- Você está querendo me seduzir?
- E por que não? No começo de tudo foi você que me seduziu, agora é minha vez! – Falei e sorri, completando em seguida: - Não, desculpa, estou brincando. Eu quero sair com você para, sei lá, eu só quero sair com você. Poxa, Mark, foram mais de quinze anos, não é possível que você não possa fazer isso pra mim!?
- E as meninas? É o seu final de semana com elas.
- Eu converso com elas e peço para ficarem na minha mãe, ou até mesmo nos seus pais. Só sai comigo, por favor. – Pedi, esperançosa e insinuei, cutucando-o de leve: - Daí quem sabe amanhã a gente não volta a se reunir para um evento família, hein, hein!?
PARTE 5 - OS EMBALOS DE SÁBADO À NOITE
Ele me olhava em silêncio, estava sério, bem mais do que de costume. A dúvida estava estampada em seu rosto e imaginei o que deveria estar pensando naquele momento: “Dar mais uma chance para essa filha de uma puta!? Só se eu for muito burro ou talvez um corno manso e ainda não saiba!”. As meninas voltaram e perguntaram se poderiam comprar mais um sorvete e ele permitiu. Assim que elas saíram, ele foi curto e grosso:
- Onde você acha que vai chegar saindo comigo, Fernanda?
- Não sei, mas eu quero tentar. - Respondi, esperançosa: - Ah, e é Nanda.
Ele me olhava no fundo dos olhos e respondeu:
- Tudo bem, eu saio com você. – Falou e eu abri o meu melhor sorriso, porque, sinceramente, eu não esperava conseguir aquilo, mas ele cortou minha animação em seguida: - Mas só se você me contar o que eu ainda não sei.
- O que você ainda não sabe!? Mas como eu vou saber o que você ainda não sabe?
- Não me enrola, Nanda, ou volto a te chamar de Fernanda. Posso até colocar um Mariana, quem sabe até o Branca.
- Para! Chega! Não faz isso. – Respondi, tentando imaginar o que ele já sabia sobre o Rick e que esperava que eu confessasse: - Sobre o Rick?
Ele permaneceu em silêncio, só me olhando, sem me dar uma pista sequer. Também não precisava, o nome do Rick estava estampado em sua testa:
- O Rick está morando aqui. Ele alugou um apartamento para ficar por perto até eu... até a gente se resolver.
- Bom para você! Fica mais fácil de vocês ficarem juntos quando eu tirar o meu time de campo...
- Paraaaa! – Eu o interrompi: - Para, por favor. Eu te amo e não quero me divorciar. Você é tudo pra mim.
- Ah tá, sei... – Falou, sem tirar os olhos de mim: - E o que mais?
- O que mais?... – Voltei a pensar e novamente fui sincera: - Eu não fiquei com ele nenhuma vez desde aquela merda de jantar em São Paulo, nem nunca mais vou ficar se você me der uma chance.
- E se eu não der outra chance?
- Eu não quero pensar no “e se”. Isso não me interessa! Meu foco é você. Eu só quero me acertar com você!
Ele ficou em silêncio me olhando nos olhos, talvez procurando alguma verdade nas minhas palavras e nisso eu estava tranquila, pois realmente não havia mentido em nada do que lhe disse. Ele insistiu:
- Certeza que não tem mais nada que você queira me contar? Pode ser sua última chance de mostrar que eu não me enganei a seu respeito nesses anos todos.
Eu queria contar tudo, tudo mesmo, inclusive sobre a proposta do Rick para continuarmos mantendo contato às escondidas, mas minha língua não se movia. Logo a minha língua não se movia: eu tentava falar, mas nada saía! Eu tinha medo dele se zangar comigo e perdê-lo de vez, mas se eu não dissesse e ele descobrisse, estaria tudo acabado também e sem volta. Eu estava numa encruzilhada. Juro que tentei encontrar coragem, mas ela não vinha. Eu não consigo mentir, sou péssima nisso, mas também não conseguia falar e aquilo devia estar estampado com luzes neon no meu rosto. Devo ter ficado muito tempo em silêncio, porque ele voltou a tomar a frente:
- Tudo bem, Nanda, a gente sai para conversar. Quem sabe até lá você não me conta tudo, inclusive, isso que está te agoniando...
Eu queria chorar de felicidade, mas me contive. Ainda assim meus olhos ficaram marejados e não consegui conter o impulso, abraçando-o com vontade e o apertando muito forte. Ele começou a rir da boba e eu também, mesmo com os olhos molhados. Pouco depois nossas filhas se aproximaram, curiosas e eu expliquei:
- Gente, é o seguinte: eu vou sair com seu pai hoje à noite. – Miryan já começou a se animar, mas a cortei: - Somente eu e ele, Mi, nós precisamos conversar muito, mas só nós dois.
- Ahhhh...
- Pensa assim, se tudo der certo, quem sabe amanhã a gente não sai para comemorar, né!?
Maryeva nos olhava desconfiada e o próprio Mark explicou:
- Estamos saindo apenas para conversar, Nanda. Não crie expectativas nas cabeças das meninas.
- Tá, tá… - Concordei, mas não queria deixar a peteca cair: - Mas ainda assim já é uma coisa boa a gente sair para conversar, não é?
Ele olhou para as meninas e concordou com um simples meneio de cabeça. Então, perguntei:
- Vocês preferem ficar na casa da minha mãe ou no sítio?
- No sítio, né! - Miryan falou de imediato.
- Tanto faz… - Retrucou Maryeva, desconfiada como o pai.
- Sítio, então! Você as leva lá mais tarde, mor?
- Levo. Querem vir comigo já ou eu passo lá na quitinete mais tarde, por volta das cinco ou seis horas?
- Ah, deixa elas ficarem comigo só mais um pouquinho, vai?
Ele deixou e elas fizeram questão de ficar. Adorei isso, porque eu realmente estava conseguindo reconquistar minha família. Tomamos nossos sorvetes, mas o clima, que já estava bom, ficou espetacular de ótimo, pelo menos para mim! Saímos da sorveteria e eu não queria que ele fosse embora, mas ele insistiu, perguntando apenas se queríamos uma carona. Recusamos a gentileza e voltamos passeando, acho que nós três queríamos comemorar aquele momento, pois até a Maryeva se mostrava bem animada com a situação.
Na hora combinada ele passou em minha quitinete para pegar as meninas. Eu falei que iria me apontar e depois passaria na nossa casa para pegá-lo:
- Não quer que eu te busque? - Perguntou, surpreso.
- Não! Eu te convidei, então eu vou te buscar.
- Oxi, mamãe dois ponto zero! - Brincou Maryeva, fazendo Miryan gargalhar alto, nem o Mark conseguiu resistir, também rindo.
- Esse “oxi”... - Resmunguei, olhando para ele que ria.
Eles se foram e eu fui tomar uma merecida e necessária ducha. Aproveitei para podar o jardim do “parquinho de diversões”, lavar os cabelos, enfim, eu queria me produzir como se fosse para uma primeira vez. Ouvi meu celular tocando e, ao sair da ducha, vi que era o Rick que havia me ligado. Não liguei de volta! Achei um abuso dele ficar dando em cima de mim, ainda mais porque sabia que eu deveria estar com as minhas filhas. Naquele momento, só um homem estava em minha mente e era para ele que eu iria me arrumar: o meu Mark.
Passei um esmalte clarinho nas unhas e peguei a minha lingerie mais nova e bonita, uma preta com sutiã de bojo taça e detalhes em renda, principalmente na calcinha, muito discreta e bem transparente.
Peguei um vestido preto tubinho com um decote discreto de corte justo e que terminava na altura dos meus joelhos. Decidi por esse um pouco mais comprido porque sei que ele adora me ver bem vestida e elegante. Eu queria agradá-lo, não causar, então esse era o ideal! Escovei, alisei, penteei e prendi meus cabelos num coque espanhol, completando o visual com uma maquiagem social e discreta. Escolhi sapatos de salto alto agulha dourados que não pude colocar porque iria dirigir, mas coloquei pulseiras douradas e grandes brincos de argola dourados, tudo para combinar com a minha correntinha de ouro com meus pingentes de menininhas. Modéstia à parte, fiquei muito bem: clássica e sensual.
Saí da minha quitinete por volta das oito e pouco da noite, calçando rasteirinhas e, em quinze minutos, cheguei em nossa casa. Coloquei meus saltos altos e interfonei, o Mark me atendeu na porta e não conseguiu disfarçar sua admiração:
- O que foi!? Não fiquei bem? - Perguntei ao ver sua cara de espanto, sorrindo naturalmente.
- Hein, bem!? Nu! Bem demais! - Falou, lentamente, abrindo um sorrisão: - Acho que eu é que não estou à altura.
Dei uma bela olhada nele e, apesar de estar muito bem vestido, estava esporte demais. Decidi pedir:
- Você ficaria bravo se eu te pedisse para colocar uma calça e camisa sociais?
- Claro que não! Aliás, eu não saio com você se eu não trocar de roupa. Entra que vou me trocar, é rapidinho.
Entrei e, pela primeira vez na vida, fiquei perdida em minha própria casa. Eu não sabia se sentava, se ficava, se ia… Decidi ir até a nossa suíte, pois, pelo menos, poderíamos conversar. Ele já estava só de cueca, uma boxer vermelha da Chilli Beans e pegava uma calça no guarda roupas. Encostei-me no batente e me bateu uma imensa tristeza por não ter dado valor ao homem que eu já tinha. Ele me viu ali e brincou, tampando seus mamilos com a mão:
- Sai! Estou me trocando.
Comecei a rir e, claro, não saí. Sentei-me na beirada da cama e ele passou a se vestir. Em minutos, já estava pronto com calça, camisa e sapato brilhando. Foi até o banheiro e ouvi o som do spray de seu perfume e logo voltou:
- Então, para onde vai me levar, mocinha?
- Se incomoda de dirigir? É que estou de salto alto. Se não terei que tirar os sapatos e colocar a rasteirinha para depois colocar os sapatos novamente.
- Eu dirijo, sem problemas. - Respondeu e brincou: - Pensei que eu fosse beber, mas já vi que virei o motorista da vez.
- Que nada! Pode beber à vontade que, na volta, eu dirijo. Prometo!
- Então tá! Mas e para onde você ia me levar que agora eu vou ter que te levar, mocinha?
- No Jangada.
- Sério!? O Jangada fica há quase duas horas daqui, Nanda. Pensei que a gente só fosse sair para conversar.
- A gente conversa lá! - Retruquei e implorei: - Por favorzinho…
- Ah tá! Conversar com aquele som alto. Sei bem…
Não consegui evitar um sorriso que deve ter saído mais malicioso que o necessário, porque ele também sorriu para mim, só que um pouco envergonhado. Saímos dali e fomos até o Jangada, um bar/restaurante com uma pista de dança, típico ambiente para pessoas que querem se curtir ou até mesmo paquerar, que ficava numa cidade distante da nossa uns cento e tantos quilômetros. Quando ele disse que aceitaria sair comigo, adiantei-me e fiz reservas em seu nome, afinal, eu não queria que nada desse errado nessa noite.
Saímos e ele foi dirigindo. Conversávamos diversos assuntos e, por um momento, cheguei a esquecer que estávamos numa das maiores crises de nosso relacionamento, talvez a maior, tamanha era a nossa sintonia e a minha empolgação. Quando já contávamos com mais de uma hora de viagem e o assunto já começava a rarear, com uma música tomando um espaço maior que nossas palavras, um sentimento de perda começou a me atingir e me lembrei que ainda não estava sendo totalmente honesta com ele:
- Mor, eu… eu… eu não fui totalmente honesta com você.
- Eu já imaginava que você tivesse ficado com ele…
- Não, não… Isso não! Não fiquei mesmo. Isso eu posso te jurar de pés juntos.
- Então, o que é?
- Naquele jantar em São Paulo, o Rick me propôs de falar para você que ele iria se afastar em definitivo, para que você ficasse tranquilo e me perdoasse, mas nós, digo, eu e ele manteríamos contato escondido.
- E você?
- Eu o quê?
- Você o que, né, Nanda…
- Eu… Eu disse que aceitava naquele momento porque me parecia uma boa ideia. Assim, você ficaria em paz e eu teria o que eu queria tanto.
- Sei…
Eu não sabia mais o que falar e um silêncio tomou conta do carro, quebrado apenas pelo som que saía dos autofalantes e isso estava me incomodando demais:
- Fala alguma coisa. - Pedi.
- O que você quer que eu fale!? Acho que você já disse tudo.
- Mas você, eu tenho certeza que não. Por favor, fala qualquer coisa.
- Então tá… - Falou e suspirou fundo: - Você disse que a ideia dele parecia boa e que teria o que tanto queria, o que mudou?
- Só não funcionou, uai! Não funcionaria nunca, porque a gente nunca estaria em paz de verdade: se eu omitisse, você ficaria bem, mas eu não; se você soubesse, ambos ficaríamos mal.
- Por que você está insistindo comigo, então? Não seria muito mais fácil se você simplesmente se divorciasse e seguisse a sua vida com o tal Rick?
- Porque eu te amo, uai! Não quero me divorciar de você.
- E quanto a ele, o que você sente?
- Não sei, mas não é a mesma coisa que eu sinto por você, disso tenho certeza.
- Mas sente?
- Sinto, mas vai passar.
- Ahammm… Tá… Tem mais alguma coisa que você queira me contar? Sei lá, algo que você, sem querer, esqueceu ou não falou para não me machucar?
- Não! Tem mais nada não! Juro por Deus.
O silêncio voltou a dominar o ambiente, mas ele próprio o quebrou pouco depois:
- Bem, prometi que iríamos sair para conversar, acho que já conversamos. Quer voltar para trás.
- Poxa…
- Ou acha que ainda podemos aproveitar um pouco da noite?
- Oi!? - Fui surpreendida, mas deixei bem clara a minha opinião: - Acho! Claro que acho. Vamos sim, por favor.
- Vamos então.
Tempos depois chegamos na cidade e rumamos direto para o Jangada. Como já esperado, estava lotado e com fila de espera na porta. Mark me olhou e balançou negativamente a cabeça, mas eu dei uma piscada para ele e entrelacei meu braço no dele, levando-nos até uma recepcionista. Quando o identifiquei, ela confirmou nossa reserva e outro funcionário nos acompanhou até uma mesa. Assim que nos sentamos, ele me encarou, curioso:
- Eu fiz uma reserva. Não queria que nada atrapalhasse nossa noite.
- Ora, ora, ora… Muito bem, Fernanda, a previdente. Por essa eu não esperava. - Disse e fez sinal para um garçom, pedindo uma vodca com limão para ele e uma Espanhola para mim: - Nem perguntei se era isso que você queria…
- Acertou, claro! Você me conhece como nenhum outro.
- Talvez nem tanto assim…
Senti a invertida, mas eu precisava aceitar, afinal, eu havia causado tudo aquilo:
- Tudo bem, eu mereço. Desculpa.
Ele me olhava, desconfiado, medindo as palavras, mas não aguentou muito tempo:
- Nanda, eu quero te perguntar uma coisa… - Disse e se calou, assustado, pois o garçom chegava com nossas bebidas, continuando assim que ele se afastou: - Se, e estou dizendo se, a gente voltasse, como ficaria a sua história com o Rick?
- Faço qualquer coisa para voltar a ficar de bem com você.
- Você não respondeu minha pergunta.
- Eu não sei o que você quer saber?
- Tudo bem, vou perguntar de outra forma: se voltarmos a viver juntos, você irá se afastar do Rick, para sempre, sem qualquer contato, sem volta, nunca mais, para sempre? Pense bem antes de me responder, porque, se acontecer, eu poderei te cobrar.
Ele foi tão enfático, impondo tantas condições que eu fiquei perdida por um momento. Estranho que, apesar de eu querer o Rick, e muito, eu tinha muito mais medo de perder o meu marido e foi nisso que me baseei para tomar uma decisão. Saquei meu celular e, para a surpresa do Mark, liguei para o Rick no mesmo instante, colocando a chamada no viva voz:
- Alô, Nanda!? Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu, Rick, estou voltando para o meu marido e gostaria que você me deixasse em paz. Não quero que você me ligue, nem me procure, nunca mais. Vou seguir minha vida com ele e com minhas filhas que é o que eu já devia ter deixado bem claro desde o início. Eu amo demais o Mark e você foi só uma aventura.
- Porra, Nanda, o que aconteceu para você falar assim?
- Simplesmente estou falando o que eu deveria ter falado desde o início. Desculpa se te fiz ter esperança ou criar algum laço comigo. Foi bom te conhecer, Rick. Tchau.
- Nanda, espera! Eu…
Não esperei que ele continuasse e desliguei. O Mark me olhava surpreso e, fora isso, não consegui saber se ficou satisfeito ou não. Bem, incomodado é que ele não devia estar. Tomei uma bela golada do meu drink, nervosa, tremendo, mas estranhamente satisfeita comigo mesma. Pouco depois, o Rick tentou fazer uma chamada, surgindo na tela do meu celular o seu nome:
- Quer que eu atenda? - Mark me perguntou.
- Não! Eu só quero esquecer. - Falei e bloqueei seu número.
Estranhamente, apesar de satisfeita, também fiquei abalada, mas não queria transparecer. Eu era a dualidade em pessoa! Ainda assim acabei me calando, simulando olhar para alguns poucos casais que arriscavam um passo ou outro no salão:
- Quer dançar? - Ele me perguntou, levantando-se e me esticando a mão.
Sorri para sua iniciativa e aceitei. Eu precisava do meu marido e ele estava se oferecendo para mim. Talvez fosse a minha chance e eu não a iria desperdiçar. Fomos para o salão e nos abraçamos. Deixamos a música nos embalar e ficamos curtindo aquele contato por umas duas ou três na sequência. Ao final da última, ele me perguntou o que eu ainda queria fazer:
- O que eu quero talvez você não queira.
Ele desviou seu olhar, confirmando o que eu já sabia. Continuamos um pouco mais ali, em silêncio e voltamos à nossa mesa. Pedimos uma porção, outra rodada de bebida e os assuntos começaram a fluir melhor, parecia que já não tínhamos tanto medo de falar e ofender um ao outro.
Pedi para dançarmos mais um pouco e ele topou. Dançamos mais umas duas e no final dessa última, tentei beijá-lo. Foi horrível! Ele não negou, mas deixou bem claro que não queria aquilo. Fiquei constrangida, naturalmente:
- Nunca te prometi nada mais que uma conversa de amigos, Nanda.
- Eu sei… Eu só tinha esperança de que pudesse consertar o que quebrei.
- Talvez a minha confiança você esteja reconquistando depois de tudo o que me contou, mas daí para a gente voltar eu… eu… - Gaguejou e desviou o olhar de mim, envergonhado de mim ou dele mesmo: - Desculpa, hoje, eu não consigo.
Não adiantava insistir mais naquela noite. Ele não queria e eu também não estava mais no clima. Pedi para irmos embora e ele concordou.
Chorei em silêncio no caminho de volta, escondida na escuridão da noite e no som do carro. Acabei dormindo, embalada pelas notas alcoólicas dos drinks que havia bebido.
Acordei no dia seguinte, na cama da nossa suíte, mas nem sinal do Mark. Levantei e fui até a cozinha, onde ele esquentava um pão com manteiga na frigideira, conversando alegremente com nossas filhas:
- Ora, bom dia, dorminhoca! Café da manhã?
- Pode ser... - Falei e me sentei a mesa: - O que aconteceu?
- Uai, você apagou bonito. Daí chegamos, te levei à quitinete e você não acordava de jeito algum. Então, te trouxe pra cá.
- Ah, e dormimos juntos? - Perguntei, brincando, sob o olhar curioso das meninas que agora o encararam também.
Seu olhar sério para mim respondeu um não que acredito que elas próprias também ouviram. Servi-me de um café e ele me passou um pão quente. Ainda assim as meninas me olhavam curiosas e felizes por eu estar de volta. Infelizmente, eu sabia que não era assim, pelo menos, ainda não. Conversamos um pouco e soube que haviam vindo para a cidade com os avós, mas, vendo meu carro na frente de casa, decidiram ficar. Depois de um tempo, me despedi, avisando que precisava ir embora:
- Mas cê não vai ficar, mãe? - Perguntou Miryan.
- Não vou, Mi… - Respondi e olhei para o Mark: - Pelo menos, hoje não. Cês querem vir almoçar comigo?
- Quero não. - Respondeu justamente a Miryan, um tanto desanimada: - Depois, cê me leva no sítio, pai?
Ele confirmou com a cabeça, chateado com a tristeza demonstrada justamente pela caçula, a alma da festa de nossa casa. Entretanto, a surpresa veio logo em seguida, quando a própria Maryeva pediu para vir comigo. Fiquei feliz, mas mal sabia eu que uma conversa dura mudaria para sempre a nossa relação de mãe e filha.
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO, EM PARTE, FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL NÃO É MERA COINCIDÊNCIA, PELO MENOS PARA NÓS.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DA AUTORA, SOB AS PENAS DA LEI.