As Irmãs Ferreira #11

Um conto erótico de Ceci
Categoria: Homossexual
Contém 1889 palavras
Data: 17/09/2023 00:22:42
Última revisão: 28/12/2024 23:21:14

Acordei em um quarto de hospital, ainda meio grogue. Olhei ao meu lado e vi Patrícia sentada, lendo um livro. Demorei um pouco para entender o que estava fazendo ali, até que lembrei da minha mãe e tentei me levantar, mas não consegui. Patrícia percebeu meu movimento e pediu para eu ficar quieta, dizendo que eles tinham me sedado e que levaria um tempo até eu conseguir andar normalmente.

Perguntei sobre minha mãe. Ela me olhou com um olhar triste e apenas disse que sentia muito, me abraçando. Ali, entendi que minha mãe tinha partido desta vida. Chorei no abraço confortante de Patrícia.

Me lembrei de Clara e achei estranho ela não estar ali com a mãe. Perguntei a Patrícia por que ela não estava. Ela respondeu que Clara não fazia ideia de que a mãe estava no hospital. Até uma semana atrás, ninguém sabia do real estado de saúde dela, a não ser o médico e o advogado.

Minha mãe pediu para não avisar Clara porque não queria que ela deixasse os estudos para ficar com ela. Clara só entraria de férias na segunda semana de dezembro, que era exatamente a semana em que estávamos.

Patrícia também disse que minha mãe só contou para Ana porque queria me ver antes que seu coração parasse de vez, e sabia que Ana tinha como me localizar. Ao ouvir isso, me lembrei da promessa que fiz. Mais uma vez, minha vida iria mudar completamente; eu teria que voltar para nossa fazenda e, provavelmente, me encontraria com Clara em breve.

Depois de algum tempo, o advogado da minha mãe apareceu no quarto. Ele me deu suas condolências e disse que eu podia ficar tranquila, pois ele cuidaria de tudo. Minha mãe tinha deixado tudo pago para seu funeral e enterro. Ele ficou responsável por tudo e me disse que, assim que eu pudesse, era para eu ir ao escritório dele, porque minha mãe tinha passado tudo em vida para o meu nome e para o nome de Clara. Ele só precisava que a gente assinasse alguns papéis, mas não teria pressa.

Agradeci a ele e disse que, assim que pudesse, iria ao escritório e conversaria, pois no momento não estava com cabeça para pensar nesses assuntos. Ele disse que não havia problema, se despediu e saiu.

O médico veio ao meu quarto e, depois de algumas recomendações, me liberou. Fui para a casa de Ana junto com ela e Patrícia. Lá, tomei um banho, peguei uma roupa emprestada com Patrícia e fomos para o velório, que seria na fazenda. Jorge nos levou de carro, e seu Sebastião foi com a gente também.

Quando cheguei à fazenda, fui recebida por alguns dos peões que eram meus amigos e ainda trabalhavam ali. Recebi abraços e pêsames deles. Havia muitas pessoas que eu conhecia do meu tempo ali, algumas esposas dos peões e familiares. Procurei falar com todos antes de entrar. Logo, começaram a chegar alguns parentes da minha mãe e amigos da família. Alguns vieram falar comigo, enquanto outros nem me olharam.

Um dos peões, que trabalhava ali há muito tempo, disse que precisava conversar comigo em particular depois. Eu disse que assim que pudesse falaria com ele. Logo vi Rodolfo e a esposa chegarem, então chamei Patrícia e segui para dentro de casa. Ao entrar, um aperto no coração me invadiu; eram muitas as lembranças que aquela casa me trazia, boas e ruins. Fui para o meu antigo quarto, que estava tudo como deixei. Vesti uma roupa minha e disse a Patrícia que depois eu devolveria as dela.

O dia já estava escurecendo quando vi o carro da funerária chegar com o corpo da minha mãe dentro de um caixão. Naquela hora, não consegui segurar as lágrimas e chorei nos braços de Patrícia, que não tinha saído do meu lado desde que a vi no hospital.

O caixão foi colocado na sala. Havia muita gente na fazenda, mas foi ficando tarde e algumas pessoas foram saindo. Quando deu 23 horas, já havia pouca gente ali. Fui até o caixão; não foi fácil ver minha mãe ali, sem vida. Segurei sua mão e me despedi dela pela última vez em pensamento. Quando fui sentar, quase caí, pois minhas pernas perderam as forças por um momento. Patrícia, que estava ao meu lado, me amparou.

Voltei a sentar. Dona Ana me deu um copo com água. Eu enxuguei minhas lágrimas e bebi a água para tentar me acalmar. Era nítida a tristeza no rosto de cada pessoa ali naquela sala. Minha mãe era muito querida por todos que estavam ali, a maioria eram pessoas que trabalharam com ela por muito tempo, como Ana e Sebastião.

Estava sentada quase de frente para a porta, então pude ver quando parou um táxi do lado de fora. Logo, a porta de trás se abriu e um rapaz alto, de cabelo loiro e muito bem arrumado, desceu. Não o reconheci; era um estranho para mim. Ele deu a volta e abriu a outra porta, se abaixou como se estivesse ajudando a outra pessoa a sair. Quando a pessoa saiu, meu coração parou na boca. Mesmo com a claridade meio fraca das luzes do lado de fora, reconheci aquela pessoa— era Clara, com certeza. O rapaz a abraçou e ela veio em direção à casa, apoiada nele. Eu estava paralisada vendo aquela cena. Ela veio em direção à porta de cabeça baixa, provavelmente chorando. Quando levantou a cabeça, nossos olhares se cruzaram. Eu pude ver aqueles olhos azuis me olhando diretamente. Minha reação foi me levantar e sair em direção ao meu quarto o mais rápido possível. Patrícia veio atrás de mim.

Entrei e, assim que ela entrou, pedi para ela trancar a porta.

Patrícia— Você não vai poder fugir dela para sempre, Ceci.

Ceci— Eu sei, mas não quero vê-la e muito menos falar com ela agora.

Patrícia— E vai ficar trancada aqui até quando?

Ceci— Eu não sei. Só sei que lá eu não vou; e não quero que ninguém entre aqui, além de você ou sua mãe.

Patrícia— Quer que eu fique aqui com você?

Ceci— Quero, sim. Se você puder, poderia dormir aqui comigo esta noite? Não quero ficar sozinha.

Patrícia— Claro. Só vou ficar lá mais um pouco e avisar minha família que vou ficar aqui.

Ceci— Fala para sua mãe que, se ela quiser, pode dormir aqui. Ela conhece a casa e pode arrumar um quarto para vocês ficarem. A casa é grande.

Patrícia— Tudo bem, vou falar, mas provavelmente ela vai para casa e volta amanhã para o enterro.

Pedi a Patrícia para trancar a porta quando saísse e levar a chave com ela. Me joguei na cama e fiquei pensando.

O rapaz ao lado dela provavelmente era o tal namorado. Talvez já fosse até noivo ou marido, quem sabe? Lembrei das promessas que fizemos e comecei a sentir aquela dor no peito que há algum tempo não sentia. Eu não podia acreditar que iria passar por tudo aquilo de novo.

Fiquei ali, com aqueles pensamentos me atormentando, até que ouvi o barulho da chave na porta. Era Patrícia. Ela disse que a família dela preferiu ir para casa, que Jorge ia levá-los e que de manhã estariam de volta.

Só havia uma cama no quarto, então perguntei a Patrícia se ela se importava de dormir comigo. Ela disse que não seria problema. Vestimos uns pijamas meus e nos deitamos. Eu não consegui dormir; não tinha como. Patrícia ficou conversando comigo um bom tempo, mas depois acabou dormindo.

Não consegui pregar o olho. Quando deu 5 da manhã, levantei devagar, procurei uma caneta e escrevi um bilhete para Patrícia, avisando que tinha saído para tomar ar, que não voltaria para o enterro porque já tinha me despedido da minha mãe, e que não era para ela se preocupar, pois eu iria ficar bem e provavelmente voltaria à tarde ou iria para a casa dela na cidade no início da noite.

Vesti uma roupa e saí do quarto com cuidado, depois de deixar o bilhete para Patrícia. Não havia ninguém no corredor, mas ouvi algumas vozes vindo da sala; provavelmente algumas pessoas tinham passado a noite ali. Saí em direção à porta dos fundos, abri e dei a volta por trás do celeiro. Quando cheguei no curral, pensei em um lugar para ficar em paz, e só veio um à minha cabeça.

Para não arriscar ser vista, prossegui a pé mesmo. Atravessei as cercas e fui caminhando em direção ao rio. Eu iria para o meu lugar secreto; só Clara sabia dele e, com certeza, ela não faria questão nenhuma de contar a ninguém.

Foi uma caminhada demorada. Meus pensamentos estavam a mil. Eu estava com um pouco de fome, mas aguentaria até a tarde. Provavelmente, quando eu voltasse, Clara já teria ido embora. E se não tivesse, eu iria para a casa da Patrícia até ela ir.

Cheguei à árvore de óleo. O tempo estava nublado, então o dia ainda estava meio escuro. Provavelmente já era mais de 6 da manhã, mas as nuvens não deixavam o sol aparecer. Mesmo assim, desci para a beirada do rio. Quando cheguei ao local que um dia gostei tanto, sentei em um canto e olhei ao redor. Ele me pareceu tão triste quanto eu naquele momento.

Como era época de chuvas, o rio estava com um volume de água muito maior e não dava mais para ver a pequena praia. As águas estavam sujas e com a correnteza mais forte. Eu rezei para não chover, ou talvez eu teria que sair dali ou ficaria ilhada nas pedras.

O enterro estava marcado para as 14 horas, então provavelmente lá pelas 16 eu poderia voltar. O problema é que, com o tempo nublado e eu sem relógio, ia ser mais complicado saber a hora de ir, mas eu daria um jeito.

Fiquei sentada ali nas pedras, pensando na vida, em como seria dali para frente. Não achava um jeito de seguir sem ter que encontrar Clara em um futuro próximo; isso me deixava agoniada.

Mudei de lugar algumas vezes, joguei algumas pedras no rio para distrair a cabeça. O dia já estava claro há um bom tempo; provavelmente já era quase hora do almoço. Eu estava com fome, mas era algo suportável. Resolvi deitar em um canto, fiz uma pedra de travesseiro e fiquei olhando as folhas das árvores que balançavam sobre mim.

Foi passando um filme pela minha cabeça. Fui lembrando do dia em que minha mãe entrou naquela casa de adoção até nossa última conversa no hospital, quando ela morreu nos meus braços. Não consegui segurar o choro.

Não sei o que aconteceu, mas provavelmente o cansaço e o sono me fizeram apagar ali, deitada naquelas pedras. Acordei com alguém me balançando pelo ombro e chamando meu nome. Eu nem precisei abrir os olhos para saber quem era.

Quando olhei, tive a certeza de que era ela.

Clara— Eu sabia que você estava aqui! Acorda, que temos muito o que conversar, Ceci.

Eu não podia acreditar que ela tinha ido ali me procurar. E ainda por cima queria conversar, depois de tudo que ela fez?! Eu não queria saber de nada dela, não queria nem ver a cara dela. Imagina conversar, depois de todo esse tempo!

Estava decidida; eu não tinha nada para falar com ela.

Continua…

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Foto de perfil de Forrest_gumpForrest_gumpContos: 391Seguidores: 87Seguindo: 62Mensagem Sou um homem simples que escreve história simples. Estou longe de ser um escritor, escrevo por passa tempo, mas amo isso e faço de coração. ❤️Amo você Juh! ❤️

Comentários

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Que coisa maravilhosa, saiu mais um 👏👏👏👏👏👏 tá na hora de Cecília ouvir Clara toda história tem dois lados

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Nossa que bom esse foi liberado rápido, tomara que Ceci esfria os pensamentos é escute o que a a Clara tem a dizer, é tomará que o que a mãe dela falou seja mentira, assim eu espero.

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Quando não vai pra análise é rápido, uns 5 minutos no máximo depois que a pública o site libera pra leitura

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Sai outro hoje?

Estou esperando 😃🐈😃😃😃😃😃

Na hora do melhor momento acaba .kkkkk

Parabéns 👏👏👏

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Concordo com vc Paulo, tá na hora da Cecília baixar a guarda.

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Quem teve o coração ❤️ machucado demora para secuperar .

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Sim exatamente, baixar a guarda e ouvir o que o amor da vida dela tem a dizer.

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