Eu não concordei com o Rick, mas também não discordei, afinal, eu não sabia o que fazer, e assim deixei que ele me puxasse para fora do restaurante. Eu tentava vê-la, mas em duas oportunidades em que os nossos olhos se cruzaram, os meus banhados em lágrimas, os dela molhados pelo veneno do ódio que transbordava de seu coração, decidi não enfrentá-la, não ali, não naquele momento. Ainda consegui ouvir novamente sua voz, mas as novas palavras doeram tanto quanto as primeiras:
- Mulher desgraçada! Traiu meu pai. Abandonou a gente por causa de um homem!? Como pode ser tão… tão… Malditaaaaaa! Que arda no infeeeernooooooo!
Fui praticamente jogada para dentro do carro pelo Rick que deu a partida e saiu ligeiro. Enquanto voltávamos para a cidade, não pude evitar as mais doloridas lágrimas da minha vida. Eu havia perdido o meu marido e agora a minha filha, talvez as duas! Mandei uma mensagem para o Mark, pedindo desculpas e querendo saber dela, mas ele sequer a visualizou. Também pudera, devia estar tentando controlar os nervos da nossa filha que, filha de Nanda e Mark, devia estar dando um show. Ainda assim, pedi, pelo amor de Deus, que me retornasse assim que possível.
PARTE 7 - INIMIGA ÍNTIMA
Rick me levou para seu apartamento e como eu não parava de chorar, providenciou um calmante para mim. Tomei sem ver o que tomava e apaguei. Pelo menos, foi o que eu pensei. No dia seguinte, acordei nua na cama dele e com a boceta esfolada de uma forma como nunca havia ficado antes, certamente vítima de uma trepada que fora violenta e da qual eu não me lembrava patavinas. “Filho da puta! Não acredito que ele abusou de mim!?”, pensei, irada, querendo matá-lo. Levantei-me e me cobri com um robe indo confrontá-lo, quando ele me mostrou um vídeo caseiro em seu celular que fez da noite anterior para não pairar dúvida alguma sobre o que havia acontecido: ele não fizera nada, eu o havia atacado e devorado. Atônita, assisti aquele vídeo e falei:
- Mas não pode ser!
- Pode e foi! Eu tentei te segurar de todas as maneiras. Juro por Deus! Você tirou suas roupas e disse que se eu não te comesse direito como a bela puta que é, você sairia pelada e daria para os primeiros que cruzassem o seu caminho.
- Meu Deus…
- Eu acho que deve ter sido alguma reação do remédio com a bebida alcoólica. Não imagino outra coisa, Nanda…
Eu não consegui parar de assistir ao vídeo em que o atacava loucamente, totalmente fora de mim. Ele explicava:
- Eu tentei te parar, juro que tentei. Inclusive, te coloquei na cama e prendi com meus braços, mas você estava parecendo uma leoa, brava e forte, gritando que queria um macho que matasse de trepar. Daí você me deu uma chave de perna e me virou não sei como. Então, começou a se… Daí… Daí… Você e eu… Bem, daí… Bom, o vídeo é autoexplicativo, né?
No vídeo, de pouco mais de quinze minutos, um Rick assustado, tentava me conter, mas eu estava realmente possuída, atacando-o de verdade. Quando consegui me desvencilhar de seus braços, e não sei como consegui, virei-o na cama e rasguei sua calça e cueca com minhas mãos. Foi então que disse ter tido a ideia de me falar que queria gravar nossa transa e acredito que fosse verdade, porque assim que começou a filmar aquela Nanda louca falou, esfregando-se como uma puta e já enfiando dois dedos dentro de si:
- Ah é, seu safado? Quer me filmar, quer? Pra quê? Vai enviar para os seus amigos para a gente fazer uma suruba bem gostosa, é? Vai, filma… Filma tudo! Mostra para os seus amigos e diz que eu estou louquinha para ser arregaçada aqui.
Na sequência, ele voltou timidamente para a cama e o seu pau obviamente estava mole, porque o coitado estava claramente assustado, apavorado eu diria. Mas eu, ela, aquela louca, o abocanhou com vontade e ele praticamente parou de lutar, acho que não pelo prazer, mas provavelmente porque estivesse com medo que eu o capasse nos dentes ali, naquele momento. Entretanto, mesmo assustado, ele não conseguiu resistir aos encantos daquela mulher e seu pau endureceu rapidinho. Daí foi uma sequência de posições das mais loucas que já vi na minha vida. Cheguei a ficar com pena dele em alguns momentos, pois ele gemia, realmente parecendo sofrer nas minhas mãos. Só no final, quando gozou e eu enfim desmontei dele, que notei que ele não usava camisinha alguma e sei disso, porque eu ainda havia enfiado alguns dedos dentro da minha boceta e depois transferi parte de uma bela gozada para minha boca, triunfante:
- Ai, meu Deus… O que foi que eu fiz!?
- Calma, Nanda, você não sabia o que estava fazendo. Estava fora de si e ninguém tem culpa de nada. - Falou, tentando me consolar: - Mas você viu que eu não tive culpa de nada, não viu?
- Porra, Rick, você devia ter me dado um safanão, sei lá… - Resmunguei, enquanto olhava o vídeo novamente.
- Mais!? Só se eu tivesse te dado uma porrada!
- Devia… Devia ter dado mesmo! Eu ando merecendo. Poxa, só faço cagada.
- Calma, fica calma. Você viu o vídeo e viu que eu não fiz nada, não é? Eu fui forçado, você entendeu, né? - Insistiu, preocupado agora com sua imagem.
- Vi, Rick, vi! Ai, inferno… - Resmunguei e me lembrei do que realmente importava naquele momento: - Meu Deus, a Maryeva! Como será que a minha filha está?
Olhei no meu celular e nenhuma mensagem do Mark havia chegado sobre o dia anterior. Eu precisava de notícias, mas tinha medo de ligar para ele e minha filha despejar toda a decepção de uma vida contra mim. Liguei para meus sogros e a escolha não foi nada melhor, pois a Maryeva havia sido mais rápida, ligado antes de mim e feito um resumo do dia anterior:
- Fernanda, que história é essa de você estar com outro homem? - Meu sogro foi objetivo, direto, sem sequer me cumprimentar.
- Ai, eu… eu… É difícil explicar. Não é nada disso do que ela está pensando. Foi só um mal entendido.
- Ela te pegou beijando outro homem na boca, Fernanda! Eu só consigo entender isso de uma forma e é a mesma que ela entendeu.
Lágrimas começaram a brotar dos meus olhos, mas eu ainda precisava saber da minha filha:
- Como ela está? Por favor, só preciso saber se ela está bem.
- Claro que ela está bem! Chorou muito, xingou bastante, mas agora se acalmou. O Mark e a minha esposa estão lá com ela. - Explicou, mas não conseguiu se conter: - É verdade o que ela disse ter visto?
- É complicado…
- É complicado dizer se beijou ou não outro homem na boca, Fernanda!? Quero a verdade! Não me enrole.
Faltou-me coragem para ser honesta e fui naquele momento o que nunca sido com ele até então: mal educada, encerrando a chamada sem lhe responder o óbvio. De qualquer forma, confessar o inconfessável já havia perdido o sentido, pois Maryeva gozava de crédito e o próprio Mark não iria contra os fatos flagrados por nossa filha para desmenti-la. Rick continuava ao meu lado e notou, pelo meu semblante, que a conversa não havia sido nada boa:
- A… A Mary ligou para meus sogros e contou o que viu. - Falei, já secando com as costas da mão uma lágrima que descia pelo meu rosto, tamanha a vergonha que eu estava sentindo: - Mas parece que ela já está mais calma.
- Tem alguma coisa que eu possa fazer para te ajudar, Nanda?
- Não! Ninguém pode me ajudar, aliás, ninguém além do Mark, mas, nessa altura, não sei se posso contar com ele também, porque ele deve estar uma fera comigo.
- Por que não liga para ele para saber da sua filha. Apesar de tudo, você é a mãe. Tem os seus direitos.
- Direitos, Rick!? Que direito eu tenho? De ofender a minha filha? De decepcioná-la? De ser flagrada aos beijos com outro homem? Eu conheço a Maryeva, tem o mesmo gênio, o mesmo jeito do Mark. Ela pode até parecer comigo, mas por dentro é o pai cuspida e escarrada.
- E você deixou de ser mãe pelo que aconteceu, Nanda? - Perguntou, acariciando minha mão: - Claro que não deixou, meu amor. Tanto não deixou que está aí toda preocupada.
- Ai, Rick, se eu pudesse voltar no tempo, eu nunca teria te ligado naquele shopping de São Paulo…
- Para! Não fala isso. Você pode não acreditar, mas é a melhor coisa que me aconteceu em toda a minha vida.
- Talvez eu seja para você, mas você não está sendo para mim…
Ele se surpreendeu, óbvio, mas não teve tempo de dizer nada, pois, nesse momento, fui interrompida por uma ligação do meu pai. Por mais que ele não tivesse servido de exemplo para mim, era o meu pai e eu já imaginava o teor da ligação. Mostrei meu celular para o Rick sem a menor vontade de atender e ele se dispôs a fazê-lo:
- Cê tá louco, Rick!? É claro que não! - Falei e atendi a chamada, para evitar piorar ainda mais toda a situação.
- Você traiu o Mark? - Perguntou-me sem sequer querer saber de mim.
Eu já estava estressada, desesperada e despejei o que não devia sobre ele:
- Quem você pensa que é para me cobrar alguma coisa? Você traiu minha mãe, nunca deu bola para mim quando eu era criança, brigava, discutia à toa, me colocava de castigo sem eu merecer, nunca deixou eu ter amigos de verdade. Vá se foder, seu hipócrita do caralho! Ouviu!? VÁ SE FODER! - Gritei ao telefone: - E sim, eu o traí! Traí o melhor homem que eu conheci na vida e vou carregar esse peso comigo para sempre. Parabéns, viu!? Essa talvez seja a única herança que você me deixou, seu merda: ser uma traidora, indigna da confiança de alguém!
Desliguei o celular e desandei a chorar. Por maiores que fossem as minhas razões, eu nunca poderia ter falado com ele daquela forma. Acho que inconscientemente, eu estava tentando me separar em definitivo de toda a minha família, inclusive, pai e mãe que, coincidência ou não, ligou pouco depois para mim. Eu já estava na merda mesmo, então uma a mais ou a menos não faria diferença:
- Oi, mãe! - A atendi, seca como gelo no deserto.
- Nanda, como você está?
- Ah, mãe…
Desabei a chorar novamente e não consegui mais me controlar a partir daí. Rick me acariciava as costas, cabeça, mãos, tudo e nada conseguia me acalmar. Ele pegou o celular, mas eu já não ligava para mais nada, nem quando ele começou a conversar com ela:
- Não, a senhora não me conhece ainda. Meu nome é Rick e a Nanda está comigo. Infelizmente, ela está bem nervosa e não conseguirá conversar com a senhora, mas assim que ela se acalmar, eu peço para ela te ligar, está bem?
Um breve silêncio em suas palavras denunciavam que minha mãe devia estar conversando ou perguntando algo para ele. Tive a certeza logo depois:
- É… Então… Sim, infelizmente, sim. Não imaginávamos que isso pudesse acontecer, ainda mais naquele lugar, mas infelizmente aconteceu.
Mais um breve silêncio e ele continuou:
- Peço sim, mas posso te garantir que ela está bem e segura. Só está um pouco nervosa. Assim que ela se acalmar, eu peço para ela te ligar.
Novo silêncio e ele voltou a falar:
- Fique tranquila. Ela está em boas mãos. Boa tarde.
Chorei por mais um tempão e nesse tempo, ele não saiu do meu lado. Quando eu consegui me acalmar, depois de muito carinho e à custa de uns dois ou três copos de água com açúcar, pois obviamente recusei um novo calmante, decidi ligar para o Mark, mesmo sabendo que ele deveria estar ardendo em ódio. Nisso, acertei em cheio:
- Oi. - Respondeu seco, frio, sem falar meu nome, provavelmente por ter alguém por perto e disfarçou logo depois: - Dr. Fonseca? Ô, meu caríssimo, como tem passado? No escritório!? Não, infelizmente, hoje não irei. Estou resolvendo um probleminha familiar, mas nada sério…
- Mor, como a Mary está?
Ouvi ele falando para alguém que iria atender um colega e já voltava, mas a voz do outro lado, mostrava que minha filha era mais sagaz do que eu imagina e já sabia com quem ele conversava:
- É ela, não é!? É ela, não é, pai? - Minha Mary falava alto, quase gritando: - Fala pra ela vir aqui conversar comigo. Quero ver se ela tem coragem… Piranha! Biscate!
- Maryeva, para, não é a sua mãe! - Reconheci a voz da minha sogra: - E mesmo que fosse, não seria correto falar assim. Não faça isso com vocês.
- Com vocês, quem, vó!? Não tem vocês, nem nada, não! Aquela… Aquela… Ahhhhhhhh!
- Chega, Mary! Xingar sua mãe não vai resolver problema algum e só vai deixar o clima mais pesado. - Ouvi o Mark falando alto, já assumindo com quem conversava, fazendo com que ela parasse: - Ela errou, mas vai ser sua mãe para sempre. Ninguém vai te obrigar a aceitar o que ela fez, conviver com ela, nada do tipo; mas eu também não vou aceitar que você fique se rebaixando em xingá-la. Você não foi educada assim e não admito que se rebaixe! Além disso, não fará bem para ninguém, principalmente para você. Respira fundo e se acalme.
- Mas… Mas… - Minha Mary ainda resmungou, mas se calou em seguida: - Sorte dela que eu sou racional, vó, senão o bicho ia pegar.
Conhecendo o Mark como eu conhecia, já imaginei que ele a tivesse calado somente com um olhar, talvez levantando um indicador para pedir silêncio. De qualquer forma, o fato é que ele retomou o controle da situação e se fez obedecer, pois os xingamentos cessaram daí por diante. Vi minha chance de continuar aquela conversa:
- Mor, ela está bem? Como vocês estão?
Ele demorou um pouco a responder, aparentemente saindo de perto delas, pois ouvi o barulho de uma porta. Quando retornou, a verdade veio forte:
- Fernanda, para de me chamar de “mor”, isso acabou! De agora em diante e para sempre, será Mark. Estamos entendidos?
- Credo, mor… - Engasguei, mas me corrigi: - Mark. Vamos ter que nos tratar assim de agora em diante?
- A gente acabou, aceite de uma vez por todas, então, corte as intimidades comigo. Não te dou mais esse direito! Nosso vínculo se restringirá tão somente às questões relacionadas à criação das nossas filhas, nada mais.
- Poxa…
- Agora, respondendo a sua pergunta, estamos bem fisicamente. Mary chorou bastante, xingou pra caralho, mas tenho conversado bem com ela, refletimos sobre a complexidade da natureza humana e ela parece estar se acalmando. Às vezes, tem os seus rompantes, como você acabou de ouvir, mas vai ficar bem. A minha mãe está grudada nela para ajudá-la a superar o que viu.
- E a Mi?
- Ela não viu o seu beijo, claro, mas a Mary fez questão de contar aos gritos para meio mundo lá no restaurante. Então, ela também já está sabendo, ficou assustada, está confusa, mas está reagindo bem. Só que também não está querendo falar com você. - Explicou, parou por um momento, talvez tentando se acalmar também, pois sua entonação só aumentava e voltou a falar, agora mais calmo: - Acho que o que assustou a Mary foi te ver beijando aquele lá. Talvez se você tivesse sido honesta e contado para ela que tínhamos acabado e já estava conhecendo outro, o impacto não teria sido tão grande.
- “Jesuis”! - Clamei, agora mais temerosa ainda de ter perdido o amor das minhas filhas e o questionei, brava por não terem ido almoçar na casa dos meus sogros: - Mas o que, diabos, vocês foram fazer lá? Vocês não iam almoçar nos seus pais?
- “Tianinha” do “Tiuzezinho” teve um piripaque e foi internada. Meu pai teve que levar a minha mãe lá no hospital e deixou a Mi aqui em casa. Daí eu saí com elas para almoçar fora, afinal, não tinha feito nada ainda para a gente comer. Infelizmente, tive a péssima ideia de me lembrar daquele restaurante e pensei que seria um bom lugar para irmos por ser longe daqui. Deu no que deu…
- Mor… Mark! Eu… Eu não sei o que falar para você me perdoar…
- Não fala nada! - Interrompeu-me: - De alguma forma, eu já sabia que ia dar nisso. Até cheguei a pensar que você pudesse estar se conscientizando por tudo o que conversamos, mas, mesmo você terminando com ele por telefone, algo não conseguia me convencer, por isso, inclusive, que não ficamos juntos lá no Jangada. - Disse e suspirou profundamente: - Dá um tempo. Deixa as meninas se acalmarem e depois eu tento marcar alguma coisa entre vocês. Eu sei que você as ama, não vou te afastar delas, mas deixa elas se recuperarem um pouco. Enquanto isso, pensa em um belo conto de fadas com o seu príncipe encantado, daquelas cheias de romantismo mesmo, para contar para as duas, porque se você falar a verdade, vai piorar o que já não está bom.
- Mas, Mark, minhas filhas…
- Agora, você não tem o que fazer! - Interrompeu-me novamente, aumentando o tom: - Acalme-se e deixe elas se acalmarem! Se você tentar se aproximar delas agora, vai me obrigar a agir como advogado contra você, inclusive, entrando com um pedido de medida protetiva contra você pelo bem estar delas e eu não quero ter que chegar a esse ponto, mas se você tentar algo, irá conhecer um lado meu que não é nada legal.
Comecei a chorar no telefone. Eu estava perdendo o meu marido, aliás, acho que já o havia perdido e agora minhas filhas estavam indo pelo mesmo caminho tortuoso. Entreguei os pontos e implorei:
- Por favor, Mark, me ajuda! Sem você, eu já não sei o que farei, mas sem elas, a minha vida perde o sentido. Eu… Eu não… Por favor, eu não vou conseguir sem vocês.
Apesar dele ser um capricorniano e a empatia não ser uma de suas maiores virtudes, além do ódio que todo o contexto devia ter plantado em seu coração, ele é um homem bom, justo e se compadeceu de mim, talvez mais de nossas filhas também, mas também de mim. Isso ficou claro quando falou:
- Calma! Eu nunca quis que isso acontecesse, foi péssimo realmente e atingiu todo mundo. Eu vou ajudar vocês! Ainda não sei como, mas eu vou. Vou… - Calou-se por um tempo e voltou a falar pouco depois com um aparente ânimo renovado: - Acho que já sei o que fazer: vou falar com o doutor Galeano! Sim, é claro… Ele certamente saberá me orientar nesse momento.
- O doutor Galeano!? É… É! Acho que é uma ótima ideia! - Concordei, esperançosa: - Vou falar com ele também. Ele vai saber o que fazer. Sem dúvidas, ele vai!
- Está bem! Eu vou desligar agora porque ainda tenho que dar um gás aqui na “Operação Tapa Buraco”. - Riu de si mesmo, mas lamentou em seguida, sentido consigo também: - Mas que besteira… Depois a gente se fala.
- Tá bom, obrigada. Beijo, mor… Não! Digo, Mark. Posso te ligar depois?
- Bom dia, Fernanda.
Aquele “bom dia” deixou bem claro que não havia mais espaço para intimidades entre a gente. Eu, agora, era somente a Fernanda, uma pessoa como várias outras que para ele não somava, nem diminuía. Pelo menos, eu esperava conseguir consertar aquele flagra para não diminuir minhas chances de ter uma boa convivência com minhas filhas, mas, quanto ao meu marido, às chances eram mínimas.
Rick estava sentado ao meu lado e, naturalmente curioso, quis saber o que eu havia conversado com meu ainda marido. Expliquei e ele, após ouvir tudo com extrema atenção, opinou:
- A ideia do terapeuta é ótima! Concordo totalmente com ele. Entretanto, acho que você precisará de uma orientação de outras pessoas também para resolver sua vida com eles.
- Como assim?
- Se vocês vão se divorciar, pelo menos é isso que ele deixou bem claro querer, você também precisará de um advogado para cuidar dos seus Interesses...
- Rick! - O interrompi, incomodada com a proposta: - O Mark é o meu advogado, sempre foi e vai continuar sendo, se ele quiser, é claro. Eu não quero nada de patrimônio, bens, sei lá o quê: só quero minhas filhas, só isso!
- Então… Mas mesmo que não queira nada de patrimônio, ainda assim para discutir a guarda delas, precisará de um advogado.
- Não quero saber disso. Chega! O Mark vai cuidar de tudo como sempre fez. Ele vai resolver tudo. Não preciso, nem quero nenhum outro advogado para me encher a cabeça de minhoca.
- Nanda, acho que você precisa pensar melhor. Tem um escritório de advocacia em São Paulo que me presta assessoria, posso pedir para eles te atenderem a qualquer momen…
- Para, Rick! Chega desse papo ou vamos acabar discutindo feio. - Falei, brava, interrompendo-o novamente: - Aliás, eu tenho que ir. Já fiquei muito tempo aqui. Preciso… Eu preciso pensar, sozinha, só eu e a Nanda, entende?
- Acha prudente ficar sozinha num momento desses?
- Acho… Acho não: eu quero e vou! Preciso colocar as ideias no lugar e o silêncio é um ótimo conselheiro em momentos de crise.
Despedi-me dele praticamente à força, porque ele insistiu diversas e diversas vezes para que eu ficasse. Não fiquei! Não queria e quando eu não quero, nem o Mark consegue me convencer do contrário. Infelizmente, aquele último jantar em São Paulo comprovou isso muito bem e isso eu lamentava profundamente. Seu eu tivesse aprendido a ser menos teimosa, ouvi-lo com mais frequência, teria evitado toda essa desgraça em que se transformou a minha vida.
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO, EM PARTE, FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL NÃO É MERA COINCIDÊNCIA, PELO MENOS PARA NÓS.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DA AUTORA, SOB AS PENAS DA LEI.