A vida foi seguindo, e as coisas começaram a dar certo. Parece que, depois de tanto sofrimento que eu e Clara passamos, o destino quis nos compensar com uma vida tranquila e cheia de amor.
Ontem foi nosso aniversário: completamos 46 anos. Comemoramos com nossos amigos e família, foi uma festa muito divertida. Matei saudades de pessoas queridas que hoje não vejo todos os dias como antigamente, como Patrícia e Jorge, que são uns queridos e amigos que a vida me deu. Sou muito grata por isso.
Acordei cedo hoje e eu e Clara viemos para a beira do rio. Fizemos amor na água e depois sobre as toalhas na areia. É impressionante o fogo que meu amor tem; quase me mata de tanto prazer. Agora, ela está dormindo aqui deitada no meu colo. Eu amo ver ela dormir depois que fazemos amor.
Estava olhando ela dormir e lembrando da nossa história e das pessoas que fizeram parte dela.
Patrícia se formou. Cinco meses após sua formatura, se casou com Jorge. Ela trabalhou por cinco anos em uma fazenda de café aqui na região como agrônoma. Depois, ela, Clara e Jorge resolveram arriscar suas economias em uma plantação de café. Eu fiquei com o pé atrás no início, mas a coisa deu certo. Hoje, a outra fazenda que eu e Clara temos é toda formada em café. Jorge e Patrícia moram com seus três filhos nela e administram tudo. Estão bem de vida hoje, mas trabalharam muito para conquistar suas coisas. Tenho muito orgulho deles.
Cristina e Julia ainda moram na fazenda. Cristina continua sendo meu braço direito, mas agora também ajuda Clara a administrar seu dinheiro. Julia ficou no lugar de Ana quando Ana foi morar com a filha na outra fazenda; já era hora dela descansar também, trabalhou muito a vida toda.
Cristina resolveu assumir para sua família, depois de quase oito anos que estava vivendo com Julia. Sua mãe aceitou bem; o pai não aceitou muito no início, mas depois acabou aceitando, e hoje a relação deles é ótima. Cristina e Julia adotaram uma menina linda que hoje está com 19 anos. Moram em uma casa grande que construímos para elas na fazenda. Além de funcionárias exemplares, são amigas incríveis.
Igor vem todo ano na fazenda, ou no nosso aniversário ou nas festas de fim de ano. Ele hoje é um médico respeitado em BH, se especializou em cirurgias plásticas. A cada visita, ele traz um "amigo" diferente; ele diz que relacionamento sério não foi feito para ele.
Clara se formou e abriu seu consultório na cidade. Trabalhou uns 15 anos no hospital da cidade. Quando saiu, abriu uma fundação que arrecada dinheiro e ajuda pessoas carentes, principalmente crianças abandonadas. A casa onde eu morei no início da minha infância hoje é administrada pela fundação dela. A vida dela foi muito corrida, principalmente no início, mas ela sempre arrumou tempo para mim e para ler seus livros.
Clara nunca usou dinheiro da fazenda depois que construiu seu consultório. Ela sempre fez questão de comprar as coisas com seu dinheiro. Depois que investiu no café junto com Patrícia e Jorge, e as lavouras começaram a produzir, o rendimento dela, juntando tudo, era superior ao da fazenda. Hoje em dia, ela só recebe 20% do lucro do café, porque a fazenda é dela, mas Jorge e Patrícia já tocam tudo sozinhos, sem precisar da ajuda financeira de Clara.
Eu e Clara nunca nos casamos porque, nos documentos, somos irmãs. Também nunca foi algo que a gente sonhou em fazer. Nunca assumimos nosso relacionamento em público, mas claro que a cidade inteira sabe ou desconfia. Uns olham torto para a gente na rua, outros não dão a mínima, e a gente não liga para isso, desde que não faltem com respeito.
Pegamos duas crianças para criar, duas meninas. Infelizmente, para a gente adotar, sendo solteiras na época, era impossível. A mais velha tem 21 anos e está na faculdade fazendo medicina, igual a mãe. Ela namorou um garoto que conheceu no colégio por um tempo, mas agora está solteira e focada nos estudos. A mais nova tem 18 e está terminando o colégio; quer fazer veterinária. Ela é apaixonada por animais e pela filha mais velha da Patrícia e do Jorge. As duas namoram há algum tempo. Patrícia brinca que minha filha levou a filha dela para o mal caminho, mas é realmente brincadeira; Patrícia sempre apoiou o namoro das duas.
Nossas filhas hoje estão registradas em nosso nome: a mais velha no nome de Clara e a mais nova no meu nome. Foi uma luta para a gente conseguir registrar as meninas. Desde crianças, a gente conversou muito com elas; nunca escondemos nada das duas. Graças a Deus, criamos duas garotas muito bem educadas e de mente aberta. Amo muito minhas filhas; são minhas maiores conquistas e tenho muito orgulho delas.
Infelizmente, nesse tempo, eu perdi duas pessoas muito queridas e importantes para mim. Sebastião faleceu há 10 meses. Foi um baque enorme para todos; ele era muito querido por todos nós. Para mim, sempre foi mais que um companheiro de trabalho ou empregado; ele era como um pai para mim. Foi quem me ensinou tudo sobre fazenda, lida com o gado, montaria e foi meu amigo até o fim.
Outra pessoa que nos deixou foi Tonha, minha primeira mãe, quem cuidou de mim quando eu fiquei sem ninguém no mundo, quem me educou nos primeiros anos de vida. Nunca vou esquecer o que ela fez por mim.
A fazenda mudou muito. Acho que a única coisa que continua mais ou menos igual é a casa da sede. Fizemos várias reformas nela, mas nunca mudamos sua estrutura. Até hoje, mantemos o estilo do casarão antigo, com portas e janelas de madeira, assoalho de tábuas e telhado com telhas de barro. O restante mudou tudo; hoje está tudo modernizado. Não vendemos mais nosso leite; pelo contrário, hoje a gente compra de várias fazendas da região. Temos uma queijeira enorme e produzimos uma boa quantidade de queijos artesanais e de massa cozida. Os queijos Ferreira são muito conhecidos na região e em uma boa parte do estado de SP.
Hoje, a antiga estrada de terra não existe mais; a estrada foi asfaltada, e isso melhorou muito o acesso e valorizou as fazendas da região. Nosso lugar secreto ainda continua igual antes, mas infelizmente já não temos tanto tempo de vir aqui curtir. Hoje tiramos o dia só para a gente; sempre fazemos isso no nosso aniversário.
Clara— Amor, o que você está pensando aí?
Ceci— Oi!
Clara— Nossa, você estava longe, hein? (risos)
Ceci— Desculpe, eu não vi que você tinha acordado. Estava pensando em tudo que passamos até hoje.
Clara— Nossa, então eu dormi bastante.
Ceci— Um pouco (risos).
Clara— Mas agora acordei, o sol ainda está alto. Vamos voltar para o rio? Estou doida de vontade de gozar dentro d'água.
Ceci— De novo?! Você não cansa, não?
Clara— De você, nunca, amor!!!
Ceci— Acho bom mesmo (risos). Te amo!!!
Clara— Também te amo, amor.
Fim!!!
(Espero que tenham gostado! Desculpe pelos erros de português. Obrigado a quem acompanhou e até a próxima! 😁)