Episódio 7 - A história longa de Bernardo e Melisa
NOTA DO AUTOR: neste flashback, vamos conhecer o passados desses dois personagens e descobrir o porque de suas atuais condutas e atitudes.
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Apesar das humilhações repetidas, Melisa era fortemente apaixonada por Bernardo. As brigas constantes eram apenas uma forma distorcida dela declarar a posse sobre um marido que só ficava a cada ano mais bonito, mais musculoso, mais rico e mais bem sucedido. Bernardo era o filho do motorista da casa de Melisa, uma mansão no Morumbi. Melisa foi muito bonita, apesar de nunca ter conseguido ter amigas de verdade. Os namoros eras esparsos e os caras ricos com quem saia, na verdade, nunca queriam nada sério. Os ex-namorados abertamente chamavam ela de "chata".
Ela conhecia Bernardo de vista, mas só passou a reparar em Bernado depois que ele completou 20 anos, quando começou a formar um corpo bonito, não tão musculoso quanto hoje, pois ele não tinha dinheiro para frequentar academias. Ele frequentava a casa esporadicamente, quando tinha algum serviço extra para fazer, como recolher todo o lixo do jardim, limpar a piscina, ou mesmo esfregar o chão. O pai de Bernardo, apesar de não ser um pai muito atencioso com os próprios filhos e quase um álcolatra nos dias de folga, era uma pessoa de confiança do pai de Melisa, por isso já tinha quinze anos na casa, quando Bernardo completou 20 anos.
Melisa, que nunca tinha sequer dirigido a palavra a Bernardo, repentinamente passou a ter longas conversas com ele. Em seguida, Melisa passou a levar sucos para Bernardo enquanto ele estava trabalhando, ela que nunca levou na vida um copo de água para a própria mãe. Melisa passou a inventar motivos para dar pequenos presentes a Bernardo, como camisetas, CDs, tênis, etc. Daí para os beijos furtivos, escondidos, foi um pulo. Após mais certas liberdades e brincadeiras, mas sem consumar o sexo, mesmo oral, ela decidiu que queria casar com Bernardo.
Com coincidência, algumas antigas colegas de escola estavam se casando na época e convidando ela como madrinha, por mera consideração, já que ela não tinha verdadeiras amigas. Era uma época comum de casamentos com até 21 madrinhas, então mesmo pessoas que não eram realmente amigas das noivas eram convidadas como madrinha apenas para fazer uma foto bonita para o álbum de casamento.
Sem sequer avisar a Bernardo, Melisa comunicou aos pais que queria se casar com o filho do motorista. E na cabeça dela, foi apenas isso, uma comunicação de algo que iria acontecer. Melisa tinha mais dois irmãos mais velhos homens e já casados. Entre seu irmão do meio e ela havia uma grande diferença de idade, de 12 anos. Ela foi uma gravidez já inesperada da mãe, dona Rosa, que a teve com mais de 40 anos, o que era incomum na época. Melisa, única filha mulher, com essa diferença de idade, foi criada sempre tendo tudo o que queria, tanto dos pais, quanto dos dois irmãos, que a tratavam como uma princesa e herdeira de trono. Vestidos, maquiagens, passeios, celulares. Tudo era dado, sem maiores questionamentos. Bernardo, na cabeça dela, seria apenas mais um item.
Apesar do choque para a família que foi o pedido para se casar com o filho do motorista, os pais cederam rapidamente, como cediam em tudo que a filha pedia. Só ficaram espantados de Melisa, uma pessoa que sempre fez questão de ostentar e só se relacionar com pessoas tão ricas quanto eles, esnobando todos os mais pobres, esnobando até quem fosse apenas menos rico que ela, querer se casar com um filho de motorista.
Foi convocada uma reunião de toda a família, Melisa, os pais, os dois irmãos, mais o motorista e seu filho Bernardo. Para espanto de todos, já no início da reunião Bernardo disse que não queria casar com Melisa. Jurou que não tinha consumado o sexo com ela, mas admitiu os beijos e certas intimidades de mãos em determinados lugares. Bernardo pediu desculpas a dr. José e reiterou que não pretendia casar. Melisa saiu correndo da reunião após ouvir a segunda negativa e passou o resto da tarde, noite e manhã do dia seguinte chorando em seu quarto, sem comer nada, sem dormir e sem aceitar conversar com ninguém.
Bernardo e seu pai voltaram para casa de ônibus, naquela noite, como sempre faziam após ambos prestarem serviço na mansão. Não trocaram uma palavra durante todo o trajeto. Assim que entraram na casa humilde de subúrbio, o pai tirou o cinto da calça e deu uma surra em Bernardo, na frente da mãe e de todos os muito irmãos sem explicar a ninguém o motivo da surra enquanto a aplicava. Após terminar, Bernardo estava quase desmaiado e foi socorrido pela mãe e pelos irmãos. Até vizinhos ouviram os gritos de Bernardo e foram perguntar na porta o que estava acontecendo. Apesar de ter apanhado muito do pai, Bernardo em nenhum momento pensou em se defender, mesmo sendo forte e já tendo 21 anos. Tinha muito respeito, ou mesmo medo, do pai.
Após, terminar a surra, cansado de tanto bater, o pai abriu uma garrafa de cachaça, começou a beber e contou para a mãe e os muitos irmãos e irmãs mais novos de Bernardo tudo o que tinha acontecido.
Após saberem o que tinha ocorrido e o que motivou a surra, houve quase uma epifania coletiva na casa humilde de suburbio. A mãe e os irmãos, um a um, iam até o quarto onde Bernardo dormia em um colchão, junto aos vários irmãos homens, dizendo todos sucessivamente para Bernardo casar com Melisa. Uns xingavam Bernardo, dizendo que ele "seria muito burro" se não casasse. Outros apelavam a Bernardo pela situação financeira da família, que certamente iria mudar com aquele casamento. Durante o resto da noite, se formaram duplas e mesmos trios que periodicamente iam a Bernardo para tentar convencer ele se casar com Melisa. Bernardo não respondia a ninguém só ficava deitado em seu colchão de dormir no chão se recuperando. A familia, por sua vez, só foi dormir de madrugada, de tão alvoroçada que ficou com a possibilidade do casamento. Alguns irmãos já começaram a divagar sobre planos do que fazer com o dinheiro que Bernardo supostamente teria depois do casamento.
No primeiro raio de sol do dia seguinte, o pai de Bernardo foi ao quarto dele e disse simplesmente "Se arruma que nós temos que ir falar com dr. José".
Foi a primeira vez que o pai se dirigiu a Bernardo depois da surra. Bernardo não falou nada, se colocou de pé, já meio recuperado da surra. Tomou banho e de diferente apenas colocou uma camisa social de manga longa, sua melhor camisa que usava para ir a Igreja, para cobrir as marcas do sinto que ainda eram evidentes pelo seu corpo, com exceção do rosto que o pai não atingiu apenas para evitar furar um dos olhos de Bernardo.
No ônibus, em um lugar aleatório do meio do caminho, o pai disse para Bernardo: "Você vai pedir desculpas ao dr. José e dizer que vai cumprir sua obrigação de homem e se casar com dona Melisa". E não disse mais nada. Bernardo não respondeu também.
Ao chegar a mansão, o pai de Bernardo pediu ao mordomo para avisar a dr. José que ele e Bernardo queriam falar.
Foram recebidos no mesmo escritório em que houve a reunião anterior. Desta vez, contudo, só estavam o pai de Melisa, o pai de Bernardo e o próprio.
"Dr. José, com todo respeito, Bernardo tem uma coisa para falar com o senhor", disse o motorista.
"Pode falar, Bernardo", disse dr. José.
"Dr. José, eu queria pedir desculpas pelo meu comportamento ontem. Eu gostaria muito de casar com dona Melisa se o senhor autorizar", disse Bernardo, tentando dizer mais alguma coisa para complementar, mas não conseguiu dizer mais nada.
"Tudo bem Bernardo, espere lá fora que eu tenho que ter uma conversa com seu pai", disse dr. José.
Assim que Bernardo saiu, os dois homens de quase a mesma idade, mas classes sociais tão diferentes, começaram a negociar.
Pela primeira vez na vida, o pai de Bernardo se sentou em uma cadeira no escritório de dr. José.
Dr. José primeiramente acordou que teria que treinar Bernardo para ele poder ser um membro da família. Exigiu do pai de Bernardo que o filho seria obediente aos seus ensinamentos até a realização do casamento. O motorista prontamente concordou.
Após essa primeira negociação, dr. José passou a listar os benefícios que daria ao motorista. Disse que ele poderia deixar de trabalhar nos próximos dias. Que iria receber cinco vezes o valor atual do salário como uma espécie de pensão enquanto durasse o casamento. Uma casa bem maior em um bairro melhor seria comprada para o pai de Bernardo e até mesmo o carro atual que ele dirigia, que ele amava aparentemente mais que um dos filhos, lhe seria dado como presente. Dr. José já estava pensando mesmo em comprar um carro novo, zero.
O pai de Bernardo ficou maravilhado com tudo que dr. José ofereceu e prontamente disse que ele e Bernardo iriam obedecer a tudo que dr. José mandasse.
"A partir de agora, eu serei o professor de Bernardo, até o dia desse casamento, vou marcar a data para daqui a seis meses e o casamento só vai acontecer se ele for um bom aluno, assim como você só terá a escritura da casa nova e o carro no seu nome se o casamento ocorrer", disse dr. José.
"Sim senhor", disse prontamente o motorista, com os olhos brilhando de tanta felicidade.
"Chame Bernardo aqui para ele assentir com tudo que acordamos", disse dr. José para o motorista, continuando a tratar ele como empregado, apesar de ser um futuro parente.
Bernardo entrou, com semblante humilde e olhando para o chão, da mesma forma melancólica que fazia quando era confrontado por Christopher muitos anos depois, um cachorrinho perdido na mudança.
Dr. José explicou a Bernardo todos os pontos que tinha negociado a sós com o motorista, dando ênfase a parte que Bernardo só casaria caso se esforçasse no "treinamento" de seis meses que dr. José iria dar. Destacou tudo que a familia de Bernardo ganharia de imediato no dia seguinte ao casamento. E perguntou se Bernardo dava sua palavra que iria cumprir tudo.
"Sim senhor, eu vou cumprir tudo", disse Bernardo, sem nenhuma emoção na voz.
Só pelas 11 horas da manhã, dr. José chamou a esposa e pediu para ela comunicar a Melisa que o casamento iria ocorrer, que já estava tudo acertado.
Melisa demorou ainda meia hora para descer do quarto, além de se arrumar teve que caprichar com a mãe na maquiagem para esconder todas as horas de choro.
Ela desceu as escadas e pulou no pescoço de Bernardo que a esperava, lhe dando um beijo longo. Os que viram a cena, perceberam que Bernardo não demonstrava muita emoção com a situação. Já Melisa, que sempre se achou o centro do Universo, estava radiante e nada percebia do clima estranho a sua volta.
Bernardo mostrou uma pequena caixinha, tirou um anel dela, se ajoelhou e pediu a mão de Melisa em casamento na frente de todos. O anel tinha sido providenciado por dona Rosa e a ideia do pedido de casamento "de filme" também tinha sido dela. Ninguém esperou Bernardo concordar depois de ser dada a ideia de como fazer o pedido. O pai de Bernardo, com o uniforme de motorista, presenciava a cena acuado, com postura ainda de empregado e não de novo membro da família.
Melisa se emocionou ao ver o anel e gritou "sim". Os pais de Melisa riram, ficando felizes por fazer mais essa vontade da filha, da mesma forma que ficavam quando davam um brinquedo caro e muito desejado, quando ela ainda era criança.
"Esse anel era da sua bisavô que foi condessa na França", disse dona Ana, falando mais uma vez desse suposto parentesco nobre, que não tinha nenhuma corroboração e que era apenas uma lenda familiar mal explicada.
Melisa estava chorando, desta vez de felicidade, olhando para o anel. Pegou Bernardo pelas mãos e foi conversar com ele no jardim. O mesmo jardim que Bernardo tantas vezes limpou para ganhar uma gorjeta.
As "aulas" de Bernardo começaram já no dia seguinte. Dr. José achava que seria algo maçante e sem sentido, mas bastou alguns dias para também se maravilhar com Bernardo. O multimilionário ficou encantado em quanto Bernardo era respeitoso, dedicado, atencioso e esforçado. Ao contrário de Melisa, que se apaixonou por Bernardo aos poucos, conforme ele ia ficando com um corpo bonito, a "paixão" de dr. José pelo genro foi quase que instantânea.
As aulas eram dadas pela manhã, das 7 horas até as 11 horas, quando dr. José tinha que ir para o escritório. Muitas vezes, contudo, dr. José ficava tão deliciado com a "aula" que levava Bernardo para o escritório e depois almoçavam em algum restaurante chique de São Paulo. Tudo era uma aula. Dr. José se maravilhava em casa ao explicar a Bernardo o que era uma bolsa de valores, ao lerem o jornal impresso juntos pela manhã. No restaurante, ficava radiante ao explicar a Bernardo o que era um vinho tinto, uma safra, uma uva, ou coisas mais simples, como o que fazia um maître no restaurante. Na empresa, de tanto que Bernardo ia, dr. José disse aos subordinados que Bernardo era seu novo assistente pessoal e Bernardo ouvia todas as reuniões e telefonemas de dr. José. Muitas vezes, voltavam para a mansão só de noite, depois de um dia inteiro juntos. O pai de Bernardo não era mais o motorista, então dr. José mandava o novo motorista levar Bernardo em casa, ainda a casa humilde no suburbio, enquanto a nova casa da familia de Bernardo estava sendo escolhida.
A convivência de Bernardo e dr. José passou a ser tão grande que até os dois filhos homens de dr. José passaram a fazer piadinhas para o pai. Os dois ainda não tratavam Bernardo como cunhado, mas como filho do motorista, mas demonstravam já algum ciúme pela atenção que o pai diariamente dava a Bernardo.
O filho mais velho um dia confrontou o pai sobre essa atenção toda para Bernardo, que considerava excessiva. Dr. José tergiversou dizendo que Bernardo iria entrar para a família. O filho mais velho de dr. José já era na época um empresário bem sucedido, mas também era um homem muito culto, estudioso de peças de teatro e literatura. Insatisfeito com as respostas do pai, ele sentenciou o que era a relação de Bernardo e dr. José, no que o velho empresário depois de alguns minutos acabou concordando.
"Você está apenas sentindo na alma com intensidade máxima o prazer de Pigmalião", disse o filho mais velho. O pai levou alguns segundos para entender a referência e após mais uns poucos minutos concordou entusiasmado com a fala do filho.
"Numa dessas rotineiras noites, Eliza Doolittle, uma mendiga que vende flores pelas ruas escuras de Londres em busca de uns trocados, encontra um culto professor de fonética chamado Henry Higgins e se maravilha com sua incrível habilidade de descobrir muito sobre as pessoas somente por meio de seus sotaques. Quando ele escuta o sotaque terrível de Eliza, faz uma aposta com seu amigo Hugh Pickering, afirmando ser capaz de transformar uma simples vendedora de flores numa mulher da alta sociedade em apenas seis meses", citou o filho mais velho, de memória.
"Peça Pigmalião de George Bernard Shaw. Qual o ano mesmo?", perguntou dr. José ao filho.
"1913", respondeu o rapaz, orgulhoso de saber de memória mais uma referência cultural.
"Passe um dia comigo e Bernardo, por favor, tenho certeza que você vai gostar dele também", disse dr. José.
O filho cedeu ao apelo do pai e acompanhou um dia inteiro das "aulas". No início o irmão de Melisa estava receoso, mas durante o almoço em um dos melhores restaurantes de São Paulo o jovem empresário também se encantou por Bernardo. Ele não conseguiu ver maldade ou o tradicional "golpe do baú" em Bernardo. Ao contrário, Bernardo tinha uma fala tão serena, tão otimista, tão respeitosa. Na cabeça do irmão de Melisa, ou Bernardo era uma pessoa realmente muito boa, até inocente, ou ele era o maior charlatão, vigarista e mentiroso do mundo, pois também teria "lhe enganado", como "enganara" o seu pai, dr. José.
Acabou que foi o irmão de Melisa que, num golpe de sorte do acaso, selou o destino de Bernardo. Ele já estava lendo alguns livros, indicados por dr. José, mas foi seu futuro cunhado que lhe deu um exemplar da Constituição Federal do Brasil de 1988. Bernardo leu toda a Constituição, fez suas anotações, pesquisou na Internet tudo que não entendia, chegou a ligar para o futuro cunhado para tirar dúvidas, o que deixou o irmão de Melisa ainda mais encantado com Bernardo.
Dr. José, tão confiante que estava em Bernardo, já começara a convidar amigos para almoçar com ele e Bernardo em bons restaurantes de São Paulo e já apresentava Bernardo como "futuro genro". Bernardo já se esforçava em participar das conversas sem envergonhar o sogro.
Um dia, em um dos seus almoços com dois amigos muito influentes, com Bernardo presente, um dos amigos de dr. José começou a falar de política.
"Vai passar, pois para passar o impeachment do presidente são três quintos do Congresso, não está tão dificil assim", disse o amigo de dr. José, um grande empresário.
"Lamento, doutor, mas o quórum do impeachment do presidente da República são dois terços, não três quintos. Três quintos é o quórum para aprovar emendas constitucionais", disse Bernardo, sem pensar, depois se arrependeu de imediato.
Os três velhos olharam para Bernardo um tanto espantados. O rapaz queria se enfiar embaixo da mesa de tanta vergonha, achou que estava tudo acabado sobre o casamento e que iria tomar outra surra do seu pai.
"É verdade, o rapaz está certíssimo. O quórum do impeachment é dois terços, até eu me esqueci. Que maravilha, José, não sabia que seu genro era advogado, estou precisando de um advogado novo no meu escritório, você não se interessa, Bernardo?", disse o outro amigo de dr. José na mesa, que era um desembargador aposentado do Tribunal de Justiça, agora advogando em seu escritório particular.
Dr. José só faltou chorar de tanta emoção naquele momento, ao ver a fala de Bernardo ser confirmada por um desembargador, em uma conversa de tão alto nível. Parecia que dr. José tinha ganho naquele instante um prêmio na loteria de tanta felicidade que ficou. Caso lhe perguntassem na hora o que ele preferia, aquele sentimento ou 5 milhões, ele responderia sem pestanejar pelo sentimento daquele momento. O seu "prazer de Pigmalião" foi consumado com louvores máximos naquele almoço. Dr. José chegou na mansão eufórico, contando o acontecido para toda a família quase aos gritos. Só Melisa não deu importância e não compreendeu a dimensão do ocorrido, diante dos poucos meses de "aulas" de Bernardo.
Aquele episódio, contudo, definiu o futuro de Bernardo. Dr. José imediatamente aconselhou o futuro genro a iniciar uma faculdade de Direito. Naquela época, qualquer conselho do sogro era tratado como ordem e cumprida imediatamente pelo futuro genro. Bernardo tinha terminado o ensino médio, tinha sido o primeiro da família a fazer isso, mas seu diploma era de uma escola pública estadual de periferia. Dr. José inscreveu imediatamente Bernardo para fazer o vestibular de Direito da PUC de São Paulo, apesar dos avisos do filho mais velho de dr. José de que Bernardo não conseguiria passar. Bernardo chegou a tentar estudar para a prova, mas teve uma retumbante reprovação. O seu futuro cunhado, irmão mais velho de Melisa, então indicou uma faculdade particular, bem conhecida, mas bem mais modesta nas exigências de vestibular. Bernardo conseguiu aprovação "raspando" e dr. José comemorou como se o genro tivesse sido aprovado para a faculdade de Direito de Harvard. Até estourou um champanhe na presença de toda a sua família, mais Bernardo. Os pais de Bernardo e seus irmãos ninguém cogitou convidar para a pequena comemoração na mansão, contudo.
A data do casamento chegou e dr. José nem se preocupava mais com as "aulas", só passava o dia todo com o futuro genro, jogando conversa fora, apenas pelo enorme prazer da companhia.
Apesar de terem contratado um pelotão de assessoras e cerimonialistas, dona Rosa e Melisa a todo momento se queixavam de estarem exaustas pelos preparativos do casamento. Melisa nem teve tempo de ver Bernardo uma semana antes de tão ocupada que dizia estar. Ninguém consultou Bernardo sobre a lista de convidados. Apenas seus pais e seus irmãos receberam convite. Bernardo não teve direito a convidar nenhum amigo, nenhum colega. Os seus padrinhos foram os dois irmãos de Melisa, mais parentes e amigos próximos de dr. José. O filho mais velho de dr. José, no entanto, como já gostava muito de Bernardo, realmente fez seu papel de padrinho e até saiu para tomar um chope com o futuro cunhado, a título de "despedida de solteiro". Além disso, o novo cunhado providenciou toda a roupa sob medida para Bernardo se casar, levou ele no dia em um salão para fazer o cabelo e uma limpeza de pele. Melisa só se lembrou do noivo e de sua preparação três dias antes da cerimônia, ficando aliviada ao saber que o irmão já tinha providenciado e agendado tudo que Bernardo precisava para ir ao casamento.
Naturalmente, dr. José já tinha comprado e presenteado Bernardo com muitas roupas e sapatos nos passeios que faziam, durante o período de "aulas", mas coube ao cunhado tomar a providência de comprar uma espécie de "enxoval" para Bernardo, uma semana antes do casamento, para ele ter todas as roupas adequadas que um homem da sua nova classe social precisava. As poucas peças de roupa da época de "pobre" de Bernardo que ele ainda guardava foram literalmente jogadas no lixo pelo cunhado.
Na data do casamento, Bernardo, seus pais e seus irmãos já residiam na chamada "casa nova". Só faltava a escritura "de papel passado". A casa tinha "até piscina" e a mãe de Bernardo se jactava de "ter até empregada" para parentes e conhecidos. Bernardo "na casa nova" tinha um quarto só para si, luxo que seus irmãos não tinham, apesar da casa ter 4 quartos, sendo 2 suítes, uma dos pais, a outra de Bernardo.
A medida que a data de casamento se aproximava, o equilíbrio de poder "na casa nova" mudava. Quanto mais próximo do dia do casamento, mais respeitoso o pai de Bernardo era com o filho e mais o filho tinha poder de comando e voz "na casa nova". Nas vésperas do casamento, o pai já chegava perto de Bernardo, com muito respeito e cuidado, solicitando que o filho pedisse a dr. José vários favores. O pai sabia, através dos antigos colegas empregados da mansão, o quanto dr. José tinha se afeiçoado por Bernardo. Os antigos colegas foram peremptórios ao dizer ao pai de Bernardo que, independente do casamento ocorrer ou não, dr. José já considerava Bernardo como um filho. Na semana no casamento, já era Bernardo a maior autoridade da família "na casa nova", cabendo a ele a última palavra nas decisões, inclusive financeiras. O pai não se atrevia a contestar as decisões de Bernardo, mesmo contrariado com algumas. Por exemplo, o pai de Bernardo queria um aumento da "pensão" antes mesmo do casamento ocorrer e Bernardo se recusou a falar com dr. José a esse respeito. Apesar de contrariado, o pai de Bernardo foi muito respeitoso com o filho, ao ouvir esse não. A surra dada naquele dia parecia uma lembrança distante de muitos anos atrás, não algo ocorrido há poucos meses.
A família de Melisa acolheu Bernardo totalmente e já o tratavam como um igual semanas antes do casamento. Houve apenas um ponto que destoou desse quadro, o regime de casamento dos dois. Dr. José até cogitou de realizar o casamento com comunhão parcial de bens. Seu filho mais velho, que já gostava de Bernardo, concordou. O filho do meio ficou escandalizado com a possibilidade e teve o apoio total da mãe, dona Rosa. No final, prevaleceu a posição do filho do meio e de dona Rosa e o casamento adotou o regime de separação total de bens. Melisa não percebeu nada sobre isso, nem foi consultada, pois não fazia a mínima ideia do que regimes de casamento significavam. Bernardo, contudo, percebeu e entendeu tudo, pois já tinha estudado sobre o assunto na Internet. No entanto, não ficou chateado com a decisão da família de Melisa. Ele já se sentia um afortunado só de estar casando.
O dia do casamento chegou. Com a ajuda do cunhado, Bernardo se apresentou na Igreja mais bonito do que nunca. O novo corte de cabelo, a pasta mantendo os fios do penteado moderno e a limpeza de pele no dia fizeram uma grande diferença, assim como o terno sob medida, que teve um caimento perfeito no corpo já muito bonito, na época, de Bernardo. Até as pessoas que já conheciam Bernardo se espantaram em ver como o "filho do motorista" estava tão bonito e com "cara de rico". A maioria dos convidados, naturalmente, não sabia, nem lembrava, o nome de Bernardo e se referiam a ele, sob cochichos, como "o filho do motorista". No entanto, Bernardo estava tão belo, tão majestoso, que a maioria dos comentários durante a cerimônia acabou sendo elogiosa sobre ele. Muitas mulheres falaram a frase "eu também casaria com esse filho do motorista", algumas brincando, outras a sério.
Melisa também estava muito bela em seu vestido especialmente encomendado em Paris, em uma casa de alta costura. Na época, Melisa ainda tinha um corpo de modelo, uma pele perfeita e um formato de rosto invejável. Apesar de Bernardo ser um homem muito bonito, era visível, no dia do casamento, que Melisa era a mais bela do casal, posição que se inverteu anos depois.
Dr. José e dona Rosa, pais de Melisa, estavam radiantes durante toda a cerimônia e a festa. Os pais de Bernardo, contudo, ficaram o tempo todo nervosos, com medo de "passarem vergonha" caso ocorresse alguma gafe por parte deles e não falaram com nenhum dos demais convidados durante a festa, apenas com os próprios filhos. Os irmãos de Bernardo, contudo, aproveitaram bem a festa e até socializaram com os convidados de Melisa mais jovens.
A noite de nupcias dos dois foi na suíte mais cara de um dos melhores hotéis de São Paulo. Do hotel, foram direto ao aeroporto, onde um jatinho fretado por dr. José levou os noivos até Paris, para a lua de mel. Bernardo, que nunca andou de avião na vida, fez seu primeiro vôo em um jatinho fretado especialmente para ele.
Na volta da lua de mel, alguns dias depois, Bernardo começou a faculdade particular. O casal passou a morar na mansão da família. Bernardo sofreu muito, pois não tinha base de estudo mesmo para a faculdade particular. O irmão mais velho de Melisa o socorreu mais uma vez e contratou explicadores para as matérias que Bernardo tinha mais dificuldade. Bernardo fazia a faculdade pela manhã e ia ao escritório de dr. José a tarde, ainda como uma espécie de "assistente pessoal". No entanto, quando não estava conversando ou auxiliando dr. José, Bernardo passava o tempo todo estudando, lendo livros, fazendo anotasções das matérias. No final do segundo período, Bernardo já era um leitor voraz de assuntos jurídicos e tirou excelentes notas nas provas finais do segundo período da faculdade.
Assim Bernardo seguiu sua rotina no primeiro ano do casamento. As noites eram totalmente dedicadas a Melisa e seus caprichos. Ela gostava de socializar com novas conhecidas, especialmente para exibir o marido. Geralmente, Bernardo era o mais bonito entre os maridos das colegas e isso deixava Melisa muito orgulhosa. Bernardo quis se matricular em uma academia de ginástica a noite, mas Melisa proibiu. A agenda da noite era apenas dela. Daí Bernardo entrou para uma academia de manhã, quase na madrugada, antes de entrar na faculdade, hábito que tem até hoje. Melisa ficou maravilhada com o corpo do marido ganhando forma, ainda mais que ele ia na academia em um horário que não atrapalhava seus planos sociais.
No terceiro período da faculdade, dr. José disse que era hora "de Bernardo voar". Bernardo não entendeu. Dr. José disse que, a partir daquele dia, ele iria ser estagiário não remunerado do amigo desembargador aposentado, o mesmo daquele dia no restaurante, e não ia mais frequentar a empresa da família durante a tarde. Bernardo tinha na época 22 anos. O desembargador também se encantou rapidamente por Bernardo e passou a chamá-lo de "meu pupilo" carinhosamente. Bernardo continuou a melhorar nos estudos e na cultura geral. Aprendeu muito sozinho, em suas leituras, e com o desembargador, em longas conversas. O casamento também ia muito bem, o relacionamento com a família de Melisa melhor ainda.
Quando prestou exame da OAB, das 80 questões objetivas, acertou 75, uma nota muito boa. Na prova discursiva, sobre Direito Constitucional, tirou nota máxima 10. Passou na OAB na primeira tentativa. Infelizmente para Bernardo, não foi um período feliz, pois o desembargador que o apadrinhou faleceu de causas naturais em meio às provas da OAB. Para Bernardo foi um grande baque, pois o desembargador era, ao lado de dr. José, as únicas figuras paternas que ele estimava. Com a morte, o escritório do desembargador foi encerrado e Bernardo ficou apenas estudando para a OAB, sem estagiar.
O pai de Bernardo, durante os anos, pedia seguidas vezes aumentos na "sua pensão". Bernardo sempre resistia por um tempo, mas periodicamente cedia e falava com dr. José, que prontamente atendia ao pedido do genro sem questionar nada.
Na faculdade particular, Bernardo fez um grande amigo. Apesar do colega só querer saber de festas e baladas, coisa que Bernardo não frequentava, formaram uma boa amizade. Bernardo sempre colocava o nome do amigo nos trabalhos de faculdade e tirava xerox dos cadernos para o amigo tentar acompanhar as matérias. Esse amigo era de uma família riquíssima, mas não queria nada com as profissões jurídicas. No entanto, o amigo tinha um irmão bem estudioso que cursava direito na USP e ia se formar junto com Bernardo. Bernardo também formou uma boa amizade com o então aluno da USP, irmão de seu amigo. Depois de aprovados na OAB, o formado na USP disse que queria abrir um escritório de Direito Societário e Empresarial e convidou Bernardo para ser sócio em 50% e 50%. Bernardo consultou dr. José como sempre fazia a cada decisão importante da sua vida. Dr. José ficou maravilhado com a ideia e aprovou prontamente, pois conhecia muito bem a tradicional família do sócio.
Assim, foi montado o escritório em um dos melhores endereços da Avenida Paulista. Os primeiros clientes foram as empresas das respectivas famílias e pessoas que tinham relações de negócios com o sogro de Bernardo e com o pai de seu sócio. Em menos de dois anos, contudo, o escritório deslanchou por conta própria sem a influência dos parentes. Enquanto o sócio de Bernardo fazia os contatos com clientes, captanto novos contratos, Bernardo era uma máquina de trabalhar, cuidando de todo o operacional e administrativo do escritório. Os dois sócios se completavam. Já no primeiro ano de escritório, Bernardo, muito humildemente, foi até dr. José e disse que não seria mais necessária "sua mesada" que dr. José mensalmente depositava para Bernardo. O sogro, muito orgulhoso, cortou a mesada do genro, mas manteve a da filha. No segundo ano do escritório, Bernardo foi mais uma vez ao sogro e pediu para ele assumir o pagamento da mesada de Melisa, pois era o marido dela. O sogro, mais uma vez orgulhoso do genro, concordou. No terceiro ano, Bernardo passou a custear todas despesas de seus pais e seus irmãos integralmente, mas desta vez sequer pediu permissão ao sogro, apenas comunicou sua decisão. As despesas da família de Bernardo tinham crescido exponencialmente a medida que os irmãos cresciam e o pai bebia cada vez mais. Já viviam uma vida de classe média alta. Mesmo assim, Bernardo assumiu as despesas sem maiores dificuldades financeiras, devido ao sucesso de seu escritório.
No quinto ano do escritório de Bernardo, dr. José teve um sério problema com a sua empresa. Um acordo cambial mal feito levou a empresa a ter que pagar antecipadamente uma dívida alta inesperada. A grande falha de dr. José, que ele se arrependeu pelo resto da vida, foi não delegar ao escritório de Bernardo a revisão jurídica do acordo, mas sim a outro escritório de um amigo seu de longa data. Bernardo ainda tentou, depois, ajudar o sogro com seus conhecimentos jurídicos, mas não teve jeito. Dr. José teve que se desfazer de grande parte de seus bens, inclusive da mansão, para se capitalizar novamente e honrar a dívida. Na época, dr. José e dona Rosa resolveram se mudar para um apartamento bem menor, apesar de ser de altíssimo luxo. Bernardo, com seus próprios recursos, oriundos dos seus honorários no escritório, comprou um apartamento quase do mesmo alto padrão para morar com Melisa. A esposa nem reclamou em ter que deixar a mansão entusiasmada com a perspectiva de poder decorar sozinha a nova casa. E Melisa gastou com o novo apartamento sem se preocupar com os preços. Bernardo pagou tudo sozinho.
O escritório de Bernardo continuou tendo muito sucesso e faturando muito. Alguns anos depois, Melisa quis se mudar para o Buckingham House, pois ambicionava morar no prédio, um reduto fashion de modelos, artistas famosos e socialites. Bernardo prontamente atendeu o pedido, sem nenhuma dificuldade financeira, pois já estava rico junto com seu sócio, após assessorar várias fusões e aquisições famosas no empresariado nacional. O sócio estava meio afastado nos últimos anos, por motivo de doença, mas Bernardo, pela grande amizade e consideração ao primeiro parceiro de negócios, continuava regiamente pagando os dividendos do sócio sem nenhuma mudança ou questionamento, apesar do sócio quase não participar mais de nada no escritório devido a doença. Mesmo assim, apenas a parte de Bernardo no escritório já representava uma pequena fortuna. Na época, o escritório já tinha vários outros sócios-minoritários, com 1 ou 2% de participação, como é comum em bancas de advocacia, mas Bernardo e o seu sócio-sênior original continuavam tendo o amplo controle da sociedade e ficavam com 80% dos lucros para eles.
Nesse meio tempo, a empresa pessoal do irmão mais velho de Melisa passou por sérios problemas jurídicos, mas o escritório de Bernardo conseguiu resolver todas as questões rapidamente. Bernardo não cobrou honorários do cunhado, que estava passando por sérias restrições financeiras em sua empresa. Bernardo e o irmão mais velho de Melisa sempre foram grandes amigos e quando o cunhado quis agradecer pela ajuda jurídica e pela não cobrança dos honorários, pois não tinha condições de pagar, Bernardo apenas disse "sou eu que sempre terei que lhe agradecer por você ter me acolhido como um irmão quando eu não era nada". Caso Bernardo não tivesse ajudado na situação, com grande brilhantismo, o cunhado teria ido à falência e poderia ter que responder criminalmente. Bernardo abriu mão de ganhar milhões em honorários, ao ajudar o cunhado.
No primeiro ano em que Melisa e Bernardo moraram no Buckingham House, Bernardo já era a pessoa mais conhecida e influente da família no meio empresarial e de negócios, muito acima do sogro e dos seus dois cunhados. As empresas do sogro e dos cunhados, apesar de ainda serem de razoável tamanho, nunca se recuperaram das respecitvas crises. Dr. José e seus dois filhos homens perderam muito do patrimônio, mas continuram ricos para o padrão nacional. Já Bernardo liderava o escritório mais importante do país na sua área, era uma referência em revistas especializadas, rodas empresariais e cada vez mais procurado, a ponto de ter que recusar grandes clientes.
Bernardo era altamente disciplinado, em ir para a academia e para o escritório todos os dias, nos mesmos horários. Seu corpo se desenvolveu mais ainda. Aos 35 anos tinha a barriga trincada, igual a um ator de ação de filme americano. Sua pele era naturalmente perfeita e seu cabelo era um castanho viçoso e com volume. Ele também se cuidava muito bem quanto a alimentação. Todos que o conheciam admitiam que a cada ano ele ficava mais forte e principalmente mais bonito. Melisa até tentou acompanhar o marido, de início, na vida saudável. No entanto, a ansiedade a fez compesar suas inseguranças com excesso de comida. Os quilos a mais desproporcionais ao seu corpo a levaram a fazer cirurgias e procedimentos estéticos que, na maioria das vezes, davam errado. Atualmente, olhar o casal lado a lado, era um contraste gritante entre a "gorda e quase deformada" Melisa e o atlético e com corpo de "ator de ação" Bernardo. Se no início do casamento Melisa levava Bernardo ao lado como um troféu para todos os lugares, nos últimos anos, Melisa praticamente escondia Bernardo de todas as conhecidas. Não porque tivesse medo de traição, mas por vergonha de como o marido estava bonito e ela "feia". Há anos não tiravam fotos juntos e Melisa não permitia o marido postar fotos em redes sociais. Apesar de acompanhamentos sucessivos com nutrólogos, médicos e terapeutas, Melisa não conseguia resolver seus problemas de imagem e pessoais. E ela sempre descontava suas raivas e frustrações atacando o marido, o humilhando, preferencialmente na frente de outras pessoas. Os "barracos" viraram uma situação recorrente, tanto em família, como no escritório, como no condomínio. Apesar de tantos problemas, Bernardo nunca traiu Melisa. E oportunidades não faltaram no escritório. Algumas mulheres se ofereciam ostensivamente para Bernardo, apesar da aliança reluzente no dedo dele. Na verdade, em conversa com o irmão mais velho de Melisa anos atrás, Bernardo admitiu para o cunhado e amigo que Melisa foi a única mulher em sua vida e que ele casou virgem aos 21 anos.
No dia que Christopher advertiu Melisa de que ela não deveria tratar Bernardo daquela maneira, na recepção do condomínio, Bernardo e Melisa completaram catorze núpcias de casados. E Christopher foi a segunda pessoa com quem Bernardo fez sexo na vida.