Episódio 6 Um presente inesperado na vida do arquiteto
Bernardo penetrou Christopher naquela manhã com mais ímpeto que o habitual. Apesar de toda a experiência, Christopher chegou a se assustar com a diferença de força ao ter o ânus penetrado. E gostou. Christian gozou sem nem tocar no seu pênis, inebriado por aquela força nova de Bernardo, que revelava carência, necessidade, tentativa de dominação. Bernardo macetou o cu de Christopher com uma força e determinação que nunca tinha sido mostrada antes. O que já era bom, o sexo, ficou excelente. Na ducha, Christopher aproveitou para fazer mais sexo oral em Bernardo. "Não quero você perto daquele Júlio", mandou o advogado, enquanto o arquiteto estava com o pau na boca. "Sim, meu amor", respondeu Christopher ajoelhado no chuveiro, olhando para cima. O ciúme e a sensação de dominação era algo afrodisíaco para Christopher.
Já na cama, depois do banho, Christopher prometeu que não aceitaria os convites de Júlio, desde que Bernardo cumprisse o prazo até sexta-feira. Bernardo puxou uma sacola da cômoda e tirou uma outra de dentro.
"Comprei um presente para você, espero que ache bonito", disse o advogado.
Era um relógio Patek Philippe. Christopher ficou impressionado, pois era o primeiro presente que ganhava de Bernardo. E já era um relógio caríssimo. Ele sabia que Bernardo era rico, mas não estava nessa aposta para ganhar presentes, como tantas outras vezes fez, mas sim pelo desafio. O arquiteto sabia bem o preço de itens de luxo e imaginou que Bernardo tinha gasto pelo menos uns 70 mil reais no presente.
"Obrigado, meu amor. Eu fico constrangido, pois não comprei nada para você. Achei muito lindo o relógio. Vou usar sempre", disse o arquiteto.
"O meu presente é o seu amor. E ainda vou lhe dar muitos outros presentes. Você não vai precisar se preocupar com mais nada na sua vida", disse o advogado.
Christopher ouviu isso e ficou pensativo. O arquiteto nunca tinha entrado em detalhes sobre sua vida financeira com Bernardo. Vagamente tinha falado da origem humilde. Christopher concluiu que Bernardo achava que ele era de classe média apenas. O arquiteto sempre se vestiu bem, com elegância, mas sem ostentação. Mesmo a decoração da sua casa, decoração de um arquiteto profissional, era de bom gosto, mas sem ostentação. O seu carro era bom, já tinha cinco anos de uso, não era um popular, mas estava longe de ser um dos mais caros. Além de um estilo de personalidade, era uma tática de Christopher não parecer rico, como na verdade era, pois facilitava ganhar presentes de namorados, amantes e ficantes ricos.
Um admirador ficava mais propenso a cobrir Christopher de presentes se pensasse que ele também não era rico, apenas classe média. Christopher já tinha perdido a conta de quantos carros zero de luxo tinha ganhado exatamente por seu carro não ser tão top. E assim, Christopher amealhou a sua fortuna. Mesmo Júlio, que foi um namorado de verdade, quando comprou um apartamento no condomínio de Christopher após o término amigável do namoro, pois gostava de morar no endereço, pagou um preço muito acima do valor real de mercado, um preço generoso. Para um apartamento que Christopher tinha ganho de presente, de graça, do construtor. E durante o namoro com Júlio, em todas as viagens, todos os hoteis, passagens, vinhos, restaurantes, Júlio sempre fez questão de pagar tudo. Nos seis meses que moraram juntos, Júlio fez questão de pagar todas as despesas do apartamento, até a conta de luz da cobertura.
Christopher, no entanto, se surpreendeu em ficar contrariado com o preço do presente. Para ele, a relação já era diferente. Não era por interesse financeiro. De certa forma, ele ficou triste pela relação com Bernardo estar tomando esse rumo tão já conhecido por Chriostopher. O arquiteto se surpreendeu ao perceber que queria outra coisa de Bernardo, outro tipo de relação, nem uma das apostas, nem um dos relacionamentos com homens ricos por interesse financeiro.
"Você está demorando a terminar o casamento por uma questão financeira? Eu tenho umas economias. Não vamos passar aperto algum você morando aqui comigo", disse Christopher ainda olhando pensativo para o relógio, fingindo não saber que Bernardo era muito rico.
"Não! Claro que não!", se apressou em responder o advogado. "Eu sou muito bem sucedido como advogado, ganhei muito dinheiro na minha área. Desculpe nunca ter te contado sobre isso, mas eu sou muito rico já. E eu e Melisa casamos com separação total de bens. Foi uma exigência da família dela antes de me conhecer bem. Certamente eles viram depois que foi um grande erro financeiro essa exigência deles. Se tivessemos casado em comunhão parcial de bens, o que era o mais comum na época, Melisa ia ficar com metade de todo o meu patrimônio. Mas hoje ela fica sem nada. Pode pedir uma pensão, mas a atual jurisprudência diz que seria temporária, uns dois anos de pensão. Enfim, ela não tem direito a nada, mas eu quero ser generoso com ela, se você não se incomodar, meu amor", disse Bernardo.
"Contanto que ela não continue morando no prédio, pois não quero a pecha de rouba-marido alheio", disse Christopher.
O advogado gargalhou.
"É não tinha pensado nisso. Ela não pode continuar morando aqui mesmo. Mas o apartamento também está no meu nome. Posso passar para ela outro apartamento de igual padrão, em outro lugar, caso ela queira. E uma boa pensão vitalícia, apesar dela não precisar, pois os pais dela são ricos. Espero que depois que as coisas se acalmem tudo se resolva. Fiquei o dia todo ontem já pensando nesses detalhes burocráticos, meu amor. Segunda que vem já posso te dar de presente a certidão de divórcio. A lei é clara, como o casamento é com separação de bens, posso ir no cartório e fazer um divorcio unilateral. Depois, se ela quiser, discutimos bens e pensão, mas ela não tem direito a exigir nada, além de uma pensão temporária", disse Bernardo.
"Que maravilha, então semana que vem tudo já estará resolvido", vibrou Christopher pensando mais no prazo da aposta que em Bernardo.
"E depois vou querer me casar o mais rápido possível com você, meu amor. E você que escolhe o regime de bens do nosso casamento", disse Bernardo romântico.
"Não pensei em me casar agora, vamos dar um tempo ainda nos conhecendo, por favor", disse o arquiteto, quase que rindo da ironia de que se eles se casassem com comunhão universal de bens seria Bernardo e não Christopher que sairia "no lucro", coisa que o advogado sequer imaginava.
"Contanto que eu esteja aqui morando com você, tendo seu corpo todos os dias, você sendo só meu, não me importo como nos chamamos, casal, namorados, ficantes, amantes", disse Bernardo.
Depois de um tempo olhando para o arquiteto pensativo, Bernardo prosseguiu. "O que eu quis dizer em casar, meu amor, é que eu quero te dar também toda a segurança, inclusive financeira, de estarmos juntos para sempre. E casamento é a forma mais comum de eu poder te dar essa segurança. Eu me preocupo com você. Esses meses todos que estamos juntos não vi você trabalhando em nenhum projeto de arquiterura. Eu fiquei constrangido em te perguntar sobre isso, mas se você estiver precisando de uma ajuda financeira é só falar, meu amor. Vamos ser um casal daqui poucos dias já", disse Bernardo.
A fala de Bernardo teve um impacto de uma "bala de canhão" no coração de Christopher. Ele percebeu que a relação não era mais um bom sexo, uma aposta, um interesse sexual em troca de presentes caros, como viveu tantas vezes. O arquiteto percebeu que Bernardo realmente queria construir uma vida a dois juntos. A generosidade financeira de Bernardo era a maior prova de amor verdadeiro. E Christopher tinha muita experiência nisso. Ele sabia bem que um homem só dava dinheiro em grandes quantidades a outro homem, ou outra mulher, se amasse de verdade. Era assim que se davam muitos golpes financeiros, inclusive as "apostas" de Christopher e Augusto.
"Não se preocupe comigo. Eu disse que tenho economias. Vida de arquiteto no Brasil é assim mesmo. Ficamos tempos sem nenhum projeto, depois aparece", respondeu Christopher.
O próprio Christopher se surpreendeu com a resposta, segundos depois de proferir. Várias outras vezes na vida, ao ouvir oferecimentos semelhantes, Christopher aproveitou para pedir altas somas. Porém, desta vez, não queria nada. O que ocorria? Era o amor verdadeiro agindo?
"De qualquer forma quando eu me mudar para cá, na semana que vem, vou passar a pagar todas as contas do apartamento, vou já pedir um cartão de crédito adicional meu para você usar e também vou te depositar todo mês uma quantia para suas despesas pessoais. E claro, vou te dar de presente um carro zero novinho que você escolher. Outro dia olhei seu carro na garagem, vi que já tinha uns anos de uso, uns arranhões na pintura e até um amassadinho na lataria. Já está precisando de outro novo, meu amor... Você não vai precisar mais gastar suas economias enquanto não tiver trabalho em arquitetura e só vai precisar aceitar um projeto se quiser mesmo trabalhar nele, vai poder escolher seus projetos. Faço questão disso. Ficamos combinados assim", disse Bernardo beijando a testa de Christopher.
"Obrigado por tudo, meu amor", respondeu Christopher, sentindo um angústia que não sabia de onde vinha.
O resto da semana transcorreu seguindo a rotina de amor e sexo pela manhã entre os dois.
Na sexta-feira a tarde, o grande dia do ultimato, Christopher e Augusto se reuniram na cobertura para tomar um chá, fazer um balanço do andamento da aposta e traçar estratégias, como sempre faziam. O aparato clandestino de escuta do porteiro Augusto já estava checado e testado para ouvir o término do casal durante a noite, mais tarde. Augusto estava nervoso por esse momento, como seu fosse uma final de novela televisiva preferida. Durante todos esses meses, segundo Augusto, não havia indício que Bernardo e Melisa tivessem transado nem uma vez, apesar de continuarem dormindo na mesma cama.
Christopher aproveitou para contar ao amigo e cúmplice a conversa sobre assuntos financeiros que teve com Bernardo. Na cobertura, não haviam escutas.
Augusto abriu a boca, com um queixo caído.
"E você não aproveitou quando ele lhe ofereceu dinheiro para mandar aquela clássica?" perguntou Augusto.
"Qual clássica?", devolveu o arquiteto.
"Ora, a clássica 'ai, meu amor, estou todo endividado no banco, preciso de 500 mil reais para quitar todas as minhas dívidas'. No caso de dr. Bernardo, dava para ser 1 milhão fácil, fácil. O senhor ficou na cara do gol, sem goleiro, mas não quis marcar, como diz meu marido. Vi aqui na Internet, só esse relógio ai, 75 mil reais aqui em São Paulo em uma loja oficial", disse Augusto visivelmente chocado.
"Ah, sim. Essa clássica da dívida do banco. Realmente, não me veio na cabeça na hora falar isso. Na verdade, não quero, nem cogitei pegar dinheiro dele", disse o arquiteto.
"Pois o senhor pode dizer que jogou 1 milhão fora esta semana. Vou até anotar na minha agenda para lembrar desse dia memorável, que o senhor rejeitou 1 milhão por amor, não é qualquer dia que acontece isso, ainda mais de onde eu venho", disse Augusto.
Não era em todas as "apostas" que Christopher pedia dinheiro. Algumas eram só por diversão de Christopher e de Augusto. O porteiro gostava de brincar que essas apostas sem lucro financeiro eram um "estudo científico da heterossexualidade masculina brasileira". Algumas poucas vezes apostaram até com caras realmente pobres, como um bancário e um corretor de imóveis, os dois pobres, mas muito bonitos claro. Porém, quando Christopher pedia dinheiro, geralmente os homens objetos das apostas mandavam o dinheiro na hora, sem conferir nada. Alguns poucos pediam os extratos bancários, que Augusto falsificava montando até os PDFs de banco necessários, mas também davam o dinheiro. Somente uma vez, um objeto de aposta só mandou parte do dinheiro solicitado, insuficiente para quitar toda a falsa dívida. E outra única vez, uma aposta não mandou dinheiro nenhum, mesmo sendo comprovadamente milionário. Mas isso era quase insignificante perto do total de vezes em que Christopher conseguiu tudo que pediu de suas apostas.
"O senhor está apaixonado de verdade. Vai ser maravilhoso para o senhor casar com um homem bom como dr. Bernardo. Parabéns. Eu sou muito feliz com meu marido, o senhor também será", disse o porteiro.
"Eu ainda não sei se é isso que vai acontecer, ou se vou encerrar tudo com o fim da aposta como já fiz tantas vezes. Eu não consigo me decidir. Vou deixar para depois da aposta estar concluída. Sinto que não consigo tomar uma decisão antes", revelou o arquiteto.
"Que romântico ele, dizer que vai sustentar o senhor. E o senhor muito mais rico que ele. Só os 4 apartamentos no prédio que ainda são seus já é uma fortuna. Tadinho dele, um romântico inocente", gargalhou Augusto antes de tomar mais chá.
"Ele me prometeu mandar uma mensagem hoje, assim que comunicar para Melisa. Hoje deve se encerrar essa nossa aposta, até meia-noite é o prazo", revelou Christopher.
"Fico até melancólico em pensar que será a nossa ultima aposta. Como nos divertimos esses anos todos, nós dois doutor. Mas se é para acabar, que bom que acabou assim, com o senhor arrumando o marido mais maravilhoso de São Paulo para sua vida", disse Augusto.
"Quero também agradecer por sua generosidade. Como o senhor sabe só continuo trabalhando como porteiro porque gosto da movimentação desse prédio tão chique e principalmente trabalhar nos seus planos maravilhosos, mas o senhor me fez o porteiro mais rico do Brasil com toda certeza e não precisava me dar nem 1% do que já me deu", relevou Augusto pensativo.
"Você é meu melhor amigo, o melhor parceiro de negócios que podia arrumar no mundo. E além de tudo nos divertimos muito esses anos todos, não foi? Acho até que nos divertimos mais nas apostas que não renderam dinheiro nenhum do que nas que renderam dinheiro. Se você decidir se aposentar de vez depois disso, vou fazer aquilo que já lhe disse e passar um dos meus apartamentos neste prédio para o seu nome, como já tinha prometido anos atrás, para você e seu marido morarem aqui de vez", falou Christopher.
"Eu gostaria, mas também ficaria constrangido. Ia gerar muitos comentários. Todos sabem que meu salário de porteiro não compraria um apartamento aqui nem em dez mil anos. Se o senhor não ficar chateado, prefiro continuar no outro apartamento que o senhor já nos deu, o padrão não é tão alto quanto esse, mas já estamos acostumados lá", respondeu Augusto.
"Claro que não fico chateado. Só não quero perder sua convivência e amizade", disse o arquiteto.
"Ohhh nunca, nunca. O senhor é meu melhor amigo no mundo.. Eu sempre estarei a disposição do senhor para tudo que precisar", disse o porteiro pensativo.
"Ei, Dr. Bernardo é um homem muito inteligente, bem informado. Ele pode acabar descobrindo que o senhor é mais rico que ele. Depois que ele se mudar para cá, veja uma forma de contar essa informação antes que ele descubra sozinho", sugeriu Augusto. "Basta ele abrir uma das correspondências do senhor por engano, por exemplo, uma carta de acionistas de alguma empresa que o senhor tem ações e ele vai descobrir que o senhor é milionário só em ações de uma única empresa", lembrou Augusto, que também tinha tarefa de organizar a correspondência de Christopher, por ter sua total confiança.
"Sim, bem lembrado", disse Christopher pensativo.
E Christopher olhou melancólico para os ponteiros do relógio recebido de Bernardo, já em seu pulso, pensando em como as horas teriam que passar até o fim do prazo do últimato, mas não pensava mais em vencer a aposta, mas sim que seria o prazo para ter Bernardo só para si.
Um novo amanhecer despontou no horizonte, trazendo consigo a esperança de uma mudança significativa na vida de Bernardo. Ele havia passado a noite em claro, mergulhado em pensamentos tumultuados e sentimentos contraditórios.
Bernardo voltou correndo da academia e subiu direto para o apartamento de Christopher, como era sua rotina há meses.
"É hoje, amor", disse o arquiteto antes de beijar longamente Bernardo.
"Hoje é a ultima vez que faremos amor sem estarmos oficialmente juntos", prometeu o advogado, após o beijo.
Christopher se esmerou no sexo oral em Bernardo naquele dia, colocava o saco do advogado na boca e ficava chupando um ovo de cada vez, bem devagar, levando o advogado a loucura. Bernardo gozou fartamente em um momento, sujando toda a cara de Christopher com seu semen, pois o arquiteto não conseguiu engolir tudo, após engasgar. Christopher seguiu beijando a barriga trincada do advogado, subindo a cada centímetro com beijos e mordiscadas por todo o corpo do advogado, ao final, lhe dando um chupão na lateral do pescoço. "Tudo meu", sussurou o arquiteto no ouvido do advogado.
Mais tarde, naquela sexta-feira, a rotina no escritório não oferecia alívio para os tormentos de Bernardo. Ele mergulhava em seu trabalho, mas a imagem de Christopher pairava constantemente em sua mente. O vizinho tinha se tornado seu porto seguro, alguém que o compreendia e o aceitava como ele era. A conexão entre os dois era para o advogado profunda e verdadeira, algo que Bernardo nunca encontrou em seu casamento.
Enfim, chegou o momento de retornar para casa. Bernardo imaginava um encontro tranquilo com Melisa, onde finalmente teria coragem de falar sobre seus sentimentos e decisões. No entanto, ao abrir a porta de seu apartamento, deparou-se com uma cena inesperada. Melisa estava lá, junto com os pais dela, dr. José e dona Rosa.
"Surpresa! Eles decidiram aparecer sem avisar", disse Melisa, com um sorriso forçado no rosto.
Bernardo sentiu um aperto no peito ao ouvir aquelas palavras. Sua esperança de um momento de intimidade com Melisa desapareceu rapidamente. Bernardo se resignou e aceitou a situação, em dúvida se adiaria a confissão mais uma vez.
Durante o jantar, Melisa estava diferente. Ela se mostrava mais gentil e atenciosa, parecendo querer agradar a todos ao seu redor. O comportamento de sua esposa contrastava fortemente com a imagem que Bernardo tinha dela. Ele se perguntava se aquela mudança seria genuína ou apenas uma estratégia para mantê-lo preso ao casamento.
Após o jantar, o sogro chamou Bernardo para uma conversa a sós. A relação entre eles sempre foi de afeto e respeito mútuo. Bernardo considerava o sogro como um segundo pai, alguém que o acolheu e apoiou nos momentos mais difíceis de sua vida.
O pedido direto de dr. José para que Bernardo desse uma nova chance a Melisa mexeu profundamente com o advogado. O sogro disse que a filha foi explícita em estar com medo de Bernardo se separar. O sogro contou que Melisa percebeu em Bernardo um comportamento muito diferente nos últimos meses e estava com medo dele querer acabar com o casamento.
"Bernardo", disse o sogro com sinceridade, "eu sei que é difícil. Ela é mimada, egoísta e muitas vezes cruel. Mas também sei que você é um homem bom, um homem que traz felicidade para minha filha. Eu te considero e não quero perder essa ligação que temos. Por favor, dê a ela uma nova chance."
As palavras do sogro tocaram o coração de Bernardo. Lágrimas começaram a escorrer por seu rosto enquanto ele compartilhava suas emoções. Ele lembrou sobre a dificuldade de sua origem humilde, sobre a falta de apoio de seu pai de sangue, e como a família de Melisa o acolheu e ajudou quando ele mais precisava.
"Eu também o considero, dr. José. E é por isso que é tão difícil para mim. Eu realmente estou apaixonado por outra pessoa", desabafou Bernardo.
O sogro ouviu atentamente e pôde ver a sinceridade nos olhos de Bernardo. Ele não esperava aquele tipo de confissão, mas sua afeição por Bernardo era maior do que qualquer decepção que pudesse sentir. Ele abraçou Bernardo e depois sussurrou palavras de conforto, para que só Bernardo ouvisse.
"Eu entendo. Eu também tive amantes, no passado. Mas você não pode acabar com um casamento por causa de um rabo de saia. Continue vendo sua amante esporadicamente sem Melisa perceber. A vida é complexa e o amor, muitas vezes, segue caminhos inesperados. Mas peço que você não destrua seu casamento por causa dessa outra mulher. Melisa prometeu mudar, e eu acredito que ela possa fazer isso por você. Dê a ela uma chance de mostrar seu amor e arrependimento", disse dr. José sem sequer cogitar a possibilidade do amor de Bernardo ser outro homem.
"Eu não sei, dr. José. Sinto que já tentei tantas vezes, mas sempre voltamos para o mesmo ciclo de desrespeito e humilhação no nosso casamento. O senhor já presenciou tantas vezes nossas brigas. Não sei se consigo confiar que as coisas vão ser diferentes dessa vez", respondeu Bernardo.
"Compreendo que o amor não segue um roteiro preestabelecido. Mas você precisa entender as implicações de suas escolhas. O divórcio é uma decisão séria e afetará muitas vidas, incluindo a de Melisa. Acho que você poderia montar um apartamento discreto para essa outra mulher e ir levando, até que Melisa possa mostrar que vai mudar seu comportamento, como ela me prometeu antes de você chegar. Só aceitei falar com você após ela me jurar que ia mudar completamente de comportamento", prosseguiu o sogro.
"Eu me sinto tão perdido, dr. José. Não queria causar dor a ninguém, mas também não quero viver uma vida de aparências e infelicidade", disse Bernardo.
Bernardo se despediu do sogro com o coração apertado. A conversa o deixou ainda mais confuso e indeciso. Ele voltou para o quarto, onde Melisa o aguardava. Ela sorria, demonstrando ter conhecimento de parte da conversa entre Bernardo e o pai.
"Meu amor, estou disposta a mudar por você. Eu reconheço meus erros e quero ser uma esposa melhor. Por favor, não me deixe", suplicou Melisa, segurando as mãos de Bernardo.
As palavras de Melisa ecoavam na mente de Bernardo. Ele via a sinceridade em seu olhar, mas o amor que sentia por Christopher também clamava por sua atenção. O dilema parecia insuperável, e Bernardo se sentia preso entre a lealdade ao sogro e sua família e a necessidade de seguir seu próprio coração.
Silenciosamente, Bernardo deitou-se ao lado de Melisa. Ele virou para o outro lado da cama e ficou ali, chorando em total silêncio, imerso em seus pensamentos e emoções, até que o cansaço o levou para o mundo dos sonhos.
Horas antes, na portaria, Augusto avisou Christopher por mensagem que os pais de Melisa tinham chegado. Os dois ficaram apreensivos, mas esperavam que a visita não atrapalhasse o cumprimento do ultimato.
Augusto perguntou para o cúmplice se ele queria ouvir todas as conversas no apartamento de Bernardo, pois as escutas clandestinas estavam captando e gravando tudo.
"Não vou ouvir. Já estou muito nervoso com tudo. Ouça você, por favor. Vou sair para correr no parque para tentar espairecer um pouco disso. Não vou conseguir ficar parado em casa esperando a mensagem dele", respondeu Christopher.
Quando voltou da corrida, quase às 22 horas, Christopher encontrou Augusto na portaria com uma cara de total contrariedade.
"Por enquanto nada, mas a situação piorou", explicou Augusto, relatando a conversa do sogro com Bernardo.
"Ainda temos até meia-noite para ele cumprir o ultimato, vamos aguardar", respondeu Christopher pensativo. "Vou subir para a cobertura para esperar a mensagem dele".
Christopher pegou uma taça de vinho e ficou esperando na sala, com as luzes apagadas, diante do celular.
Meia-noite e cinco Christopher ouviu passos vindo da cozinha. O arquiteto não se virou, pois já sabia quem era.
"E aí ele mandou a mensagem?", perguntou o porteiro Augusto.
Christopher respondeu só com um olhar visivelmente choroso.
"Eu também não ouvi nada. Ele não falou com a esposa sobre divórcio, depois da conversa com o sogro. Eu lamento muito dr. Christopher", disse Augusto.
"Lamenta por que? Você vai ganhar a aposta", respondeu o arquiteto.
"O senhor sabe bem que essa aposta eu não queria vencer de jeito nenhum", rebateu Augusto. "O que vamos fazer agora, doutor? Ainda temos mais 20 dias do prazo da aposta".
Christopher bufou, seus olhos quase lacrimejavam. Em tantos anos de parceria e cumplicidade, Augusto nunca tinha visto o arquiteto tão abalado por um homem, ou mesmo em perder uma aposta. Foram poucas vezes, mas Christopher já perdera apostas. "Os homens 100% heteros existem, mas são bem mais raros do que as pesquisas dizem", dizia sempre o arquiteto quando perdia uma aposta.
Christopher se levantou e olhou para Augusto olho no olho, com uma cara de determinação.
"Vamos mudar o alvo no casal, como já fizemos outras vezes. Agora é a vez de Melisa", disse Christopher com raiva.