Aquilo me doeu por dentro e se tem algo que eu não sei fazer é fingir: minha dor e mágoa certamente apareceu em meu rosto. Quem ele imaginava ser para recusar uma solução que eu entendia ser a melhor possível? Será que ele se achava melhor ou superior a mim? Por que ele podia ter a Denise e eu não o Rick? Cansada de tudo e todos, decidi dar um basta naquilo:
- Tá bom, Mark. - Respondi de maneira seca, inconformada e balançando minha cabeça negativamente, virando na direção do Rick pouco depois: - Vamos jantar, Rick. O que você me sugere para a noite de hoje?
PARTE 2 - A RIVALIDADE SE ACIRRA
- Nanda, você está louca!? - Denise falou logo após mim, estupefata: - PA-RA COM IS-SO!
- É só um jantar, Denise, não tem nada demais. Quero resolver essa situação tanto quanto vocês, só que eu tenho um ponto de vista diferente e espero ser respeitada, pelo menos ouvida.
Mark me olhava e agora, além da decepção, havia revolta em seu olhar, talvez ódio, certamente raiva. Ele suspirou fundo, controlando-se e falou:
- Você sempre foi ouvida, só não decidiu quando foi necessário…
- Pois é! - Interrompi, olhando para ele novamente: - Antes tarde que nunca, não é?
- Ok, ok, Nanda… Parece que você já se decidiu e eu não vou lutar contra isso. Eu estou de saída, você vem comigo, Denise?
- Claro que vou! - Ela respondeu de imediato.
- Mark!? - Falei, inconformada e tentei convencê-lo, colocando minha mão sobre a dele: - É só um jantar!
- Não, não é! É uma decisão de vida que você está tomando e ela, infelizmente, não me inclui.
- Inclui, sim! - Insisti, agora segurando sua mão com a minha: - Você vai continuar sendo o meu amigo. Ele só será um amante eventual, esporádico: só sexo e nada mais.
Mark agora me olhou ainda mais chateado e disse:
- Você está ouvindo o que você falou? “Amigo”!? Já fui rebaixado antes mesmo do divórcio.
- “Amigo”!? Não, desculpa, é marido! Eu quis dizer marido.
- Nanda, não vou ficar, sinto muito. A decisão é sua: pode vir e continuamos depois de aparar algumas arestas, curar algumas cicatrizes, ou você fica e a vida segue para cada um de nós.
- O que é isso, Mark? Vai me chantagear agora? Eu não admito que você me trate assim! Eu não sou criança e sei muito bem o que estou fazendo.
- É!? Acho que não sabe, não! - Falou, já se levantando.
- Mark! Para, mor! - Pedi tentando segurá-lo.
Naturalmente, não consegui. Ele me deu as costas sem a menor cerimônia e começou a se dirigir na direção da saída do restaurante. Denise ia junto e ainda me olhou por alguns segundos, como que pedindo para que eu fosse atrás dele. Pedi que o Rick me aguardasse um e fiz exatamente o que ela pareceu propor. Só consegui pará-lo depois de entrar na sua frente:
- Eu só vou jantar e conversar com ele, mor! Nós não precisamos ser inimigos. Eu vou resolver isso da melhor forma possível. Eu sei que dá para convivermos, só precisa haver respeito e limite. Por favor, fica comigo.
- Não, não vou! - Ele retrucou: - Você já teve sua chance e não fez nada. Eu vim para resolver, mas parece que a minha solução não te agrada. Paciência!
- Mark, pelo amor de Deus, para! Você está sendo machista!
- Por querer te proteger!? Então, eu sou mesmo e não vou mudar! - Falou, olhando-me uma última vez: - E você está deixando de ser a minha mulher…
Aquilo me atingiu em cheio e fiquei sem reação. Ele então se desviou pela minha lateral, sendo acompanhado pela Denise que tinha uma lágrima descendo pela face. Eu ainda insisti:
- Eu… Eu… Eu só vou conversar com ele. Eu juro! Depois, a gente se encontra no hotel. Você vai me entender, eu sei que vai.
Ele não se dignou em me responder, saindo acompanhado pela Denise. Ainda atordoada, voltei para a mesa. Rick ao me ver voltar só, pediu ao garçom que retornasse a mesa para a versão romântica. Assim que me sentei, tomei uma golada da minha água:
- Nanda, fica calma. Ele só está nervoso. Depois, vocês conversam e ele entenderá.
- É… Eu… Eu acho que vai.
- Claro que sim! Além do mais, você não pediu nada demais. Se ele pode ter um relacionamento com essa tal Denise, nada mais justo que você tenha um comigo também. Eu só preciso de uma chance para ganhar a confiança dele.
- Eu é que espero não ter perdido a confiança dele agora, Rick.
- Nada a ver, meu amor. Claro que ele vai te entender, aliás, entender a gente!
Nós pegamos o cardápio e eu simplesmente não conseguia sequer ler os escritos. Tudo, simplesmente tudo, havia perdido o sentido para mim naquele momento e vi que agora eu precisava resolver aquela situação com o Mark. Tentei ligar duas, três vezes, mas ele não me atendeu. Quando acessei o aplicativo de mensagens, já havia uma dele:
Mark - “Para de me ligar!”
Mark - “Eu já entendi bem tudo o que precisava ser dito.”
Eu - “Mark, fala comigo!
Eu - “AGORA!”
Mark - “Você tomou sua decisão.”
Mark - “Aguente as consequências...”
Normalmente fiquei brava, irada com sua infantilidade. Mal sabia eu o tanto que o havia ferido com minhas atitudes. Tentei novamente enviar uma mensagem, mas ele parou de recebê-las:
- Não acredito… - Falei alto e Rick me encarou: - Ele me bloqueou! Aquele… Aquele filho de uma… Aquele cabeçudo me bloqueou, Rick! Dá para acreditar?
- Poxa, eu não esperava que o Mark fosse tão “crianção” assim, Nanda. Realmente eu tinha uma outra imagem dele por tudo o que você me contou. Eu certamente nunca faria isso com você. - Ele respondeu, balançando a cabeça negativamente: - Lamentável ele te tratar dessa forma. Vai me desculpar, mas eu não acho que você mereça ser tratada dessa maneira. Agora, mais do que nunca, eu tenho certeza que sou o cara certo pra você…
- Também acho! - Falei, mas me corrigi em seguida para não ser mal interpretada: - Também acho que ele está sendo infantil. Só isso!
- Ah, quer que eu peça os pratos para você?
- Pode ser. Pode sim! Ah, tanto faz…
Voltei a tentar outra chamada para ele e novamente fui ignorada. Mandei então uma mensagem pelo SMS, outra pelo Instagram e por vários outros aplicativos que eu tinha, mas não utilizava por falta de costume. Ele foi me bloqueando em cada um deles até não me restar outra saída senão ligar para a Denise:
- Alô! - Ela me atendeu, seca, brava, assim que certamente viu quem era.
- Denise, chama o Mark. Quero falar com ele. Agora!
- Ele não está aqui, Nanda, já foi para o hotel. Eu tentei mantê-lo aqui, bastante mesmo, mas ele não aceitou. Saiu daqui irado.
- Bom, se ele foi para o hotel já está ótimo. Depois eu falo com ele, então. Obrigada. Bei…
Não tinha terminado de falar e ela encerrou a chamada. “Tá toda dodoizinha por causa do meu marido!”, pensei, justificando sua falta de educação. Os pratos começaram a chegar e meu apetite havia dado adeus. O Rick se desdobrava em tentar criar um clima mais ameno, mas nada que ele fazia ou falava estava dando resultados. Comi só uma saladinha e um pedacinho de carne, mas bebi bastante, afinal, eu achava que ela poderia me acalmar. Só no final, ele disse algo que me agradou:
- Nanda, estive pensando em como te ajudar. A gente poderia simular que teve uma conversa definitiva e decidiu se afastar porque eu entendi que iria prejudicar seu casamento. Daí a gente mantém um contato discreto, por ZAP ou outro meio que você quiser, até ele aceitar sua sugestão de sermos só amigos. Eu só não queria perder o contato com você.
- Obrigada, Rick. Acho que pode ser melhor assim.
Nosso jantar nem demorou tanto assim, mas certamente o meu descontrole foi o suficiente para mostrar para o Rick como o Mark era importante para mim. Ao mesmo tempo, eu pensava que havíamos conseguido resolver a nossa situação pessoal através daquela sugestão dele. Apesar de não ser certa, pois eu estaria omitindo algo do meu marido, com o tempo eu conseguiria convencê-lo a aceitar o Rick. Eu imaginava isso!
Saímos do restaurante e fomos direto para o hotel onde eu estava hospedada com o Mark. Chegando lá, na recepção, pedi que ligassem para o meu quarto, pois eu queria pedir que ele descesse até a recepção para que o próprio Rick dissesse para ele que estava se afastando de mim. Imaginei que certamente seria uma surpresa para ele, mas surpresa fiquei eu quando soube que meu marido não estava mais no quarto:
- Como assim não está no quarto? - Perguntei.
- Ele simplesmente entregou o cartão chave do quarto aqui e saiu, senhora. Não há ninguém no seu quarto nesse momento.
Não acreditei que ele tivesse feito aquilo comigo e subi com o Rick a tiracolo. O quarto estava do mesmo jeito de quando saímos, com exceção das chaves de seu carro que realmente não estavam mais lá:
- Ah, não! Ele não fez isso comigo. - Resmunguei, já com os olhos marejando.
- Calma, Nanda! Tem algum lugar aqui na capital para onde ele poderia ter ido?
- Tem o apartamento da Denise, mas eu já não sei se… - Falei, calando-me em seguida: - Ah, Deus, ele só pode estar lá. Só pode…
- Então, vamos para lá! Você tem o endereço?
Descemos correndo e fomos para o apartamento da Denise. Enquanto estávamos no carro, eu não via mais nada, nem ninguém. Tenho certeza que o Rick tentou conversar alguma coisa comigo, mas sinceramente não me lembro de bulhufas. Chegamos no prédio da Denise e, como eu já constava na lista de visitantes autorizados, pude entrar. O Rick ficou retido, mas com uma ligação minha para ela, ele foi autorizado a subir. Chegamos na porta do apartamento dela e uma Denise com a cara inchada, aparentando ter chorado muito, nos atendeu:
- Cadê ele? - Perguntei, quase fora de mim.
- Ele quem, o Mark!?
- É claro, Denise, quem mais poderia ser!?
- Eu não sei dele! Ele não ficou aqui, já te falei naquela hora.
Não acreditei nela e entrei correndo em seu apartamento, indo para a área dos quartos. Deixei que o Rick se entendesse com ela. Não o encontrei em lugar algum. Voltei para a área social e dei uma geral no restante dos cômodos, voltando pouco depois, desolada:
- Ele não te falou para onde estava indo, Denise? - Rick perguntou.
Ela o olhou com sangue nos olhos. Havia ódio ali, um ódio que eu poucas vezes presenciara em toda a minha vida. Mesmo educada nas melhores escolas, ela simplesmente deu as costas para ele e veio até mim:
- Você acabou com o seu casamento, sua idiota, acabou! Só que eu não vou deixar o Mark cair por sua causa. Ah, mas eu não vou mesmo! Eu já te avisei antes que se você pisasse na bola, eu entraria no jogo. Agora se prepara, porque vou com carga total.
- Sua biscate, interesseira do caralho! Aposto que você fez a minha caveira para ele. Eu sabia que tinha um dedo seu nisso!
- Eu!? Eu não precisei fazer nada! Você se enforcou sozinha, queridinha, com essa sua paixão de adolescente por esse babaca aí. Achou mesmo que um homem como o Mark iria aceitar isso até quando? Você se fodeu sozinha e vai carregar isso até os últimos dias da sua vida.
Comecei a discutir e a xingá-la ao ponto do Rick ter que intervir e me segurar, pois eu já ia partindo para uma briga. Nesse momento, dois seguranças surgiram, sei lá de onde, e, educadamente, nos enxotaram para fora do prédio. Certamente, ela já os havia alertado e bastou eu ser eu para aquilo acontecer:
- Pensa, Nanda, deve ter mais algum lugar… - Rick me perguntou quando já estávamos em seu carro.
- Tem a Iara, mas eu não sei onde ela mora. Eu sei que ele também tem uns tios e primos aqui, mas também não sei… - Comecei a chorar: - Eu não sei mais…
Começamos a rodar pela cidade e logo estávamos chegando em seu apartamento. Ele justificou que seria melhor eu dormir lá do que ficar sozinha no hotel, chorando e me lamentando pelo que aconteceu:
- Amanhã, você tenta falar com ele, Nanda. É até melhor assim! Hoje, vocês acabariam discutindo e tudo poderia piorar ainda mais.
Eu estava arredia com tudo e todos. Não quis ir para o quarto e fiquei encolhida no sofá da sala, tentando entender o porquê dos exageros do meu marido. Rick foi um ótimo companheiro, ficando ao meu lado, colocando minha cabeça em seu colo até me fazer dormir. Acordei cedo, com dor no pescoço obviamente, e ele dormia tranquilamente torto no sofá também. Com minha movimentação para pegar meu celular, ele acordou:
- Oi, bom dia. Aconteceu alguma coisa? Teve novidades?
- Era o que eu ia ver. - Disse enquanto acessava os aplicativos do meu celular, torcendo por um retorno dele e depois de verificá-los, respondi: - Nada, nada…
- Calma! Vamos pensar com calma. Vou fazer um café para a gente e vamos raciocinar sobre o que fazer, tá ok?
- Tá.
Tomei um café preto com um pãozinho retorcido que eu não sabia o nome. Insisti várias vezes e das mais variadas formas contatar o Mark, mas eu continuava não sendo atendida. Decidi ligar para os meus sogros para pedir que tentassem intermediar um contato. A notícia que recebi foi pior do que eu imaginava:
- Ele passou aqui faz um tempinho, Fernanda. Pegou as meninas e já foi embora. Disse que tinha um compromisso e que elas precisavam ir para a escola.
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