Episódio 3 - Vicente aceita o pedido
"Eu preciso pedir a você um grande favor, Vicente. Um favor enorme, que eu nunca imaginei que ia ter que lhe pedir na vida", começou Danilo.
"Qualquer coisa", se apressou em responder Vicente.
"Eu não aceito seu oferecimento sem você antes saber o que é. Não é um processo judicial ou uma petição, é coisa muito séria", rebateu Danilo.
Vicente ficou em silêncio, já contaminado pela seriedade e pesar de Danilo. "Pode dizer, se eu puder, eu juro que irei fazer", respondeu Vicente, tentando incentivar Danilo a falar.
"Eu preciso que você coma meu filho, por favor", disse Danilo, levando Vicente a arregalar os olhos.
Um silêncio total se fez naquele escritório. Vicente sentia que podia ouvir seus batimentos cardíacos no meio daquele silêncio constrangedor.
"O que? O que você disse?", perguntou Vicente quase gaguejando.
Danilo suspirou e começou a falar.
"Eu conversei longamente com a mãe de Júnior agora. Ela me convenceu e eu concordei completamente que a única solução para nosso filho não ficar muito mais doente é você começar a ter relações com ele", disse Danilo.
Vicente continuava com os olhos arregalados e incrédulo. Não falou nada. Danilo suspirou novamente e começou a falar, olhando para baixo, sem coragem de encarar Vicente.
"Deixa eu te contar. O Universo me puniu. Meu filho é um viadinho, igual aos tantos que comi, por prazer ou interesse. Eu não tenho problema nenhum com isso, não sou hipócrita. Confesso que, quando percebi isso, me apeguei na esperança de que quando ele crescesse mudasse isso. Era um devaneio bobo de pai, mesmo sendo um pai gay, como eu. Mas ele chegou agora aos 18 anos sendo um típico viadinho reprimido. E eu nunca conversei com ele sobre isso, com um medo bobo de que se eu conversasse isso iria se consumar. Então fingi que não sabia de meu filho esse tempo todo, justo eu um especialista no assunto. O que eu não esperava e só soube hoje é que a mãe dele também percebeu. Eu não casei com a mãe dele enganada. Contei minhas aventuras com homem antes de casar e antes de termos o Júnior. Hoje ela me disse, de forma carinhosa, que sabe que, de certa forma, ele saiu ao pai, em gostar de homem, mas de uma forma diferente. E o homem que ele gosta de uma forma visceral, quase doentia, é você, Vicente, há muitos anos. A mãe disse que conseguiu ver ele se masturbando, pela fresta da porta, olhando uma foto sua no computador. O Júnior sempre foi muito sozinho, muito triste. Colocamos no psiquiatra infantil e no psicólogo e, mesmo tomando a medicação prescrita, não dava muito resultado. Foi apenas quando a mãe viu ele se masturbando por você que ela teve a ideia de te convidar para o aniversário e para os passeios no shopping. E milagrosamente o Júnior desabrochou, melhorou muito, até parou com os medicamentos. Eu no fundo percebi essa relação clara de causa e efeito, mas fingi para mim mesmo que não sabia o motivo. Já a mãe dele não. A mãe dele foi uma águia. Percebia o tempo todo o que estava acontecendo. E assim chegamos até o estágio do Júnior aqui. Eu já sentia que ele queria tanto vir para cá para ficar mais próximo de você. Mesmo sem combinarmos nada, tanto a mãe dele como eu, cada um do seu lado, tentamos protelar ao máximo ele vir para cá, para o escritório, pois sabíamos que ia dar merda. Mas o Júnior nos bombardeou tanto com pedidos que ambos cedemos, quando ficamos sem nenhum argumento contra, pois ele até sabia que você começou aqui no segundo período também. Eu e a mãe dele sabíamos que ele vinha para cá com uma fantasia romântica de que convivendo com você finalmente ia rolar alguma coisa, que finalmente voê ia prestar a atenção nele amorosamente. Mas depois desses dois meses, sem nada, ele se quebrou de novo, na depressão, está pior do que nunca", contou Danilo, agora com as lágrimas rolando na face.
"Eu não sabia disso, eu nunca percebi nada. Eu juro que nunca fiz nada para que o Júnior sentisse isso. Me desculpe, por favor", respondeu Vicente já nervoso, aflito pelo estado em que estava Danilo.
"Eu sei, eu sei, meu filho. Eu sei que você era apenas um amigo, um irmão mais velho maravilhoso para o Júnior, mas ele mesmo não via assim", rebateu Danilo, chorando. "O Júnior não come nada há dias. A coisa só está piorando. Eu e a mãe dele estamos desesperados agora. E tivemos uma reunião hoje onde finalmente colocamos as cartas na mesa. Foi uma surpresa para ambos, mas nós dois já sabíamos exatamente o que estava acontecendo. O quanto ele é apaixonado e obcecado por você. E como ele se quebrou por dentro ao perceber, inteligente como é, que nunca ia rolar nada no que dependesse de você. A mãe dele veio com essa ideia de eu fazer esse pedido. Eu fiquei chocado no início, mas ela me convenceu em 15 minutos que era a única forma de tentar resolver isso sem nosso filho ficar ainda mais traumatizado. Eu não quero ter que internar meu único filho numa clínica psiquiátrica Vicente, eu estou desesperado. Eu amo meu filho mais que tudo, ele é a melhor coisa dessa minha vida errante, a única coisa boa que fiz na vida...", disse Danilo chorando. "Eu tenho tanta vergonha de falar isso para você, Vicente ... mas se você quiser eu lhe peço de joelhos, por favor, salva o meu filho..."
Vicente ficou parado imóvel sem reação. Ao ouvir o pedido para "comer" Júnior pela primeira vez, Vicente pensou ser a ideia "inconcebível". Agora, em segundos passou um enorme flashback na cabeça de Vicente, desde aquela primeira entrevista de estágio, quando ele saiu com 1300 reais no bolso, reviu tudo que viveu ali, naquele escritório com o chefe e amigo, o infarto da avó, as maravilhosas idas aos shopping para comprarem roupas para Vicente, o carinho, os presentes, o generoso contrato de advogado júnior, porém o que mais doeu no peito de Vicente, foi ver Danilo sofrendo tanto, um homem que ele sabia ser tão forte e corajoso, um homem que ele há muitos anos amava como um pai, apesar de nunca ter tido a coragem de verbalizar isso, para ninguém.
"Eu vou fazer, eu vou dar um jeito e vou fazer... o senhor tem minha palavra. Eu vou resolver isso. O senhor não precisará internar o Júnior. Eu vou ficar com ele, fazendo sexo, pelo tempo que precisar. Dou minha palavra", respondeu Vicente, em velocidade rápida, como se estivesse despejando uma verdade entalada em sua garganta.
Danilo que estava chorando mais ainda se assustou com a forma repentina com que Vicente disse tudo. "Você tem certeza, meu filho?", perguntou Danilo ainda fungando de tanto chorar.
"Tenho certeza absoluta. Eu só preciso dessa noite para organizar minhas ideias, por favor. Mas amanhã 8 da manhã eu estou aqui de volta e o senhor me diz como proceder para resolver isso o mais rápido possível", disse Vicente.
Danilo levantou, foi até Vicente que se colocou de pé e o abraçou. "Obrigado... obrigado ... obrigado, meu querido amigo", disse Danilo abraçado a Vicente.
Vicente saiu do escritório a pé e foi caminhado a esmo pelas ruas, pensando em tudo o que tinha sido falado. Estava anoitecendo e ele aspirava forte o ar fresco da rua, como se estivesse faltando ar. Ele ainda estava somatizando tudo que tinha ocorrido, tudo que tinha sido falado, o que tinha sido prometido por ele. Vicente pensou que sua vida maravilhosa dos últimos anos, da linha de pobreza quase absoluta para uma vida de classe média, estava finalmente cobrando seu preço. E que ele tinha, mais do que ninguém, que pagar. Já tinha decidido ajudar apenas para não ver seu amado "pai" Danilo sofrer tanto, mas lembrou também o quanto tinha que ser grato por tudo, por ele, por sua mãe, por sua avó. Sentiu que mesmo que Danilo fosse eventualmente um chefe horrível, teria que atender ao pedido ao menos por ser muito grato por tudo. Para Vicente, criado na comunidade, o pior defeito do ser humano era a ingratidão.
Vicente mal conseguiu dormir aquela noite, nervoso com a perspectiva do que iria fazer. Em nenhum momento, contudo, cogitou voltar atrás da palavra dada. Na manhã seguinte, se apresentou no escritório pontualmente as oito da manhã. Danilo já estava lá de pé, em um estado bem melhor do que ontem, mas ainda com uma cara preocupada. Na sala de Danilo, sentado no sofá, estava com o terno completo o juiz do trabalho que Vicente vira junto com Danilo anos antes, ali mesmo naquela sala. Atualmente, Vicente tinha percebido, Danilo só ficava com o juiz, apesar de ser um segredo deles ainda o relacionamento.
"Eu vim para ajudar na conversa", se apressou em dizer o juiz, ante a cara de dúvida de Vicente do porque ele estar ali.
"Eu não sei como vou abordar, Júnior. Eu não tenho nenhuma experiência nisso", disse Vicente, começando o assunto sem rodeios, pois queria resolver tudo o mais rápido possível.
"Não se preocupe, eu também fui um viadinho reprimido de bundinha tesuda, estou aqui para lhe dar todas as instruções. Não vai ter erro", complementou o juiz.
"Eu preciso que você vá o mais rápido possível para a casa do Júnior, Vicente, ele está do mesmo jeito e sem comer nada desde ontem. Tem que ser hoje, por favor", disse Danilo, mostrando o quando estava aflito.
"Mas o que eu devo fazer, chegar lá e fazer o que? Falar o que? É isso que eu não sei", respondeu Vicente alarmado.
Um silêncio ficou entre os três naquela sala. O juiz se levantou determinado.
"Danilo, sinto que Vicente está constrangido em falar certos assuntos sobre Júnior na sua frente. Nos deixe sozinhos. Vou ter uma conversa rápida com Vicente e resolver isso", disse o juiz. Danilo atendeu o pedido sem dizer nada e saiu batendo a porta.
"Vicente, meu querido, em primeiro lugar quero lhe agradecer muito pelo que você está fazendo por Danilo... Mas, sem perder tempo, você nunca reparou na bundinha empinadinha do Júnior?", perguntou o juiz.
"Nunca!!!", respondeu Vicente quase indignado com a insinuação. O juiz se sentou de volta no sofá e Vicente se sentou em uma cadeira.
"Bom, agora vai ter que reparar. O Júnior não é um garoto muito bonito, infelizmente, isso ajudou a deixar ele mais reprimido e sozinho, mas pelo menos a bundinha dele é bem saliente e apetitosa para os comedores de cu. É nesse atrativo que você vai ter que se concentrar, quando for começar a transar com ele", disse o juiz, bem didático, como se estivesse dando uma aula na escola de magistratura.
"E o que eu falo para ele, quando chegar lá? O que eu faço?", perguntou Vicente.
"Como um experiente viadinho reprimido na adolescência, igualzinho ao Júnior, e que só perdeu a virgindade aos 21 anos, eu irei de dizer passo a passo o que fazer. É só você fazer exatamente o que eu mandar", esclareceu o juiz. "Infelizmente, como a situação é desesperadora, você vai ter que dar um tratamento de choque no Júnior".
E o magistrado estabaleceu todo um roteiro para Vicente, passo a passo, do que fazer.
Quarenta e cinco minutos depois, Vicente já estava tocando a campainha da desembargadora. A própria magistrada atendeu a porta. Ela estava com os cabelos não arrumados e olheiras profundas. Nada precisou ser dito sobre o assunto, Vicente e a desembargadora se comunicaram só pelo olhar.
"Entre Vicente, por favor. A partir de hoje, fique a vontade aqui, como se essa casa fosse sua", disse a desembargadora.
"Obrigado, eu vou até o quarto do Júnior agora. Pode ser?", perguntou o advogado. A desembargadora assentiu com um gesto.
Ao entrar no enorme quarto do rapaz, de 18 anos, muito maior que a antiga casa de Vicente na comunidade, Vicente sentiu uma atmosfera pesada e melancólica que logo reconheceu como a presença implacável da depressão que havia tomado conta de Júnior. Preocupado com o estado do rapaz, há dias sem comer, Vicente sabia que precisava agir rapidamente para trazê-lo de volta à vida. Com um olhar determinado, aproximou-se da cama onde Júnior estava encolhido, e sentou-se na lateral. Seguindo estritamente as instruções do juiz, sem dizer uma palavra, começou a acariciar gentilmente os cabelos desgrenhados de Júnior, com toques suaves e afetuosos, nas madeixas caramelo, quase brilahntes, do rapaz. Cada gesto de carinho buscava ser uma mensagem de apoio e esperança, como se Vicente quisesse transmitir toda a força do mundo através de suas mãos. E ali, naquele momento de silêncio reconfortante, Vicente finalmente teve a certeza que conseguiria atender o pedido.
Júnior se virou, acordando e olhou para Vicente. O rapaz deve ter achado que estava em um sonho. Vicente sorriu para Júnior.
"Vicente?", perguntou o rapaz, com a voz fraca.
"Sim, meu estagiário favorito. Estou aqui porque senti muito sua falta. E queria muito conversar com você. Sobre meus sentimentos", disse Vicente, seguindo as instruções do juiz.
"Seus sentimentos?", perguntou Júnior confuso.
Vicente alisou a lateral do rosto de Júnior, ainda sorrindo para o rapaz, como o juiz tinha instruído.
"Sim, meus sentimentos por você. Eu falhei muito esses meses que estivemos juntos na sala de reunião, pois eu não tive coragem de lhe dizer uma coisa. Que eu te amo. Que eu te amo há muito tempo, mas nunca tive coragem de te dizer por medo dos seus pais, por medo deles me afastarem de você", disse Vicente, ainda alisando o rosto de Júnior, com real carinho.
A feição de Júnior foi magicamente do espanto ao júbilo em segundos. Vicente se inclinou sobre Júnior e deu um selinho nos lábios do rapaz. Imediatamente, foi abraçado por Júnior e envolvido em um abraço muito apertado. Júnior começou a chorar, mas nitidamente se dava para perceber que o choro era de felicidade, agora. Ainda com Júnior deitado, Vicente olhou nos olhos do rapaz e beijou novamente Júnior, desta vez de língua, sendo imediatamente correspondido. Ao enconstar no rosto de Júnior, Vicente sentiu as lágrimas do rapaz pararem de verter.
"Eu também te amo. Hoje é o dia mais feliz da minha vida", disse Júnior finalmente ao respirar depois do longo e voluptuoso beijo.
"Eu soube que você está doente e por isso fiquei muito preocupado com você, meu amor", disse Vicente, sempre seguindo as instruções do juiz, chamando Júnior de amor. "Você não pode ficar assim, você precisa se recuperar para a gente finalmente poder se conhecer melhor, meu lindo".
"Desculpa, por favor. Eu estava triste, pois achava que você não queria nada comigo, que queria ser apenas amigo. Mas eu vou melhorar, vou me levantar agora", disse Júnior se levantando da cama, mas teve uma tontura e caiu de novo.
Vicente ficou preocupado, mas seguindo as instruções do juiz, não mostrou sinal de preocupação com o que viu.
"Eu vou te levar até a cozinha, para tomarmos um maravilhoso café da manhã, pode ser?", perguntou Vicente.
"Eu não sei se consigo andar até lá. Não pode pedir para trazer aqui?", perguntou Júnior.
"Não, aqui está muito escuro, muito infeliz. Eu quero estar com o homem que amo em um lugar iluminado, feliz", respondeu Vicente, seguindo as instruções.
E Vicente, sem nenuma dificuldade por ser Júnior pequeno e magro mesmo antes da doença, pegou o rapaz no colo e o levou, como se fosse uma pluma, para a cozinha do apartamento, deixando-o sentado em uma confortável cadeira. Vicente puxou outra cadeira, tirando-a do lugar e ficou a centímetros do Júnior.
A empregada da desembargadora entrou na cozinha vinda da área de serviço e tomou um susto visível, mas Júnior não percebeu nada, de tão extasiado que estava só olhando para Vicente. Uma bomba podia explodir na cozinha e Júnior não ia tirar os olhos de Vicente. A empregada já conhecia Vicente desde o aniversário de 15 anos de Júnior e ficou calada, esperando alguma instrução.
"Pega agora um suco de laranja, depois bate uma vitamina de abacate, por favor. Faz também ovos mexidos", disse Vicente para a empregada, que sabia, depois de todos esses anos, as comidas preferidas de Júnior, depois de tantos passeios e conversas no shopping. A empregada, sem dizer uma palavra, começou imediatamente a fazer.
Júnior tomou meio copo do suco. Depois, Vicente pediu que ele tomasse todo o copo da vitamina de abacate. Os ovos mexidos foram dados por Vicente, na boca de Júnior, como se ele fosse uma criança de colo. A alimentação era dada entre risos e sorrisos dos dois. Júnior quis até repetir os ovos, a fome dele tinha sido despertada pela alimentação.
Vicente viu, pelo canto do olho, a desembargadora observando tudo de fora da cozinha. Vicente percebeu que a desembargadora estava chorando muito. Júnior não percebeu nada, maravilhado que estava olhando para Vicente, alisava a barba por fazer do advogado com a mão, maravilhado por poder fazer este tipo de toque sem pudores e pelo tempo que quisesse. Depois de mais cinco minutos, a desembargadora entrou na cozinha.
"Bom dia, filho. Bom dia, Vicente", disse a magistrada, com bastante calma e naturalidade da voz e já refeita do choro, fora os olhos inchados.
"Bom dia, Excelência, que bom que a senhora está aqui, tenho um pedido muito importante para fazer", disse Vicente, sempre seguindo as instruções detalhadas do juiz.
Vicente se virou para a desembargadora, colocou o braço musculoso sobre os pequenos ombros de Júnior e o trouxe junto a si, levando o convalescente rapaz ao júbilo num sorriso que nem a mãe nunca tinha visto no filho.
"Eu queria pedir a autorização da senhora para namorar o Júnior. Eu amo há muito tempo seu filho. Prometo que serei muito responsável e carinhoso com ele", disse Vicente, olhando nos olhos de Júnior.
O rapaz voltou a despender lágrimas, mas era óbvio para todos que era de felicidade. Júnior se virou para mãe e com um olhar apenas fez um apelo desesperado pela aprovação da desembargadora.
"Claro, meu rapaz. Eu sei que você é um homem muito bom, muito atencioso com o Júnior, esses anos todos. Fico muito feliz que estejam juntos. Eu dou minha permissão", disse a desembargadora.
"Obrigado, mãe, muito obrigado!!!", disse Júnior.
"Agora eu vou te levar de volta para o quarto para você descansar mais um pouco", disse Vicente.
"Fica comigo, por favor, não vai embora", pediu Júnior com um olhar de desespero.
"Claro, meu amor, hoje vou ficar aqui o dia todo com você, mais tarde vamos comer algo leve no almoço juntos, tomar um bom café da tarde e depois um jantar leve e eu vou ficar ao seu lado, até você dormir", disse Vicente, seguindo as instruções do juiz. Ao ouvir Vicente chamá-lo de "meu amor" na frente da desembargadora, Júnior ficou claramente em êxtase.
Vicente carregou Júnior de volta para o quarto. E o depositou na cama. Ficou fazendo carinho nos cabelos caramelo-ouro do rapaz. Ligaram a NetFlix em uma série aleatória e Vicente deitou na cama de casal do quarto de Júnior, colocando o braço musculoso em volta do rapaz, que se alinhou no peito do advogado. Ficaram vendo episódios aleatórios na NetFlix sem dizer uma palavra, por mais horas. De vez em quando Júnior se movimentava virando para Vicente, pedindo um beijo, no que era imediatamente correspondido, ambos sem dizer nada. A empregada bateu na porta e avisou que o almoço já estava pronto. Vicente disse a Júnior que ia antes pegar o carregador de celular no carro, que teria esquedido, o que era uma desculpa. E deixou Júnior na cama, vendo NetFlix.
Vicente foi para o amplo salão do apartamento, onde não corria risco de ser ouvido por Júnior e ligou para Danilo, contando tudo. O alívio na voz de Danilo foi uma grande recompensa para Vicente e ele sentiu que estava valendo a pena, tudo que estava fazendo, se era para trazer alívio para seu "pai" Danilo. Ao ir de volta para o quarto, Vicente viu a desembargadora no corredor. A magistrada não disse nada, apenas se comunicou com um sorriso terno, sendo correspondida por Vicente.
Vicente entrou no quarto e Júnior já estava sentado na cama, sorridente. Vicente se abaixou e deu um lânguido beijo de língua em Júnior. "Vamos almoçar, meu amor", disse o advogado, carregando o rapaz novamente no colo, apesar de Júnior nitidamente estar mais forte e mais disposto. O almoço foi na cozinha de novo, informal. Júnior comeu uma sopa de galinha com legumes. Vicente praticamente deu a sopa toda na boca do rapaz. A desembargadora não estava no almoço, tinha ido para o TRT, certamente para deixar Júnior e Vicente mais a vontade, depois de ver que Vicente estava conduzindo tudo tão bem. O café da tarde foi um milkshake de ovomaltine, pedido por Vicente no aplicativo, mais hamburgueres, que Júnior adorava, como Vicente sabia bem de tantas vezes no shopping. A desembargadora voltou e se recolheu ao seu quarto. O jantar foi pizza, na sala de TV de 85 polegadas do apartamento, vendo mais uma série aleatória na NetFlix.
Ao levar Júnior de volta para o quarto, Vicente voltou a acariciar os cabelos do rapaz.
"Dorme aqui, Vicente", pediu Júnior.
"Eu adoraria, mas não vamos abusar da boa vontade da sua mãe. Eu volto aqui amanhã, oito, para tomar café da manhã de novo com você. Mas você tem que me prometer que vai dormir, descansar bem, para estar bem disposto amanhã", disse Vicente, alisando o rosto de Júnior.
"Tudo bem, meu amor, vou te esperar", respondeu Júnior. Após o rapaz ter adormecido, Vicente foi embora. O advogado estava satisfeito com todo o ocorrido, se sentiu feliz por Danilo, e, especialmente, feliz por finalmente estar retribuindo tudo que Danilo fez por ele. Também estava contente, em parte, por estar ajudando Júnior. Porém, ficou um pouco preocupado com o que aconteceria, quando tivesse que passar dos beijos e carinhos para outras coisas mais ousadas, como sabia que teria que fazer em breve.
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NOTA DO AUTOR: No próximo episódio, saberemos finalmente se Vicente irá conseguir descabaçar Júnior e perder também sua "virgindade" de ficar com outro homem. O advogado terá determinação suficiente para isso? E conseguindo, será que poderá nascer algum sentimento, ou será apenas pelo dever de gratidão? Não percam, no próximo episódio. Meu e-mail christophercura@protonmail.com