Já se passaram dois meses desde que Rebeca foi embora. O primeiro mês foi bem complicado; eu sentia muita falta dela. Mesmo falando sempre por mensagem e à noite por chamada de vídeo, não era a mesma coisa. Minha vida estava triste e vazia sem ela. May e Estefânia me deram a maior força, assim como meu tio e Marcos.
Com o tempo, as coisas foram melhorando. Consegui sair algumas vezes e fui a duas festas organizadas por May. Até fiquei com uma garota, mas não rolou sexo, pois não me senti confortável para isso. Porém, até que me diverti um pouco.
Aconteceram algumas coisas legais também. Sandra deixou o trabalho porque resolveu se mudar com o marido para o interior de Minas. Ela era a funcionária de confiança do meu tio e, com isso, fui promovida a gerente. Ia ganhar mais e não precisava mais servir mesas. Meu tio e Marcos viajaram para curtir as férias de Marcos juntos na praia, e eu fiquei responsável por tudo. Meu tio realmente confiava em mim, e eu amei isso.
Vou voltar a estudar! Marcos conseguiu uma bolsa parcial para mim e, como meu tio terminou de pagar o financiamento, ele vai pagar o restante. Estou muito feliz com isso.
No Natal, ganhei um notebook de presente. Fizeram uma vaquinha: meu tio, Marcos, May, Clara e até Estefânia ajudaram. Fiquei muito feliz!
Clara está namorando sério. Às vezes, aparece aqui e até já trouxe a namorada, Paula, que é bem bonita e gente boa. Gostei dela. No início, ela não gostou muito de mim, acho que era ciúmes por ela saber do lance entre eu, Clara e Rebeca, mas fiz questão de falar com ela e, depois, acabamos nos dando bem.
Minha mãe mandou uma mensagem de Natal. Achei até estranho, mas respondi. Ela me convidou para passar o Natal com eles. Preferi não ir, mas agradeci e, em partes, fiquei feliz. Se ela convidou, foi porque meu padrasto concordou, então era uma evolução.
Já estava no fim de janeiro, meu tio viajando, May em São Paulo com Estefânia e Clara com a namorada de férias no Rio. Elas se encontraram com Rebeca e me mandaram um monte de fotos. Eu quase morri de inveja.
A patricinha andou sumida, mas agora está vindo aqui sozinha nos últimos dias só para me irritar, eu acho. É sério, não suporto gente rica com aquele olhar superior, principalmente ela, que toda vez que olho, lança aquele sorriso irônico.
Chegou a última semana de férias na faculdade. Na próxima, já voltaria a estudar. Meu tio, Marcos, Clara e May provavelmente estariam de volta até domingo. Eu estava com saudades deles, sem falar na saudade que sentia da ruiva, e essa provavelmente eu iria demorar para matar pessoalmente.
Acordei um pouco atrasada, abri a lanchonete 10 minutos mais tarde. Antes do almoço, tive um problema com um entregador que veio com o pedido errado e insistia que estava certo. Depois de muita discussão com ele e algumas ligações, resolvi o problema, mas aquilo me deixou irritada. Na hora do almoço, me queimei com uma panela; doeu muito e me deixou mais irritada ainda.
Voltei para a lanchonete e, assim que fui para trás do balcão, escutei uma risada que eu conhecia bem. Não pode ser, essa infeliz aqui! Era só o que me faltava.
Virei e olhei; era mesmo ela, Márcia, entrando na lanchonete ao lado da patricinha. Me deu um ódio, ainda mais quando olho e a patricinha sorri. Aí meu sangue ferveu e fui na direção delas.
Ju: Pode dar meia volta que você não vai ficar aqui de jeito nenhum, vagabunda! Pode sumir!
Márcia: Calma, eu só vim fazer um lanche com minhas amigas. Relaxa!
Ju: Relaxa é o caramba! Pode sair ou eu mesma te jogo para fora!
Márcia: Ok, já vou sair.
Olhei para a patricinha, que estava com uma cara de assustada, e falei alto e em bom som:
Ju: E você, se quiser, pode sumir também, que é um favor!!!
Eu estava com muita raiva e falei aquilo meio sem pensar. Parece que juntou toda a raiva e eu acabei explodindo ali.
A patricinha não falou nada, virou as costas e saiu atrás de Márcia. Voltei para trás do balcão e respirei fundo, tentando me acalmar. Uns minutos depois, vejo May entrar com uma cara de raiva. Aí que me toquei que tinha gritado com a amiga dela.
May: Qual é o seu problema? Por que expulsou a Paola daqui?
Ju: Olha, sei que ela é sua amiga, mas trazer minha ex aqui para me irritar é demais!
May: Primeiro que não foi ela que trouxe a garota, e sim eu. Ela só veio com ela na frente porque eu estava em uma ligação. Segundo que, até dois minutos atrás, nem eu e muito menos Paola fazíamos ideia de que aquela garota era sua ex. Terceiro, expulsar sua ex sabendo do que ela fez com você, tudo bem. Mas que porra a Paola fez de mal a você para você não gostar dela!?!
Ju: Ela sempre fica rindo de mim com aquele sorriso irônico. Só porque é rica se acha melhor que os outros. Eu não suporto gente assim. Me desculpe, May.
May: Nossa, você parecia ser uma garota legal, mas pelo jeito é cheia de preconceito. Justo você julgando os outros sem saber de nada.
Ju: Eu, cheia de preconceito!?! De onde você tirou isso?
May: Você julgou a Paola por causa das roupas que ela veste, por causa das pessoas com quem ela anda, mas você nem procurou saber quem ela é, nem nunca conversou com ela. Só julgou e pronto. Isso é preconceito.
Ju: Mas eu..
May: Mas nada! A garota que você julga ser rica, na verdade, é uma garota humilde, batalhadora e que tem um coração enorme. E outra, eu nem deveria te contar isso, mas ela nunca riu de você. Ela sorria para você, que é bem diferente.
Ju: Ria para mim!?! Como assim?
May: Ela gosta de você. Desde a primeira vez que ela te viu aqui, ela se encantou por você. Mas ela é muito tímida e nunca teve coragem de ir falar com você. Ela sorria na esperança de algum dia você sorrir de volta e notar ela. Mas quer saber? Ainda bem que isso aconteceu porque ela merece uma pessoa melhor. Estou decepcionada com você, Ju. Adeus!
Falou e saiu, e eu fiquei ali sem saber o que falar ou pensar com aquelas informações.
Como assim a patricinha é pobre? Então ela gosta de mim? De onde saiu Márcia para estar junto com May?
Fiquei pensando e cheguei a uma conclusão: se May falou o que falou, é porque é verdade e, com certeza, eu devo uma desculpa a ela. Pensei em ligar, mas achei melhor deixar ela se acalmar para não piorar as coisas. Na verdade, eu precisava me acalmar também e processar aquelas informações.
À noite, liguei para Rebeca e contei o que tinha acontecido. Ela disse que já tinha notado que os olhares de Paola para mim eram de alguém que estava apaixonada e que até falou com ela no dia em que foi embora. Paola confirmou isso para ela e até incentivou Paola a falar comigo, mas, pelo jeito, ela não tinha feito.
Perguntei por que ela não tinha me falado isso, e ela disse que, primeiro, Paola pediu segredo e que não falou também porque eu me irritava toda vez que alguém tocava no nome dela.
Conversamos mais um pouco, me despedi e mandei uma mensagem para May me desculpando e pedindo, por favor, para ela vir à lanchonete no outro dia para a gente conversar. Ela não respondeu na hora, mas pouco antes de dormir chegou uma mensagem dela dizendo que no outro dia ela iria lá falar comigo.
Tomara que ela me desculpe e a gente se acerte. May é uma boa amiga.
Continua...