ward, o homem que tirou a própria vida".

— Ei, cara. Ei. — escuto uma voz vindo de longe. É uma voz grave e reconfortante. É a voz de um homem. Eu poderia ouvi-lo falar por horas e mais horas. — Acorda, por favor. Droga, Ethan, porque você não aprendeu os primeiros socorros? — a pessoa me segura nos braços, mas não tenho forças para impedir. — Vai ficar tudo bem. Eu prometo.

De repente, eu não escuto mais a voz e tudo se apaga. Ao recobrar a consciência percebo que estou em um campo florido. O vento é constante e gelado, mas não de uma forma ruim, pois ele traz o cheiro delicioso das lavandas, a minha planta favorita, afinal, elas são bonitas e perfumadas. Como eu vim parar neste lugar?

Estou morto. O meu plano deu certo. Finalmente, vou ter a paz que eu mereço. Ninguém está me julgando ou se sentindo envergonhado por causa da minha sexualidade. Encontrei a liberdade na morte, mas porque não estou feliz?

Sem opção, caminho pelo pasto. Vou sem direção. O lugar é tão bonito e colorido. Apesar da tristeza não tenho medo de estar aqui. É uma sensação tão esquisa e familiar. Algo contraditório, eu sei.

O clima começa a mudar. O vento traz nuvens carregadas e a chuva é inevitável. O belo cenário se transforma em um verdadeiro pesadelo. A força da tempestade arranca as plantas do chão e começo a tremer de frio. Corro em direção a uma árvore, mas um raio a atinge antes de eu chegar perto.

— Acorda, cara! — alguém grita e eu desperto.

— Não! — grito, chutando alguém no rosto. — O que aconteceu?

— Porra, — um homem loiro está sentado no chão ao meu lado. Ele colocou as mãos em cima do nariz. — você está louco? Que merda.

— Desculpa. — peço, ainda confuso, pois não sei quem ele é. — Eu...

— Caramba. — a pessoa se levanta e me oferece a mão. Demoro um tempo, mas aceito a ajuda.

— Porque estou molhado? — pergunto ao perceber que as minhas roupas estão molhadas.

— Eu te achei no bosque do colégio. Você, você tentou aquilo. — ele não teve coragem de terminar a frase.

— Aquilo foi uma besteira. Eu estou bem, ok. Obrigado por me ajudar. — agradeço e dou às costas para ele, mas o sinto segurar em meu braço.

— Besteira é um cacete. Você precisa de ajuda. Eu não vou ficar em paz sabendo que você não está tendo a ajuda necessária. — ele diz segurando o meu braço direito. — Tá bom. Vamos com calma. Eu me chamo Jimmy...

— Jimmy Robinson, a estrela do time. Eu conheço você. — digo, puxando o meu braço para trás. — Ethan Ward.

— O novato. — ele dá um sorriso tímido e arruma os cabelos loiros. — Você me deu maior susto. Pensei que era um fantasma.

— Fantasma? — pergunto, mas sinto uma forte dor na garganta. Passo a mão no pescoço.

— Ficou uma marca feia, Ethan. Acho melhor você evitar falar muito. — ele pede.

******

JIMMY

Que loucura, cara. Eu não acredito que acabei de salvar uma vida. Só que eu estou preocupado com o Ethan. Ele é a pessoa mais bonita que eu já conheci. O seu pescoço vermelho chama a minha atenção. Vou até o carro e pego um pouco de água para ajudar com a marca.

Nos últimos anos, eu aprendi que água quente ajuda a ativar a circulação. A temperatura mais alta ajuda na absorção do sangue nos vasos sanguíneos. Levar uma surra toda semana nos torna especialistas em manter as aparências.

Jogo a água nas minhas mãos e passo em volta do pescoço dele, que se assusta em primeiro lugar, mas não me afasta. Nossos olhos estão conectados e a respiração ofegante.

— A... a... ajuda na circulação do sangue. Eu uso nos treinos de futebol. Vai por mim, não vai querer aparecer em casa com essa marca. — explico, mas a minha atenção se volta para a boca dele, que é carnuda e vermelha.

— Ah, entendi. — ele solta, quase gemendo com o meu toque.

O que é isso? Eu estou com muita vontade de beijá-lo, mas o cara acabou de tentar tirar a própria vida. Eu não posso ter pensamentos pecaminosos. Eu não posso. Eu não posso. Do nada, o Ethan me beija. Não é um beijinho qualquer. É um beijo demorado e quente.

Estamos no quintal da minha casa. O meu pai deve estar bebendo em algum lugar. Eu tenho tempo para curtir com o Ethan. E como estamos curtindo. O Ethan parece selvagem e desesperado por mim.

— A casa de ferramentas. — digo, apontando para uma cabana que o meu pai fez no quintal.

Entramos na cabana na maior pegação. Ethan tenta avançar o sinal, porém, estou cheio de marcas no meu peito e barriga. Então, ainda fico com a minha camisa branca, afinal, o que importa é a boca dele. Nos pegamos por um bom tempo, só que, de repente, o Ethan para e me olha de maneira estranha.

— Meu Deus. — diz Ethan, enquanto veste o casaco. — Isso foi um erro.

— Eu te machuquei? — questiono, surpreso.

— Não. Eu, eu preciso ir. — ele sai da cabana correndo.

— Nossa, — falo me encostando na mesa, ainda impactado com o beijo. — o que aconteceu aqui?

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Comentários

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Que pena que parou assim. Só faz aumentar o suspense e a ansiedade mas já estou acostumado com a sua forma de escrever, sou fã antigo e adoro seus contos. Estava sentindo sua ausência. Obrigado.

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