Algum tempo depois, o nosso voo foi anunciado e tivemos que nos despedir. Fiz de tudo para não chorar, ficando apenas com os olhos marejados, mas o que me surpreendeu foi a força das minhas filhas que, dessa vez, se seguraram firmes e decididas. Fiquei pensando se isso já não era resultado do rompimento que eu havia causado entre eu e elas. Depois de muito abraçá-las e beijá-las, foi a vez do Mark, que não me recusou o abraço, nem o beijo no rosto:
- Você pode não acreditar, mas eu te amo demais e acho que nunca vou encontrar outro que ocupe o seu lugar. - Cochichei em seu ouvido.
- Boa viagem, Fernanda. Espero que seja muito feliz no seu trabalho e na sua nova vida. - Falou, formalmente.
Novamente nosso voo foi anunciado e tive que me separar de vez deles, entrando na área de embarque. Enquanto pude vê-los, me esforcei. Quando não mais pude, Paulo me surpreendeu:
- Você é jovem, Fernanda, tem toda uma vida pela frente. Não será a última vez que se encontrarão. Tudo dará certo.
- Acabei com o meu casamento, Paulo. Perdi o homem da minha vida.
PARTE 19 - MADE IN BRAZIL
O voo foi cansativo, maçante, chato e não fossem as comodidades da classe executiva, eu teria infartado antes de pisar em solo americano. Ah, o Paulo ajudou bastante também, interagindo comigo por boa parte da viagem. As refeições são um capítulo à parte: há quem ame e há quem odeie, eu simplesmente faço parte do último grupo, porque, sendo mineira e casada com um ótimo homem/marido/pai/cozinheiro/faz tudo, tinha do bom e do melhor. Eu também cozinho, mas o Mark é um caso à parte.
Assim que chegamos e estávamos para sair da área reservada, o Paulo já pegou um grosso e pesado sobretudo para se cobrir. Eu o olhei curiosa e ele para mim mais ainda:
- Você trouxe um casaco ou alguma blusa bem grossa, não é, Fernanda?
- Uai, não! Estava quente demais lá em casa.
- Fernanda, lá é verão, aqui é inverno! - Falou, sem saber o que fazer comigo: - E inverno aqui é frio demais, muito mesmo! Mas blusa você trouxe?
Parei para pensar um momento e me lembrei que também tinha um sobretudo, mas bem escondido abaixo das roupas da minha mala. Como eu já estava com o botão do “foda-se” bem pressionado, abri a mala no saguão do aeroporto sob os olhares curiosos e surpresos dos presentes e comecei a fuçar em minhas coisas. Fiz uma bagunça, mas consegui achar meu sobretudo e também peguei uma blusa de lã, então, frio eu não passaria. Voltei a organizar minhas coisas e naturalmente agora parecia que não caberia na mala. Foram minutos de labuta até que consegui fechar o zíper e respirar aliviada.
Vesti a blusa e continuei achando que não precisaria do sobretudo, “achismo” que morreu assim que pus o pé para fora do prédio do aeroporto, sentindo um vento de cortar e vendo que havia neve na parte externa:
- Nu! Isso é neve?
- Lógico, minha cara, aqui é inverno.
- Nóóóó… O Mark ia adorar isso, aliás, ele e as meninas. - Falei, enquanto vestia meu sobretudo.
Seguimos andando numa região onde havia vários carros parados e logo Paulo reconheceu uma pessoa, um jovem negro alto, forte e com traços bem bonitos, que cumprimentou e o apresentou para mim num bom e velho português. Nunca mais esquecerei seu nome e não é por causa de sua aparência, mas sim pelo nome mesmo: Jandiro... Porra, que sacanagem fazer isso com o menino! Fiquei imaginando o que ele devia ter passado em sua infância e juventude…
Ele acondicionou nossas malas no porta-malas, abrindo a porta para eu entrar. O Paulo sentou-se no banco dianteiro do passageiro a seu lado e começaram a conversar animadamente. Notei naturalmente quando ele ajeitou o espelho retrovisor para me olhar e sei disso porque pelo próprio espelho nossos olhos se cruzaram algumas vezes. Pouco a frente acabamos sendo surpreendidos por um acidente que causou um pequeno engarrafamento e ele também passou a conversar comigo. A conversa era cordial e bastante agradável, mas senti um “q” de quero mais da parte dele. Acho que o Paulo também, porque tratou de monopolizar a conversa, afastando qualquer tentativa dele de estreitar amizade comigo, ainda assim seus olhares persistiram.
Durante essas conversas, descobri que nosso trajeto que deveria durar no máximo trinta minutos, já estava atrasado em mais de dez e sem previsão de chegarmos. Eu, marinheiro de primeira viagem, deixei de utilizar o banheiro ao sair do aeroporto e agora estava apertada. Precisava agir:
- Jandiro! Tem algum shopping aqui por perto que dê para a gente dar uma passada?
- Todo mundo me chama de Jota, moça, fique à vontade também. - Falou e procurou no GPS do veículo a resposta para minha pergunta: - Tem sim! Se a gente virar à direita na próxima, coisa de umas quatro quadras, tem um shopping.
- Será que não é melhor a gente esperar por lá? Afinal, parados por parados, vamos ficar num local com um pouco mais de conforto, não concordam?
Eles se entreolharam por alguns segundos e concordaram com um movimento de ombros. Ainda assim, para chegarmos na rua que deveríamos dobrar à direita, levamos quase quinze minutos, mas de lá até o shopping foi rapidinho, rapidinho… Assim que entramos, entendi que ele, apesar de ser muito bem tratado pelo Paulo, era somente um motorista e, como tal, ficou no carro, aguardando nosso retorno. Ficamos passeando pelos corredores, vendo as vitrines das lojas e, óbvio, para mim era tudo novidade. Apesar de serem lojas, era uma coisa diferente, com produtos diferentes, enfim, era tudo novo para a caipira aqui.
Paulo se mostrava um cicerone do melhor tipo: tranquilo, acessível, amigável… Ele estava sendo tudo o que o Mark não era, porque se o meu marido tem um defeito é não ter paciência para ficar passeando em shopping e nisso a Maryeva puxou a ele, porque, de forma idêntica, quando ela quer alguma coisa, já sabe qual a loja, o preço, tamanho, então ela entra e vai diretamente no que interessa, sem meios termos.
Depois de andarmos um bom tanto e de eu ter entrado em duas ou três dezenas de lojas, sempre “just to see” (apenas para ver), entramos num restaurante, onde jantamos. Por mais que o Paulo estivesse se mostrando uma ótima companhia, Mark e as meninas não me saiam da cabeça, aliás, foi só nesse momento, pela primeira vez em muito tempo, que me lembrei do Rick. Parece que realmente o encanto havia se quebrado e eu estava livre daquela obsessão dele por mim e de minha por ele:
- Não sabia que você gostava de Carpaccio, Fernanda?
- Hein!? Então, na verdade, nem eu! Acredita que é a primeira vez que estou comendo? Mas, carne é carne, né? Sendo boa e bem temperada, eu gosto muito sim!
- Querida, eles tem um molho Bechamel que normalmente não se usa com Carpaccio, mas… Espera só um minuto. - Disse e chamou um garçom: - Please, I've eaten here before and once tried a delicious Bechamel sauce. Would you be able to get some for my dear companion to try? (Por favor, eu já comi aqui outras vezes e, certa vez, experimentei um delicioso molho Bechamel. Será que você poderia conseguir um pouco para a minha querida acompanhante experimentar?)
- Of course, sir. I will arrange it this very instant. (Naturalmente que sim, senhor. Vou providenciá-lo neste exato instante.) - Respondeu num inglês quase britânico, o que me chamou a atenção.
Assim que ele se afastou, eu brinquei:
- Ó só… O meu inglês não é dos melhores, mas o desse garçom passa longe da forma como os americanos falam, não acha?
- Sabe que também notei isso! Ou o rapaz é um imigrante inglês, ou começou a pouco tempo e está até com medo de conversar com os clientes, por isso fala tão certinho.
Logo, o rapaz retornou e eu, logo eu que falo muito pouco, quase nada de inglês, perguntei:
- Are you American, boy? (Você é americano, rapaz?)
- Yes, ma'am. (Sim, madame.)
- Ma’am… (Madame…) - Resmunguei com o Paulo, sentindo-me uns dez anos mais velha e o encarei novamente: - But your English... Your accent is so... so British. Why? (Mas o seu inglês... O seu sotaque é tão... tão britânico. Por que?)
- Oh yes... You're right! I was born here, but I grew up there. Then I came back here about a year ago. (Ah sim... Você está certa! Eu nasci aqui, mas cresci lá. Daí voltei para cá há aproximadamente um ano.) - Respondeu de uma forma tímida, mas bastante educada.
Ele se afastou e inadvertidamente peguei me pensando que, se eu fosse assumir o lado solteira, empresária e madura da Fernanda, esse mocinho bem que daria um caldo gostoso na minha panela. Acho que o olhei demais, porque logo o Paulo chamou minha atenção:
- Pensei que você não falasse inglês, Fernanda? Eu já tinha até arrumado uma professora para te dar umas aulas aqui.
- E fez bem! Eu não falo. Isso aqui foi conversa de primário, mas para poder render bem no treinamento, realmente eu precisarei de ajuda. Inclusive, eu já estava em contato com uma professora também, mas se você já contratou, posso usar a sua, sem problema algum.
- É uma ótima pessoa, professora especializada em executivos. Acho que ela será ideal para te preparar para o treinamento.
Passamos a conversar sobre o treinamento e ele me explicou tudo o que eu precisava saber, a princípio. No dia seguinte, eu seria levada por ele à matriz, mas apenas para conhecê-la e ser apresentada a alguns dos diretores, pois o treinamento mesmo seria iniciado apenas em dez dias, justamente para me dar um certo tempo de adaptação.
Finalizado nosso jantar, voltamos ao carro e de lá o Jota (não consigo esquecer o nome Jandiro), levou-nos a um apart hotel, onde já havia reservas em nossos nomes. Ele me ajudou a levar minhas malas para minha nova morada e nos despedimos, cordialmente. A primeira coisa que fiz? Ligar para o Mark, óbvio, aliás, fiz melhor, iniciando uma chamada de vídeo:
- Fernanda!? - Perguntou assim que a chamada se iniciou.
- É, né! Sou eu que estou ligando. - Brinquei: - Tudo bem com vocês?
- Tudo… As meninas estão jantando. Espera aí. - Disse e foi até elas, entregando o celular.
Daí foi aquela bagunça virtual, com muitas risadas, piadas, brincadeiras, uma interação muito melhor do que eu esperava ou talvez merecesse. Perdemos a noção do tempo e só me toquei quando o Mark começou a resmungar que a comida estava esfriando, mas, pelo tempo, devia estar gelada. Elas devolveram o celular para o meu marido, mas com ele a conversa não durou muito, infelizmente; ao final, disse novamente que o amava e pedi que me esperasse, mas ele não disse sim, nem não.
Apesar do adiantado da hora, decidi ligar para a Denise e pedir que atrasasse o processo de divórcio. Eu ainda queria lutar pelo meu marido e faria isso sem pestanejar no meu retorno. Ela não pareceu ter gostado da novidade:
- Você quer que eu atrase o processo? Mas… Mas como eu vou fazer isso? Quem decide o andamento é o juiz, oras!
- Por favor! Dá um jeitinho, sei lá, pede uma suspensão, inventa uma desculpa qualquer. Faz isso por mim, por favor.
- Nanda, você me arruma cada uma… Para que isso agora?
- Eu… Eu vou lutar pelo Mark. Pelo menos, eu quero tentar.
Um silêncio repentino me passou a ideia de que, talvez, ela não quisesse isso, mas preferi acreditar em seu bom senso e no seu instinto materno:
- Tá. Eu… Eu vou ver o que eu faço.
- Obrigada, amiga. Gosto muito do’cê.
- Tá, tá… Tchau, Nanda.
Ela desligou e preferi confiar que ela fosse fazer o que era certo. No outro dia de manhã, logo cedo, o Paulo bateu na porta do meu “apart”, convidando-me para tomar café antes de sairmos. Fomos até o restaurante do prédio e depois Jota já nos esperava. Em menos de uma hora chegamos ao escritório central da empresa, instalado num ostensivo prédio em Manhattan. Fui apresentada a todos os presentes e naturalmente a bela morena brasileira, singelamente eu, causou burburinho. O CEO não se encontrava, mas havia dado orientações para que fizessem uma chamada virtual assim que eu chegasse, pois queria me dar as boas-vindas. Foi assim, através da tela de uma televisão, que conheci Carl William Gottschalk, um belo exemplar do sexo masculino de cabelos loiros, mas de um horrível bigode fininho. “Jesuis!”, pensei, enquanto controlava uma louca vontade de gargalhar dele.
Ele foi extremamente cordial e pediu desculpas por não estar ali pessoalmente para me receber, justificando ter surgido uma emergência pessoal, mas disse que compensaria na primeira oportunidade que tivesse. Fui a mais formal possível em se tratando de Nanda:
- Don't worry, Mr Gottschalk. I thank you for your welcome and hope to respond positively to the company's aspirations. (Não se preocupe, senhor Gottschalk. Eu agradeço a acolhida e espero poder corresponder positivamente aos anseios da empresa.)
- You can call me Will, Fernanda. I hope the accommodations have pleased you? (Você pode me chamar de Will, Fernanda. Espero que as acomodações tenham lhe agradado?)
- Oh, yes, yes... They're great! Thanks. (Ah, sim, sim... São ótimas! Obrigada.)
Conversamos mais poucas questões triviais, tais como o fato de eu parecer mais nova que o meu currículo informava, não que ele fosse velho, não era, talvez pouca coisa mais que eu e nos despedimos. Após encerrada a chamada, notei que várias pessoas me olhavam surpresas:
- What? (O quê?) - Perguntei em inglês, no automático.
- Oras, Will!? Ninguém o chama assim aqui, Fernanda! Fiquei até surpreso com a deferência. - Justificou Paulo, enquanto algumas pessoas já saiam da sala de reuniões: - Ele até esqueceu que eu estava aqui na sala. Praticamente não conversou comigo…
- Ah, Paulo, ciúmes de mim não, né? - Brinquei, piscando um olho.
- Não, de forma alguma! Afinal, ele é só um funcionário da empresa e eu sou um sócio quotista controlador. Ele é meu funcionário também, não é?
- Ele só quis ser gentil.
- Aham… Gentil demais.
Pouco depois, entrou uma senhora bastante distinta, com idade aparente entre cinquenta e sessenta anos na sala. Paulo me apresentou a ela, a minha nova professora, Mrs Thompson. Tentei cumprimentá-la com os mineiríssimos três beijinhos, mas ela se esquivou do primeiro e já manteve distância, repreendendo-me e explicando num inglês irretocável que, na cultura americana, isso não era muito bem visto, principalmente entre executivos:
- Mas eu só quis ser gentil, cordial…
- Speak English with me, Fernanda. (Fale em inglês comigo, Fernanda.)
- Uai, mas eu pensei que só fôssemos começar num outro dia!?
- “Why”!? Why did you say “why” at the beginning of your sentence? (Por que!? Por que você disse “por que” no início da sua frase?)
- Mas eu não disse “why”, eu disse “uai”.
- In English, Fernanda… (Em inglês, Fernanda…)
- I just said that I didn't say “why” but “uai”. (Eu só disse que eu não disse “why” e sim “uai”.) - Expliquei.
- Yes, I understood. Why did you say "why"? (Sim, eu entendi. Por que você disse "why"?) - Ela insistiu, ainda mais curiosa.
- But I didn't say "why", I… (Mas eu não disse "why", eu...) - Calei-me, perdida e me voltei para o Paulo: - Paulo, me ajuda aqui.
Ele começou a rir e explicou que o meu “uai” não era o mesmo “why” a que ela estava acostumada, tratando-se de uma expressão de meu estado de origem. Ela ouviu tudo e ficou fascinada com a explicação dele, mas foi sincera comigo:
- Forget your "uai", Fernanda, or at least keep it safe. Here, it would be a lot of confusion as you have already seen. (Esqueça o seu "uai", Fernanda, ou, pelo menos, guarde-o bem guardado. Aqui daria muita confusão como você já viu.)
- Ara! - Resmunguei.
- "Are"? Why did you say "are"? ("São"? Por que você disse "são"?)
- Holy Christ! I didn't say "are", I said "ara", "ara"! (Cristo Sagrado! Eu não disse "are", eu falei "ara", "ara"!) - Expliquei e já olhei em pânico para o Paulo.
Ela começou a rir e, enfim, falou num português muito, mas muito arrastado:
- Eu já entendi, Fernanda. Brinquei com você para que entender… entendesse que essas palavras regionais não devem fazer mais parte do seu vocabulário.
- Ahá! Então, a senhora fala português?
- No! And not you! That was the first and last time I will speak to you in your native language. From now on, we will only speak in English, ok? I'm going to teach a total immersion course in English for everyday life and for executives, get used to it and learn! (Não! E nem você! Essa foi a primeira e última vez que falarei com você em sua língua natal. De agora em diante, falaremos apenas em inglês, ok? Vou dar um curso de total imersão em inglês para o dia a dia e para executivos, acostume-se e aprenda!)
- Eu me perdi no meio da frase…
- What? (Como?) - Interrompeu-me e entendi o que deveria fazer.
- I couldn't understand everything you explained… (Não consegui entender tudo o que a senhora explicou...)
Ela voltou a repetir tudo o que havia falado, em inglês, naturalmente, e eu devia parecer uma criança em idade pré-escolar, tentando fazer uma leitura labial dela, enquanto falava. No final da terceira repetição, compreendi o que ela disse e entendi que realmente eu precisaria daquelas aulas, e com urgência:
- And when will we start? (E quando começaremos?)
- Tomorrow morning, dear. I prefer that our classes take place here at the office, so that you can adapt to the work environment and interact with your future colleagues, okay? (Amanhã, querida. Eu prefiro que nossas aulas sejam realizadas aqui no escritório, para que você já vá se adaptando ao ambiente de trabalho e interagindo com seus futuros colegas, ok?)
- Ok! - Concordei, mas precisei confirmar com quem mandava: - By the way, okay, Paulo? (Aliás, ok, Paulo?)
- Claro, Fernanda, na verdade essa sugestão ela já havia me passado e eu já havia combinado com Carl. Você já começa amanhã e terá aulas o dia inteiro, praticamente, para tudo.
- In English, Paulo… - Brinquei.
- Não mesmo! Eu não preciso do curso, você precisa.
Conversei mais um pouco com a minha nova tutora e, dado o horário, saímos para almoçar. Convidei-a para vir conosco e ela aceitou. No restaurante, minha tortura teve início:
- Fernanda will take the orders, Mr. Paulo. She needs to practice. (Fernanda fará os pedidos, senhor Paulo. Ela precisa praticar.)
- But… But… (Mas… Mas…)
- In English, Fernanda! (Em inglês, Fernanda!) - Ela me interrompeu e se corrigiu pouco depois: - Ah, you used English. Very well, dear. (Ah, você usou o inglês. Muito bem, querida.)
Perguntei os pratos que eles queriam comer, em inglês, naturalmente, porque ela não me deixava sequer respirar em português e chamei um garçom, fazendo os pedidos com um sotaque que ficava localizado entre o "bumpkin" (caipira) e o "desperate" (desesperado). O coitado conseguiu me entender, depois da terceira vez, mas conseguiu e trouxe os pedidos direitinho. As conversas na mesa, inclusive com o Paulo, foram todas em inglês, sugestão da minha carrasca, e aquilo começou a me deixar bastante tensa. Meu calvário estava apenas no início…
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO, EM PARTE, FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL NÃO É MERA COINCIDÊNCIA, PELO MENOS PARA NÓS.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DA AUTORA, SOB AS PENAS DA LEI.