O traficante e eu - Uma história de superação - Prólogo

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Homossexual
Contém 9454 palavras
Data: 15/07/2023 11:28:58

O traficante e eu – Uma história de superação - Prólogo

O que eu mais queria era um pai. Nunca o conheci, nunca tive um. Ao longo dos anos tentei inúmeras e variadas vezes extrair essa informação da minha mãe. Quem é o meu pai? Onde está o meu pai? Tantas quantas vezes eu fazia a mesma pergunta, tantas e quantas foram as respostas. Elas apenas variaram à medida em que eu crescia e já não me contentava com respostas evasivas, ou que não esclareciam absolutamente nada.

- Você não tem pai! – foi a resposta na mais tenra idade, com a qual me contentei por alguns anos. – Seu pai foi fazer uma grande viagem! – foi a segunda resposta, quando a primeira já não funcionava mais, pois nesse interim, eu havia descoberto que todo mundo tinha um pai, de uma forma ou de outra. – Seu pai morreu antes de você nascer! – foi a terceira que, tão pouco, não me satisfez por muito tempo.

- Do que o meu pai morreu? – continuei insistindo.

- De morte morrida! Do que mais haveria de ser? – foi a quarta resposta, quando minha curiosidade ainda era maior do que a minha capacidade de analisar os fatos.

- Como é morrer de morte morrida? Foi por causa de uma doença? Foi num acidente de carro ou outro qualquer? – continuei questionando, pois todos os garotos do colégio tinham um pai que participava com eles dos festejos que o colégio promovia. Alguns tiveram um pai que também morreu, ou num acidente, ou devido a uma doença, e agora tinham um pai que se chamava padrasto; mas, de qualquer forma, era uma espécie de pai que estava lá com eles. Uns, bastante sortudos, tinham até dois pais, e eu ficava imaginando o porquê de eu não ter nenhum. Talvez eu tenha sido um menino muito ruim em alguma fase passada, por isso fui castigado com a ausência de uma figura tão especial.

- Essa história de novo, Felipe? Você não se cansa, não? Pela última vez, você não tem pai porque ele morreu de morte morrida e não importa como foi essa morte. O fato é que você não tem pai, e ponto final! – foi a resposta que ela sustentou, se mostrando cada vez mais aborrecida com a minha insistência, pois minha compreensão já atingira um ponto em que conseguia captar quando alguém estava mentindo.

Algo me dizia que minha mãe jamais revelaria quem foi ou é meu pai, esse segredo ela levaria ao túmulo, sem jamais o revelar; ao menos não para mim.

Mais ou menos por essa mesma idade, eu me recordava de morarmos com um homem e uma mulher mais velhos, com os quais minha mãe tinha muitas discussões, às vezes tão acaloradas que eu acordava durante a noite com os gritos deles. Lembro-me também, que esse homem costumava me levar para passear na praia, quando me deixava tirar os tênis e caminhar sobre uma areia fofa e quentinha, ou me deixava pisar na água que lambia uma areia mais dura e cinzenta. Nessas ocasiões, eu gostava de pegar na mão dele, grande e forte, onde a minha praticamente sumia dentro dela. Por algum motivo ele se esquivava de segurar a minha mão, mas quando eu insistia um pouco, e sorria para ele, ele acabava permitindo que eu segurasse sua mão. Aquele calor que vinha dela me deixava feliz. Então houve mais uma daquelas discussões, dessa vez à luz do dia, houve gritos, palavrões, o homem bateu na minha mãe, houve os gritos desesperados da mulher, seguido do choro da minha mãe, o que me fez sentir raiva daquele homem pela primeira e única vez; enquanto eu, encolhido e assustado com tudo aquilo, num canto, sentia as lágrimas escorrendo pelo rosto.

Então veio aquela viagem, muitas e muitas horas dentro de um ônibus que não chegava nunca àquele lugar que minha mãe ficava repetindo – só mais um pouquinho e logo vamos chegar – ali eu descobri que um pouquinho podia ser uma coisa muito grande e muito demorada, pois os rostos enfadados dos demais passageiros estampavam a mesma impaciência que me atormentava. Quando aquele mais um pouquinho finalmente chegou, estávamos num lugar estranho, bem diferente de tudo que eu conhecia, só eu e minha mãe, acomodados num único quarto na edícula de um casarão como jamais tinha visto igual, separada dele por um jardim muito verde e bem cuidado. Nunca mais vi o homem e a mulher mais velhos.

- É aqui que vamos morar? – perguntei à minha mãe, quando ela desfez as malas e ajeitou o quarto de forma que ambos pudessem dividir a mesma cama. – Não podemos voltar para a nossa casa? – perguntei, ante a exiguidade do espaço e aquele sentimento de perda que se formara em meu peito.

- Nossa casa agora é aqui! E preste muita atenção no que vou te dizer agora. Você nunca, está me escutando Felipe, nunca, nunca vai sair daqui se eu não te disser que pode. Você vai ficar aqui dentro muito quietinho, sem fazer bagunça ou qualquer outra coisa que eu não te autorizar. Você entendeu, Felipe? – disse ela, enquanto me mantinha diante dela com um olhar severo e segurando ambas as minhas mãos dentro das dela.

- Tá bom! – respondi, uma vez que não havia mais nada que eu pudesse fazer, e nem quisesse questionar naquele momento, que me pareceu bastante solene e sério.

Foi naquele quarto que cresci, praticamente recluso e como se não existisse. Com o passar do tempo, fui descobrindo que minha mãe era a cozinheira do casarão onde vivia um casal de meia idade com filhos crescidos que só apareciam de vez em quando, nas férias, pois estudavam no estrangeiro. Na mesma edícula ficava o quarto de um casal bastante jovem; ele, Josué, dirigia aqueles carros que estavam sempre brilhando como se tivessem saído de uma caixa de presentes, levando ora o homem, ora a mulher sempre sentados no banco de trás. A esposa dele, Marlene, também trabalhava dentro do casarão, como a minha mãe. Ambas passavam a maior parte do dia lá dentro, mas o Josué, quando lhe sobrava um tempinho depois de ter lavado os carros, vinha me chamar e teve até uma vez, em que me deixou sentar ao volante de um daqueles carrões quando ninguém nos viu. Foi o dia mais feliz desde que cheguei ao quartinho, me deu até vontade de segurar na mão dele e chamá-lo de pai, tão eufórico fiquei. Só não o fiz, porque minha mãe havia dito expressamente, para eu não me meter nem no quarto deles, nem na vida deles, que meu lugar era o nosso quarto e nada mais. De qualquer forma, o Josué parecia gostar de mim, pois de vez em quando ele me dava uma mão cheia de balas ou um tablete de chocolate, ou alguma outra dessas coisas que todo garoto gosta. Nessas ocasiões, eu lhe devolvia um sorriso tímido e agradecido o que também o fazia sorrir.

Próximo à edícula ficavam duas baias onde estavam alojados os dois cães do casal. Eram cachorros grandes que rosnavam e mostravam os dentes toda vez que um estranho, como o jardineiro ou outra pessoa qualquer que vinha para fazer algum serviço no casarão, se aproximava. Desde o primeiro dia me encantei com eles, nunca tinha visto cachorros daquele tamanho e tão lindos. Embora essa também tivesse sido uma das recomendações da minha mãe – não se aproxime do canil e não irrite os cachorros – ou vai sentir a bunda esquentar até não conseguir se sentar sobre ela, entendeu Felipe? Na hora eu concordei, mas já pensava numa maneira de não cumprir minha promessa. Em pouco tempo, e sempre às escondidas, eu estava diante do portãozinho telado que os prendia nas baias, com eles enfiando o focinho pelas grades da tela para lamber meu rosto com sua baba gosmenta, enquanto minhas mãos acariciavam as caras exaltadas deles. Foram os únicos amigos que eram só meus naquele lugar.

Minha mãe, a Marlene e o Josué faziam suas refeições na cozinha do casarão, enquanto eu as fazia no quarto mesmo, trazidas pela minha mãe. Fui orientado e nunca pisar dentro daquela casa, nem mesmo na cozinha, e como minha mãe avisou que o emprego dela dependia disso, eu não me atrevi a desobedecer.

Já fazia uns meses que estávamos morando na edícula, quando num dia de sol, enquanto lia seu jornal na beira da piscina, o velho me vendo olhar pela janela do quarto me chamou. Me estremeci todo, talvez eu tivesse feito alguma coisa que não devia, fiquei com tanto medo que não conseguia sair do lugar. Então ele veio caminhando na minha direção, o que só aumentou meu pavor. Quando ficamos frente a frente, isto é, eu dentro do quarto e ele do lado de fora, ele me mandou sair.

- Qual seu nome, garoto? – perguntou com um sorriso contido

- Fe ... Fe ... Felipe, senhor! – respondi, engolindo as sílabas de tão nervoso.

- Quantos anos você tem? – como eu ainda não tinha certeza de qual era o nome da mão direita com todos os dedos abertos e mais um da mão esquerda, apenas os mostrei para ele.

- Seis! Seis anos! – disse ele, enquanto eu apenas acenava com a cabeça.

- Vi que você gosta de brincar com os cachorros, e eles com você! – continuou, o que me fez pensar – é agora que a bronca vem – mas não neguei o óbvio, tinha aprendido que nunca se deve mentir, embora já soubesse que nem todos seguiam essa regra, especialmente minha mãe.

- O que faz o dia todo nesse quarto? – perguntou ele, que a essas alturas já não me parecia mais tão ameaçador.

- Assisto desenhos, brinco com meus carrinhos e coloro meus livros. – respondi orgulhoso.

- Posso ver seus carrinhos e seus livros? – indagou. Eu, mais do que depressa, entrei no quarto e trouxe minhas preciosidades.

- São muito bonitos! Suas pinturas também são bem coloridas. Parabéns! – disse ele, quando pensei em lhe perguntar porque estava me dando os parabéns quando não era meu aniversário, mas desisti.

Alguns dias depois, já de noite, ele bateu na porta do quarto e quando minha mãe abriu a porta, ele me entregou uma caixa na qual havia uma porção de carrinhos, até uma locomotiva e diversos cadernos cheios de desenhos para colorir, juntamente com a maior coleção de lápis coloridos que eu já tinha visto. Meu coração parecia querer explodir de tanta felicidade.

- Obrigado! – exclamei tímido, mas sorrindo.

- Me mostre quando tiver colorido todos os desenhos, quero ver como ficaram, e você vai ganhar outros. – disse ele antes de partir.

Um tempo depois do Natal, quando o casal me deu mais alguns brinquedos, eu comecei a frequentar uma escola maternal, que descobri, estava sendo bancada pelo casal como um extra pelos bons serviços da minha mãe. Eu passava boa parte do dia na escola, fazia até as refeições lá, e comecei a ter alguns poucos amigos, uma vez que, de alguma forma, todos ficaram sabendo que eu não era igual a eles, ou seja, eu era filho de uma doméstica.

Os anos foram passando e, à medida em que eu progredia nos estudos, que também foram integralmente bancados pelo casal em colégios particulares, eu ia sentindo como era ser um cara diferente de todos os demais. Primeiro porque não tinha pai, segundo porque estava ali por generosidade alheia, terceiro porque a consciência disso tudo ia me tornando cada vez mais retraído e tímido. Tirar as melhores notas da turma tornou-se uma verdadeira obsessão, pois era a única que coisa me distinguia dos demais, e me dava a sensação de valer alguma coisa, de ser quase ou melhor do que eles em algum aspecto.

Fiz um amigo no colégio apesar de tudo. Renan também era um excluído, mesmo tendo um pai que o trazia todas manhãs de carro para o colégio, o que de início estranhei, pois até então pensava que apenas os sem pai e sem dinheiro eram os excluídos. O Renan, por alguma razão, conseguia ser mais tímido do que eu, e acho que foi por isso que nos tornamos amigos, só tínhamos um ao outro naquele ambiente inóspito. Comigo a galera zoava pouco se comparado ao que faziam com o Renan. Ele aceitava tudo sem protestar, a não ser quando corria para o banheiro e ia chorar longe das vistas de todos. As implicâncias aconteciam quase sempre durante ou após as aulas de educação física, pois o professor, um sujeitinho esquisito metido a atleta, não conseguia controlar os ímpetos da molecada que aproveitava a displicência dele para aprontar. Um dia, os mesmos moleques de sempre, aqueles que faziam da vida dos mais retraídos dentro da escola um verdadeiro inferno, sumiram com o Renan durante a aula de educação física. Eu procurei por ele nos vestiários onde pensei que tinha se escondido deles, no banheiro e pelas quadras, sem resultado. Havia chegado a hora de irmos para casa e nada do Renan e nem de alguns desses moleques. Fiquei tão intrigado que voltei a fazer uma busca por todo colégio e, para minha surpresa, fui encontrá-lo nos fundos do pátio, após as quadras, onde ficava uma construção isolada que servia de depósito. Mesmo antes de chegar perto da porta que estava com uma fresta aberta, distingui a voz chorosa do Renan, implorando para que parassem com aquilo, que estava doendo e que já estava bastante machucado. Cheguei a pensar que estavam dando uma surra nele, mas ao enfiar a cara na fresta, vi que ele estava debruçado sobre uma escrivaninha velha, com a calça e a cueca emboladas ao redor dos pés e um garoto com o pinto de fora, enfiando aquela coisa dura e crescida na bunda do Renan, enquanto outros dois, também com as calças abertas e manipulando seus pintos, esperavam sua vez de assumir a posição na bunda do Renan. Os moleques eram bem mais fortes do que ele, e pelo jeito que o sujeito socava o pinto na bunda do Renan, grunhindo feito uma besta selvagem, deu para saber porque o Renan chorava alegando estar machucado e sentindo dor. Eu só havia presenciado um coito uma única vez, a caminho da escola, quando um cachorro montou numa cadela e fez os mesmos movimentos que o carinha estava fazendo com o Renan, mas a cadela não gemia como o Renan, até parecia estar gostando daquilo. Meu primeiro instinto foi acudi-lo, mas então me lembrei do quão cruéis aqueles moleques podiam ser e, antes de correr para procurar ajuda, fui notado por um dos que estavam manipulando o pinto. O que estava enrabando o Renan voltou-se para eles e gritou – pega o outro veadinho também, vamos foder os dois – nunca corri tanto, nem sabia que era capaz de empenhar uma corrida tão ligeira e, ao encontrar um funcionário que ficava na portaria, contei o que estava acontecendo no galpão. Quando ele e o diretor se dirigiram para lá para confirmar minha história, não havia mais ninguém e, quando o Renan foi inquirido pelo diretor na minha frente, negou tudo, dizendo que não sabia do que eu estava falando. No dia seguinte, antes da primeira aula, os três garotos me cercaram e me deram uma prensa, me ameaçando de fazerem o mesmo comigo caso abrisse minha boca novamente, e me dando uns bofetões na cara para que não me esquece do aviso. Minha amizade com o Renan arrefeceu depois disso, e ele só me pediu para manter segredo sobre o que vi. Desde aquele dia, nunca mais me meti nos assuntos alheios.

A patroa da minha mãe, sabendo das minhas boas notas, me perguntou se eu gostaria de aprender a falar outro idioma, no que prontamente aleguei que sim. Tínhamos aulas de inglês no colégio, e eu gostava bastante, talvez porque a professora fosse uma jovem doce que não fazia nenhuma distinção entre mim e meus colegas de turma. Assim passei a ter acesso pela primeira vez à cozinha do casarão. Três tardes, em média, por semana, ela se sentava pacientemente comigo e me ensinava com toda dedicação o idioma de Shakespeare. Quando já me comunicava com desenvoltura, inclusive superando todos os meus colegas do colégio, ela se propôs a também me ensinar a falar francês. Eu topei na hora, e em pouco mais de dois anos, também falava, escrevia e lia com desenvoltura mais esse idioma.

O casal costumava receber muitos convidados, ora para jantares mais íntimos, ora para grandes festas que eram montadas nos jardins quando circulavam pessoas elegantes pelos cantos ornados por empresas especializadas na montagem delas. Desde cedo fui sempre obrigado a me manter no quarto nesses eventos, por ordem da minha mãe que, na verdade, era tão somente uma imposição com consequências nefastas caso descumprida. Eu fui aprendendo a me resignar com tudo, aquele não era meu mundo, embora eu não soubesse se fazia parte de algum. Quando essas recepções terminavam, muitas vezes ao raiar do dia, alguma boa alma me trazia um prato com as guloseimas que haviam sido servidas, e eu as devorava sozinho entre as quatro paredes do quarto, grato por alguém ter se lembrado da minha existência.

Minha mãe, ao contrário do Josué e da Marlene, nunca tirava férias. Cada centavo que ela recebia foi investido na compra de um terreno no cafundó do Judas perdido na periferia da zona sul da cidade. Bem como qualquer agrado em dinheiro que os patrões dela me davam num envelope em ocasiões especiais. Minha mãe confiscava o envelope tão logo caía nas minhas mãos, e eu nem chegava a saber quanto havia dentro dele.

- É para o seu futuro! – dizia ela, mesmo quando eu protestava.

Após a quitação do terreno, minha mãe começou a erguer cinco cômodos sobre ele, pouco a pouco, com quase todo o salário que recebia, o que sempre nos deixava numa penúria de dar dó. A maioria das roupas que eu usava eram de um sobrinho da Marlene, dois anos mais velho do que eu, e que ela pegava quando ia visitar a irmã. O uniforme do colégio era mais uma gratificação inclusa dos patrões e, quando meus tênis já estavam torturando meus dedos, o Josué saía comigo e, ao mesmo tempo em que escolhia um par para ele na loja, me instigava a escolher um para mim. Inevitavelmente, minha mãe o censurava quando chegávamos em casa, mas ele não lhe dava ouvidos.

Ao chegar a adolescência, com os hormônios encorpando minha voz, me fazendo espichar feito um elástico sendo esticado, o que me deixou pernudo e com braços que mais pareciam tentáculos, pois muito mais não transformaram em meu corpo, o casal sugeriu a minha mãe que deixássemos o quarto da edícula.

- Seu filho já é um rapazola, o lugar é pequeno para os dois e já é hora de você ter seu próprio teto. – disseram, não como uma sugestão, mas como uma decisão a ser cumprida para se manter empregada.

No fundo, a razão pela qual tomaram essa atitude, se devia ao fato de receberem as visitas constantes do filho mais velho, que tinha duas filhas pouco mais novas do que eu e que, a cada visita, vinham me chamar no quarto para brincar com elas. Como diz o ditado, melhor prevenir do que remediar, afastar um rapaz com as veias cheias de testosterona de garotas bonitas e bem-nascidas que poderiam fazer o que não deviam, era a solução mais acertada. O que eles, e todos os demais ignoravam, é que já nessa época meu interesse não estava focado nas meninas, e sim nos meninos, particularmente naqueles de físico avantajado, com cara e corpo de macho, uma vez que o meu estava longe de ter essas características. Por alguma razão obscura, eu tinha a aparência de um moleque com um rosto harmonioso e até angelical, um corpo esguio e completamente desprovido de pelos, inclusive onde já deveriam estar abundantes, mal passavam de uma penugem rala, tudo complementado por uma bunda que já deveria ter parado de crescer e encorpar, mas que seguia ficando carnuda e roliça.

Fazia quase três anos que a cada dois ou três domingos, minha mãe e eu seguíamos para o tal terreno onde os quatro cômodos estavam sendo erguidos a passo de tartaruga, com cada centavo enfiado em materiais de construção e o pagamento de um pedreiro, marido de uma amiga da igreja da minha mãe. Quando veio a “sugestão” de deixarmos a edícula, a obra já tinha a cara de uma casinha modesta, porém bem ajeitada. Como uma espécie de recompensa para se mudar, os patrões lhe deram um envelope com uma pequena soma para custear parte da conclusão da obra e permitir que nos alojássemos nela.

Nos mudamos num domingo, único dia em que minha mãe tinha folga do serviço, que já começava após as 14:00hs do sábado. Não tínhamos mais do que algumas malas e sacolas, esses eram nossos únicos pertences. Dois colchões, um fogão e uma geladeira seriam entregues pela loja durante a semana, por isso eu deveria ficar atento para recebe-los, enquanto minha mãe passava a semana no quarto da edícula. De agora em diante seria assim, ela viria para casa nas tardes de sábado e ficava comigo no domingo; segunda pela manhã seguia para o trabalho só voltando no sábado à tarde seguinte. Para mim, a solidão só mudou de endereço, no mais continuava praticamente a mesma. Ao menos agora eu tinha meu próprio quarto, um cantinho onde cabia meu mundo inteiro e onde eu me sentia feliz, muito provavelmente por não conhecer a felicidade por inteiro.

Nessa época eu já havia concluído o ensino médio e frequentava uma escola técnica de mecatrônica e sistemas de automação, o que demandava muitas horas de estudo também fora da escola, além de um período em que estagiava numa das empresas do patrão da minha mãe, que me facilitou o acesso à escola, e que me pagava um pequeno salário pelo estágio. Com a soma das nossas entradas, a casinha foi ficando mobiliada e jeitosinha, se destacando das demais da rua com seu jardinzinho florido na frente e uma horta e alguns pés de frutas no quintal dos fundos, após um puxadinho que servia de varanda e também de lavanderia. O maior contraste se dava com o lado oposto da rua, onde começava uma favela que subia desordenadamente o morro com suas ruas e escadarias estreitas e que crescia como a massa de um pão em fermentação, recebendo gente de todos os cantos, desde migrantes tentando a sorte até criminosos e traficantes que se escondiam nas ruelas protegidos pela conivência e silêncio daqueles que não queriam virar suas próximas vítimas.

Na escola técnica conheci o Fábio, um aluno bolsista muito expansivo que morava na favela em frente à minha casa. Nos entrosamos durante o trajeto de ônibus na ida e vinda da escola, e acabamos fazendo uma amizade. Ele era o oposto de mim, falava muito, ria bastante, era cômico, e tinha uns trejeitos que logo lhe renderam um bocado de adjetivos, e mais um tanto de caras que gostavam de zoar com ele. Àquela altura do campeonato, eu já sabia que era gay, tanto quanto o recatado do Renan e o estrambólico Fábio, ambos numa escala onde eles ocupavam extremos opostos, e eu o meio termo, ditado por uma discrição tamanha que a maioria das pessoas nem desconfiava da minha sexualidade. Por andar na companhia do Fábio, logo me tomaram por gay também, embora não caçoassem de mim como caçoavam dele.

O mais intrigante é que ele parecia não se importar com os adjetivos pelos quais o tratavam, nem sobre as opiniões que tinham sobre ele, e essa autoconfiança me fascinava, me queria fazer parecer com ele nesse aspecto. No mais, era sua maneira de falar e suas roupas muito justas e de gosto peculiar que faziam dele uma figura ímpar. Eu não me importava com isso, gostava da companhia dele, e da alegria que transmitia. Como bolsista, ele precisava manter uma média alta nas notas, mas seu tino para os estudos não contribuía nem um pouco para esse objetivo. Ele logo percebeu que eu podia ser um trampolim para que ele alcançasse essas médias altas, e grudou em mim como um carrapato, copiando as minhas anotações de aula, estudando comigo nas vésperas das provas e, quando o desespero batia, até colando as minhas respostas nas provas. Eu sabia que estava sendo usado, mas também isso não me importava, aquela amizade parecia mais valiosa do que servir de escora para ele se manter na escola.

Sempre que estudávamos para uma prova, o fazíamos na minha casa que era mais silenciosa e porque pela vizinhança rondavam boatos da má fama dos moradores da favela que estariam mancomunados com os traficantes que se escondiam dentro daquele amontoado de construções irregulares e precárias. Eu, particularmente, tinha medo de entrar lá, já tinha presenciado da janela de casa, alguns sujeitos mal-encarados dando umas boas surras em quem entrava lá sem uma autorização para tal.

- Vamos estudar na minha casa hoje, só para variar! Você nunca foi lá, e eu queria que você conhecesse a minha mãe. – disse o Fábio, na antevéspera de uma prova para a qual ele precisava de muitos pontos.

- Acho melhor não! Qualquer dia desses você traz sua mãe aqui para eu conhecer! – respondi, sem mencionar o motivo pelo qual não queria entrar naquelas ruelas.

- Você tem medo de pobre? – questionou-me ele

- Claro que não, sua besta! Ou você se esqueceu que eu também sou pobre? – devolvi

- O que é então? Minha casa é humilde, mas é limpinha! – retrucou, o que me fez rir, pois era a mesma frase que minha usava quando recebia uma visita um pouco mais formal.

- Larga mão de ser besta, não é nada disso! E não insista, porque eu não vou, e está acabado! – afirmei.

- Acha que minha família é de bandidos?

- Não! Que ideia absurda, de onde tirou isso agora?

- Então me explica por que não quer ir lá em casa!

- Por que tenho medo de entrar na favela e ser torturado como fazem com quem não é de lá e se enfia lá dentro, é por isso! Está contente agora?

- Ninguém vai mexer com você se estiver comigo, vão saber que eu estou te lavando lá para dentro. – respondeu ele.

- Mesmo assim, não quero arriscar!

- Você é mesmo um cagão! Vou deixar de ser seu amigo, já que nem na minha casa você se digna a pisar. – ameaçou, se vitimizando

- Não vai colar! você precisa mais de mim do que eu de você! - retorqui

- Sua bicha enrustida do mal! Joga na minha cara que eu sou burra, que dependo de você para manter minha bolsa, joga veado! – até umas lágrimas de crocodilo ele conseguiu botar nos olhos para me persuadir.

-Tá bom, eu vou, pode parar com esse teatrinho, que você é péssimo ator! – não podia ser uma decisão mais equivocada.

Deixei a tal visita à casa e à mãe dele para o domingo à tarde, quando minha mãe ia à missa numa paróquia próxima, onde eu era malvisto pelo padre desde quando o questionei durante uma das aulas de catecismo sobre ele ter proibido o filho gay de uns paroquianos de frequentar as aulas. O rapaz tinha sido até coroinha, mas caiu na besteira de revelar ao padre que gostava de outros rapazes e pedia sua ajuda para entender o que estava acontecendo com ele, e se Deus o perdoaria, caso isso fosse um pecado.

- Pecado? Isso é uma heresia! O pior dos piores pecados, o caminho mais curto para o fogo do inferno! – respondeu o padre, mandando-o esperar por ele na sacristia onde queria ter uma conversa franca após a aula de catecismo.

O garoto perdido e sem escolha se dirigiu para lá como uma res caminha para o abate. Dei uma de bisbilhoteiro naquele dia, pois queria saber o que o padre ia lhe dizer sobre o mesmo pecado do qual eu também devia ser punido. O que vi foi uma barbaridade atroz. O padre nem o deixou falar, deu-lhe uns bofetões na cara e o mandou virar homem. Mandou que abaixasse a calça e, com um terço nas mãos açoitou as nádegas do coitado até surgirem vergões vermelhos sobre a pele branca. Depois, tirou a própria cinta e a fez estalar nas costas encurvadas do rapaz, berrando alucinado – isso é o começo de um tratamento para tirar o satanás do seu corpo, seu degenerado – enquanto o garoto chorava e implorava por clemência. Nunca mais voltamos e vê-lo nas missas. Os pais foram orientados a mandá-lo para um médico e a lhe aplicar corretivos cada vez que o impulso pecaminoso se manifestasse. Eu larguei as aulas de catecismo, e também não acompanhei mais minha mãe às missas, sempre inventando uma desculpa qualquer. Soubemos pouco mais de um ano depois, que o garoto tinha sido enviado para o interior onde moravam seus avós paternos e que se suicidara após uma sessão de cura pelo padre da cidade, pendurando-se num galho de mangueira do quintal numa madrugada abafada.

- Anda veado! Deixa de ser frouxo! Ninguém vai fazer nada com você! – afirmou o Fábio quando meus passos ficavam cada vez mais distantes atrás dele.

- Eu volto outro dia, prometo! – exclamei, pois uns sujeitos mal-encarados que tomavam cerveja diante de um bar logo na entrada da favela não tiravam os olhos de mim.

- Uma porra que vai, vem cá bicha cagona! – retrucou ele, me puxando pelo braço para dentro da viela sinuosa que escalava o morro.

Dos barracos com portas e janelas escancaradas a ponto do alheio poder ver tudo o que se passava dentro deles, cada vez mais olhares me examinavam. Eu tinha esquecido de ir ao banheiro antes de sair de casa, e minha bexiga não colaborava nem um pouco com a minha angustia. A impressão que eu tinha era a de que, a qualquer momento, ia me mijar todo.

- É ali, no topo dessa escadaria, a de paredes amarelas e janelas azuis. Falta pouco, anda leseira! – disse o Fábio, apontando para uma construção cujo ângulo avançava sobre a viela provocando um desvio.

Mal havíamos pisado nos primeiros degraus da escadaria quando de uma viela que a cruzava, surgiram três caras de bermuda, tórax exposto com tatuagens para todo lado e uma cara de poucos amigos. Um deles logo se postou em nosso caminho, era o maior deles, com um corpão sarado, o que tinha apenas uma tatuagem no bíceps musculoso, e que parecia ser a cabeça de uma águia ou algo parecido, pois de onde eu estava e com o cagaço que me afligia, não consegui distinguir.

- Quem é o amiguinho, ou devo chamar de amiguinha, como tu veadinho safado? – perguntou o sujeito ao Fábio.

- Não é para o seu bico! Pode ir tirando esse olhar de peixe morto de cima dele. É muita areia para o seu caminhãozinho, Marcão! – respondeu escrachado o Fábio.

- Tu perdeu a noção do perigo, foi, sua putinha safada? Já esqueceu da última lição, é isso? – retrucou o sujeito, agarrando o queixo do Fábio e prensando-o contra a parede do barraco.

- Me larga Marcão! Não precisa dar uma de machão da frente dele, ele está acostumado a coisa muito melhor do que um conquistadorzinho mequetrefe feito você! – não fossem os outros dois sujeitos estarem bloqueando a passagem eu já teria feito uma corrida desatada em direção a saída. Assim que terminou a frase, o sujeito deu um tapa na cara do Fábio; um tapa que deve ter doido bastante, pois ele ficou tentando mover o maxilar para ver se ele ainda se movia.

- Quer levar mais alguns, para aprender a me respeitar? – indagou o sujeito, a quem eu nem ousava encarar.

- Isso bate, mostra como você é macho! Bate nesse corpinho que já saciou seus desejos um monte vezes! Bate Marcão! – provocou o Fábio, empertigando-se todo contra o peito largo do sujeito.

- Por favor, não bate nele não! Deixa a gente passar, só estamos indo estudar na casa dele! – implorei, gaguejando com uma voz que relutava em não sair, mas que fez o sujeito voltar sua atenção sobre mim.

- Não falei que ele é educado, que não é para o seu bico! – voltou a exclamar o Fábio. Eu mesmo naquele momento queria dar um soco naquela boca para ver se ele se calava.

- E como se chama esse primor de educação? – perguntou o Marcão, me fitando fundo nos olhos.

- Felipe! – respondeu o Fábio, antes de eu conseguir abrir a boca. – Ele é o melhor aluno da turma, sempre estudou em colégio particular, fala inglês e francês, e é lindo como você pode observar! Como eu disse, muita areia para o seu caminhãozinho! – tornou a provocar o Fábio. Fazia alguns anos que me veio a ideia de que deveríamos ter sido criados com a capacidade de poder evaporar no ar, pois era isso que eu queria mais uma vez naquele momento.

- Felipe! – repetiu o Marcão, ao pegar na minha mão e levá-la até os lábios onde a beijou desajeitadamente.

- Tu é mesmo um casca grossa, Marcão! Brega e antiquado, faz um século que não se beija mais a mão de uma mulher, muito menos a de outro homem, seu burro! O que você conseguiu mostrar é que o Felipe está muito acima do que você merece. – o Fábio devia estar com algum parafuso solto naquela cabeça desmiolada para não parar com as provocações.

- Não me provoque, sua bichinha rameira, ou vou deixar essa sua carinha feia mais horripilante ainda! – ameaçou, voltando a amassar o queixo do Fábio. – Sua mãe não está em casa, eu a vi saindo com a mulher do Getúlio marceneiro. – emendou, ele sem soltar o rosto apavorado do Fábio.

- E daí? Nós viemos estudar para uma prova! – devolveu o Fábio

- Acho melhor eu ir embora, volto outro dia! – sentenciei, tentando passar pelos dois que apenas ouviam a conversa e se divertiam com a discussão.

- Vai nada! Você vem comigo! – disse o Fábio me puxando pelo braço escadaria acima, no instante em que uns molequinhos barulhentos vinham em sentido contrário.

O Marcão tirou duas cédulas de cem Reais do bolso da bermuda e, segurando um dos moleques pelo ombro, mandou-o comprar um bolo floresta negra na confeiteira que ficava a duas quadras dali, dizendo-lhe para ir ligeiro e ficar com o troco. O moleque não pensou duas vezes, desceu a escadaria correndo, seguido pelos demais, enquanto o Marcão fazia sinal para os dois sujeitos seguirem seus caminhos e ele ia a nossa frente em direção a casa do Fábio.

- Faz um café aí para a gente, veadinho! Mostra que sabe servir um macho! – ordenou o Marcão quando entramos na casa, ocasião em que colocou uma pistola sobre a mesa que havia tirado da parte de trás do cós da bermuda, a qual eu até então nem havia visto.

- Faz um tempão que você não é mais meu macho, seu traste! Já tenho outros muito melhores de cama do que você! E tira essa merda dessa arma de cima da mesa, não vê que está deixando o Felipe apavorado? – retrucou o Fábio desdenhando, e expondo um passado que eu definitivamente não estava disposto a ouvir, pois nunca tinha ouvido tanta baixaria junta.

- E quem te disse que eu estou interessado nesse cu arregaçado? O que eu queria usar dele, já usei e abusei! – respondeu o Marcão; aquilo parecia não ter fim.

- Você fala isso porque agora não estão faltando bucetas para o seu lado, mas quando ninguém se interessava pelo seu pintinho de moleque, você bem sabia onde satisfazer sua tara. – em que antro vim parar, era só o que se passava na minha mente.

- Pintinho de moleque, é? Você bem que gritava quando o pintinho arregaçava seu cu, pedindo para eu parar.

- Olha para a cara do Felipe, você está assustando ele com ele conversa besta! – finalmente alguém se lembrou que eu estava presente. – Não repara não, Felipe! Ele gosta de se vangloriar do cacetão dele, que nem está com essa bola toda! E também com essas armas, já mandou pelo menos meia dúzia de caras para dentro do túmulo!

- O que você falou, veado do caralho? Repete, repete se tiver coragem! – intimou o Marcão, apertando o pescoço do Fábio até ele começar a ficar roxo.

- Solta ele, por favor, ele está ficando sem ar! Não faz isso! – supliquei, achando que ele ia estrangular o Fábio na minha frente.

- Nunca mais repita essa besteira ou você vai ser o primeiro que eu mando para o caixão! – ameaçou, quando o soltou e ele se engasgava com o ar voltando a entrar pela garganta.

Quando o bolo chegou, o Fábio ainda não tinha conseguido passar o café deixando o Marcão irritado, discutiram o tempo todo que a água passava pelo pó como se fosse um casal às portas do divórcio. Talvez, sob outras circunstâncias, eu tivesse achado graça, mas apavorado como estava, não vendo a hora de sair da favela, nada era engraçado.

- Qual é a dessa porra desse bolo, Marcão? Não vou dar o cu para você, pode ir tirando o cavalinho da chuva! – sentenciou o Fábio enquanto comíamos o bolo

- É em homenagem ao Felipe, para que ele não fique com uma má impressão da sua falta de educação e volte outras vezes. – afirmou o Marcão, sorrindo para mim e me deixando encabulado. Observando friamente, por trás daquele rosto enfezado, havia um homem muito atraente e enigmático.

Jurei a mim mesmo jamais voltar para aquele morro, nem tanto pela pobreza ou pelas pessoas, mas por constatar que aquelas ruelas abrigavam mais do que gente humilde, elas camuflavam o crime, e ele estava presente em cada esquina daquele amontoado de construções precárias. Comuniquei minha decisão ao Fábio, se quisesse estudar comigo, teria que ser na minha casa. Apesar de se mostrar magoado, ele entendeu meu ponto de vista.

- O que é que eu posso fazer? Nasci ali, meu pai nos abandonou quando eu ainda era pequeno, e minha mãe faz o que pode, mas sair dali não é uma delas. – disse pesaroso.

- Eu sei, também nunca tive um pai e sei o que é juntar cada tostão para ter um teto sobre a cabeça; não é isso que me incomoda. Mas caras como esse tal do Marcão me deixam com medo, você viu com que naturalidade ele colocou aquela pistola sobre a mesa, como se fosse um simples maço de cigarros ou um celular, e não um troço que tira a vida de outros. Foi arrepiante! – devolvi.

- O tempo todo, a tua cara de cagaço estava muito engraçada! Aquela pistola não é nada comparada aos fuzis e metralhadoras com as quais os traficantes circulam a céu aberto na favela. Com isso eles intimidam, mostram sua força, para ninguém abrir o bico. Você é o moleque mais ingênuo e mimadinho que eu conheço, em que redoma você cresceu, veado?

- Não sei porque continuou sendo seu amigo, só fica tirando o sarro da minha cara! E pare de me chamar de veado, bicha, franga e etc porque você nem sabe se sou gay e, como na prática nunca dei o cu, continuou sendo homem, para todos os efeitos. – protestei, fazendo-o soltar uma gargalhada.

- Ah biba, e você ainda tem dúvida! Tu é enrustido, isso sim; mas é gay até a raiz dos cabelos, tenha queimado a rosca ou não. Ou seja, tu é um veado enrustido virgem! Só para você saber. – devolveu ele, naquele seu assanhamento habitual. Eu não conseguia sentir raiva dele, e ri.

- E nesse caso, você é o quê?

- Sou uma bicha puta descabaçada e arreganhada, com muito orgulho! – sentenciou

- Você é completamente doido, Fábio! Completamente! – exclamei rindo.

Tiros e rajadas de metralhadora vindos da favela eram comuns de se ouvir durante a madrugada, toda semana tinha pelo menos uma, e eu fiquei imaginando pelo tudo que o Fábio não passou naquele lugar, e mesmo assim, ele tinha um astral muito positivo.

No início da noite do dia seguinte à minha ida à favela, tão logo entrei em casa voltando do curso técnico, a campainha tocou. Quando olhei pela fresta da persiana, vi que era o Marcão; na hora senti minhas pernas moles feito gelatina. Ele tocou a campainha umas cinco vezes, eu não fui atender. No dia seguinte, assim que me encontrei com o Fábio na escola técnica, contei que ele estivera em casa, e ele só deu uma risadinha sarcástica.

- O traste se encantou por você, filho da puta!

- Como é? Do que você está falando, ficou maluco?

- Eu bem que desconfiei! Aquela exibição toda, se pavoneando; aqueles salamaleques para parecer educado; aquele bolo; o jeito com o qual ficava olhando para você, todo tímido, assustado feito um passarinho; esse teu puta corpo gostosão, o desgraçado notou tudo isso e se amarrou! – sentenciou, como se estivesse falando para si mesmo.

- Você não está falando coisa com coisa! Eu disse que ele esteve lá em casa tocando a campainha e que eu não atendi, e você viaja falando toda essa merda.

- Se liga! Por que você acha que ele foi te procurar? Para se confessar é que não foi; ele te procurou porque ficou a fim de você, dessa sua bundona rabuda mais especificamente, pode ter certeza! – retrucou

- Não quero nada com um sujeito feito ele! Eu hein, com tanto homem gostoso por aí eu lá quero saber de bandido?

- Tem certeza? Você viu que ele não é de se jogar fora! É um traste, sem dúvida, mas é um tesão de traste.

- Faça bom proveito!

- Não quero saber dele nem pintado de ouro! Depois do que ele fez comigo, é o último cara para quem eu daria uma chance. Nós nunca daríamos certo, a gente nunca se gostou, ele só me usou, aquele filho da puta! Pensando bem, eu também o usei. Ele era tão moleque quanto eu, nem sabia como usar direito aquele pinto, e eu o deixei treinar no meu cu, porque era gostoso demais. – revelou, sem pudores.

- Você fala dessas coisas como se estivesse lendo um conto de fadas para uma criança! Você não tem vergonha nessa cara de pau? Eu jamais ia espalhar por aí como transei com alguém, se é que um dia vou transar com alguém. – devolvi

- Estou contando para você, que também é bicha e pode entender a minha situação, não estou espalhando minha intimidade por aí como você diz!

Uns dois dias depois, assim que desci do ônibus no finalzinho da tarde e comecei a percorrer os dois quarteirões em L que separavam o ponto de ônibus da minha casa, fui alcançado pelo Marcão. Ele devia estar me esperando, já que não o atendi naquela noite em que foi em casa.

- Me evitando? – começou, ao emparelhar os passos comigo

- Como?

- Está fugindo de mim?

- Você está aqui ao meu lado, como posso estar fugindo de você?

- Quer ficar fazendo joguinho de palavras, ou quer me dizer um “Oi”?

- Oi!

- Melhor assim! O Fábio me disse que você ficou apavorado comigo naquele dia, eu não pretendia te assustar!

- O Fábio tem a língua solta, fala mais do que devia!

- Ficou com medo de mim?

- Um pouco, não vou mentir! – confessei, ao mesmo tempo em que senti o rosto queimando.

- Foi só medo que despertei em você? Nada mais?

- O que mais haveria de sentir?

- Gosto como você sabe usar as palavras e fugir do assunto! – afirmou com um sorriso. – Não sei, talvez tivesse gostado do meu tórax, você não tirava os olhos dele. – emendou, me fazendo ficar sem graça. – Eu te acho um tesão! – confessou, por fim.

- Não sei do que você está falando! Acho melhor mudar o rumo dessa conversa! Pronto, cheguei ao meu destino! Até qualquer dia! – devolvi, no portão de casa.

- Espera, Felipe! Conversa um pouco comigo, não quero que fique com uma impressão errada a meu respeito.

- Outra hora, talvez! Tenho umas tarefas do curso para terminar e preciso entregar para amanhã. – inventei

- Tá bom! Posso te ajudar com essas tarefas? – eu olhei bem na cara dele para verificar se não estava zoando comigo. Ele falava sério.

- Me ajudar com as tarefas de eletrônica analógica? – meu questionamento foi tão enfático para uma resposta que seria improvável, mas ele não se deixou intimidar.

- Sobre o que é a tarefa, radiofrequência, capacitores, potenciômetros, resistores, transistores, essa baboseira toda? – perguntou

- Sobre ... sobre ... sobre comportamento de sinais elétricos em Wireless. – inventei respondendo surpreso, pois jamais imaginei que ele soubesse do que se tratava, e tinha sido o tema da aula do dia anterior.

- Abandonei a faculdade de engenharia no segundo ano, mas com isso posso te ajudar, é tão básico! – afirmou, me deixando boquiaberto

- Você ... você ... você fez faculdade de engenharia?

- Comecei, como eu disse! Por que o espanto, achou que eu fosse um burro qualquer, ou um pistoleiro? – perguntou

- Me desculpe! Não, não! Não pensei nada disso! – foi inútil desmentir, ele tinha me desmascarado.

- Não precisa ficar envergonhado! Sei que quando me conheceu não podia ter chegado a outra conclusão. Abandonei a faculdade por questões que não vem ao caso. Eu só estou a fim de te conhecer melhor, eu gostei de você Felipe! – eu não sabia onde enfiar a cara.

Apesar de uns outros dois encontros tão rápidos como esse, continuei a evitá-lo, pois o Fábio tinha me revelado que ele era o braço direito do chefão da favela, um traficante de drogas e armas que se escondia lá dentro, e que possivelmente seria seu sucessor, quando o chefão fosse preso ou assassinado, o que era o destino final de todos eles.

Alguns meses depois, entrei em férias, tanto no curso quanto no estágio, tão somente três semanas que, contudo, serviriam para descansar a mente e sair um pouco da rotina. O Fábio e eu planejamos visitar algumas exposições que estavam acontecendo na cidade, pegar uns cineminhas, e também passar um final de semana na praia, uma vez uma amiga da mãe dele tinha oferecido a casa. Porém, nosso planejamento já sofreu uma reviravolta logo nos primeiros dias das férias.

Uns rapazes que moravam na favela tinham roubado, a mão armada, a motocicleta de um policial militar que estava à paisana, numa avenida das proximidades, e entraram com a moto na favela, o que foi visto por um punhado de testemunhas. Assim que anoiteceu, a favela foi cercada por viaturas policiais, forças táticas especiais foram organizadas para entrar na favela a ferro e fogo, enquanto dois helicópteros davam cobertura para a ação. Liguei para o celular do Fábio e me dispus a acolher a mãe e o irmão dele, caso precisassem.

- Eu aceito sim, Felipe! A coisa fodeu! Hoje com certeza vai ter morte no morro. – disse ele, pouco antes de vir se abrigar em casa.

A baderna generalizada durou bem umas quatro horas, com tiros para todo lado, explosões, gritos desesperados de mulheres que tinham seus casebres invadidos à força, sem contar a correria que trouxe metade do morro para a entrada da favela onde se aglomeravam e, pateticamente, pediam justiça, contra a ação policial que trazia bandidos procurados e foragidos para dentro dos camburões, uma justiça que eles mesmos burlavam.

- Tá vendo a merda que dá quando vocês saem por aí roubando a torto e direito! – vociferou a mãe do Fábio, dando um tabefe na cabeça do irmão dele.

- Caralho mãe, eu não fiz nada! – revidou o molecão.

- Mas anda com quem não presta, e uma hora dessas se mete em confusão e vai acabar sobrando para você! Por isso, já estou te dando uns safanões agora! – disse ela, eu precisei rir, por que ela fez estalar na cabeça do moleque mais um tapa de mão cheia.

- Ai, ai, mãe! Isso dói, cacete!

- É para doer mesmo, sem-vergonha safado! E olha esse palavreado que você não está na sua casa! – sentenciou ela, o que me levou a imaginar que ela trazia aqueles dois debaixo do arrelho para que não se desviassem do bem.

Perto da meia-noite, as coisas tinham acalmado, boa parte das viaturas já havia deixado o local, persistindo apenas algumas para conter os ânimos mais exaltados e prevenir uma revolta dos moradores que se achavam injustiçados. Subitamente, ouvimos alguém esmurrando a porta dos fundos, e o pânico tomou conta de todos.

- Não abra, Felipe! Com certeza é algum foragido tentando se esconder! – afirmou o Fábio, com o acorde da mãe, apesar dos socos continuarem.

- E se for alguém ferido, precisando de ajuda? – questionei, tremendo feito uma vara verde.

- Vindo pela porta dos fundos? É bandido, com certeza! É assim que eles agem, invadem os barracos quando a polícia entra na favela e se escondem como se fossem cidadãos de bem. – disse a mãe dele que, provavelmente, já tinha passado por isso.

- Felipe! Felipe! – berrava a voz rouca ao mesmo tempo em que esmurrava a porta.

- Eu vou abrir, é alguém que me conhece! – disse, destrancando a porta e a abrindo com cautela. No mesmo instante, o Marcão caiu de joelhos aos meus pés, a camiseta e o braço empapados de sangue.

- Marcão! – soltei; foi quase um grito, quando notei a palidez de seu rosto. – O que você aprontou, criatura? - ele só se deixou cair nos meus braços e, com a ajuda do Fábio e do irmão dele, o levamos até o sofá.

- Levou um tiro, não foi traste? – indagou revoltado o Fábio

- Não fala assim com ele, Fábio! Temos que fazer alguma coisa! Vamos levá-lo a um Ponto Socorro! – desatei a falar.

- Tá maluco, veado! Oi, desculpe, escapou sem querer! – retrucou ele. – Tiro em Pronto Socorro vai direto para a polícia, vão prendê-lo!

- Eu não sabia! O que fazemos então? Ele precisa de ajuda! – devolvi agoniado.

- Tem um médico que vem ajudar esses bandidos quando preciso. Às vezes ele até consegue internar uns casos mais graves em hospitais da periferia. – disse o Fábio.

- Me lembre de detonar essa sua cara quando eu estiver em condições, veadinho! Eu vou te mostrar quem é bandido aqui! – retrucou o Marcão.

- E você por acaso é o quê, santo de altar? – questionou o Fábio

- Parem com isso, vocês dois! Pior que marido e mulher! Vamos agir em vez de brigar, pode ser? – indaguei, elevando o tom de voz. – Você pode entrar em contato com esse médico, Fábio?

- Como eu vou saber onde ele está e como localizá-lo? Não tenho bola de cristal!

- Então vamos agir antes que ele perca os sentidos! – exclamei decidido a fazer o que fosse preciso para estancar aquela hemorragia. – Me ajude aqui, seu molenga! – ordenei ao Fábio.

Enquanto estávamos tirando a camiseta do Marcão, o Fábio foi ficando mais pálido que o ferido. A mãe dele precisou ampará-lo para que não caísse no chão.

- Não posso ver sangue! – foi a última frase que balbuciou antes de despencar feito um saco vazio.

Com um pouco de ajuda da mãe dele, comecei a limpar a ferida, munido de uma coragem que nem eu sabia ter. O irmão dele também não prestou para muita coisa; mas, de longe, conseguiu dar sua contribuição. O tiro varou o ombro dele, havia um buraco de entrada, pequeno e escurecido, e um de saída, bem maior, no formato de uma flor aberta, onde se via a musculatura debaixo da pele, e onde o sangramento era mais abundante. Depois de limpo o ferimento e o tórax do Marcão, só me restava fazer compressão sobre o local, pois aquilo precisava da intervenção de alguém com conhecimento de causa.

- Ele já morreu? - perguntou o Fábio, ainda grogue quando começava a voltar a si.

- Vira essa boca para lá, infeliz! Esbravejei zangado!

Deixei a mãe dele fazendo a compressão e fui ligar para um amigo cuja namorada era enfermeira e poderia nos ajudar. Fui sincero e expliquei a situação, o que quase a fez desistir, não querendo assumir riscos. Insisti e pedi para falar diretamente com ela, pois era meu amigo que estava intermediando a conversa. Tornei a explicar a situação e como a ferida estava e ela concordou em dar uma força, mas já me prevenindo que não faria nada caso visse que a situação estava acima de sua capacidade.

- Vou passar no hospital em que trabalho para pegar algumas coisas das quais vamos precisar e chego aí em uma hora, mais ou menos, OK?

- Valeu! Super obrigado!

Ela desinfetou a ferida, deu alguns pontos, aplicou antibióticos e analgésicos e fez um curativo oclusivo que resolveria o problema por um tempo, mas sugeriu que ele procurasse um médico o quanto antes. Passado o susto e a afobação, a mãe do Fábio e o irmão voltaram para casa, já era madrugada.

- Vai me deixar aqui sozinho com um ferido? – perguntei ao Fábio quando ele ia saindo junto com a mãe e o irmão.

- Não é um ferido, é um traste! Você que acolheu, você que se vire! – respondeu

- Volta aqui, seu covarde! – berrei, fazendo-o voltar.

Ficamos os dois ali, de plantão, ao lado do Marcão que estava mais do que chapado com a medicação que a namorada do meu amigo tinha lhe injetado.

- Antes que ele capote de vez, me ajude a levá-lo para a cama, vai ficar mais confortável lá, e poderemos limpar o restante desse sangue. – a contragosto o Fábio me ajudou, cuidar de alguém não era o forte dele.

O deixamos só com a cueca, pois o jeans também estava sujo de sangue. O Marcão murmurava umas coisas ininteligíveis, que não se sabia se era sonho ou delírio.

- Será que ele está sentindo dor? – perguntei.

- A tua amiga não disse que injetou uns analgésicos potentes nele e que ele ia dormir por horas? Deve estar confessando os pecados para São Pedro para ver se será aceito no céu ou vai direto para o inferno! – respondeu o Fábio.

- Cara, como você é ruim! Coitado, tomara que fique bom logo! – devolvi

- De duas uma, ou você é um bom samaritano, ou está gostando desse traste! – exclamou

- Não fala besteira! – protestei furioso, instaurando um silêncio, pois ele não se atreveu a dizer mais nada. – Ele é bem bonito, não é? Olha a largura desses ombros, o tamanho desse tronco e dos braços, essas coxonas grossas e peludas. Sempre gostei de homem parrudo e com pelos, não exagerados, mas nos lugares certos, onde dê para acariciá-los com as pontas dos dedos. E você, que tipo de homem gosta? – perguntei, aproveitando que o Marcão não estava pleno de sua consciência para acariciar seus bíceps avantajados.

- Bicha, você tá paradona nesse bofe! Não acredito que tu é tão burra, veado! Isso não presta, é um traste, é um bandido, você merece coisa muito melhor! Larga mão de ser tonta! – despejou ele

- Eu só disse que ele é bonito, isso você não tem como negar! Não estou apaixonado por ele, e nem interessado, se é que isso seja da sua conta!

- Tá, que seja! O traste é bonito, é um tesão de macho! E como você pode notar, tem uma benga de garanhão. Mas também é só, no resto é um traste!

- Eu não vi nada! Não inventa coisas!

- Ah, não viu! Então olha para isso aqui! – exclamou, puxando a cueca do Marcão até os joelhos e expondo um cacetão cavalar.

- Minha virgem santinha dos cuzinhos desvalidos, isso até parece uma terceira perna! – exclamei, quando me deparei com o caralhão cabeçudo. – É enorme! – continuei, em êxtase.

- O problema não é só ser enorme, é grosso, muito grosso, bicha! Isso arrebenta e arregaça tudo que encontra pelo caminho, sou prova viva do que digo. – afirmou.

- Mas naquele dia você disse que ele tinha um pintinho! Por que o provoca tanto, ainda é apaixonado por ele? – perguntei

- Eu? Deus me livre! Com esse aí nunca mais! Quando ele me pegou não tinha esse troço desse tamanho ainda, mas já era grande, e ele me arregaçou e depois me largou. Eu, uma bicha tonta, estava apaixonada por ele. Só que ele só queria me foder, queria meu cuzinho que era virgem quando me entreguei para ele. Sobrou o que você presencia, discutimos até com nossas sombras.

- É porque sobrou alguma coisa; amor, provavelmente! – afirmei

- Não é isso não! Não nos respeitamos mais e, devido ao passado, não temos papas na língua, cada um fala o que quer só para deixar o outro furioso.

- E aquela história de ele ter matado meia dúzia de caras, isso é verdade? – não sei porque saber a resposta a essa pergunta tinha se tornado vital para mim.

- Eu inventei na hora, sabia que ele ia ficar puto! Mas, não duvido que já tenha matado alguém. Eu não ponho a minha mão no fogo por essa coisa ruim.

- Todos têm alguma coisa boa dentro de si, mesmo que não demonstrem. Um cara lindo como ele não pode ser tão mau assim! – ponderei

- É porque você está gamadão nele, estou falando! Abre teu olho, bicha! Abre teu olho! – pela primeira vez não acreditei nele. Talvez eu estivesse mesmo sentindo alguma coisa por aquele homem maravilhoso que, dormindo assim sobre o meu travesseiro, tinha o rosto mais bondoso e viril que eu já tinha visto. Ele transparecia a mesma inocência de uma criança.

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Comentários

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estou amando querido..valeu vou continuar...beijão

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Vá em frente, manda ver! Espero que goste do final! Abraço!

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História difícil e linda! Me identifiquei BASTANTE com o felipe, pois também tenho uma origem humilde e sempre fui muito tímido, principalmente na escola. Para amenizar o fato de ser diferente dos demais, eu sempre me esforcei de forma quase desumana aos estudos, conseguindo notas excelentes e a aprovação em vestibulares concorridos! Achei muito pertinente a forma que você abordou a rotina de trabalho da mãe do felipe e como era o contexto de violência antes de se mudarem. É muito comum, hoje em dia, muitas domésticas trabalharem de forma desumana e com pouco descanso! Tenho exemplos próximos de mim para afirmar isso. Aliás, um adendo aos leitores: leiam as histórias com música! Mas não aquelas músicas agitadas e que desviam sua atenção, mas sim músicas aconchegantes, músicas ambiente mesmo! Eu costumo procurar músicas de Jazz com chuva, bossa nova, ou apenas sons de chuva mesmo hahahah. A leitura vai para outro nível. Por fim, simpatizei muito com o Marcão! Tem um cara que vi hoje no Instagram com as mesmas características dele, e imagino essa pessoa como sendo o Marcão na leitura haha. Obrigado pela leitura do final de semana, Kherr! Abraço

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Como você bem observou, procuro retratar em meus contos pessoas e fatos do cotidiano muitas vezes reais pois são o retrato da sociedade em que vivemos. Abraço carinhoso!

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Amo contos de traficantes, ainda mais uma história do kherr, incrível! Ansioso pelos os demais capítulos

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Obrigado Porti! É só continuar a leitura. Abraço carinhoso!

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Que prólogo sensacional kherr! Já colocando os elementos todos nos devidos lugares, gerando aquela vontade nos leitores de ler o capítulo principal...pena que não consigo agora, mas mais tarde leio!

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Oi Jota! A continuação está toda disponível, quando estiver com tempo é toda para você! Abração!

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Acabei lendo o segundo antes desse. Estou boquiaberto com a vida do Felipe. Que garoto adorável. Mais um motivo pra eu ficar encucado com a forma que você parou o que chamou de capítulo único. Por favor faz alguma coisa e conta só mais um pouquinho.

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O Felipe é realmente um sujeito sensacional, privado de muitas coisas, não perdeu o senso de justiça, a docilidade, a solidariedade, e está deixando o Marcão de cabeça virada. Super abraço!

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