*EXPLICAÇÕES DE HANNA*
Eu vou dar uma boa resumida para você se não vamos ficar aqui a noite toda.
Eu moro sozinha desde meus 18 anos. Minha mãe faleceu quando eu era pequena. Não lembro muito dela. Meu pai se casou de novo depois de um tempo e não me dei bem com minha madrasta. Desse casamento tive mais dois irmãos. Eu tentava até me dar bem com eles, mas não deu muito certo. Meu pai sempre ficava contra mim em toda discussão que eu tinha com eles ou minha madrasta.
Isso me deixava muito mal. Então além de estudar eu comecei a trabalhar desde de cedo. Todo dinheiro que eu ganhava eu juntava porque eu queria sair daquela casa. Quando completei 18 anos peguei todas minhas coisas e saí de casa. Aluguei um apartamento pequeno e fui construir minha vida sozinha.
Meu pai nem se preocupou em ir me procurar. Sinceramente já esperava por isso, mas mesmo assim eu fiquei muito triste. Dois anos depois ele faleceu. O que me tocou da sua herança comprei minha moto que era meu sonho. Depois disso foi estudar e trabalhar. Nessa época já sabia que meu interesse era só as mulheres. Ficava com algumas aqui e ali, mas nunca namorei sério.
Me formei em enfermagem, mas nunca trabalhei na área, porque através de uma amiga eu consegui um trabalho em um bar trabalhando de garçonete. Como os clientes eram na maioria ricos eu ganhava muitas gorjetas.
Sei que sou uma mulher bonita e sabia que as gorjetas não eram por causa só do meu atendimento, tinham segundas intenções. Mas eu sabia lidar com isso e levava a situação numa boa.
Depois de algum tempo fiz amizade com o bartender e sua esposa. Nos tornamos bons amigos. Aprendi com eles a fazer coquetéis e alguns malabarismo com os copos. Eu tinha jeito com a coisa e quando eles saíram para abrir seu próprio negócio eu fiquei no lugar deles.
Eu ganhava bem. Meu patrão me tratava muito bem e eu gostava do que fazia. Depois de um tempo o filho do meu patrão começou a ir direto no bar. Seu nome era Paulo. Conversamos algumas vezes e ele me pareceu ser um bom homem. Só que belo dia ele me convidou pra jantar com ele. Vi que ele queria sair para um encontro.
Achei melhor falar a verdade para ele. Ele se desculpou e disse que não fazia ideia que eu era lésbica. Mas o convite pro jantar ainda estava de pé, porque tinha gostado muito de mim. Se a gente não podia ser um casal de namorados, poderíamos ser um casal de amigos.
Eu aceitei o convite. Depois disso nossa amizade só cresceu. Ele contou que tinha ficado cinco anos preso e que estava começando tudo de novo. Que agora queria fazer as coisas certas.
Bom, isso não durou muito. Comecei a ver ele sempre com uns caras meio suspeitos. Sempre chegava e ia pro escritório do seu pai.
Eu nunca perguntei nada nem comentei nada. Como eu sempre era a primeira a chegar e a última a sair, ver aquela movimentação ali era frequente.
Minha amizade com ele continuou. A gente tinha bons papos. Ele era divertido e a gente se dava bem.
Um dia eu já ia sair para ir pra casa. Era quase seis da manhã quando Paulo me chamou e disse que precisava de ajuda. Eu perguntei o que era e ele disse que tinha um amigo ferido no carro. Que ia trazer ele pro escritório e precisava que eu ajudasse já que eu era enfermeira. Ele disse que eles não podiam levar o amigo para um hospital.
Eu disse que se eu pudesse ajudaria, mas que eu nunca tinha trabalhado como enfermeira depois que me formei. Talvez eu não fosse útil. Ele disse que o amigo só precisaria de uns pontos. É um curativo. Falei que isso eu podia fazer.
Trouxeram o amigo. Eu fui ao escritório e o ferimento foi no braço. Na hora vi que foi uma bala que fez o ferimento. O cara deu sorte. O tiro pegou de lado e do jeito que a bala entrou ela saiu. Ficou dois buracos. Um pequeno onde a bala entrou e um maior onde saiu.
Falei pra Paulo de tudo que eu precisava. Ele pegou um kit de primeiros socorros ali mesmo. Saiu e foi em uma farmácia 24 horas e trouxe o restante. Limpei o ferimento, costurei, fiz um curativo e falei que o homem precisava tomar uns remédios para não inflamar. Ele tinha que trocar o curativo todos os dias. Se fizesse isso logo ficaria bem. Mas o bom mesmo seria ir ao médico para ter certeza que a bala não acertou nenhum nervo ou músculo do braço.
Paulo disse que ia dar um jeito de levar ele em algum médico se caso tivesse alguma complicação. Quando eu estava saindo, meu patrão chegou. Quando me viu ali fechou a cara e perguntou a Paulo se ele estava maluco de me levar ali. Eu só fiquei calada e sinceramente com um pouco de medo.
Paulo disse que foi uma emergência e que confiava em mim. Que eu nunca fiz perguntas. Que eu sempre fui na minha e além disso eu era a melhor amiga dele.
Meu patrão me olhou e disse que era para eu ir pra casa que estava tarde. Assim eu fiz. Nunca mais toquei no assunto, nem com Paulo e nem com meu patrão. Mas vi que meu patrão começou a me tratar melhor ainda. Passo a ter mais confiança em mim. Como me deixar na gerência do bar. Ter minha própria chave. Fechar o caixa e abrir o bar mesmo quando ele viajava.
As coisas iam bem no meu trabalho. Nunca mais teve nenhum incidente do tipo, mas o movimento de alguns homens estranhos no escritório do meu patrão continuava. Eu nunca comentei com ninguém nem perguntei nada. Eu ganhava bem, gostava do meu trabalho e eles não me incomodavam.
Eu estava juntando dinheiro para comprar um canto para mim, mas isso ia demorar uns 10 anos pelas contas que eu fiz. Minha vida amorosa não existia. Na verdade nunca existiu. Eu tinha alguns rolos, mas nunca durava muito.
Bom, há uns quatro meses atrás Paulo falou que ele é meu patrão queria conversar comigo no escritório. Quando entrei meu patrão foi direto comigo. Ele disse que iria me fazer uma proposta.
Ele disse que ficou sabendo de um grande carregamento de diamantes contrabandeados do norte da África que iria chegar em Portugal. Sabia quem era o contrabandeador e onde ficariam os diamantes. Ele estava planejando um assalto, mas precisava de uma pessoa de confiança para verificar o lugar sem levantar suspeitas. Que eu poderia ser essa pessoa. Era só entrar,m e olhar como tudo funcionava no local. Que se eu aceitasse me daria xxxxx em dinheiro. Mas se eu não quisesse tudo bem. Falou que eu tinha três dias para pensar.
O valor que ele me ofereceu iria diminuir alguns anos de economia para eu adquirir meu apê. Então aceitei. Eu não ia roubar nada nem participar de mais nada. Só entrar, olhar e passar as informações para eles.
Me falaram o local, o que olhar, as informações que poderiam ser importantes e foi assim que eu fui para na joalheria que você trabalhava. Eu só ia ver os preços de umas jóias para enrolar um pouco e sair com as informações que coletasse.
Mas aí eu te vi e simplesmente me encantei com você. A história da namorada eu inventei na hora só para ficar conversando com você. Você era linda, simpática e o jeito que você me olhava me encantou. Eu simplesmente me apaixonei por você naquele momento.
Bom, saí dali e passei o que eu tinha visto pro meu patrão. Recebi o dinheiro e fui para meu apartamento. Mas você não saia da minha cabeça.
Eu sabia que você era noiva, mas o jeito que você me olhou me deu a esperança de que você também tinha gostado de mim. Fora que você ficava toda sem graça com minhas indiretas. Bom, então pensei em voltar lá depois do assalto para tentar algo com você. Foi aí que eu me toquei que você provavelmente iria estar lá e algo poderia acontecer com você. Eu não podia te avisar. Mas eu precisava fazer algo. Pela primeira vez eu resolvi falar com Paulo dos negócios dele e do meu patrão.
Perguntei a Paulo se ele iria participar do roubo e ele disse que não. Que o roubo seria feito por pessoas acostumadas a esse tipo de situação. Que o único contato que teria com eles era por telefone. Disse que não os conhecia e eles não conheciam ele. Que o pai ficou sabendo dos diamantes porque um guarda da joalheria sabia de tudo e procurou um amigo do pai para fazer o serviço. Mas esse não quis porque era algo muito grande. Esse amigo procurou o pai dele, mas o pai falou que não fazia esses serviços. Que só vendia e comprava produtos de roubo, mas só isso.
Mas o pai dele queria sim os diamantes. Seria sua aposentadoria. Ele coletou algumas informações e colocou gente de confiança para descobrir qual era o guarda. Depois de descobrir ele entrou em contato com ele por telefone. O guarda topou o negócio. Passou todas as informações e ajudaria com o sistema de segurança.
Paulo disse que entrou em contato com um assaltante amigo dele. Esse passou o número de um homem que passou o número de um espanhol e um italiano que faziam esse tipo de assalto. Combinaram tudo. Então na próxima segunda os homens iriam entrar, roubar os diamantes e entregar pro pai dele que venderia os diamantes. Depois dividiriam o dinheiro e pronto.
Então eu perguntei ao Paulo se os assaltantes resolverem fugir com os diamantes, como ficava?
Ali eu plantei a semente da desconfiança na cabeça dele. Ele disse que iria ver com o pai direitinho, mas não tinha muito o que fazer.
Aí eu sugeri que era bom ter alguém de confiança com os ladrões. Ele disse que seria complicado porque o pai não queria ter seu nome ligado a esse roubo. E também não queria que ele tivesse. Então não tinha como ter alguém de total confiança.
Ai eu disse que eu iria se ele quisesse. Ele falou que eu só podia estar doida em pensar isso. Aí eu disse que se o plano fosse bom não iria ter problemas e que eu sabia pilotar bem uma moto. Poderia ser útil na hora de sair com os diamantes. Ele disse que até fazia sentido, mas que não queria eu lá sozinha. Falou pra eu esquecer o assunto.
Eu estava desesperada. Não podia nem imaginar como seria se algo de mal te acontecesse. Na noite daquele dia meu patrão me chamou no escritório. Ele disse que Paulo tinha falado o que eu disse e que realmente o risco de perder as joias para os assaltantes era algo para se pensar. Que uma moto na hora de tirar as jóias era bem mais prático, mas que não ia deixar eu ir sozinha. Paulo iria comigo.
Era simples, a gente iria entrar com a ajuda do guarda antes de abrir para atendimento. Render os funcionários e usar a amante do dono para obrigar ele a abrir o cofre de segurança do escritório. Pegar as joias e sair. Eu e Paulo as levaria de moto até o túnel. Entregaria pro meu patrão. Trocaria de roupa e iria para um lugar seguro. Meu patrão venderia as joias e dividiria o dinheiro. 40% para gente, 50% pros outros assaltantes e 10% pro guarda. Daria uma pequena fortuna para cada.
Bom, o resto você sabe. A gente foi lá. Eu fiz o que fui para fazer e saímos com as joias. Porém algo deu errado na fuga com os outros assaltantes. Eu só sei que quando chegamos no bar vimos na TV que todos tinham morrido e um estava preso. Bateu o desespero porque talvez de alguma forma poderiam chegar até nós. Eu estava com muito medo de você me entregar porque com certeza a polícia iria te interrogar. Foram os piores dias da minha vida.
Meu Patrão fugiu para a Suíça. Eu e Paulo ficamos escondidos aqui nessa casa. Depois de dois meses aqui Paulo resolveu ir pra Suíça também. Eu fiquei aqui sozinha. Eu via as notícias todos os dias sobre o assalto. Uma amiga minha ia no meu apê pegar minhas correspondências e eu transferia dinheiro para ela pagar o aluguel. Eu sempre perguntava se alguém tinha me procurado, já que ela mora no mesmo prédio. Ela disse que não tinha visto ninguém me procurando.
Então imaginei que você não tinha me entregado. Então sábado passado Paulo me ligou. Falou que o pai tinha vendido as jóias e que no meio da semana eu receberia meu dinheiro. Eu sinceramente não estava nem aí com isso. Eu só fui lá pra tentar te salvar. E depois do que rolou lá e de saber que você não tinha entregado eu tinha uma decisão a tomar. Ir embora e começar uma vida nova em outro país sem você . Ou ir te procurar e correr o risco de ser presa ou de ser recusada por você.
Bom, você sabe qual decisão eu tomei. Graças a Deus você não me entregou e nem me recusou até agora.
Bom, é isso.
Carla: Eu tenho uma pergunta. Foi você ou Paulo que matou o guarda que ajudou vocês? Ou foram vocês dois?
Continua.