Depois de um tempo deitada, pensando na mensagem que minha mãe mandou que mudou um pouco o meu humor, eu resolvi ir tomar um banho e esfriar a cabeça. Coloquei uma roupa leve e fui para a lanchonete ver se me distraía um pouco.
Logo que cheguei, vi May com sua namorada e suas amigas. Dessa vez, a patricinha estava lá, mas nem me viu entrar. Fui para o balcão, peguei um refrigerante e me sentei. Logo, Estefânia me viu e falou algo com May. As duas vieram até onde eu estava, me cumprimentaram e perguntaram se eu estava bem. Eu disse que sim e ficamos ali de papo.
Caiu uma mensagem no meu celular. Achei que era minha mãe, mas era Rebeca dizendo que estava indo buscar Clara, que pediu uma carona, e as duas iam para a lanchonete. Nem respondi e fiquei conversando com as meninas. Não demorou muito e Rebeca e Clara chegaram. Depois de apresentar Clara às meninas, ficamos de papo.
Estefânia falou algo no ouvido de May, que deu um sorriso. Rebeca já foi logo perguntando o que era, e May disse que não era nada e que ia voltar para a mesa delas.
Antes de sair, Estefânia olhou para nós três, uma por uma, e falou:
Estefânia: Acho que vocês três estão com alergia a alguma coisa, e provavelmente a alergia afeta mais a região do pescoço. Kkkkk
Rebeca: Que nada, ataca o corpo todo. Kkkkkkkkk
Estefânia e May saíram rindo, e Clara caiu na gargalhada junto com Rebeca, e eu, de novo, queria achar um buraco para enfiar a cabeça. Kkkkk
Depois da crise de riso, eu e as duas resolvemos sentar em uma mesa. Peguei dois refrigerantes para elas e nós sentamos. Estávamos conversando quando vi alguém do outro lado da rua acenando com as mãos me chamando. Vi que era minha mãe, falei com as meninas que já voltava e fui até ela.
Assim que cheguei, ela já olhou direto no meu pescoço e com certeza viu as marcas.
Ju: Oi, mãe.
Mãe: Oi, filha. Pelo jeito, ainda está com sua namoradinha.
Ju: Não, mãe, eu não estou, e se veio aqui falar disso, é melhor voltar.
Mãe: Desculpa, é que não entendo isso.
Ju: Não precisa entender, só respeitar, da mesma forma que sempre respeitei suas escolhas, mesmo não gostando.
Mãe: Já entendi, não vou falar nada, só quero te perguntar uma coisa.
Ju: Pode perguntar, mãe.
Mãe: Você arrumou algum problema com o Gabriel ontem?
Ju: Não, nem ontem nem nunca. Ele que sempre fez de tudo para arrumar problema comigo, depois que eu não quis nada com ele.
Mãe: Como assim? O Gabriel sempre te respeitou.
Ju: Às vezes eu não sei se a senhora é boba ou se faz de boba. O Gabriel tentou me comer dentro da sua casa, mas eu nunca quis nada com ele. Por causa disso, ele passou a infernizar minha vida, mas eu ignorava para não arrumar problemas. E também eu sabia que, se eu falasse algo, a errada era eu, porque o pai dele sempre defendia ele. Até entendo, porque é o filho dele. Eu era só a filha da mulher com quem ele casou. O que eu nunca entendi foi que a senhora via tudo e nunca falava nada. A senhora nunca me defendeu. Mas tudo bem, vocês já me expulsaram de casa mesmo, então que se dane.
Mãe: Filha, não é bem assim.
Ju: Claro que é, mãe. Me fala uma vez que você ficou do meu lado? Mesmo eu sendo uma filha que nunca te deu trabalho, sempre ajudei com as tarefas de casa, sempre estudei, nunca te dei dor de cabeça alguma. Mas mesmo assim, eu fui jogada para a rua e você não fez nada. A senhora nunca fez..
Minha mãe abaixou a cabeça, não tinha muito o que ela falar. Eu já estava com os olhos cheios de lágrimas, mas respirei fundo e disse:
Ju: Bom, mas voltando ao Gabriel, eu o vi ontem quando cheguei a uma festa que uma amiga minha organizou em uma boate. Ele estava com uma galera fumando maconha. Eu fingi que não vi e saí de perto. Lá dentro, depois de muito tempo, fui procurar uma amiga minha que tinha ido ao banheiro. Vi o Gabriel e dois amigos cercando ela, ela tentando sair do meio deles, mas eles não deixavam. Eu fui ajudar, empurrei o Gabriel e falei para ele deixar minha amiga em paz. Ele falou um monte de merda para mim, minha amiga me pegou pelo braço e a gente ia sair. Ele me segurou, eu tentei sair e xinguei ele. Aí vi que, além de bêbado, ele estava drogado, e não era só de maconha não. Ele ia me agredir, mas dei um chute no saco dele e ele me soltou. Os seguranças e minha amiga, dona da festa, chegaram e ele foi levado para fora. É isso que aconteceu.
Mãe: Eu não acredito nisso.
Ju: Claro que não acredita. Você, lógico, vai ficar do lado dele, mas sinceramente tanto faz. Eu já esperava por isso.
Mãe: Calma, filha, não é isso.. É que ele sempre foi um bom garoto.
Ju: Não, mãe. Ele nunca foi um bom garoto, mas você e seu marido nunca viram isso ou fingiam que não viam. Olha, eu não devia nem falar isso, mas se tem dúvida, a garota que ele cercou na festa ontem está ali na lanchonete, a que organizou a festa também, e mais no mínimo três pessoas que estavam lá. Se não acredita em mim, pode ir lá perguntar a elas.
Mãe: Não vou não. Talvez você tenha razão.
Ju: Um "talvez" já é alguma coisa.
Mãe: O Gabriel chegou em casa bastante alterado. O pai dele foi falar com ele e quase que os dois brigam de soco. Eu quase não consegui separar os dois. Ele estava muito estranho, com os olhos vidrados, nem parecia o Gabriel que eu conheço. Bom, depois disso, ele foi para o quarto, quebrou um monte de coisa lá e ficava xingando o pai e você. Por isso eu e o pai dele queríamos saber se você tinha feito algo com ele.
Ju: Eu, mãe? O que vocês acham que eu poderia ter feito para deixar ele assim? Pergunta idiota a minha. Claro que pensaram que o problema era eu, mas não o santinho do Gabriel, incrível isso.
Mãe: Não foi isso, não?
Ju: Então, o que foi? Por que achou que eu tinha feito algo?
Mãe: É que você foi por esse caminho ruim.
Ju: Mãe, eu sou a mesma pessoa de sempre. Eu sempre fui no meu canto, nunca me meti com coisa errada. Você me deu educação, pelo menos isso você me deu, me ensinou a respeitar os outros, a ser honesta. Eu só te contei a minha opção sexual, mas eu já sei disso há muitos anos. Eu não virei uma pessoa ruim por ser lésbica. Eu levanto cedo todo dia, trabalho o dia todo, não faço nada de errado. Eu só não estou estudando porque não posso pagar. Eu sou a mesma pessoa. A única coisa que mudou é que agora a senhora sabe que gosto de mulheres, só isso mudou.
Mãe: Eu sinto muito, eu não vim aqui para brigar.
Ju: Eu sei, a senhora veio porque se preocupou com o Gabriel. Se não fosse por isso, a senhora nunca estaria aqui. Bom, já te contei, agora pode ir, mãe..
Mãe: É que você mora com o seu tio.
Ju: Verdade, um homem honesto, trabalhador e que estendeu a mão para mim enquanto você me deixou ser jogada na rua. Se não fosse ele, provavelmente uma hora dessas eu estaria morta ou morando na rua.. Ah, mais uma coisa: o Gabriel pode ter se tornado um viciado e precisa de tratamento. Se ainda não se tornou, não vai demorar a se tornar um. Então, toma cuidado, porque se ele não sair disso, vai começar a vender o que tem, roubar as coisas dos outros e dentro de casa, vai se tornar agressivo. Então, toma cuidado. Apesar de tudo, eu amo a senhora, mãe, e não quero que nada de ruim aconteça com você.
Falei isso e virei as costas e saí. Ela não disse nada, e eu voltei para onde as meninas estavam. Pedi para elas irem comigo até meu quarto. Quando entramos, eu abracei Rebeca e desabei no choro.
Não sei quanto tempo fiquei ali chorando, mas foi um bom tempo. Rebeca só me fazia carinho e não perguntou nada. Quando me acalmei um pouco, pedi para elas sentarem na minha cama, fui ao banheiro e lavei o rosto. Voltei e expliquei para elas o que tinha acontecido, e pedi desculpas a Clara pela situação, mas ela disse que estava tudo bem.
Conversamos um pouco e eu já até sorria de novo. Aí Clara teve a ideia da gente ir ao shopping ver um filme e depois comer algo por lá. Eu e Rebeca topamos e partimos para o shopping.
Como é bom ter pessoas boas ao nosso lado nessas situações! As duas foram uns amores comigo, graças a Deus.
Continua..