Cheguei na porta da faculdade e fui até a entrada. O porteiro estava conversando com duas alunas. Eu fui entrando e ele não falou nada. Acho que nem me viu. Dei um sorriso para mim mesma e fui entrando pelos corredores. Tinha bastante movimento de pessoas ali. Acho que algumas aulas tinham terminado mais cedo, então provavelmente muitos estavam ali esperando os amigos ou namorados para ir embora.
Eu fui para a cantina. Tinha uma mesa logo no início que eu e meus amigos ficava conversando quando estávamos de bobeira na época que eu ainda estudava ali. Se algum deles tivesse de bobeira com certeza estaria ali. Inclusive Márcia, quando me aproximei fui caminhando bem devagar. Ouvi algumas vozes e risadas. Com certeza tinha alguém ali e um deles era Rogério, meu amigo de infância.
Antes de olhar escuto meu nome sair da boca de Marília. Uma amiga nossa que estudava na mesma sala de Márcia. Então comecei a prestar atenção no assunto.
Marília: Tem notícias da Ju Rô?
Rogério: Falei com ela ontem por mensagem. Ela está bem.
Marília: Faz tempo que não falo com ela. Sinceramente fico sem jeito de conversar com ela. Ju é uma boa garota. Sempre foi um amor comigo, não merece o que Márcia faz com ela não.
Quando ouvi aquilo meu coração disparou, como assim!?! O que Márcia faz comigo? Fiquei ali ouvindo o resto da conversa.
Rogério: Eu tenho pena da Ju. Gosto muito dela. Até pensei em contar, mas sei lá eu fico com medo de me meter.
Nessa hora ouvi uma risada. Era kadu. Um dos amigos do Rogério.
Kadu: Você não teve pena dela quando comeu a Márcia com ela dormindo no quarto ao lado. Você não conta porque sabe que o seu está na reta.
Marília: Poxa Rô, até você. Cara, como você pode fazer isso? Está certo que Márcia não vale nada e já traiu a Ju várias vezes, mas você é amigo dela.
Nessa hora eu já sentia uma tristeza e uma raiva tomar conta do meu peito.
Rogério: Eu sei que errei. Nunca devia ter feito isso. Até porque amo minha namorada e a Ju é minha melhor amiga. Mas eu estava meio bêbado e a Márcia me ofereceu a bunda. Desculpe, mas aí fica difícil resistir.
Kadu: Se você tivesse se arrependido não teria ficado outras vezes com ela mano. Fala verdade, você só não está comendo ela agora em algum escurinho por aí porque ela saiu com a ruivinha novata lá pros fundos.
Rogério: Ah eu me arrependi, mas o mal já estava feito. Só aproveitei.
Marília: Nossa você é nojento Rô. Tomara que a Ju não fique sabendo disso. Além de ter uma namorada vagabunda, ainda tem um amigo que não vale nada.
Nessa hora eu sai de trás da parede. Não falei nada com os meninos. Só olhei para Marília que ia se levantando e disse.
Ju: Tarde demais. Eu agora já sei de tudo.
Todos se assustaram ao me ver. Rogério tentou falar alguma coisa, mas sinceramente nem ouvi. Eu estava cega de raiva e fui em direção aos fundos da faculdade.
Eu queria pegar ela no flagra. Eu sabia quem era a ruivinha. Ela entrou no início do ano. Seu nome era Rebeca. Veio transferida do Rio de Janeiro. Eu até tinha falado algumas vezes com ela. Ela era lésbica. Ela mesmo me contou. Era muito bonita. No início ela até ficava de papo comigo mais a Márcia, mas não durou muito e ela se afastou de nós. Agora eu sei o porquê.
Quando fui chegando comecei a procurar as duas. Estava meio escuro e tinha algumas árvores que faziam sombra, o que deixava ali mais escuro ainda. Vi alguns casais se pegando, mas nada das duas. Quando estava quase desistindo vi duas garotas se beijando bem no cantinho do muro. Reconheci elas por causa do cabelo vermelho da Rebeca que refletia com alguns raios de luz que vinha da rua.
Já cheguei e puxei a Márcia pelo cabelo. Ela deu um grito e eu soltei. Quando ela me viu fez uma cara de espanto. Ela foi falar alguma coisa, mas eu dei um tapa na sua cara que o barulho chamou a atenção de todos que estavam ali perto. Ela caiu e colocou a mão no rosto e eu falei.
Ju: Você cala a boca e só escuta ou vou te quebrar todinha aqui.
Eu fiz tudo por você. Me assumi. Fui expulsa de casa. Passei e estou passando o maior perrengue. Por isso eu tive que parar de estudar. Fiz isso tudo porque eu te amava e queria ficar com você. Em troca você me traiu com vários aqui. Me traiu até com meu melhor amigo. Você não vale nada. É uma vagabunda que foi capaz de dar a bunda pro Rogério comigo dormindo no quarto ao lado.
Eu falava e as lágrimas escorriam no meu rosto mas minha voz era firme. Eu estava com muita raiva naquele momento.
Ju: Você nunca mais chega perto de mim ou te juro que vou te machucar e muito. Você me entendeu?
Ela só balançou a cabeça. Eu virei as costas para sair. Nem tinha percebido, mas nessa hora já tinha algumas pessoas ali ao redor. Respirei fundo e quando fui sair olhei pra frente e vi Rebeca que ainda estava ali. Deu vontade de falar umas coisas para ela, mas ela não tinha feito nada de errado comigo. Quem me devia fidelidade era a Márcia. Ela nem minha amiga era.
Então só fui até ela. Entreguei a caixinha com o anel e disse.
Ju: Acho que agora você é a namorada dela. Boa sorte com essa daí. Você vai precisar.
Ela pegou a caixinha meio que no susto e ainda disse.
Rebeca: Eu não sabia que vocês ainda estavam juntas.
Nem respondi. Virei as costas e saí. Quando estou quase chegando na saída escuto Rogério me chamar. Nem olhei pro lado de onde veio o grito. De repente sinto uma mão segurar meu ombro. Eu me viro e era ele.
Rogério: Olha a gente precisa conversar. Eu sinto muito Ju.
Ju: Achei que éramos amigos. Eu confiava em você, mas se você dá mais valor a uma bunda de uma vagabunda que na nossa amizade não temos mais nada para conversar. Me faz um favor. Nunca mais coloque essas mãos sujas em mim.
Virei as costas e segui em direção a saída. Atravessei a rua e fui em direção a uma praça que tinha logo a frente. Me sentei em um dos bancos. A raiva deu lugar a tristeza e a decepção. Eu comecei a chorar, nossa eu chorei muito. A dor que eu sentia parecia que ia arrebentar meu peito.
Depois de alguns minutos fui tentando me acalmar. Limpei o rosto. Respirei fundo, mas não resolveu muito. Ainda estava doendo demais. Pelo jeito ia doer por muito tempo. Eu precisava ir embora, mas tinha que tentar me acalmar antes. Acho que uma garota chorando andando na rua aquela hora da noite ia chamar muito a atenção. O pior que nem dinheiro pro taxi eu tinha.
Quando passou mais uns minutos escuto alguém me chamar. Levantei a cabeça e não acreditei no que vi. Rebeca estava ali na minha frente.
Ju: O que você quer garota? Se veio rir de mim é melhor voltar porque sinceramente estou sem paciência no momento.
Rebeca: Não. Eu só queria conversar. Acho que te devo uma explicação e um pedido de desculpas.
Ju: Você não me deve nada. Não quero ouvir nem suas explicações nem suas desculpas. Agora vai embora.
Rebeca: Tudo bem. Não vou falar nada, mas não vou embora.
Ju: Como é? Está de brincadeira comigo?
Rebeca: Não vou te deixar aqui sozinha. Olha seu estado. Você está sem condições de ir pra casa. Já é muito tarde e aqui é perigoso.
Ju: Ah pronto. Eu não preciso da sua ajuda não. Você já fez o suficiente por hoje.
Rebeca: Eu não sabia Ju. Eu juro que não sabia que vocês ainda estavam juntas.
Ju: Não quero saber. Já disse, não me importo.
Rebeca: Mas para mim importa sim. Eu nunca faria uma sacanagem dessa com uma das poucas pessoas que me trataram bem ali quando cheguei.
Ju: Por favor. Só vai embora.
Eu não tinha mais forças para discutir e comecei a chorar de novo. Rebeca se ajoelhou na minha frente. Segurou minhas mãos e disse. Eu sinto muito Ju, sinto muito mesmo.
Quando olhei nos olhos dela, eu vi sinceridade neles. Não sei o porquê, mas eu estava tão desesperada que simplesmente a abracei.
Ela me abraçou de volta e ficou ali comigo sem falar nada. Eu não sei porque, mas o abraço dela foi me acalmando. Aos poucos meu choro foi diminuindo. Ela estava fazendo carinho no meu cabelo. Achei até fofo, mas ela estava beijando minha namorada a pouco tempo atrás. Quando lembrei disso, me afastei.
Rebeca: Está melhor?
Ju: Um pouco, eu acho.
Rebeca: Então vamos pra casa?
Ju: Pode ir, daqui a pouco eu vou.
Rebeca: Nada disso, eu vou te levar.
Ju: Não precisa.
Rebeca: Deixa de ser teimosa. Olha a hora que é. Acho que fosse pra você ir de táxi você já teria ido. Eu estou com o carro logo ali. Eu te levo e se amanhã você quiser continuar me odiando tudo bem. Mas não vou te deixar aqui.
Ju: Eu não te odeio.
Rebeca: Então vem comigo. Por favor.
Eu não tinha muita opção, então resolvi aceitar a carona.
Me levantei e fui com ela até seu carro. Ela entrou, destravou a porta e abriu para mim de dentro mesmo. O carro dela era bem legal. Tinha um cheiro bom. Ela ligou o som baixinho. Me perguntou em qual direção seguir e eu falei. A gente ficou em silêncio durante o trajeto. Eu só falava onde ela ir até chegarmos na porta da lanchonete que ainda estava aberta. Eram umas 23 horas já. O movimento já estava fraco e logo fecharia.
Rebeca: Você mora aqui?
Ju: Sim. Eu trabalho na lanchonete e moro nos fundos.
Rebeca: Olha que legal. Vou vir aqui comer um lanche qualquer hora. Se você não se importar, claro.
Eu nunca tinha reparado direito em Rebeca. Que era bonita eu sabia, não precisava reparar direito para notar isso. Ela era ruiva. Provavelmente natural. Tinha olhos azuis lindos. Vi que tinha algumas sardas entre os seios e umas pintinhas pretas no rosto. Tinha um sorriso lindo e um corpo muito bonito. Tinha a fala mansa e uma carinha de anjo. Vi que tinha uma tatuagem no antebraço esquerdo, mas não deu para ver direito o que era. Depois de dar uma olhada nela de cima embaixo eu falei que tudo bem. Ela poderia vir sim.
Sabe quando você quer sair de um lugar mas parece que algo te prende? Então foi o que senti naquele momento. Eu não queria sair de perto dela. Sua presença me fez bem. Principalmente seu sorriso.
Ju: Olha, talvez eu tenha sido meio injusta com você. Então se quiser ainda se explicar eu queria ouvir.
Rebeca: Olha porque a gente não desce e eu te conto tudo enquanto como um lanche. Estou morrendo de fome.
Ju: A ideia é boa, mas se eu entrar meu tio é as meninas vão ficar me chamando toda hora. Vai ser meio difícil de conversar.
Rebeca: Você pode chegar tarde em casa?
Ju: Não muito tarde porque trabalho amanhã, mas posso.
Rebeca: Tenho uma ideia melhor então.
Ela falou aquilo, ligou o carro e saiu.
Ju: Ei, onde a gente está indo.
Rebeca: Pro meu apartamento. Estou sozinha. Esquento algo no micro-ondas para a gente comer e a gente conversa em paz. Te trago de volta depois, eu não moro longe.
Não sei porque, mas não disse não e ela continuou em direção ao seu apartamento.
Eu fui calada mas as vezes olhava pra ela de rabo de olho. Principalmente pro seu decote com aquelas sardas. Era bem bonito aquelas manchinhas entre aqueles seios branquinhos.
Rebeca: Para com isso. 🤭
Ju: Com o que? Não fiz nada.
Rebeca: Você está olhando pro meu decote e mordendo os lábios.
Ju: Desculpe, não percebi. Foi mal, não queria te deixar desconfortável.
Rebeca: Não está me deixando desconfortável. Está me deixando excitada mordendo essa boca assim.
Ju: Nossa você é bem direta em.
Rebeca: Sou sim, mas fica tranquila que não é uma cantada. Só falei a verdade. Pode ficar tranquila. 🤭
Ju: Tudo bem, eu estou tranquila.
Eu não estava nada tranquila. Ela viu eu viajando no decote dela. Nem percebi que estava mordendo os lábios. Ouvir ela ser direta assim me deixou com muita vergonha na verdade. Achei melhor ficar com meus olhos quietos para outro lado só para garantir.
Logo chegamos. Ela foi para o estacionamento. Era um prédio muito chique. Subimos de escada mesmo. Seu apartamento era no terceiro andar. Ela abriu a porta e entramos. Não era grande, mas muito lindo.
Ela falou para eu sentar e foi até a cozinha. Voltou e falou que tinha colocado uma lasanha para assar. Que ia só vestir outra roupa e já voltava.
Quando ela voltou do quarto eu olhei para ela e pensei na hora. Essa conversa com ela vestida assim não vai prestar.
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Continua.