Voltando aqui para dar continuação ao nosso relato. Muito feliz por saber que estão gostando.
Fui logo para o quarto, fechei a porta, larguei a toalha na cama. Peguei uma cueca da gaveta, que por sinal estava uma bagunça.
Pelado em frente ao espelho comecei a reparar em mim, percebi que nunca fazia isso.
Sempre fui um cara normal, nunca achei que fosse bonito. Estou um pouco acima do peso, mas bem distribuído.
Olhei de lado, de frente. Será que ele se sentiria atraído por mim? Parei de pensar nisso. Vesti a cueca, coloquei o desodorante, e também uma calça de moletom e uma camiseta.
Quando cheguei na sala ele já estava procurando algo na tv. Pelo cabelo, apesar de estar bem curto, estava molhado, então notei que terminou de tomar banho e veio logo.
Abriu duas cervejas e me passou uma.
- E ai? Tudo bem?
Respondi que sim e perguntei como ele estava.
- Estou bem. Um pouco pensativo. Mas bem.
Senti uma pontada de arrependimento, ele estava nitidamente preocupado. Comecei a falar com o estômago embrulhado:
- Me desculpa, cara. Acho que eu me precipitei um pouco. Nunca quis deixar você mal com essa situação toda.
Ele me olhou com cara de quem não acreditava no que tinha acabado de ouvir.
- Desculpa pelo que? Por ter falado a verdade? Por também ter se aberto comigo? Eu me abri contigo porque eu achei que fosse o momento. Perdi as contas durante todo esse tempo de quantas vezes quase falei a verdade pra você e dei pra trás. Não estou mal, e sim aliviado.
Interrompi ele.
- Aliviado? Porque?
Ele continuou falando.
- Depois de tudo o que eu falei, eu esperava desaprovação da sua parte. Sei lá. Algo assim. E você nem sequer me julgou. E ainda se abriu comigo. No começo até achei que você estivesse tirando com a minha cara. Mas hoje me sinto aliviado.
Fiquei tranquilo ao ouvir aquilo.
- Jamais julgaria você. Primeiro: estamos no mesmo barco. Segundo: não tem o que ser julgado.
O entregador buzinou na frente de casa e ele saiu correndo. Peguei mais cerveja enquanto isso.
Ele voltou com a pizza nas mãos e uma cara de quem ia me dar uma facada ali mesmo.
- Estava pago. O que foi que eu falei?
Eu ri, preparado pra tomar um soco no ombro.
- Na próxima você paga. Além do mais a sua companhia aqui hoje paga qualquer coisa.
Aquilo saiu não da minha boca, mas do meu coração, foi automático. Ele riu timidamente. E balançou a cabeça. Largou a pizza no braço do sofá, sentou do meu lado e me deu um abraço apertado e demorado. Tive um sentimento muito bom durante aqueles segundos.
Ele me soltou abriu a caixa da pizza e começamos a comer e beber mais cerveja.
O álcool foi entrando e as horas passaram voando. Quando dei por mim já estava acordando de um cochilo que devia ter durado pelo menos 1 hora. Olhei no celular e já eram 2:30 da manhã. O Maurício estava roncando deitado no lado do sofá oposto ao meu.
Levantei e fui ao banheiro, minha bexiga estava explodindo. Passei no quarto, peguei um cobertor grande que tenho e uso em dias mais frios. Voltei e joguei por cima dele, deitei como eu estava e me cobri também. Logo peguei no sono.
Acordei com meu celular despertando às 6 da manhã, e ele acordou junto pelo jeito.
- Merda, dormi aqui, nem fui em casa.
Tranquilizei ele.
- Calma, é domingo. A Alice está com a sua irmã né?
Ele respondeu.
- Sim, sim. Eu só perdi a noção de tempo e de lugar. Fiquei assustado quando acordei e não estava na minha casa.
Ele tirou o cobertor de cima dele e falou que estava com a bexiga doendo.
- Desculpa, cara. Mas eu preciso mijar.
Não entendi.
- Tá bem, e porque não foi no banheiro ainda? Já tem uns 15 anos que passamos da fase de pedir para usar o banheiro na casa do outro.
Pela primeira vez eu vi ele ficar vermelho de tanta vergonha.
- É que eu tô duro, porra.
Não acreditei que ele estava envergonhado com isso.
- É normal, né. A gente acorda duro na maioria das vezes. Mas já perdi as contas de quantas vezes já vi seu pau. Não é novidade nenhuma para mim.
Ele riu, mas ainda envergonhado.
- Mole. É normal mijar junto e tudo mais. Mas ele tá duro.
Ele disse isso e pegou a almofada que estava apoiando a cabeça dele enquanto dormia e colocou no colo e foi até o banheiro. Naquele momento entendi que eu não era o único que estava com medo de parecer ter segundas intenções, ele também. Então tudo relacionado a sexo acabava nos deixando nervosos.
Ele lavou o rosto, se despediu e foi pra casa.
Ao meio dia enviei uma mensagem perguntado como estava a ressaca, pois a minha já estava quase curada. Bebi muita água durante a manhã. Mas ele não respondeu. Lembrei que ele passa o domingo todo com a Alice.
Meu domingo passou devagar.
Fui para a cama cedo. Eram 22:00 quando ele mandou mensagem.
"Desculpa não ter respondido antes, a Alice estava bem agitada hoje. Te vejo amanhã"
Respondi ele e fui dormir.
Meu celular despertou às 6 como de costume. Levantei, tomei café da manhã e um banho demorado. Ainda fazia frio e estava nublado. Coloquei uma calça de moletom bem quente, uma camiseta e uma jaqueta.
Toda a segunda-feira chegamos às 7:30 na loja pois sempre organizamos o que fica bagunçado da sexta-feira.
Quando cheguei lá vi que ele estava na frente parado. Perguntei porque não entrou. Ele estava com um olhar perdido, estranho.
- Esqueci a minha chave em casa.
Abri a loja, entramos e fechamos para organizar um pouco. Já esteve pior. Abrimos às 8:00 e ainda eram 7:40. Ele não falou muito. Estava distante.
Perguntei o que aconteceu
- Estou lembrando de tudo o que disse.
Fui firme na pergunta:
- Se arrependeu? Quer voltar atrás?
Ele respondeu:
- Não, nem um pouco. E acho que você também não.
A expressão dele voltou ao normal. Ele foi em direção ao banheiro, que fica na parte de trás da loja.
- Vem aqui.
Eu fui atrás dele. Ele estava parado, dentro do banheiro. Parecia nervoso, parecia querer falar algo, fazer algo e não conseguia.
Eu entendi. E senti aquele frio no estômago.
Cheguei perto dele e o abracei, ele retribuiu o abraço de forma apertada. Senti um carinho enorme vindo dele.
Me afastei um pouco mas ele não soltou meus braços. Olhei no fundo dos olhos dele. Precisava saber se ele realmente estava sentindo o mesmo. Não precisei dizer nada. Não precisei fazer nada.
Ele simplesmente me beijou.
Nunca senti aquilo antes.
Retribui o beijo, molhado. Puxei ele pra ficar o mais perto possível de mim. Queria sentir o calor do corpo dele e que ele sentisse o meu. Me senti livre, e acho que feliz também. Toquei nos seus cabelos e ele nos meus, nossas barbas roçavam uma na outra, vez o outra parávamos o beijo para beijar o pescoço um do outro. O cheiro dele era muito bom. Estávamos os dois com calça de moletom, então comecei a sentir seu pau ficando duro, ao mesmo tempo que o meu também, aquilo estava bom demais, parecia um sonho. Não sei quanto tempo durou. Mas decidimos parar. Ele falou rindo:
- Vamos parar aqui ou a gente não vai conseguir se controlar.
Olhamos para baixo e rimos quando vimos que estávamos na mesma situação.
Nos soltamos, jogamos uma água no rosto.
Dessa vez eu que dei um abraço nele, senti uma enorme gratidão e um carinho imensurável por aquele cara ali na minha frente. Enquanto íamos para abrir a loja ele foi falando:
- Me desculpa se fui precipitado.
Nem acreditei no que ouvi
- Precipitado? A gente perdeu muito tempo, isso sim.
Ele sorriu e falou baixinho:
- Vamos beber umas cervejas hoje à noite? A gente podia pedir um lanche. Que se dane, amanhã é feriado mesmo, né?