Vera,
Essas linhas que escrevo contém tudo o que gostaria de um dia poder te falar. Porém, desconfio que isso não seja possível. Então as escrevo em uma vã tentativa de arrancar de dentro do meu peito essa dor que me consome há tanto tempo. Sei que jamais a lerá. Acho que é um pouco tardio. Mas mesmo assim quero deixar aqui registrado o quão grande é o meu sentimento por você.
Tudo o que eu queria nessa vida é você fosse feliz e vivesse uma vida intensa e plena. Será que isso é possível? Afinal de contas, entre todos os desejos que sinto em relação a você, esses são os únicos que posso expressar livremente.
Quanto tempo se passou desde a última vez que estivemos juntos? Talvez você não saiba dizer exatamente, mas eu sei. Em minha mente nunca se ausentaram os momentos maravilhosos que passamos juntos há quinze anos.
Então, como vai se sentir que não são apenas essas as imagens que me assombram em todos os dias da minha vida. Também faz parte de minhas lembranças a nossa primeira vez. Mesmo essa ter acontecido há trinta anos.
Estranho isso, você não acha? Duas vezes em trinta anos com um intervalo exato de quinze anos entre cada uma delas. Exato sim, pois não há como não me lembrar do quando, do como e do onde. Sempre no final do mês de setembro, como se com a chegada da primavera surgisse a mágica que nos aproximava.
Pobre primavera. O que pode significar ela, com suas flores se abrindo e perfumando o ar diante do seu perfume e de sua beleza? A comparação é tão injusta que, em cada um dos quatorze anos de intervalo essa estação começa e termina comigo sentindo o seu perfume, a maciez de sua pele e o seu toque mágico que me leva ao Olimpo. Para mim essa estação do ano, tão aguardada por todos e lógico que da minha parte muito mais, recebeu esse nome em sua homenagem.
Sim, foi você que inspirou alguém a lhe dar esse nome em nosso idioma. Afinal, qual outro nome poderia ser dado senão esse que faz menção ao nosso parentesco e ao seu nome?
Você, filha da irmã de meu pai, minha prima, minha inspiração de vida e o grande e único amor de minha vida. Você, a minha Vera. Minha prima Vera.
Você se lembra da primeira vez?
Eu, que nunca acreditei que o seu namoro com o Cássio fosse qualquer coisa além do fato de serem os dois humanos mais bonitos da escola e também só ter iniciado por pressão de suas amigas que alegavam que o fato de haver tanta beleza em uma mesma cidade, uma mesma escola, não podia deixar de ser um sinal para que vocês se unissem.
Você, com seus um metro e sessenta e oito, tom de pele moreno claro, rosto oval que emoldurava o conjunto mais harmonioso que já existiu nessa vida, com seu nariz arrebitado, sua boca carnuda e sensual e seus olhos. Ah! Seus olhos! Como foi que a genética conseguiu agir com tanta perfeição é uma coisa que me pergunto até hoje. Essa maravilha de formato oblíquo como se para registrar a sua descendência japonesa da parte de seu pai, porém, como se quisesse zombar do que aprendemos na aula de biologia, eram de uma cor que ficava entre o azul claro e o violeta vivo, dependendo do ambiente em que você se encontrava, pois esse violeta só aparecia quando você estava em um ambiente aberto e sob um brilhante sol.
Fora seus olhos, só havia outra coisa que revelava essa sua herança genética que eram seus cabelos lisos que você usava comprido o que fazia com que eles, como uma cascata mansa e negra, caíssem sobre suas costas até a altura do seu bumbum arrebitado.
A natureza, porém, ao combinar a cadeia genética de toda a sua ascendência, foi cruel para com todas as pessoas que tinham que se conformar em viver ao seu lado sendo eclipsada com tanta beleza. Seu tom de pele moreno, que você dizia ter sido herdada de uma bisavó que foi raptada em alguma aldeia do amazonas em uma vida passada, seus seios pequenos que poderiam também ser atribuído ao lado nipônico pelo tamanho, o que era desmentido pelo formato, pois além de serem empinados em formas suaves e preciosas, seus mamilos marrons sempre apontavam para o horizonte. Suas pernas roliças que desciam em direção aos pés em formas suaves eram firmes, mas sem deixar transparecer a musculatura forte que as sustentavam. Seus pés pequenos e sempre bem cuidados eram lindos. Para mim, um pedestal digno da obra de arte que sustentava.
Seu quadril que, embora não fossem largos, se destacavam em virtude de sua cintura fina que quase podiam ser enlaçada por minhas mãos. Sua barriga lisa que poderia ser o complemento de tanta beleza prendiam os olhos de todos quando você deslizava com seu biquíni na piscina do clube de nossa cidade. Os homens com desejo visível e as mulheres com inveja.
O Cássio, por outro lado, era o sonho de consumo de todas as garotas da escola, do bairro, da cidade ou de qualquer lugar onde ele fosse. Com seus um metro e oitenta centímetros, loiro, olhos verdes e o corpo musculoso em virtude de ser praticante de esportes desde criança, desfilava essa beleza toda com a simplicidade de uma pessoa que, ciente de sua aparência privilegiada, queria mais das pessoas do que ser apenas um homem bonito.
Você está estranhando eu falar isso? Nunca te contei? Pois é! O Cássio foi o melhor amigo que já tive nessa vida e o que mais me impressionava nele é que, apesar de toda a sua beleza, de sua aptidão para a prática de qualquer esporte, tendo colecionado medalhas e mais medalhas em todos os que se aventurou, era um amigo fiel, confiável e tinha uma preocupação enorme em levantar o moral daqueles que o rodeavam.
Quantas e quantas vezes ele me chamava a atenção para as garotas que olhavam em nossa direção tentando dar a entender que era eu o alvo daqueles olhares de felinos prestes a pular sobre sua vítima, quando eu sabia que não era para esse mortal simples e desprovido de atrativos que elas olhavam.
A única vantagem que eu tinha em relação ao Cássio era em relação aos estudos. Não que eu fosse algum tipo de nerd ou coisa parecida, mas pelo fato dele não se dedicar aos estudos, pois inteligente ele era. E muito. Tão inteligente que, tudo o que eu me dedicava durante o bimestre para assimilar, ele entendia em meia hora de explicações, o que era o suficiente para conseguir as notas necessárias para sua aprovação no final do ano.
Então veio a notícia que me tirou da minha vida de adolescente e me fez entrar no mundo adulto por caminhos errados. Pela primeira vez na vida senti a dor de uma perda.
A notícia de que vocês estavam namorando teve em mim o efeito de uma bomba explodindo sobre minha cabeça. Meu desespero foi algo difícil de ser entendido, pois não sabia o que fazer. E acabei agindo da única forma possível para mim que foi a de não fazer nada. Difícil era conviver com vocês dois, assistir aos carinhos que trocavam e não poder fazer nada.
Como o Cássio também possuía a característica de “macho de plantão”, ainda tive que aguentar aos elogios que ele fazia a você, relatando de como tocava seu corpo, de como você era gostosa e também fui o primeiro a saber da sua primeira vez.
Até hoje me admiro de ele não ter percebido o contraste em nossos sentimentos naquele dia. Eu fazendo de tudo para disfarçar o desespero de te imaginar nos braços de outro e ele feliz por ter conseguido te levar para a cama e transformado em mulher a garota mais bonita que já existiu.
Cursávamos, nessa época, o segundo ano do ensino médio e já fazia quase um ano que vocês tinham engatado o namoro. Durante esse ano todo eu temi por essa notícia até que fui confrontado com a verdade que me desarmou por completo. Fiquei tão desesperado em saber que o seu lindo corpo tinha sido maculado por Cássio que cheguei até mesmo a adoecer e, durante os quinze dias seguintes não compareci às aulas e cheguei até mesmo a tentar convencer meus pais a autorizarem minha transferência para outro colégio, o que foi em vão.
Finalmente, completamente derrotado, lá estava eu de volta à escola, recebendo todo o apoio de Cássio que, pela primeira vez na vida, prestou atenção às aulas e se dedicou aos estudos, invertendo assim os papéis de sempre. De repente, era ele a me transferir os conhecimentos que obtivera durante minha ausência.
Foi até com certo alívio que concluí o ensino médio e busquei pelas faculdades mais distantes de nossa cidade. Eu não podia mais testemunhar a felicidade de vocês.
Então, dois anos depois, quando já contávamos com vinte anos de idade, voltei à cidade para a comemoração das bodas de prata de meus pais. Não houve forma de me desvencilhar e nenhuma das várias desculpas que inventei foram suficientes para convencer a minha família a me deixar em paz. Minha mãe, vendo que eu estava irredutível, deu o golpe de misericórdia e pediu para que você ligasse para mim e cobrasse minha presença.
Ah! Vera. Já tinham se passado mais de dois anos e a sua voz ao telefone teve o poder de retirar de mim qualquer resistência que eu tinha à possibilidade de voltar a te ver. Todo esse tempo tentando aprender que poderia haver uma vida sem você e de repente eu estava me rendendo ao seu pedido. Principalmente depois de ter a sua promessa de que ficaria ao meu lado durante toda a cerimônia.
E pensar que minha decisão de comparecer àquelas comemorações tiveram suas recompensas.
Para minha alegria, o Cássio não se encontrava na cidade naquele dia, o que significou que sua atenção foi toda dirigida a mim. Como conseguir detalhar aqui a minha alegria em entrar na cerimônia religiosa de braços dados contigo, de ter você sentada ao meu lado na recepção que houve em seguida e de ter você em meus braços durante as danças? Lembrar que, naquele dia você só dançou comigo, recusando vários convites, é algo que fez dele o mais especial da minha vida.
Só que não foi isso que tornou aquele dia especial. Foi o que aconteceu depois.
Quando fui te levar para casa, já durante a madrugada eu não podia imaginar que aconteceria aquilo. Não que eu não quisesse. Querer você era, e é até hoje, algo que está sempre fazendo parte do meu imaginário.
Também não sei se foi por você ter consumido bebida alcoólica e estar um pouco alegre que permitiu que tudo acontecesse.
Em seu vestido azul, do mesmo tom que ficam seus olhos quando você não está exposta ao sol, você se sentou a vontade ao meu lado no carro. À vontade demais para meu desespero. A vontade de mais para o deleite dos meus olhos quase saltando das órbitas quando seu vestido subiu e mostrou a parte de suas pernas onde a meio sete oitavos não cobria. O contraste da pele morena, do azul claro do seu vestido, das meias e da cinta liga que usava formava uma cena desenhada pelo mais talentoso dos artistas.
Seu riso de cristal quando eu quase provoquei um acidente por não conseguir prestar atenção ao trânsito diante daquela cena ecoou em meu cérebro como se fosse o canto dos anjos.
Não sei dizer onde encontrei a coragem de levar minha mão direita até sua coxa e fazer um carinho que, apesar de firme, continha todo o cuidado de não causar nenhum tipo de dor. Estava eu ciente de que aquilo causaria uma reação adversa de sua parte, mas não pude me conter e tomei aquela atitude ousada e, enquanto esperava de olhos fechados pelo impacto de sua pequena mão contra meu rosto, nada aconteceu.
Diante de sua falta de reação, só me restava abrir os olhos. Abri e seu rosto estava a menos de um palmo dos meus. Nos olhos um brilho estranho e nos lábios sedutores um sorriso que era um convite ao nosso primeiro beijo.
Tivesse eu tocado com meus lábios a taça que contém o néctar mais saboroso desse mundo não teria me deliciado tanto quanto sentir sua boca macia pressionando a minha. Como se não bastasse, sua língua forçou passagem por entre meus lábios e começou a serpentear em minha boca em uma exploração sensual.
Minha mão parecia ter ganhado vida própria e começou a deslizar por sua perna. O contato sedoso da meia deu lugar ao de sua pele mais sedosa ainda e agora, com a vantagem adicional de poder sentir o calor que emanava de seu corpo. Sentir suas pernas se abrindo para dar acesso à mão invasora em busca de sua intimidade me fez desconcentrar do beijo e a batida leve no vidro da porta do meu lado me trouxe de volta à terra.
Ao meu lado, um policial fardado, com uma expressão entre divertida e tarada, nos alertou do perigo que corríamos em ficar nos agarrando no meio do tráfego, acrescentando em tom de zombaria que, embora entendesse o motivo de eu não ter percebido, o sinal de trânsito já tinha mudado para o verde, voltado ao vermelho e que ele esperava que, na próxima vez que ficasse verde eu finalmente conseguisse parar o que estava fazendo e colocar o carro em movimento.
Intimamente, dei vivas àquele policial, pois mal comecei andar, sua voz suave e rouca, revelando todo o tesão que sentia, foi ouvida:
– Para onde você está me levando? Os motéis nessa cidade ficam na outra direção. Faça o retorno ali.
Nem houve tempo para que eu respondesse. Apenas diminui a velocidade e fiz o retorno em um local proibido e, ao atingir a pista contrária, ouvir um toque curto da sirene da viatura policial como a me lembrar de que eu tinha acabado de cometer uma inflação de trânsito, porém, diante da maravilha que estava para acontecer, estava perdoado.
No quarto mais caro do motel, assisti ao show que você me proporcionou sem conseguir emitir uma palavra. Depois de me empurrar para que eu ficasse sentado na cama, você começou a agir sem que, em nenhum momento, deixasse nosso contato visual se perdesse. Meus olhos, como se atraídos por um imã irresistível, não conseguiam se desviar dos seus.
Primeiro você fez cair uma das alças do vestido movimentando o braço para se livrar dela e depois repetiu o movimento com o outro braço. Seu vestido, em virtude do decote que deixava suas costas nuas caiu para frente ficando preso em sua estreita cintura. Diante de mim seus seios médios cobertos por um sutiã rendado, da mesma cor do vestido. Levando as mãos para trás, você abriu o fecho do vestido que, sem a resistência de seu quadril exuberante, retomou sua queda até se amontoar aos seus pés de onde foram afastados com um movimento gracioso de seu pé.
Na minha frente o mundo ainda era todo azul, porque meu mundo sempre foi você. A calcinha, em conjunto com o sutiã, a cinta liga e as meias destacavam ainda mais a cor trigueira de seu corpo exuberante.
Novo começo. Ainda com os olhos grudados nos meus, repetiu-se os movimentos que a livraram do vestido, porém, dessa vez com o cuidado de que o sutiã não caísse. Você teve o cuidado de, ao soltar o fecho traseiro, impedir sua queda. Então, com as duas mãos segurando-o no lugar, você fez movimentos sutis para se livrar sem, no entanto deixar nada a vista. Suas pequenas mãos ainda estavam lá impedindo minha visão.
Havia ali muitos espelhos. Mas eu não conseguia olhar para minha própria imagem refletindo neles, pois só conseguia olhar para você. Entretanto, minha expressão devia ser algo que beirava ao risível, pois você sorria divertida olhando para mim quando, finalmente suas mãos se movimentaram em direção à sua calcinha e tive a visão de seus seios empinados, com os mamilos enrijecidos e duros apontando para mim, como se fossem pequenas cerejas.
Segurando o elástico dos dois lados da calcinha você, em um único movimento, a abaixou até seus pés e, ao mesmo tempo em que voltava a aprumar o corpo repetiu o chute jogando-a sobre o vestido que descansava no chão, ao lado da cama.
Hoje posso pensar com mais calma e julgar que foi muita injustiça de sua parte. Você deveria ter se demorado um pouco mais para se livrar da calcinha e deixar que eu admirasse por mais tempos seus lindos seios. Você foi muito má.
Meus olhos então estavam tendo a visão que eu ansiava desde quando me entendi por gente. Sua linda bucetinha estava ali, diante de mim. Os pelos públicos aparados em forma de triângulo e curtos não eram o suficiente para impedirem a exposição de grelinho duro que aparecia entre os grandes lábios fechados de sua xoxotinha. A visão que eu tinha era apenas daquele apetitoso botãozinho e depois o encontro dos grandes lábios se encontrando e impedindo a visão do tesouro ali guardado.
Não consegui vencer o impulso de me levantar e ir até você. Abraçando seu corpo agora nu, com apenas as meias e a cinta liga que mais tarde, atendendo ao meu pedido, você não tirou, e pude sentir o calor que dele emanava. Nossas bocas se encontraram e a suavidade de seus dedos em minha nuca fez com que meu controle desaparecesse e, apesar de seu pedido para não fazer, levantei seu corpo e o atirei sobre a cama. Com você deitada de costas, joguei-me entre suas pernas e minha boca foi de encontro à sua xoxotinha. Abri os grandes lábios e pude contemplar a maravilha de tom rosa ali guardada. Então a beijei. Beijei, chupei, suguei o grelinho, penetrei minha língua, tudo isso segurando seu quadril com energia para impedir que os movimentos bruscos que você fazia afastassem de mim aquela maravilha.
Sem poder resistir você gozou e minha boca foi inundada pelo mel de seu prazer. Nunca antes em minha vida tinha experimentado algo tão saboroso. Só parei ao ouvir sua voz aflita:
– Por favor, Maurício. Pare um pouco. Pare senão eu não vou conseguir fazer mais nada.
Levantei o rosto e olhei para você que, conseguindo se recompor um pouco, veio lamber meu rosto ensopado com o seu gozo antes de me beijar. Depois falou:
– Meu Deus, menino! Que diabos foi isso? Você quase me mata de gozar. Já gozei duas vezes.
Sinceramente, não sei dizer se isso foi verdade. Não sei se você gozou uma, duas ou dez vezes. Além disso, diante da realização de um desejo guardado por tanto tempo, quem é que vai se lembrar de contar?
Em seguida, com expressão irônica, você fez com que eu prometesse que iria ficar imóvel e começou a me despir. Você fez dessa tarefa uma ocasião muito especial para mim. Beijando cada parte do meu corpo que ia se revelando, você me fez amar ainda mais, muito embora e já considerasse isso algo impossível.
Quando finalmente retirou a minha cueca, meu pau deu um salto ao se livrar do elástico e bateu com força na minha barriga para depois se erguer um pouco. Ele estremeceu ao sentir o primeiro contato de sua boca. Foi um beijo na parte inferior da glande e a sensação só não fez com que ele se chocasse com seu rosto porque você já o pressionava com sua boca.
Fiquei admirado da sua experiência em dar prazer a um homem com sua boca maravilhosa. Com uma das mãos apoiada em minha coxa e a outra no meu peito, você explorava meu cacete usando apenas a boca. Beijou e lambeu toda a extensão, deu beijos e leves chupões no saco, voltou a deslizar com sua língua por ele até chegar à cabeça onde manobrou para conseguir cobrir toda a cabeça com seus lábios carnudos. A leve sucção somada à maciez de sua língua contornando a glande exigiu de mim um esforço supremo para evitar o gozo instantâneo. Mas não consegui resistir por muito tempo, pois quando você o abocanhou se esforçando para tê-lo por completo dentro de sua boquinha eu gemi alto num prenúncio de que o orgasmo começando. Você simplesmente ignorou esse aviso e começou a movimentar a boca e, antes do quinto movimento, levantei o quadril para forçar o máximo de penetração em sua boca ao mesmo tempo em que meu pau pulsava e a enchia com o leite do meu prazer.
Você não recuou. Apenas se afastou um pouco para dar espaço em sua boquinha que estava totalmente recheada com meu pau e continuou sugando como uma bezerrinha se alimentando em na mãe.
Apenas quando eu deixei meu corpo largado sobre a cama, você levantou o seu e ficou sentada para encenar a mais erótica cena de minha vida. Primeiro abriu a boca para que eu tivesse a visão do leite que dentro dela. Depois a fechou e vi o movimento indicando que engolia e depois a abriu para que eu me certificasse que não havia mais nada ali. Para coroar aquela cena, você me dedicou seu lindo sorriso antes de falar:
– Nossa! Que delícia! E pensar que sempre esteve aí esperando por mim. – Olhei para você com uma expressão de quem não havia entendido direito e você explicou: – Sempre foi pra mim que você quis dar essa porrinha gostosa, não foi? Porque eu vou ficar muito decepcionada se você disser que foi para outra.
Então você sabia. Você sempre soube do amor por você.
Você se deitou ao meu lado anunciando que deveríamos descansar, porém, não foi isso que fez. Suas delicadas mãos continuavam a explorar meu corpo, com uma delas se dedicando especialmente a reerguer o pau.
Não sei dizer se foi a maciez de sua mão ou sua voz sensual me falando ao ouvido o quanto estava gostando de fazer sexo comigo que não demorei a reagir. Logo você estava sentada em cima de mim, quicando como rapidez enquanto seus olhos giravam em sua órbita e tudo o que eu conseguia era me controlar para não gozar logo. Eu não podia ainda. Eu tinha que me resguardar para poder dar a você todo o prazer que poderia conseguir.
Então tive minha noite de herói. Você gozou cavalgando meu corpo e não teve tempo para descansar, pois logo eu já tinha te derrubado na cama e, no tradicional papai e mamãe, pude apreciar por mais tempo seu rosto enquanto meu pau navegava no mar macio e cálido de sua buceta. Não dá para expressar em palavras a sensação de assistir suas reações de desejo e prazer e a principal delas, que foi a que fez quando gozou mais uma vez aos gritos. Minha resistência foi para o espaço e voltei a gozar dentro de você.
Eu queria mais. Acho que você também. Só que não há como deter o tempo e o dia já estava amanhecendo. Com seu poder de persuasão, você me convenceu a tomar um banho depois de você ter tomado o seu e, quando sai do banheiro você já estava vestida, voltando a ser a linda e intocada garota que tinha entrado comigo no motel.
Se a noite foi maravilhosa, o caminho até sua casa foi o meu calvário. Melhor dizendo, o início dele. Depois de combinarmos que tínhamos resolvido passar em um barzinho e ficarmos conversando no mirante de nossa cidade vendo o sol nascer, desculpa essa criada por você para que alinhássemos as declarações que daríamos ao sermos interrogados quando chegássemos em nossas casas, veio a pior parte.
Eu, todo feliz e esperançoso, já fazia planos para nossa vida futura. Como eu iria me programar para, depois que nos casássemos, vivêssemos felizes para todo o sempre. Então você me informou que havia uma coisa que eu não sabia ainda e que era por culpa dela. Para meu desespero, fui informado de você estava noiva e com casamento marcado para dali a três meses.
Primeiro quis saber o significado daquilo. Depois, sem nenhuma resposta que me deixasse satisfeito e já irritado, fiz a pergunta que nunca deveria ter feito. Eu queria saber qual o motivo de você, estando noiva, ter transado comigo.
Com toda a paciência do mundo, você explicou que sempre teve vontade de fazer isso. Que desejava saber como era com outro homem, uma vez que até aquele dia só havia transado com seu noivo. Tentou amenizar essa informação dizendo que ser eu o único com quem você teria a coragem de se entregar.
Perdi de vez a calma e te ofendi. Não por querer te machucar, mas apenas movido pelo desespero de ver minhas esperanças terem sobrevivido por menos de algumas horas. Não perdi tempo na escolha das palavras e despejei todas as que entendia ser ofensiva em cima de você. Ninfomaníaca, puta e algumas outras foram as mais amenas. Acredito ter recitado todo o vocabulário usado em filmes pornôs.
E você não se defendia. Apenas me olhava com expressão de incredulidade ou de ofendida, sem dizer nada. A única coisa que disse foi respondeu à minha desesperada ameaça de chantagem dizendo que ia contar para o Cássio. Sua voz foi firme e clara ao dizer:
– Nem se preocupe com isso. Eu mesma vou contar ao Cássio e, se ele não conseguir me perdoar por isso, então é melhor que a gente nem se case.
Vendo minha principal arma ser desativada, voltei às ofensas. Quando chegamos diante do prédio que você morava, você ainda tentou me dar um beijo de despedida e eu virei o rosto. Então você abriu a porta do se lado, saiu e ficou parada ao lado do carro. Não sei se foram alguns segundos ou mais de um minuto, pois para mim pareceu uma eternidade até que você, antes de fechar a porta, inclinou-se para poder me olhar nos olhos e falou com sua voz macia:
– Eu também amo você, Maurício.
Dizendo isso, aprumou o corpo, fechou gentilmente a porta e saiu andando com seu andar sensual, sem olhar para trás, fazendo minha raiva desaparecer por completo.
Cheguei a minha casa no momento exato em que acontecia o desmonte do batalhão de resgate que minha família havia montado para sair a minha procura. Sua mãe já havia ligado avisando que eu estava bem e a caminho.
A imagem de seu corpo se afastando de mim, sem olhar para trás foi minha companheira nos quinze anos seguintes. Incrível isso. Eu tive todas as imagens suas que tanto ansiava até aquela noite e depois, a que permaneceu foi você se afastando de mim.
Logicamente não compareci ao seu casamento. Esse foi o dia que tomei o maior porre da minha vida. Depois do porre, a pior ressaca, porque ressaca acompanhada de dor de cotovelo tem efeito dobrado.
Passei quinze anos da minha vida me policiando para não gostar de ninguém. Dentro do meu peito um coração despedaçado batia ao compasso de uma única esperança. Você deu a luz a uma menina seis meses depois do seu casamento e, fazendo as contas, cerca de nove meses depois de nossa noite de amor. Na minha cabeça, a certeza de que havia deixado em ti a semente do meu amor me reconfortava.
Para tentar me livrar da solidão me casei. Foi um casamento de conveniência não declarada. Eu me livrava de minha solidão e ela se livrava de uma família desestruturada. Isso tudo só para que eu descobrisse três anos depois que a solidão na companhia de outros é muito pior. Ela também percebeu que era mulher o suficiente para encarar o mundo sem ter um casamento desprovido de amor, aceitou a proposta de divórcio sem problemas, e nos tornou grandes amigos. O que somos até hoje.
Com o passar do tempo encontrei na prática do sexo por simples prazer uma válvula de escape. Para tanto, procurava me relacionar com mulheres que tinham o mesmo objetivo que eu, o que me levou a conhecer muitas que eram casadas. Entre elas, aquelas que os maridos sabiam, alguns participavam, outros apenas gostavam de assistir e tinham aqueles que nem apareciam, mas que gostavam e ouvir o relato dela quando voltava para casa. Acredito até que teria aceitado casar com uma mulher como elas só para contar com o sexo onde o sentimento de amor não entrava na equação. Não aconteceu. Não sei se não tive coragem ou se foi por não ter encontrado a mulher certa, afinal, a grande maioria das mulheres com quem eu transava já eram casadas e vivia uma relação muito boa com seus maridos.
Houve um único episódio que voltou a abalar minha confiança durante esses quinze anos. Cerca de oito anos depois de nosso último encontro, eu que viajava bastante, tive que visitar uma cidade próxima àquela onde havíamos crescidos, você e eu.
Como era costume fiz amizade com outros hóspedes e um dia fui convidado para acompanhar um deles para ir a uma festa. Era aniversário da esposa do Diretor local e ele já informado levaria mais um convidado. No caso eu.
O fato de aquele ser o dia do seu aniversário para mim não passou de uma simples coincidência e, pelo simples fato de não querer chegar à casa de estranhos, sendo a dona da casa a aniversariante de mãos vazias, quis comprar flores para dar a ela e perguntei o nome da aniversariante para escrever no cartão. Quando ele pronunciou seu nome fiquei sem chão. Uma mulher chamada Vera e fazendo aniversário no mesmo dia que a minha prima que tinha o mesmo nome não era coincidência.
Perguntei então o nome do marido e ao saber que era Cássio entrei em parafuso. Só me lembro de ter inventado uma desculpa qualquer e usar a palidez de que fui acometido para criar uma desculpa e voltar para o meu quarto.
Na manhã seguinte peguei o primeiro voo de volta para a cidade onde morava e tive um enorme trabalho para justificar o ato irresponsável e conseguir a indicação de alguém para ir até lá me substituir.
Entre atropelos, e transas com mulheres pertenciam a outros maridos, sobrevivi por mais sete anos até que um novo setembro trouxe novamente a primavera. Eu, sempre viajando, estava na capital do estado onde fica nossa cidade.
Depois de nove dias na cidade, já acostumado à rotina, resolvi me utilizar do transporte público para me deslocar da empresa até o hotel. Era um horário tranquilo, quando o número de usuários é bem menor, pois eu havia separado alguns documentos e resolvera fazer um relatório no hotel e usei o metro, tendo que trocar de linha em uma estação que fazia essa conexão.
Saí do trem que estava e me dirigi à plataforma para aguardar ao outro. Estava absorto prestando atenção na organização que existe no metrô quando ouvi o som de saltos que pararam ao meu lado. Isso só podia significar que havia ali uma mulher elegante, pois o som dos saltos se chocando contra o piso da plataforma indicava que aquela dominava bem a arte de desfilar em público. Restava apenas saber se era bonita. Então virei o rosto com cuidado para não parecer inconveniente caso ela estivesse me olhando.
E estava. Os olhos azuis e oblíquos se arregalavam e a boca semiaberta dava a ideia de que você estava tendo dificuldades em respirar. Nossos olhos se encontraram e senti o mundo girar, principalmente quando você, perdendo o equilíbrio, deixou o corpo cair de encontro ao meu e tive que segurar com energia para impedir que ambos caíssemos no chão.
Esses gestos, embora não intencional, não era para ter acontecido. Nunca. Com você em meus braços, nossos rostos quase se encostando e sua boca sensual entreaberta mostrando seus dentes perfeitos foi mais do que eu podia resistir. Sem pensar em nada e sem nenhum comando racional, encostei minha boca à sua e a beijei, colocando nesse beijo todos os quinze anos de saudades e desejos.
Você correspondeu e o beijo durou até que o trem parasse e a porta se abrisse a menos de um metro de onde estávamos. Nossa posição atrapalhava a quem desejasse embarcar, porém, ninguém nos olhava com irritação por causa disso. O que se via na expressão das pessoas que passavam por nós era algo que ia da congratulação à inveja. Conseguimos nos recompor no tempo exato para embarcarmos.
No vagão quase vazio, uma jovem que ocupava um dos assentos do banco duplo e que assistira ao nosso beijo se levantou e nos olhou com uma expressão que dava a entender que mudava de lugar para que ficássemos juntos.
Foi tudo muito estranho. Nós dois ali, sentados um ao lado do outro e as palavras não surgiam. Minha cabeça rodava em um turbilhão de emoção e o prazer de fitar seu rosto para mim já era o suficiente. Tão suficiente que não a beijei.
Quando foi anunciado o nome da estação onde eu desceria me levantei. Eu não queria fazer nada que pudesse ficar gravado em minha mente depois que você desaparecesse. Para mim, sua imagem ali sentada, com seus olhos azuis me encarando já era o suficiente. Mas quando o trem estava parando senti uma leve pressão em meu ombro. Era você que, impulsionada pela desaceleração do veículo se apoiou em mim. Nada fiz. Nem naquele momento nem no seguinte quando a porta se abriu e você segurou minha mão, deixando-se ser conduzida.
Não trocamos nenhuma palavra no curto tempo que levamos para chegar ao hotel. Nem mesmo precisei explicar ao recepcionista do hotel o que acontecia, pois quando comecei a falar ele já estendia a mão e segurou o documento de identidade que você lhe entregava. Fiquei ali olhando você preencher a ficha de registro e nem percebi que o funcionário havia colocado a chave do meu apartamento sobre o balcão. Foi você que, ao entregar a ficha a ele pegou a chave e voltou a segurar minha mão. Dessa vez fui o conduzido era eu.
Dentro do elevador você aguardou até que percebi que era eu que tinha a informação sobre qual andar iríamos. Apertei o botão e olhei para você com um olhar de desculpas e você sorriu.
Nada foi dito. Palavra nenhuma podia expressar o que eu sentia naquele momento. Principalmente quando, ao fechar a porta atrás de mim você já estava me abraçando e me oferecendo sua boca para um beijo apaixonado. Livramo-nos das roupas sem descolar nossos lábios. Mesmo quando nos separamos para sua blusa sair por sua cabeça, nossos lábios agiram como se estivessem dotados de um imã que se atraía e logo voltavam a se encontrar.
Foi beijando que nos deixamos cair na cama e foi beijando que senti sua mão macia segurar meu pau e direcionar para a entrada de sua xoxota. Como animais começamos a nos movimentar como se estivéssemos em uma luta onde o objetivo era o de imobilizar o adversário, pois nossos corpos pareciam ter vontade própria e se tornava necessário o uso de força para que aquela sublime ligação não se desfizesse. Então emitimos sons pela primeira vez. E não foram palavras, mas sim gemidos de sublime agonia quando o prazer ultrapassou o limite do imaginável.
Com a mente embotada e os olhos toldados por uma estranha névoa, eu conseguia apenas ver seu vulto se movimentando para sair debaixo de mim e usei o resquício de sanidade que ainda possuía para te auxiliar nessa tarefa deixando que meu corpo caísse para o lado e ficasse ainda grudado ao seu. Nossas respirações ruidosas soavam como um dueto afinado e mais tarde me questionei se o ar que expirávamos não seria parte de nós cobrando por uma maior aproximação e se enroscando através ao deixar nossos corpos exaustos.
Foi uma tarde mágica. Foi o outro dia mais feliz da minha vida.
Depois que nos recuperamos você se entregou ao sexo como se há muito tempo estivesse sem transar e eu me esforçava para retribuir na mesma medida aquele sublime prazer. Mas você se esmerou e superou qualquer coisa que eu pudesse algum dia ter experimentado.
Quando você se deitou de bruços na cama e eu comecei a beijar suas costas descendo até o bumbum você levantou o quadril deixando visível seu cuzinho marrom. Não resisti e passei a língua naquele lindo botão de rosa e você gemeu antes de perguntar:
– Você quer aí também? Você quer foder o meu cuzinho?
Nessa hora eu, como não poderia deixar de ser, cometi o erro que eu sabia que em algum momento cometeria e perguntei se o Cássio já tinha feito isso com você e, como era de se esperar, não gostei quando você respondeu:
– O Cássio faz tudo comigo.
Porra, como fui idiota. E mais idiota ainda quando deixei minha raiva fluir ao ouvir isso. Sorte minha que você usou o poder que sempre teve em me dominar e usou o seu sorriso antes de me desafiar:
– E aí? Vai querer ou não? Olha que você não sabe quando terá outra oportunidade.
Aquela não era a hora de sentir ciúme ou de discutir a relação. Era hora do prazer. Então me inclinei sobre sua bunda e me pus a lamber seu rabinho enquanto meus dedos exploravam sua xoxota e retirava dali o suco que era usado para lubrificar aquele lindo buraquinho. Foi você que se deu por satisfeita. Foi você que levantou seu bumbum e me chamou para experimentar o maravilhoso fruto que me oferecia. Eu, como um escravo do desejo que sentia por você, fui apenas o macho obediente que lhe deu tudo o que você pedia, obtendo como recompensa um orgasmo que quase me deixou sem sentidos.
Depois do sexo, pouca conversa. Não houve sequer tempo para saber o que você estava fazendo naquela cidade, apenas para você justificar nosso encontro como uma coincidência. Acreditei nessa sua versão, lógico. Afinal de contas, era um sonho grande demais pensar que você havia provocado aquele encontro por me desejar.
Fora isso, apenas a resposta que você deu quando lhe perguntei se você havia contado ao Cássio a respeito de nossa transa de quinze anos atrás. Você, com uma expressão séria, contou que sim e antes que eu perguntasse explicou que a reação dele não foi boa e aquilo quase fez com que cancelassem o casamento. Só posteriormente, depois que a filha nasceu que ele passou a aceitar aquilo como algo de seu passado.
Ao falar da filha, senti meu corpo arrepiar. Só de imaginar que aquela filha poderia ser minha eu já ficava próximo ao descontrole. Não sei se você notou e foi isso que fez com que tomasse a iniciativa de me mostrar a foto de sua filha, uma linda garota adolescente, tive um choque.
Pedir exame de DNA para provar um caso de paternidade no caso da filha de sua era algo que beirava a idiotice. Ao olhar para aquela imagem eu vi na minha frente algo que podia ser denominado como ‘um exame vivo e ambulante de DNA’.
Tirando apenas os olhos que eram iguais aos seus, o rosto da garota era uma cópia aperfeiçoada do rosto de Cássio. Ninguém, em momento algum poderia duvidar de que a garota era filha dele.
Você, que já estava vestida, me deu um selinho e se foi. Fiquei ali no quarto olhando para a porta que eclipsou sua linda imagem e fiquei perdido em meus pensamentos, sem saber se ria ou se chorava.
Depois daquele dia voltei a manter contato mais assíduo com minha família e obtive algumas informações a seu respeito. Soube que você e seu marido tinham se mudado para a Capital em virtude das sucessivas promoções que ele conquistou na empresa que foi trabalhar depois de concluir a faculdade, ocupando o cargo de diretor.
Então você tinha dito a verdade. Eu te encontrei na cidade que você morava e pode sim ter sido uma mera coincidência. Uma feliz coincidência.
Mas as notícias que recebia de você e do Cassio eram sempre vagas e se referindo ao passado. Uma viagem que você fez ao exterior, a promoção dele que agora era Diretor Internacional com várias viagens para fora do Brasil. Nunca ninguém jamais pronunciou a frase que eu sonhava ouvir, que seria uma informação de que você tinha sido vista na mesma cidade que eu.
O tempo foi passando, mas sua presença por duas vezes ao meu lado nunca pertenceu ao passado, pois a lembrança dessas duas ocasiões eram sempre tão forte que havia momentos em que eu chegava a sentir o seu gosto e o seu perfume. Nesse tempo todo a minha vida também mudou e vim morar na mesma cidade que você mora. Pelo menos na cidade que acho que você mora, pois foi onde a encontrei pela última vez.
Há pouco mais de um ano, assistindo o noticiário sobre o acidente de um voo com destino à Europa e que caiu no Oceano Atlântico fui surpreendido com o nome do seu marido na lista dos passageiros. Tive que me controlar para não te procurar. Não queria compartilhar de sua dor. Para mim, ver você sofrendo era uma adição ao sofrimento que sentia e não sei se conseguiria suportar.
E porque, depois de trinta anos de nossa primeira vez, tendo apenas um reencontro, estou te escrevendo!
Não sei dizer ao certo. Hoje acordei com uma impressão de que alguma coisa relacionada a você havia acontecido. Como todo humano curtido no sofrimento de um amor distante, comecei a pensar no pior. Teria alguma coisa acontecido com você para eu ficar com essa sensação de que você está por perto?
Rezo para que não seja isso. Rezo para que eu esteja errado. Eu posso muito bem viver apenas com as lembranças que tenho de seu lindo corpo se retorcendo sob o meu e do gosto saboroso do seu prazer. A lembrança de seus lábios macios pressionando minha boca me dá forças para seguir em frente e eu vou vivendo.
Porém, minha querida Prima Vera, se há algo que não sei se consigo fazer é viver sabendo que você não existe mais. Eu não saberia viver em um mundo onde você não existe e meu coração sangra só por imaginar que pode ter acontecido alguma coisa que a levou para sempre.
Isso quer dizer também que muito provavelmente você nunca lerá o que está escrito aqui. Mas é uma coisa que eu tinha que fazer. E foi na hora certa. Estamos no final do mês de setembro, a nossa estação preferida já começou e amanhã completam exatos quinze anos que te vi pela última vez e mais ou menos trinta que estivemos junto da forma que sempre quis pela primeira vez.
Então, só me resta alimentar a esperança que você está bem. Eu vou me...
MALDITO INTERFONE.
Abandonei o computador e fui atender o aparelho na cozinha, ouvindo a voz do zelador do prédio:
– Senhor Maurício. Tem uma mulher aqui que quer subir para falar com o senhor.
– Sim, e quem é essa mulher.
– Ela não quer dizer o nome. Diz apenas que é parente lá da sua cidade.
Receber visitas dos meus parentes do interior é constante. Sem me preocupar em que ele devia insistir em saber o nome da pessoa que subia, autorizei a entrada da visitante.
Mal coloquei o interfone no lugar e já estava arrependido. Isso tinha todo o jeito se ser algum tipo de golpe ou talvez, na melhor das hipóteses, alguma vendedora mais atrevida que usava esse artifício para poder entrar nos prédios e incomodar aos moradores.
Pensando nisso, me preparei para qualquer uma das ocasiões. Segurando uma faca de cozinha que não sei sequer se serviria para alguma coisa, pois nunca fui treinado em defesa pessoal e com a cabeça fervilhando em respostas mal educadas para o caso de ser uma vendedora, fiquei próximo à porta.
Ouvi o elevador chegar ao meu andar e ouvi o barulho dos saltos no mármore do hall de entrada. Aquele som do salto contra o chão frio e duro já mexeu com minha imaginação e abri a porta rapidamente.
Vera! Minha prima Vera estava naquele exato momento levantando a mão para alcançar o botão da campainha e parou seu movimento na metade. Ficamos nos encarando até que ela sorriu e me falou:
– Você vai me convidar para entrar ou vai enfiar essa faca no meu peito?
Joguei rapidamente a faca para o lado e a puxei para mim. A porta ainda não se fechara e nossas bocas já se encontravam em um beijo apaixonado. Vera me empurrou e só teve o tempo de falar:
– Agora sou uma mulher livre. Quer dizer, sou uma mulher que poderia ser livre, mas que está presa em um sentimento não resolvido. Por isso estou aqui. Tudo o que quero agora é ser sua.