Clara Lesb. - Uma Amante Improvável - Parte I

Um conto erótico de Multiface
Categoria: Heterossexual
Contém 2045 palavras
Data: 18/09/2023 16:58:33
Última revisão: 19/09/2023 11:22:08

Corria o ano de 2006 e eu não estava muito entusiasmando para me jogar em mais um trabalho longo e complicado. Na época, um cinquentão como eu, estabilizado na vida, com um emprego que deixava solto pra decidir o que fazer, não tinha porque procurar pelo em ovo. A realidade é que estava muito desanimado. Numa daquelas manhãs frias e nubladas do interior de São Paulo, resolvi entrar no bate-papo do UOL, coisa que não fazia há anos. Naquela época não havia limite para o número de salas que a gente podia entrar e entrei nas da minha cidade e algumas das cidades vizinhas. Comecei a procurar um bom papo e mexer com todos os nicks que me atraíram. Numa das salas de uma cidade próxima dei um "oi" pra CLARA LESB., sem nenhuma expectativa de receber resposta. No entanto, para minha surpresa, tive um "oi" de volta. Depois dos clássicos "de onde tc", "qual sua idade", etc. e tal, iniciamos uma boa conversa. Descobri que ela era conhecida pelo apelido de Tuca e que trabalhava numa tecelagem. Tuca era lésbica e se descrevia como uma mulher madura, quarentona, morena de cabelos encaracolados e um pouco acima do peso. Ela reclamou que estava se sentindo solitária pois havia terminado um relacionamento há alguns meses e não havia se interessado por outras mulheres. Vivia com uma idosa num apartamento no centro da cidade e tinha uma boa vida, pois seu salário era muito acima da média. Não foi difícil de nos identificarmos pois, apesar de casado, eu também estava solitário e sem perspectivas, como já expliquei. Nossa condição de "coitados" nos uniu. Acabamos ficando amigos do bate-papo e combinamos de entrar todo dia no mesmo horário. Nós nos tratávamos de forma carinhosa, ela me chamando de "lindo" e eu a chamando de "anjo". Nem todas as vezes que eu entrava a encontrava e durante meses a gente conversou somente pelo bate papo. Nesse tempo, pudemos nos conhecer razoavelmente e saber que deveríamos ocupar, cada um o seu quadrado. Num determinado momento, no entanto, eu disse que gostaria de conhecer a minha amiga pessoalmente e ela me pareceu surpresa. A conversa transcorreu mais ou menos assim:

- Você quer me conhecer pessoalmente?

- Sim, estou interessado em te ver e falar com você ao vivo, garota.

- Mas o que você quer comigo?

- Quero conhecer minha amiga. Afinal a gente já conversou sobre quase tudo de nossas vidas e acho que podemos ser amigos de verdade. Além disso, moramos tão perto que nada impede esse encontro.

- Mas eu sou...

Ela parou no meio da frase e manteve-se um silêncio enorme do outro lado. Eu fiquei esperando pra ver o que viria e não veio.

- Tuca, você está aí... Caiu?

- Estou, aqui, sim.

- Então, você está preocupada porque duvida de minha sinceridade em querer te conhecer? Tem alguma dúvida quanto à minha honestidade? Imagina que pode ser um golpe? Ou acha que meu interesse em você é sexo?

- Acho que é tudo isso, junto e misturado. Eu sou lésbica, você sabe disso, né?

- Claro que sei. E por acaso, lésbica não pode ter amigo homem, hétero?

- Ah, pode, claro. Mas você quer só me conhecer, mesmo?

- É, quero sim. Acho que já nos demos razões suficientes para que um confie no outro. Claro que vamos nos ver num local público, talvez um almoço. O que acha?

- Olha, vamos fazer uma coisa, me liga, agora, nesse instante e a gente conversa.

Tuca me passou o número do seu telefone fixo e o ramal. Para quem nunca admitiu nada além de mensagens no bate-papo, aquilo foi uma enorme surpresa para mim. Ainda mais porque era o telefone da empresa.

- Obrigado pela confiança. Prometo que serei muito discreto.

- Eu sei que será, lindo, por isso passei o telefone pra você. Já sei que posso confiar em você, até porque você é um homem casado e não pode se expor. E, depois, agora é o horário do almoço e estou praticamente sozinha aqui.

Como eu estava sozinho em minha sala, liguei imediatamente. A telefonista transferiu a ligação e começamos um papo muito agradável. Falamos novamente quase tudo que tínhamos teclado. Até que minha amiga amoleceu.

- Sabe, lindo, você tem uma voz muito gostosa. Macia e galante. Gostei, viu.

- Hummm, deve ser defeito do telefone. Mas podemos testar isso pessoalmente, o que acha?

- Olha, eu nunca conheci ninguém das salas de bate-papo, sabe? Você está quase me convencendo, mas ainda tenho medo e além de tudo, sou muito tímida. Se eu te pedir um tempo pra pensar, você fica chateado?

- Não, não fico. O que mais poderia eu fazer? Quanto tempo?

- Amanhã te respondo, sem falta. Confie em mim. Entra no bate-papo como de costume.

Nos despedimos e fiquei encucado. Será que tinha feito alguma merda? Eu tinha sido sincero e pareceu que tinha assustado a amiga. Talvez ela nem voltasse a falar comigo. Como tem muita gente maluca nas salas do bate-papo, resolvi acionar o botão do foda-se e esperar o dia seguinte.

**********

Entrei no bate-papo e lá estava CLARA LESB.

- Bom dia, anjo. Tudo bem contigo?

- Ótima. Estava nervosa te esperando.

- Nervosa por que?

- Acho que o certo seria ansiosa. Porque já tenho a resposta. Você pode vir hoje? Poderia ser na hora do almoço?

Eram quase 10 horas da manhã. Eu não havia programado nada de especial e teria que arrumar uma desculpa pra não ir almoçar em casa como de costume. Mas o convite foi irrecusável. Afinal, Tuca me pareceu, mesmo, ansiosa.

- Qual é o horário do almoço?

- Chegue por volta das onze e meia. Recebo você aqui na empresa. Acho que é mais correto pra um primeiro contato.

- Tá combinado. Me passa o endereço.

Depois que anotei o endereço e arrumei uma desculpa pra não ir pra casa, acabei de fazer o que tinha planejado no meu serviço e fui ao encontro da Tuca. Ao chegar na empresa, fui avisado que ela me esperava e fui encaminhado diretamente para sua sala. Para chegar tive que atravessar um grande salão repleto de mesas de trabalho, todas vazias. Ao fundo, ela me esperava na porta do seu escritório. Tuca me recebeu com uma expressão de alegria no rosto. Seu sorriso era contagiante e me deparei com uma bela mulher. Mais alta do que a média, devia ter mais de um metro e setenta e seu corpo estava preso num vestido elegante e colado que valorizava suas curvas, sob um blazer de executiva que deixava espaço para um decote muito sensual. Aliás, eram muitas curvas. Como havia se autodescrito, estava mesmo um pouco acima do peso. Em pé, na minha frente, estava uma morena de cabelos encaracolados e pele jambo, com um perfil daqueles que os americanos chamam de "curvy". Na realidade, eu via uma mulher gostosa e cheia de charme. Aproximei-me para os beijinhos protocolares de boas vindas e senti um perfume delicado e suave.

- Que bom conhecer você, meu anjo, muito prazer.

- Prazer é meu, lindo. Entra e senta. Fica a vontade. Nesse horário a gente pode relaxar. O pessoal só volta ao trabalho às treze horas.

Conversamos bastante, sobre muitos assuntos e eu, dentro daquilo que havia me proposto, procurei desenvolver uma boa relação de amizade. Até que ela se manifestou de forma mais incisiva.

- Você está me surpreendendo, muito.

- Por que tanta surpresa?

- Primeiro pelo fato de ter conseguido que eu aceitasse te conhecer pessoalmente. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer um dia, vindo daquelas salas. Depois, pelo respeito que está me dedicando. Com todos os homens que conversei por lá, nunca tive nenhuma experiência como esta.

- Ah, é, e como foram as experiências?

- Ah, você sabe. Os caras são muito sem noção. Apesar do meu nick deixar claro minhas preferências, não levava nem dois minutos de conversa pra que fosse abusada ciberneticamente.

Me fiz de desentendido.

- Como assim?

- Não se faça de morto, lindo. Você sabe. Os caras só querem saber de sexo e todos, exceto você, me chamaram pra cama.

- Agora entendi. Mas eu tenho noção, viu. E respeito as pessoas que têm preferências fora do campo hétero. Como você tinha um bom papo, nem imaginei em avançar esse sinal. Sabia que se te convidasse pra um algo mais, perderia a amiga.

- Naquele tempo, no começo dos nossos papos, pode ter certeza que perderia mesmo.

Depois de ouvir essa afirmação eu me soltei um pouco e resolvi jogar o verde, em tom de brincadeira.

- Como assim? Só naquele tempo? Quer dizer que, agora que a gente tem mais relacionamento, eu tenho alguma chance?

- Seu safadinho. Não nega que é homem, mesmo, né? Não perde uma oportunidade, safado!

- Foi você que começou, anjo.

Ela se retraiu e mostrou seu lado tímido. Baixou o olhar e trancou a face. Um grande silêncio se instalou no local, e passou um tempo meio longo. O ambiente ficou um pouco tenso e eu procurei descontrair.

- Mas, me conta, como é seu trabalho aqui na empresa? O que você faz, afinal?

Ela, sem se mover e ainda olhando para a mesa, respondeu: "tem".

- Tem o que, anjo?

- Tem chance. Ai, meu deus, não acredito que eu disse isso!!!

- Bom, agora você já disse, mas sempre é possível se arrepender. Estou aqui como amigo e estava só brincando com você. Fico contente em saber que você se abriu comigo e vai me dar uma chance.

- Mas eu não estou brincando com você. E também não disse que te daria chance nenhuma. Mas, me deixa pensar um pouco e outra hora a gente conversa sobre isso. E me desculpe, mas acho que nosso tempo de primeiro encontro se acabou. Desculpe parecer tão mal educada. Eu acho que me excedi e preciso de um tempo sozinha. Espero que me entenda.

- Claro que sim, eu entendo e sei respeitar. A gente se fala. Estou indo.

Levantamos e nos despedimos com os beijinhos protocolares no rosto. Ela voltou a se sentar na sua cadeira de trabalho e quando eu estava fora do escritório, ouvi: "te espero amanhã no chat". Não me virei pra responder e só dei um sinal com a mão "ok".

**********

No dia seguinte, não consegui controlar minha ansiedade. Tuca tinha me dito que eu teria chance com ela, aquele baita mulherão que acabara de conhecer "ontem". Uma lésbica querendo sexo comigo. Do que se tratava realmente? Será que eu havia entendido corretamente? Tinha que chegar logo o horário de falar com ela no chat. Chegando o horário de costume, entrei e CLARA LASB. estava lá.

- Oi anjo, como passou de ontem?

- Bem e você?

Começamos um papo como num dia qualquer. Não parecia que havia rolado o papo do dia anterior e eu não queria me adiantar no assunto, temendo afugentar a "presa". Depois de um tempo, como ela não se manifestava, eu não aguentei e entrei no assunto.

- E aí, Tuca, pensou naquele caso?

- Ai, lindo, eu estava com medo de tocar nesse assunto. Estou suando frio aqui. Nem sei o que dizer. Bom, acho que nem sei COMO dizer.

- Não tem que dizer nada. Só tem que escrever. Qualquer coisa que me propuser, mesmo um arrependimento, não mudará nossa amizade.

- Ai... tá certo, então vou falar: você sairia comigo se não tivesse penetração?

Eu, sinceramente, não esperava por uma proposta dessas. Fiquei estarrecido e sem saber o que responder. Jamais imaginei que a minha amiga me propusesse algo assim. Demorei algum tempo pra reagir e pensei que deveria responder positivamente, sem dúvida. Afinal, pra quem não tinha nada, talvez um rala e rola fosse um bom começo.

- Anjo, eu estou imaginando que você está me convidando pra gente ficar a sós, num local reservado, meio escondido, sem que necessariamente tenhamos que fazer sexo. Tá correto?

- Sim, é mais ou menos isso. Eu quero ficar sozinha com você, conversar muita coisa, sentir você bem pertinho, mas não quero... tenho medo... ai... não sei explicar aqui no bate-papo. Acho que pessoalmente será mais fácil. Topa?

Aquela proposta era irrecusável. Tuca era um mulherão e eu não tinha nada a perder. topei na hora e ela me disse pra ligar para que a gente pudesse combinar o encontro. Notei uma certa ansiedade por parte da minha amiga e tentei me controlar. Liguei, como ela pediu, mas o desfecho disso fica para o próximo conto. Não perca.

Continua...

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 21 estrelas.
Incentive Multiface a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários