“‘Gostou?’ Mas que merda de pergunta é essa?”, pensei, agora encarando-o, surpresa e curiosa:
- Peraí! Eu não entendi, por que está me perguntando se gostei?
- Caramba, ouviu!?... - Disse e balançou negativamente a cabeça, bocejou e voltou a falar, encarando a tela: - Quando eu te propus que entrássemos nesse meio era justamente para aproveitarmos as oportunidades, transar sem compromisso, prazer pelo prazer, lembra? Se foi isso que você teve, por que está tão preocupada com a minha opinião? Eu só posso dizer que fico feliz porque você, até que enfim, entendeu e se permitiu uma experiência dessas.
PARTE 26 - UMA ALIADA IMPROVÁVEL
Devo ter ficado com uma cara de paspalha. Boquiaberta e sem reação, eu sei que fiquei, e deve ter sido por um bom tempo, porque ele próprio continuou:
- Nanda, está tudo bem aí?
- Tá… Tá, eu acho que tá… Então, você não ficou bravo com o que eu fiz?
- Claro que não, sô! Não sou mais teu marido para te vigiar, mas sou o pai das suas filhas para ainda querer o seu bem. Então se cuida! - Falou, mas acho que se arrependeu na sequência, porque passou a brincar: - Só lamento não ter participado dessa surubinha para ter a chance de mostrar a esses caras como te dar uma merecida surra de rola.
- MARK! - Dei um gritinho e olhei ao meu redor só para lembrar que eu estava sozinha em meu “apart” e conclui, esperançosa: - Então, você gostaria de ter estado comigo, mor?
- Foi só uma forma de falar, Fernanda, nosso tempo já pas…
- Não, não passou! - Falei ríspida, brava com tudo e todos, inclusive com ele que parecia me querer e ao mesmo tempo não me querer: - A nossa história não acabou, eu não aceito isso! Ainda mais agora que eu acho que entendi o que você queria para a gente. Só que eu ainda preciso do meu parceiro, eu preciso de você.
Ele sorriu, como que concordando, mas balançando negativamente a cabeça. Eu não sabia se ele sorria para mim ou para ele próprio. Decidi ousar:
- Mark, assim… Vamos supor que eu tenha a chance novamente de aprontar alguma coisinha aqui… É só uma suposição, tá legal!? Então, vamos supor isso… Você gostaria que eu fizesse uma chamada de vídeo para você me assistir?
- Melhor não, Fernanda! Não tem clima entre a gente para…
- Mas que caralho, Mark, você acabou de dizer que ficou feliz por eu ter aprontado só pelo prazer da experiência e agora me diz que não quer participar? - O interrompi, chateada novamente: - É claro que eu preferia que você estivesse aqui comigo, mas como não dá, é o que eu consigo fazer. Caramba, já não estou entendendo mais nada…
- É… Pois é, nem eu. - Falou e riu de si mesmo: - Mas vamos deixar como está. Daqui a pouco nosso divórcio sai e você encontra um novo felizardo para viver essa nova Fernanda versão 2.0. Difícil vai ser achar alguém que dê conta.
- Eu já achei! Foi há uns bons anos. Ele me ensinou quase tudo o que eu sei, muitas coisas, de montão mesmo, mas só agora entendi a principal lição. Eu quero que ele continue a curtir comigo.
- Fernanda…
- Não! Para você! Agora você vai me ouvir… - O interrompi novamente e parti para cima dele, sem lhe dar tempo de reagir: - Eu te amo, você me ama, precisamos um do outro para nos apoiar e para consertar nossa família. Eu… vou… voltar… para… você, aliás, para vocês, ouviu bem!? Esquece o divórcio, porque vou lutar por você. E não adianta falar que não, porque eu sei que você me quer, ainda mais agora que vou soltar o freio de vez, mas para curtirmos, nós dois, eu e você, juntos ou separados mas só pelo nosso prazer. Você pode até aprontar, se vingar de mim da forma que quiser, com quem você quiser, que eu não tô nem aí! Mas quando eu voltar, você não me escapa!
- O que é isso, mulher!? Andou bebendo? - Falou e gargalhou.
- Bebi! Pouco, mas bebi, até acho que é outra coisa que aprendi a fazer… Ah, e pode falar para aquela loira desmilinguida da Denise tirar a eguinha dela da chuva porque você vai voltar a ser meu. - Falei, com a cara mais maliciosa que eu tinha e insisti: - Nem aquela mulata safada da Iara vai te tirar de mim. Se ela entrar na minha frente, eu passo por cima dela. Eu sou mais eu! De agora em diante, você vai ter uma Nanda que acho que nunca imaginou. Me aguarde!
Ele arregalou os olhos e balançou negativamente a cabeça outra vez, um tanto surpreso, mas sem tirar um sorriso do rosto. No fundo, acho que ele gostou de ser cortejado daquela forma por mim. Tirei toda a minha roupa, ficando nua na frente da tela do computador, deixando-o agora com os olhos arregalados:
- Tá vendo isso aqui? - Apontei para uma marca em volta do meu mamilo esquerdo: - É de um chupão. Esse aqui do lado, eu acho que é outro. Esse aqui... Uai, esse aqui é novo, mas deve ter sido de ontem também.
Ele, surpreso, colocou a mão sobre a boca e arregalou ainda mais os olhos:
- Essa outra aqui? Vou chegar mais perto… - Continuei, aproximando-me mais da webcam, para mostrar uma mancha bem vermelha acima do meu mamilo direito: - É de uma mordida que um daqueles filhos da puta me deu, acho que foi o Peter... Tive que tirar ele no tapa de cima de mim e arranhei ele inteirinho.
Ele, ainda de olhos arregalados, olhou para o lado, surpreso e inconformado com minha ousadia. Pouco me lixei e continuei, ficando de pé, quase esfregando minha xoxota na webcam:
- Agora, olha para a minha buceta. - Comecei a manipulá-la, abrindo os lábios e passando os dedos por toda a extensão, principalmente pelo meu clítoris: - Ela está toda assadinha, vermelhinha e inchada, e vai ficar assim por uns bons dias. Olha como ela está inchada, mor! Não tá? Hummmmm… Sabia que deixei dois caras me penetrarem ontem ao mesmo tempo? Dois, mor, e na minha buceta, juntos! Hummmm… Tô ficando molhadinha de novo… É por isso que ela está assim mais arregaçadinha.
Quando olhei para a tela, ele havia encerrado a chamada. “Filho da puta! Bateu o telefone na minha cara.”, pensei e fiz uma nova chamada. Demorou um pouco, mas ele me atendeu novamente, olhando desconfiado para a tela:
- Não desliga, seu frouxo! Você não queria uma mulher safada? É isso que você vai ter! - Brinquei, sorrindo maliciosamente para ele: - Ah, desculpa, mor, eu sei que você não é frouxo e desculpa também por eu ter experimentado isso sem você estar junto. Essa é uma coisa que está me incomodando: ter experimentado algo com alguém que não você.
- A gente não está mais juntos, Fernanda. Por mim, você pode fazer o que quiser com quem quiser. Da próxima vez, por que não experimenta botar dois no seu rabo, caramba!? - Falou, meio emburrado.
- Uai, e a ideia não é ruim não! - Brinquei, sorrindo: - Mas quando essa for acontecer, quero você na sala assistindo e ó, se você não se comportar direitinho, vai só assistir, ouviu, mor? Não vou deixar você me pegar! Vou te colocar de castigo, só para assistir os outros me esfolarem ou pior, te coloco para fora do quarto para você só ouvir a minha farra!
- Ah, vá se fo…
- Shiu! Respeita tua rainha! - Brinquei, rindo alto: - Tenho mais algumas marcas, quer ver?
- Não, né, ara!
- Ai! Mor, a minha buceta ainda tá ardendo, acredita?
- Não sei como você deu conta?
- Ah, se interessou, né, safado!? - Falei e gargalhei: - Olha, no começo doeu bastante, mas depois com o tempo, fui me acostumando e até que não foi ruim, só que não consegui gozar desse jeito.
Ele balançou a cabeça negativamente, mas com um sorrisinho malicioso que eu conhecia bem:
- Ficou excitado em saber que a sua mulher, a sua esposa, a mãe das suas filhas, aprontou ontem, sem pedir a sua opinião ou a sua permissão, hein, meu safado gostoso?
- Nanda, entenda uma coisa: você… não… é… mais… minha… mulher! Agora, você pode fazer o que quiser, com quem você quiser; isso não é mais da minha conta.
Calei-me com aquele balde de água fria e embora brava, chateada com sua insistência, senti em seu olhar que aquelas palavras não condiziam exatamente com os seus sentimentos:
- Então vou te perguntar só uma última vez e quero que você seja totalmente honesto comigo como sempre foi: você me ama? Eu sei que te amo e cada vez mais depois de ver o quanto tem se esforçado para me reaproximar da Mary, mesmo colocando o seu na reta. Mas e você, deixou de me amar?
Ele suspirou fundo, olhou para o lado, ficando alguns segundos em silêncio. Voltou depois a encarar a tela:
- Olha, eu… eu não… - Gelei e senti um mal-estar que deve ter ficado estampado em meu rosto: - Eu não quero responder essa pergunta.
- Tá bom, mor. Tá respondido. Eu… Eu vou desligar. Beijo.
- Tchau, Nanda.
Eu sentia que o meu marido ainda me amava. Talvez o seu brio de homem de cidade pequena do interior ou um medo de confiar novamente o estivesse bloqueando, mas eu sentia que ele ainda me amava e eu iria lutar por aquilo, com unhas e dentes. Decidi compensar meu marido: se um dia ele levou minha família até Manaus para lutar por mim, agora eu levaria a cabeça oca da Nanda até o Brasil para lutar por eles! Entretanto, eu não sabia como fazer. Decidi que iria vê-los, mas seria quase impossível conseguir um voo naquela hora, ainda assim eu tentaria logo de manhã.
Tratei de dormir, rolar na cama, na verdade. Por volta das oito, Paulo ligou para mim, perguntando se eu não gostaria de almoçar com ele. Expliquei minha intenção de ir ao Brasil conversar com o Mark e naturalmente ele não gostou, pois eu não conseguiria retornar a tempo de iniciar meu treinamento, a não ser se fosse literalmente um “bate e volta”. Acabei me desentendendo levemente com ele e disse com todas as letras que, se a empresa não conseguisse entender meu esforço em salvar minha família, então a empresa não merecia o meu esforço. Com muita má vontade ele disse que iria tentar ganhar mais uns dois dias para mim, mas que eu deveria retornar, sem falta até a quarta-feira, ou ele lavaria suas mãos.
Arrumei uma pequena mala, peguei meus documentos, celular, carteira e chamei um Uber que, milagrosamente, em menos de meia hora, já me deixava no aeroporto. No balcão de atendimento da companhia aérea, após fornecer meus dados pessoais, a atendente disse que poderia me colocar numa lista de espera e, se houvesse desistência, eu seria encaixada no voo das quinze horas. Aceitei e depois de todo o procedimento, fui para a área reservada aos passageiros. Era por volta das nove da manhã e o tempo começou a sacanear comigo, passando muito mais lentamente. Comprei uma revista, mas só folheei. Acabei me distraindo com um filme que passava numa televisão da área onde eu estava, mas quando olhei no relógio, não eram sequer dez horas.
Voltei a folhear minha revista, mas novamente parei. Começou a passar uma comédia romântica, típica dos americanos e acabei me distraindo novamente, pelo menos, até às onze e meia, quando a barriga começou a roncar. Fui até o restaurante do aeroporto e passei momentos relativamente agradáveis com um bom bife e uma comidinha nada demais. Voltei até a área dos passageiros e minha revista saltou novamente para as minhas mãos. Agora engrenei numa leitura gostosa de um artigo sobre TI e uns trinta minutos depois uma ruiva se sentou ao meu lado, falando num inglês bem formal:
- Adorei o seu esmalte, sabia? Achei tão sensual...
- Obrigada.
- Saindo de viagem?
Estranhei a pergunta e muito mais uma intimidade que ela parecia querer forçar comigo, afinal eu nunca havia visto aquela mulher. Ainda assim decidi não ser indelicada:
- Sim, estou indo para o Brasil, visitar minha família.
- Ah, que legal! E pensa em voltar logo?
Aquilo já havia passado do limite e decidi me impor:
- Desculpe, mas eu não te conheço e não estou entendendo a pergunta?
Ela me encarava sem parar e não se abalou um milímetro com a minha resposta. Apenas sorriu, se levantou e pegou seu celular, fazendo uma chamada. Como ela se afastou um pouco de mim, não consegui ouvir o teor de sua conversa, mas de tempos em tempos, ela me olhava de soslaio. Depois de um tempo, encerrou a chamada e voltou para o meu lado. Então, deu uma olhava ao nosso redor e estendeu sua mão para mim:
- Desculpa eu não ter me apresentado antes, eu sou Cora, a Rainha de Ouros. Estou aqui a pedido do senhor Callaghan que soube da falar da sua partida repentina e me pediu para vir ajudá-la com o que precisasse.
- Mas que porra é essa!? Eu estou sendo vigiada? - Falei, irada, mas me controlei porque a culpa certamente não era dela: - E como ficaram sabendo?
- Vigiada!? Acho que não... Eu prefiro pensar que ele se preocupa com suas rainhas e, Fernanda, seu nome já é conhecido, quando caiu no sistema da empresa aérea, a informação chegou para ele imediatamente. Acabei de falar com ele que me pediu para disponibilizar seu jato particular para te levar e trazer quando você quiser. Podemos decolar agora mesmo, se você já estiver pronta.
Não gostei nada de me sentir uma prisioneira em liberdade e também não estava disposta a ficar devendo favor algum para o Callaghan. Recusei o pedido, dizendo que preferia esperar. Ela pareceu não ter acreditado e insistiu, recebendo uma nova recusa da minha parte. Levantou-se, agora claramente contrariada, e fez uma nova ligação, recebendo alguma orientação e desligando em seguida. Voltou a se sentar ao meu lado e ficou em silêncio.
Já passava das treze horas quando vi Callaghan entrar na sala de espera, acompanhado de uma senhora muito bonita e muitíssimo bem vestida. Eles caminhavam decididos e ao nos verem, vieram diretamente para onde estávamos. Ela se adiantou, falando num inglês americano bem formal, com uma voz suave:
- Fernanda!?
- Sim, sou eu. - Respondi, curiosa.
- Eu sou a Lilly, esposa do Callaghan. Por que não quer deixá-lo te ajudar, minha querida?
- Eu... Eu... É, eu só não quero... é... - Não sabia o que falar, obviamente, principalmente para a esposa do homem que havia me comido na noite anterior: - Sei lá. Acho que não quero ficar devendo um favor.
- Mas que besteira, ele só quer ajudar você! E, fique tranquila, já estou sabendo de tudo, inclusive, que você já caiu nas graças dele. - Olhou para a Cora que se levantou e, depois dela se sentar, cochichou próxima ao meu ouvido: - Tudo mesmo, Rainha de Paus! Agora, levante-se que nosso jato já está nos esperando. Eu sempre quis conhecer o Brasil e você vai de carona.
- Mas eu não quero…
- Pode parar! Sou a Rainha de Copas, a primeira e única. Eu mando em todas as outras, inclusive, em você, aliás, inclusive, no Callaghan. - Falou e o encarou, deixando-o extremamente sem jeito: - Por isso estou te afirmando que não ficará em dívida com ele ou comigo. Levante-se e venha. Vou ajudar a salvar o seu casamento...
Aquilo me surpreendeu:
- Então, a senhora sabe de...
- Sim, querida, não tenho segredos com meu marido. Ele chegou todo feliz hoje dizendo que havia encontrado a sua quarta rainha.
Aquela senhora, uma belíssima mulher, loira, peituda, dona de uma beleza clássica com talvez uns dez a quinze anos a mais que eu, me passou uma certa segura, eu diria até mesmo esperança porque poderia ser uma aliada, enfim, alguém que não desse algo esperando em troca o meu corpo. Acabei me abrindo e contei para eles da minha última conversa com o Mark e da minha esperança em reaver minha família. O Callaghan sorriu maliciosamente e balançou afirmativamente a cabeça, chamando a atenção da esposa que também lhe sorriu. Antes que ele dissesse alguma coisa, ela falou algo sobre como eu era romântica, colocando sua mão sobre a minha em seguida:
- Não diga mais nada, querida. Nosso jato já está preparado e fazemos questão de levá-la, assim eu apresento o Brasil para a Lilly, enquanto você se acerta com seu marido. Cora virá conosco para cuidar da logística de sua viagem.
Eu não queria aceitar, mas não tinha passagem garantida e o olhar da Lilly para mim, me incentivava a aceitar. Concordei e Cora me pediu meus documentos para acertar minha partida. Saiu e ficamos conversando, com a Lilly monopolizando a conversa querendo saber o que eu faria e também me dando alguns conselhos. Logo a Cora retornou e seguimos para a área de embarque particular.
Em minutos estávamos decolando. Apesar do conforto e da exclusividade, o tempo foi praticamente o mesmo dos voos convencionais. Então, quando minha ansiedade permitiu, dormi. Pousamos em Guarulhos entre dezessete e dezoito horas de sábado, sendo recebidos por um motorista que segurava uma placa com o nome do Callaghan:
- Senhor, senhoras, boa tarde. Espero que tenham feito um bom voo?
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO, EM PARTE, FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL NÃO É MERA COINCIDÊNCIA, PELO MENOS PARA NÓS.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DA AUTORA, SOB AS PENAS DA LEI.