Eu sabia que estava muito bom para ser verdade. Com certeza, Stella abriu a boca para minha mãe. Não que isso fosse um problema, porque acho que minha mãe não iria ficar brava nem nada por eu ser bissexual ou por estar ficando com Layla, mas o fato de Stella ter contado me deixou cega de raiva.
Karla— Olha, mãe, antes que você diga alguma coisa, quero deixar claro que eu e Layla somos amigas. A gente transa, sim, mas somos amigas acima de tudo. Eu só não contei antes porque não achei necessário. Só isso.
Minha mãe arregalou os olhos e depois começou a rir, o que me irritou ainda mais.
Karla— Está rindo de quê, mãe? Acho melhor eu ir para o meu quarto antes que a gente brigue.
Mãe— Ei, espera, filha! Desculpe, mas acho que você entendeu errado. Estou rindo porque não era disso que eu queria falar.
Karla— Não era?!
Mãe— Não! Por que achou que era sobre isso?
Karla— Você disse que queria falar sobre um assunto delicado e como... Ah, esquece isso. Sobre o que você queria falar?
Mãe— Você e a Layla? Nunca desconfiei! 🤭
Karla— Porque somos realmente só amigas, mãe. A gente fica às vezes, mas é só... Aí, mãe, é complicado falar sobre isso.
Mãe— Eu entendi. Vocês são amigas que transam, é isso?
Karla— É, mãe, é isso... Não está chateada?
Mãe— Um pouco, por você ter escondido de mim. Estou bastante surpresa, porque eu nunca imaginei que você gostasse de mulheres.
Karla— Desculpe por não ter contado antes, mãe. É que juro que não achei que era importante, já que não é um relacionamento além do que você já sabe que tenho com ela, que é amizade.
Mãe— Uma pena que não é um relacionamento amoroso. Layla é uma garota legal, e a Sophia adora ela, e eu também.
Karla— Sério isso, mãe? Você não se importaria se eu namorasse uma mulher?
Mãe— Filha, eu quero ver você com uma pessoa boa que te ame. Se é homem ou mulher, eu não ligo, de verdade.
Karla— É bom saber disso, porque como descobri que sou bissexual, isso pode acontecer.
Mãe— Desde que seja uma pessoa boa, é o que importa.
Karla— Mas o que você ia me contar?
Mãe— Bom, é que estou conhecendo uma pessoa. Não aconteceu nada ainda, mas queria te contar antes que aconteça e queria saber o que você pensa sobre isso.
Karla— Mãe, você é nova ainda, é bonita, e infelizmente meu pai se foi há alguns anos. Você tem que seguir em frente. Eu te dou o maior apoio e tenho certeza de que meu pai lá de cima pensa da mesma forma. Ele sempre quis nossa felicidade, então vai ser feliz, mãe.
Mãe— Obrigada pelo apoio, filha. Fico muito feliz por ouvir isso de você.
Karla— Mas eu conheço o sortudo?
Mãe— Provavelmente não, filha. Ele é engenheiro, conheci ele há poucos meses, mas vou te apresentar caso isso vá para frente.
Karla— Está bem, mãe.
Mãe— Mas agora me conta aí, como aconteceu o lance com Layla?
Karla— Sério, mãe?
Mãe— Sim, não precisa contar os detalhes, mas quero saber! (risos)
Karla— Está bem, dona Sônia, vou te contar.
Contei a história para minha mãe. Claro que não revelei os detalhes mais íntimos, mas compartilhei. Era engraçado ver ela arregalar os olhos em algumas partes. No fim, eu e ela estávamos no maior papo. Ela me contou sobre o paquera dela e tudo mais. Eu até esqueci do problema na empresa, até que minha mãe falou:
Mãe— Mas filha, por que achou que eu ia falar sobre seu lance com Layla se ninguém sabe?
Karla— Porque achei que Stella tinha te contado.
Mãe— Stella sabe?
Karla— Ela descobriu hoje, mãe.
Mãe— Como foi isso?
Contei para minha mãe o que tinha acontecido, e ela me deu a maior bronca. Primeiro, por ter arriscado meu trabalho; segundo, por ter quase brigado com Layla.
Eu nem discuti, ela estava certa. Foram dois vacilos grandes da minha parte. Mas não foi o único. Eu contei para minha mãe sobre Layla porque achei que Stella tinha contado. Eu realmente precisava me controlar, mas Stella tinha o dom de me tirar do sério.
Quando me deitei, fiquei pensando em tudo que aconteceu e cheguei à conclusão de que eu tinha que procurar superar esse lance com Stella. Não queria contato com ela, mas ia buscar viver minha vida sem me preocupar com ela, assim como ela parecia estar vivendo a dela sem se preocupar comigo.
Contei para Layla sobre o que tinha acontecido com minha mãe, e ela riu muito de mim. Falei para ela sobre a decisão que eu tinha tomado, e ela disse que eu estava mais do que certa. Também me desculpei com ela mais um monte de vezes.
Os dias foram se passando. Layla andava meio tristonha porque Liandra sempre estava junto com o rapaz moreno. Eu tinha quase certeza de que minha amiga estava apaixonada por ela, mas ela negava, dizia que era só atração e que não ia se envolver com uma hétero. Eu parei de insistir no assunto, mas até nossas noites de sexo tinham diminuído. Ela estava diferente, mas eu parei de tocar no assunto com ela.
Outra coisa que notei é que, apesar de Stella nunca olhar para mim quando a gente se encontra, Liandra olhava e era um olhar de raiva. Eu até comecei a evitar olhar para ela. Acho que a garota me odiava por algum motivo, provavelmente por causa de Stella, mas resolvi não me estressar com isso.
Minha mãe marcou um almoço depois de um mês que a gente teve aquela conversa sobre ela estar conhecendo alguém e me apresentou o Fernando. Ele me pareceu ser uma boa pessoa. Conheci também seu filho e a nora, e nos demos bem. Depois disso, minha mãe e Fernando começaram a namorar.
Quase no final do ano, César nos chamou para conversar. Disse que a empresa tinha um grande interesse em renovar nossos contratos. Ele deixou claro que a proposta que nos era oferecida era muito boa, mas muito boa mesmo. E tinha que ser, já que eu e Layla fomos responsáveis por mais de 60% dos projetos feitos pela empresa, enquanto havia mais seis arquitetos trabalhando ali.
Resolvi não pedir para colocar nenhuma cláusula diferente no novo contrato. Decidi seguir minha vida sem deixar o passado me atrapalhar e aceitei a proposta. Layla também aceitou. Agora, iríamos começar a ganhar um ótimo salário, fora os benefícios que a empresa oferecia.
Assinamos o novo contrato mesmo antes de sairmos de férias. Na última semana de trabalho, Layla disse que não ia viajar, que estava desanimada e que ia aproveitar para descansar a cabeça durante as férias.
Na primeira semana de férias, Layla me ligou na sexta e disse que Stella tinha convidado ela para um almoço no apartamento dela. Perguntou se eu ficaria chateada se ela fosse. Eu disse que, por mim, não teria problema algum. Layla disse que nem estava muito animada, mas que o pai insistiu muito para ela ir com ele e a mãe dela. Mas se eu fosse ficar chateada, ela não iria. Eu disse que ela podia ir sem se preocupar com isso.
No outro dia, ela me ligou de manhã com uma voz chorosa e pediu para eu ir ao apartamento dela porque precisava de mim. Eu, claro, fui o mais rápido possível. Quando ela abriu a porta, já vi que ela tinha chorado. Eu a abracei bem forte.
Karla— O que houve? Por que você está assim?
Layla— Você tinha razão. Eu estou gostando da Liandra. Me apaixonei por uma hétero! Como isso foi acontecer justo comigo?!
Karla— Ei, você nem sabe se a garota é hétero.
Layla— Claro que é! Ela só vive grudada naquele cara, provavelmente são namorados.
Karla— Você já viu eles se beijando? Já perguntou a alguém se eles são namorados?
Layla— Não, mas...
Karla— Mas nada! Você está sofrendo por antecipação. Por que não pergunta para a Stella?
Layla— Não gosto de falar com ela porque pode querer se aproximar de mim, e isso pode te deixar chateada.
Karla— Há algum tempo atrás, eu deixaria mesmo. Hoje, sinceramente, só ficaria chateada se você trocasse minha amizade pela dela.
Layla— Nunca faria isso! Só tenho uma melhor amiga, e é você, tá?
Karla— Tá bom, mas fala com ela. Não custa nada.
Layla— Vou pensar, até porque ontem, no jantar, eu acho que a Liandra estava me olhando de uma maneira diferente.
Karla— Sério?
Layla— Sim, mas foi disfarçadamente. Ou é coisa da minha cabeça.
Karla— É porque você não tentou falar com ela?
Layla— Porque ela não desgrudou daquele cara nem um minuto.
Fiquei com pena da minha amiga. Pela primeira vez na vida, ela estava gostando de alguém, e a situação era muito complicada.
Fiquei lá o dia todo. Depois levei ela para minha casa. Não queria deixar minha amiga sozinha. Fiz de tudo para distrair ela e levantar seu astral, mas eu não consegui. Porém, Sophia sim. Foi pouco tempo das duas juntas, e Layla já estava rindo à toa.
Layla falou que Stella tinha ido viajar e que Liandra foi junto, então só iria procurar saber sobre ela quando elas voltassem de viagem.
Aproveitamos o resto das férias juntas. Saímos, beijamos na boca, bebemos, fizemos muito sexo. Foi só diversão, mas com responsabilidade, claro.
Mas as férias acabaram e voltamos ao trabalho. Ano novo, vida nova e novos desafios. Já na primeira semana, tivemos uma reunião com Stella e César. Eu fui de boa, não sentei escondida, até porque ela nunca olhava para mim. Depois daquele olhar no dia em que ela retornou, nunca mais vi seu olhar na minha direção. Era como se eu não existisse.
Durante a reunião, foi a mesma coisa. Ela não me olhou, mas eu a olhei. Ela realmente se transformou em uma bela mulher. Só achava meio estranho o cabelo tampando um pouco o rosto, mas tudo bem. Era mais do lado esquerdo e dava para ver seu rosto quase todo. Ela era realmente linda de rosto. Vi também o olhar de Liandra para mim; com certeza, ela não gostava de mim, então evitei olhá-la novamente.
César explicou que uma grande empresa iria construir dois prédios de 15 andares na cidade e pediu à empresa para mandar os melhores projetos de arquitetura para eles analisarem e verem se aprovariam algum. Mas esse pedido não foi feito só para nossa empresa, mas para mais duas da cidade.
Ele disse que tudo que a gente precisava saber seria entregue naquele dia à tarde e que era para cada um de nós nos esforçar ao máximo, porque era muito importante para a empresa conseguir o projeto de engenharia e arquitetura dos prédios.
Stella disse que ela e César iriam escolher os cinco melhores projetos para enviar para a empresa, que a gente teria 15 dias para deixar nossos melhores projetos na mesa dela.
Era minha chance de mostrar meu talento e o de Layla também. Os prédios eram baixos em vista dos grandes prédios da cidade, mas eram enormes em tamanho. Era um grande projeto. Saímos muito animadas dali.
Eu e Layla decidimos fazer três projetos— um só meu, um só dela e um juntas, misturando nossas ideias.
A gente entrou de cabeça naquilo. Foram 14 dias focadas até deixar os três do jeito que a gente queria. Mostrei o meu para minha mãe, para César e para três engenheiros da empresa. Todo mundo só fez elogios. Layla disse que o dela era ótimo, mas que o meu ficou incrível e provavelmente seria o aprovado pela empresa que iria construir os prédios. Fiquei muito feliz em saber que me saí bem, até porque coloquei ali todo meu conhecimento e esforço.
Deixamos os três projetos com César e ficamos esperando a decisão de César e Stella. No dia em que iria sair a decisão, Layla foi chamada na sala de Stella para saber das escolhas. Stella fez questão de falar com todos e explicar o porquê dos projetos terem sido escolhidos ou não.
Eu fiquei esperando Layla voltar com o resultado. Tinha certeza de que, pelo menos, o meu seria um dos escolhidos pela nossa empresa.
Layla voltou com uma cara boa, e eu já levantei meio eufórica e perguntei como a gente tinha se saído.
Layla— Só o meu foi escolhido...
Eu nem deixei ela terminar.
Karla— Como assim só o seu?
Layla— Stella escolheu só o meu...
Interrompi ela de novo.
Karla— Claro, tinha que ser aquela desgraçada! E eu achando que ela tinha mudado. Mas isso não vai ficar assim. Eu acabo com aquela FDP!
Saí dali com muito ódio. Mais uma vez, Stella tentava acabar com minha felicidade, mas isso não ia ficar assim.
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper