Mandei uma mensagem para Layla perguntando se eu podia ir ao apartamento dela, que eu precisava conversar sobre algo sério e urgente.
Layla era a única pessoa que podia me ajudar naquele momento, e eu também precisava perguntar a ela o que o pai dela sabia sobre tudo isso. Logo ela respondeu, dizendo que estava saindo da casa dos pais e ia pedir para o porteiro me deixar subir e me dar a chave reserva, caso eu chegasse primeiro que ela.
Peguei minha bolsa e saí do jeito que estava mesmo. Passei pela sala e falei para minha mãe que tinha ouvido o áudio e que iria pensar com calma, mas que daria a resposta no outro dia, no máximo. Também pedi para ela ficar com Sophia, porque eu precisava conversar com Layla antes de tomar uma decisão e estava indo para o apartamento dela. Minha mãe falou que tudo bem, ficaria com Sophia sem problema algum.
Dei um beijo nela e depois em Sophia e saí. Quando cheguei perto do apartamento, recebi uma mensagem de Layla avisando que já tinha chegado e estava me esperando.
Subi e, assim que ela abriu a porta e eu entrei, ela disse que tinha uma bomba para me contar.
Karla— Deixa eu adivinhar, seu pai te contou que a dona da empresa está vindo tomar conta da empresa?
Layla— Como você sabe disso? 😳
Karla— A dona da empresa é a Stella.
Layla— Qual Stella?
Karla— A Stella do meu passado, a mulher que tentou roubar meu ex duas vezes e que jogou minha mãe contra mim.
Layla— Crl!!!
Karla— Crl mesmo! Esse demônio parece que nasceu para infernizar minha vida, só pode.
Layla— Mas como você sabe que é ela?
Pedi para ela sentar perto de mim e abri o áudio da Stella. Ela ouviu o áudio.
Layla— E o que você vai fazer?
Karla— Ainda não sei. Vim aqui para ver se você me ajudava a decidir.
Layla— Bom, estou meio em choque ainda com tanta informação, mas eu com certeza não deixaria a empresa.
Karla— Por quê?
Layla— Porque você ralou muito para estar ali, e ela prometeu que não vai interferir no seu trabalho.
Karla— Mas se for só outra mentira dela?
Layla— E se não for?
Karla— Mas como vou saber disso?
Layla— Ficando lá até o fim do contrato. O que você tem a perder?
Karla— Minha sanidade mental.
Layla— Nossa, você a odeia mesmo, né?
Karla— Claro! Ela fez de tudo para acabar com minha vida. Sofri muito por causa dela.
Layla— Bom, a decisão é sua. Só acho que, se você sair antes, vai ser quebra de contrato. Você vai ter que pagar a multa e ainda vai estar desempregada, com as prestações do carro para pagar. Se ela te despedir, ela que vai ter que pagar a multa. Aí, pelo menos, você vai ter grana para pagar as prestações até arrumar um novo trabalho.
Karla— Eu não tinha pensado nisso.
Layla— Fica. Se, no final do ano, você quiser sair, tudo bem. Mas talvez ela esteja falando a verdade. Talvez você até resolva ficar. Aí você pode colocar novas cláusulas no novo contrato, se quiser se sentir mais protegida. Se ela aceitar, é porque realmente quer que você continue fazendo seu trabalho lá. E outra coisa— eu vou estar com você todos os dias. Meu pai adora você e não vai deixar ninguém te sacanear. Meu pai é a pessoa mais justa que conheço.
Karla— Talvez você tenha razão. Acho que sair agora é a pior saída para mim.
Layla— É o que acho também. Fora que, se você sair, vou perder minha parceira de projetos. 🤭
Karla— Um dos motivos de eu pensar em continuar é justamente porque você trabalha comigo.
Layla— Eu sei, eu sou o máximo e você me ama! Kkkkk.
Karla— Kkkkkkkkk, você tem razão! Mas e seu pai? O que ele sabe sobre tudo isso? Pelo que Stella disse, ele não sabia da existência dela.
Layla— Era isso que eu ia te contar, menina. Meu pai disse que até então só tinha falado com uma secretária do dono, mas que hoje a secretária ligou para ele e disse que, na verdade, ela era a dona da empresa, que herdou do pai dela. Pediu desculpas para ele por não ter falado a verdade antes, agradeceu por ele ter cuidado da empresa e disse que estava voltando para o Brasil e iria comandar a empresa pessoalmente, mas que queria que meu pai continuasse na empresa como vice-presidente, ajudando-a.
Karla— E seu pai aceitou a proposta?
Layla— Sim, ele disse que para ele não importava quem era o dono. Mesmo ficando um pouco chateado por ela ter escondido isso dele, aceitou porque foi o dono que pediu para ele fazer uma limpa na empresa e que sempre tomou as decisões corretas. Ele só não sabia ainda que era ela a dona.
Karla— Parece que o problema dela é só comigo mesmo. Com as outras pessoas, ela é sempre perfeita.
Layla— Complicada essa história de vocês, viu? Bom, mais um motivo para você ficar é que, se ela quisesse você fora da empresa, ela teria feito isso há muito tempo. Ela aprovou você como estagiária e aprovou seus projetos para te contratar.
Karla— Resumindo, não existia diretoria nenhuma; ela era a diretoria esse tempo todo.
Layla— Exatamente.
Karla— E como seu pai não sabia?
Layla— Porque ele tratava tudo com a secretária do dono, que encaminhava tudo para a diretoria e para o dono. Ele disse que até achou estranho, mas como nunca houve problemas e como ele tinha carta branca praticamente para tudo, não deu muita importância para isso.
Karla— Preciso falar com minha mãe, rapidinho, tá?
Layla— Ok.
Eu liguei para minha mãe para tirar uma dúvida.
Mãe— Oi, filha! Aconteceu alguma coisa?
Karla— Não, mãe, está tudo bem. Não se preocupe. Eu liguei para saber de uma coisa. Bom, eu sei que a gente prometeu não falar sobre a Stella, mas eu queria muito te fazer umas perguntas.
Mãe— Se você prometer não brigar comigo, pode fazer sem problemas. Só não quero brigar, não quero ficar longe de você de novo, ainda mais agora que tem a Sophia.
Karla— Prometo que não vou brigar, mãe, mas quero deixar claro que eu nunca vou tirar sua neta de perto de você. Mesmo que algum dia a gente brigue, eu jamais vou proibir você de vê-la quando quiser, até porque você salvou nossas vidas.
Mãe— Que bom ouvir isso, minha filha! Pode perguntar então.
Karla— Você sabia que a empresa em que trabalho era da Stella?
Mãe— Sabia sim. Por isso, no dia que me falou do estágio, eu disse que precisava fazer uma ligação. Eu liguei para ela naquele dia.
Karla— E o que ela falou?
Mãe— Ela disse que quem selecionou os estagiários foi o diretor da empresa e que achou muita coincidência seu nome estar na lista e muito estranho ter o da filha dele também. Então, ela investigou e vocês duas realmente mereciam o estágio e aprovou.
Karla— E por que ela me aprovou?
Mãe— Porque ela disse que era o justo a fazer e, se não aprovasse, quando você descobrisse que ela era a dona, iria ter mais um motivo para odiá-la.
Karla— E por que não me contou, mãe?
Mãe— Porque, se eu contasse, você não aceitaria o estágio e perderia uma chance incrível para sua carreira. Eu sei que você não acredita, mas você está ali por mérito e Stella não vai interferir no seu trabalho.
Karla— Eu não sei, mãe. Tenho medo de continuar e ela fazer algo de errado. Não quero passar por tudo aquilo de novo.
Mãe— Lembra quando eu disse que o Gustavo e a prima dele não valiam nada e você não me ouviu, e depois disse que devia ter confiado em mim?
Karla— Claro que lembro! Nunca vou esquecer isso, mãe. É um dos maiores arrependimentos da minha vida.
Mãe— Então, me ouça dessa vez. Stella não vai se meter no seu trabalho e nem vai fazer nada para te prejudicar. Confia em mim, pelo menos uma vez.
Karla— Está bem, mãe. Layla também acha que devo continuar, então pode falar para Stella que vou pelo menos terminar o contrato, mas não quero nenhum contato com ela, ok?
Mãe— Ok, filha. Vou avisar para ela.
Karla— Obrigado, mãe! Te amo! Boa noite.
Mãe— Boa noite para você também, minha filha! Te amo muito.
Minha mãe desligou e Layla me deu um abraço, dizendo que eu tinha tomado a melhor decisão e que tudo iria dar certo.
Acabei dormindo ali com ela naquela noite, mas só dormi mesmo. Eu estava muito tensa com tudo aquilo, e Layla percebeu, procurando ser a boa amiga que ela era quando eu mais precisava.
Os dias seguiram meio tensos para mim. Seria bem complicado ter que encarar Stella de novo, e não teria como eu evitar ela todos os dias. Uma hora ou outra, a gente iria se encontrar na empresa.
Bom, o encontro iria acontecer mais rápido do que pensei, e já tinha até hora marcada. A dona e nova presidente marcou uma reunião com todos os funcionários no seu primeiro dia na empresa.
Eu não queria ir, mas Layla me convenceu a ir porque era no auditório, teria muitas pessoas e a gente podia ficar lá atrás, bem escondidas. Por fim, aceitei ir.
O dia chegou e eu fiquei na minha sala toda a parte da manhã. Layla não saiu do meu lado. Quando Stella chegou na empresa, o César nos avisou. Quando deu o horário da reunião, Layla olhou no corredor e, como não viu ninguém diferente, saímos e seguimos para o auditório.
Já tinha bastante gente lá. Eu e Layla sentamos na última fila. O auditório não era muito grande, mas dava para ficar ali atrás do pessoal, meio que escondidas.
Depois de uns 10 minutos, vejo César entrar. Atrás dele veio uma mulher ruiva de óculos, muito bonita por sinal. Logo atrás dela entra uma morena alta, muito bem vestida, com uma roupa social bonita, óculos escuros no rosto e um cabelo longo que ia até abaixo da bunda. Atrás dela entra um rapaz alto, moreno bem escuro, cabelo quase raspado. Me pareceu ser um homem bem bonito, pelo menos de longe.
Eles se sentaram e César foi direto para o microfone falar algo, mas não ouvi nada. A morena alta tirou os óculos e me olhou diretamente nos olhos, é como se ela soubesse exatamente onde eu estava. Ela não mudou sua expressão e baixou o olhar, mas foi o suficiente para eu reconhecer aqueles olhos verdes. Era ela! Stella estava ali e já tinha me localizado.
Ela estava muito diferente. Não era mais aquela magrela mal arrumada. Agora tinha um corpo muito bonito, pelo que vi, e se vestia muito bem. Seu cabelo estava enorme e dava para ver que era muito bem cuidado. O rosto tinha mudado pouco, pelo que vi, mas os olhos eram os mesmos. Ela não olhou mais para a minha direção. César continuava a falar algo, mas eu não prestava atenção.
Layla— Meu Deus, que mulher linda! Acho que estou apaixonada.
Karla— O que? Não entendi.
Layla— A ruiva! Ela é linda! Não é a Stella, né?
Karla— Não, Stella é a morena.
Layla— Mas você não disse que ela era meio mal arrumada e bem magra?
Karla— Sim, ela era, mas pelo jeito não é mais. Ela mudou muito.
Layla— Com certeza mudou, porque aquela morena é linda!
Eu olhei com uma cara de ódio para Layla, que logo percebeu que eu não tinha gostado do elogio a Stella.
Layla— Desculpe! Vou me concentrar na ruiva. 🤭
Karla— Tudo bem. Na verdade, ela está muito bonita mesmo. Pena que seu cabelo tampa boa parte do rosto, que era a única coisa bonita dela na época.
Layla— Sério?
Karla— Sim, o rosto dela era muito bonito e os olhos também. São verdes, meio escuros. É uma cor bem bonita.
Vi César sair do microfone. Stella se levantou, deu um abraço em César e foi até o microfone. Olhou para frente e sorriu. O sorriso no seu rosto voltou a aparecer quando o pessoal respondeu ao seu "boa tarde" com entusiasmo.
Ela começou a falar. Sua voz era firme. Eu percebi que não foi só seu corpo e cabelo que mudaram; aquela garota tímida e calada na frente das outras pessoas não existia mais. Eu não sabia o que pensar, mas a Stella que conheci não existia mais.
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper