Eu só não caí no chão porque consegui arrastar uma cadeira e me sentar. Minha mãe fez o mesmo e sentou perto de mim. Eu abaixei a cabeça no seu colo e chorei, chorei como uma criança. Como eu pude machucar a Layla?!
Ela nunca iria me perdoar. Eu tinha prometido a ela que nunca mais iria agir como uma idiota, mas fiz pior; eu a machuquei. E não foi só ela. Tirando a Sophia, machuquei todas as pessoas que me amaram; minha mãe, meu pai, Layla e Stella. Meu Deus, o que será que aconteceu com ela durante esse tempo?!
Karla— Mãe, o que aconteceu com a Stella depois da nossa briga?
Mãe— Eu não sei da história completa, mas o que sei não posso contar. Me desculpe, filha, mas ela me fez jurar que eu nunca contaria a ninguém. A única pessoa que pode te contar é ela mesma.
Karla— Tudo bem, mãe. Se você prometeu, tem que cumprir. Eu quebrei uma promessa hoje e vou me arrepender pelo resto da vida.
Mãe— Talvez um dia ela te conte, filha.
Karla— Talvez. A senhora sabia de tudo isso? (Apontei para as coisas em cima da mesa.)
Mãe— Sabia que ela tinha recuperado suas joias e o dinheiro. Quanto à herança que seu pai deixou, não, ele fez ela prometer que seria um segredo só deles.
Karla— Mãe, eu sinto muito!
Mãe— Acho que não é para mim que você deve desculpas, filha.
Karla— É para Layla e Stella, né?
Mãe— Sim, principalmente para a Stella.
Karla— É tudo verdade? Ela realmente me amava e nunca gostou do Gustavo?
Mãe— Sim, filha. Ela era apaixonada por você naquela época. Stella é lésbica, nunca teve interesse em nenhum homem.
Karla— Meu Deus, eu não fazia ideia, mãe.
Mãe— Mas agora você sabe... E antes que eu me esqueça, Stella pediu para você ver o vídeo nesse pen-drive. É o que ela iria te mostrar no banheiro aquele dia, mas você não deu a menor chance para ela fazer isso. Vou ver como está a Sophia e depois volto.
Minha mãe se foi. Peguei o pen-drive e fui até meu quarto. Coloquei no meu PC. Era um vídeo um pouco antigo, com qualidade baixa, mas dava para ver bem. Alguém estava com o celular filmando meio para o chão, mas dava para ver o pneu de um carro. Logo depois, a pessoa levantou o celular e colocou a câmera colada no vidro do para-brisa traseiro. Dava para ver um casal no banco da frente se beijando, e pelo movimento do braço da garota e pelo local, com certeza ela estava masturbando o garoto. Quando os rostos ficaram mais nítidos, consegui ver quem era o casal: era Gustavo e Telma.
Aquilo começou a me dar ódio, mas pausei o vídeo, respirei fundo e tentei me acalmar. Eu não podia deixar a raiva tomar conta de mim de novo; precisava me manter calma para pensar direito.
Dei play novamente e a Telma viu que tinha alguém olhando para eles. Nessa hora, a pessoa abaixou o celular rápido, mas a câmera continuou ligada. Só dava para ver nada porque a mão da pessoa que segurava o celular ficou em cima da câmera, mas dava para ouvir. Ouvi o som das portas do carro se abrindo.
Telma— Olha só quem está nos espionando, Gustavo, a esquisita da Stella! Kkkk
Stella— Não estou espionando ninguém, só estava passando.
Gustavo— Vai contar para sua amiga o que viu aqui dentro?
Stella— Primeiro que não vi nada, segundo que não tenho amiga, não mais.
Telma— Não se faça de sonsa, garota.
Stella— Cuidado com a boca ou você vai ficar sem os dentes. Agora me deixa em paz.
Gustavo— Deixa essa esquisita para lá, Telma. Vamos para casa, que é melhor.
Nessa hora, só dava para ouvir os passos da Stella se afastando, e depois o vídeo acaba.
Stella iria me salvar de ser enganada pelos dois. E o que eu fiz em troca? Bati nela e quebrei o celular, que provavelmente era onde estava o vídeo. Como eu fui burra e estúpida!
Fui tirada dos meus pensamentos com minha mãe entrando no meu quarto e dizendo;
Mãe— Filha, viu o vídeo?
Karla— Vi sim, mãe. A senhora já viu?
Mãe— Não, mas sei o que tem nele. Stella me contou naquela época.
Karla— Por que não me contou, mãe?
Mãe— Eu tentei te contar, mas você não acreditou. Seja sincera; se eu falasse que Stella tinha feito um vídeo deles juntos, mas que o vídeo tinha sido destruído, você acreditaria?
Karla— Você tem razão, eu não acreditaria, não, mãe... Meu Deus, como eu fui idiota!
Mãe— Mas agora você sabe a verdade. Pelo menos o que importa, você sabe; Stella nunca traiu você, nunca tentou te fazer mal algum. Pelo contrário, ela sempre tentou te ajudar.
Karla— Eu sei, mãe, não tenho mais dúvidas, mas eu queria saber da história toda.
Mãe— Só a Stella pode te contar isso, mas agora vai demorar um pouco para você ter a chance de falar com ela.
Karla— Por que, mãe?
Mãe— Ela deixou as coisas aqui e disse que depois me explicava direito, porque estava com pressa, ia viajar e voltaria daqui a 10 dias.
Karla— Para onde ela vai?
Mãe— Ela não disse, mas deve ser para Portugal.
Karla— Será que ela já foi?
Mãe— Não sei, filha, mas ou já foi ou deve estar no aeroporto.
Karla— Vou até lá, preciso ver ela, mãe.
Mãe— Filha, não faz besteira, por favor.
Karla— Prometo que não vou fazer, só quero pedir perdão para ela antes dela ir. Mesmo sabendo que ela não vai me perdoar, eu preciso fazer isso.
Mãe— Só toma cuidado, por favor.
Saí de casa o mais rápido possível. Quando entrei no carro, me toquei de que não fazia ideia se a Stella estaria na antiga casa dela ou não, mas pensei bem e achei melhor ir para o aeroporto. Liguei o carro e fui o mais rápido que consegui.
Cheguei no aeroporto e saí igual uma doida procurando pela Stella. Quando fui olhar os horários dos voos, vi ela parada com Liandra e Bruno em um local mais isolado. Fui em direção a eles. Liandra foi quem me viu primeiro e tenho quase certeza que falou um palavrão quando avisou a Stella que eu estava ali.
Stella me olhou e não falou nada. Bruno se posicionou na frente dela como se fosse protegê-la de mim. O olhar da Liandra era de muita raiva; se tivesse como fuzilar com os olhos, eu com certeza estaria morta naquele momento.
Eu com certeza estava com os olhos vermelhos de tanto chorar, cabelo bagunçado; eu provavelmente parecia uma doida, mas nem liguei. Me aproximei e disse;
Karla— Eu não vim brigar, eu juro, só preciso te falar uma coisa, Stella.
Ela disse para Bruno que estava tudo bem. Eu me aproximei, olhando nos olhos dela. Quando cheguei perto, minhas lágrimas já começaram a escorrer pelo meu rosto. Me aproximei um pouco mais e ela só me olhava. Ajoelhei na sua frente; meu choro já era visível naquele momento. Com alguma dificuldade, olhei nos olhos dela e falei o que tinha que falar;
Karla— Eu sei que não mereço seu perdão e nada do que eu disser vai mudar o que eu fiz, mas queria dizer que sinto muito e espero que algum dia você possa me perdoar.
Queria agradecer pelo que ela fez por mim, mas não consegui mais falar. Meu choro ficou mais forte. Ela estendeu as mãos e pediu para eu me levantar.
Stella— Eu te disse que já te perdoei faz tempo. Não precisa chorar nem pedir perdão.
Karla— Preciso sim... Eu sinto mui...
Não lembro de mais nada além de sentir minhas vistas escurecerem e os braços dela me ampararem.
Acordei em um carro em movimento, deitada em uma maca. Tinha um enfermeiro na minha frente com uma injeção. Ele aplicou no meu braço; doeu e eu soltei um grito de dor.
Stella— Até que enfim acordou. Vai ficar tudo bem, não se preocupe.
Karla— O que você está fazendo aqui?
Stella— Te acompanhando até o hospital. Você desmaiou no aeroporto, chamei ajuda e estamos te levando para o hospital.
Karla— Acho que me lembro mais ou menos. Nossa, e seu voo?
Stella— Tudo bem, eu vou amanhã. Já avisei sua mãe, disse para ela que iria ficar com você até te liberarem e que ela ficaria com a Sophia.
Karla— Eu só atrapalho sua vida.
Stella— Ei, esquece isso, é passado...
Karla— Não dá! Eu nunca vou me perdoar pelo que fiz com você.
Stella— Olha, mas devia. Eu te perdoei há muito tempo. Ficar com mágoa no coração só piora as coisas. Mas agora fica quietinha, porque você está fraca. Depois a gente conversa, tá bom?
Karla— Está bem.
Fui atendida no hospital, mas fui liberada depois de tomar um litro de soro na veia. O médico disse que eu provavelmente estava desidratada e que o desmaio foi causado pelo estresse que passei. Me recomendou ir a um psicólogo e me passou alguns exames e dois remédios.
Stella chamou um Uber e, quando saímos do hospital, me lembrei de uma coisa.
Karla— As compras, o convênio e a escola da Sophia, foi você, né?
Stella— Foi, mas o dinheiro era seu e da sua mãe.
Karla— Como assim?
Stella— Foi tudo pago com o lucro da empresa de vocês. Eu só estava cumprindo o que seu pai me pediu.
Karla— Meu pai confiou em você para deixar tudo o que ele construiu a vida toda, e eu não tive a capacidade de conferir se a conversa era mesmo sua. Como eu fui idiota, meu Deus!
Stella— Você estava apaixonada, acontece.
Karla— Nada justifica eu desconfiar da minha melhor amiga, a pessoa que cresceu comigo e ficou do meu lado tanto tempo sem um erro sequer.
Stella— Ei, o carro chegou. Vamos para casa, que sua mãe deve estar preocupada com você.
Perguntei onde estavam Liandra e Bruno e ela disse que eles tinham pegado o voo. Disse que Bruno tinha que ir de qualquer jeito porque estava atrasado para os preparativos do casamento.
Karla— Ele e Liandra vão se casar?
Stella— Não! Bruno vai casar com minha melhor amiga e Liandra nunca se casaria com um homem. Kkkkk
Karla— Espera, a Liandra é lésbica?
Stella— Sim, como eu. 🤭
Karla— Vocês duas são namoradas ou algo assim?
Stella— Não, kkkk. Liandra é uma ótima amiga, só isso.
Karla— Nossa, minha amiga...
Minha garganta deu um nó quando lembrei de Layla e não consegui terminar a frase.
Stella— O que houve?
Karla— A Layla tem uma queda por Liandra.
Stella— Por que travou antes? Ciúmes?
Karla— Não! É que ela era minha melhor amiga, mas eu estraguei tudo para variar.
Stella— Espera aí, você e a Layla não namoravam?
Karla— Não, ela sempre foi minha amiga, mas como você sabe, a gente ficava, mas não tinha sentimentos envolvidos além da amizade.
Stella— Liandra vai ficar feliz em saber disso e vai te odiar menos agora. 🤭
Karla— Era por causa da Layla que ela me olhava com aquele olhar de ódio?
Stella— Por causa de mim também. Ela sabe da minha história, e Liandra é do tipo que prefere que mexam com ela do que com os amigos.
Karla— O que aconteceu com você depois da nossa briga?
Stella— É uma história longa, e não gosto de lembrar dela. Sinceramente, nem você nem eu estamos com o psicológico bom o suficiente para falar disso agora. Deixa para eu te contar outra hora.
Karla— Foi tão ruim assim?
Stella— Foi. Eu vivi um inferno, como eu te disse. Não gosto de lembrar porque é algo que acaba comigo até hoje, então, por favor, vamos mudar de assunto.
Karla— Está bem, eu sinto muito.
O carro chegou na porta da minha casa e eu desci, mas Stella não. Perguntei por que ela não tinha descido e ela disse que ia para o hotel onde ficava. Pedi, por favor, para ela descer e dormir na minha casa. Prometi que não iria encher ela de perguntas. Ela não queria aceitar de jeito nenhum, então usei minha arma secreta.
Karla— Por favor, você vai ficar sozinha lá. Dorme aqui. Minha mãe te ama e você pode conhecer a Sophia de perto.
Stella— Bom, então acho que vou aceitar. Não tem problema mesmo?
Karla— Aqui sempre foi sua casa. Eu que te afastei daqui. Por favor, vem!
Estendi a mão e ela aceitou descer. Segurou minha mão e saiu do carro. Fiz questão de pagar o Uber. Ofereci meu braço e ela aceitou, e a gente entrou.
Eu mal podia acreditar que eu e Stella estávamos entrando na minha casa de novo, juntas e de braços dados.
Continua...
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper