Era uma conversa entre Gustavo e Stella. Nas mensagens, ela dava em cima dele descaradamente, enquanto ele pedia para ela parar, afirmando que me amava e não queria nada com ela. Em seguida, ela começou a falar mal de mim, me chamando de idiota e de "filhinha de papai". Depois da última mensagem do Gustavo, em que ele disse que, se ela não parasse, iria bloqueá-la, veio uma foto. Ela havia tirado uma foto da vagina e enviado para o meu namorado, escrevendo logo abaixo que era toda dele se ele me deixasse. Eu saí dali em direção ao banheiro, tomada pelo ódio.
Por isso ela chorou quando falei que tinha transado com Gustavo. Ela estava com ciúmes e sempre falava que ele não prestava; na verdade, estava apaixonada por ele e queria separar a gente para ficar com ele. Minha melhor amiga tinha feito uma puta sacanagem comigo.
Quando entrei no banheiro, a vi perto dos lavatórios, de costas para a porta. Assim que ela se virou e me viu, foi falar algo, mas eu dei um tapa forte na cara dela. O celular que estava na mão dela caiu no chão e ela arregalou os olhos. Eu a chamei de falsa, de vagabunda. Ela olhou para o celular no chão e tentou pegar, provavelmente querendo apagar a conversa, mas eu a empurrei. Ela voou de costas, batendo entre a parede e os lavatórios. Os olhos dela se reviraram e ela ficou com a cabeça meio de lado, levando as mãos ao rosto. Eu pisei no celular dela, que virou um monte de cacos, e fui para cima dela de novo, mas alguém me segurou e me arrastou dali.
Era uma das faxineiras que ouviu meus gritos e foi até lá ver o que estava acontecendo. Já havia juntado um monte de pessoas ao redor. Gustavo falou para eu sair dali, mas não deu tempo. Um professor viu a confusão e me levou para a secretaria.
Eu estava com muita raiva. Nunca esperei que Stella fosse trair nossa amizade assim. A diretora chegou, se informou do ocorrido, ligou para minha mãe e para o pai da Stella. Ela me disse que eu só sairia dali com minha mãe e que teria uns dias de suspensão, pois eu tinha agredido uma colega de classe, que havia ido parar no hospital.
Como assim, hospital?! Ela só levou um tapa e um empurrão, não se machucou a ponto de ir para o hospital, pensei, mas não falei nada. Depois de um tempo, meu pai chegou. Estranhei que ele tivesse vindo e não minha mãe. Levei 20 dias de suspensão e saí dali direto para casa. Perguntei ao meu pai por que ele veio e não minha mãe. Ele disse que minha mãe foi para o hospital ficar com Stella, pois o pai dela não estava na cidade.
Aquilo me deixou com mais raiva de Stella. Além de tentar roubar meu namorado, ainda pedia ajuda para minha mãe. Meu pai estava com uma cara de bravo, mas ele é do tipo que não dá bronca, só conselhos. Dessa vez, ele não falou nada, apenas me levou para casa e ficou lá comigo até minha mãe chegar. Isso demorou muito. Quando minha mãe chegou, já era noite. Eu estava no meu quarto e vi quando ela entrou com o carro pelo portão. Desci e fui falar com ela, sabendo que levaria uma bronca, porque minha mãe é bem diferente do meu pai. Ela é sangue quente; acho que puxei esse lado dela.
Antes mesmo de eu falar alguma coisa, ela já falou com a voz cheia de raiva;
Mãe— Você tem algum problema na cabeça? Você quase matou a Stella, sua louca!
Karla— Eu só dei um tapa e um empurrão naquela vagabunda.
Mãe— Não admito que você fale assim dela dentro da minha casa. Se você falar assim dela de novo, eu que vou te dar uns tapas, porque você está merecendo.
Karla— Mas mãe, ela tentou roubar meu namorado e a senhora ainda vai ficar do lado dela?
Mãe— Aquele seu namorado mentiroso! Abre os olhos, minha filha, ele te trai e Stella sabia e ia te contar.
Karla— Mãe, eu vi a conversa da Stella com ele; ninguém me contou, não. Eu vi! Claro que Stella inventou isso pra senhora.
Mãe— Você está cega de amor mesmo. Bom, você é maior de idade e a vida é sua. Se você quer acreditar naquele mentiroso, acredite. Só te aviso uma coisa: dentro da minha casa, ele nunca mais coloca os pés, tá ouvindo?
Karla— A casa não é só sua! Você não pode proibir meu namorado de vir aqui, mãe.
Mãe— Aí que você se engana, essa casa é só minha sim, herança do seu avô, e aqui mando eu. Aqui ele não coloca mais os pés. Nunca mais quero ver a cara daquele sujeito.
Karla— Se é assim, eu saio daqui. Se ele não pode vir aqui, eu não vou morar aqui mais.
Mãe— Já disse que a vida é sua, não estou te expulsando de casa, mas se você quer ir, vai. Mas você vai se arrepender, e muito.
Karla— Não acredito que vai mesmo ficar do lado da Stella e contra mim, que sou sua filha.
Mãe— Não estou contra você, só estou tentando abrir seus olhos. Aquele cara e essa tal Telma não valem nada.
Karla— Quer saber? Acredita na Stella então. Fica com ela aí no meu lugar. Eu cansei disso, vou sair daqui.
Mãe— Vai se arrepender, estou te avisando.
Karla— Como você mesmo disse, é minha vida. Então, se eu me arrepender, é problema meu.
Mãe— Quando isso acontecer, pode ligar, eu vou te ajudar.
Karla— Não preciso da sua ajuda, não, mãe.
Saí dali com muita raiva. Minha mãe acreditou na Stella e não em mim, mas eu vi as mensagens, eu vi como ela vinha se comportando. Que minha mãe fique com ela, decidi sair dali. Qualquer coisa, eu iria morar com Gustavo.
Entrei no meu quarto e comecei a arrumar minhas coisas. Quando ia sair, meu pai entrou e perguntou onde eu iria ficar. Falei que não sabia, mas que naquela casa não tinha como mais eu ficar.
Meu pai me falou que tinha uns apartamentos de aluguel que ele havia comprado há uns meses e que eu poderia ficar em um deles, que estava vazio. Ele se ofereceu para me levar, e eu aceitei. No caminho, ele disse que era para eu esfriar a cabeça e pensar melhor no que estava fazendo. Eu disse que não ia voltar atrás, que Stella tinha mentido para minha mãe e que ela tinha acreditado nela e não em mim. Ele não falou mais nada.
Chegamos no apartamento, que estava vazio. Meu pai disse que iria comprar uns móveis e mandar entregar no outro dia. Me deu cem reais em dinheiro e falou que era para eu abrir uma conta no banco, que ele ia mandar o dinheiro para eu pagar a faculdade e comprar o básico para sobreviver.
Eu dormi no chão naquela noite. Meu ódio por Stella só aumentou. No dia seguinte, vieram entregar os móveis. O apartamento ficou pronto no final da tarde. Meu pai passou lá novamente, me deu uma boa quantia em dinheiro para eu comprar utensílios domésticos e me trouxe uma marmitex. Pediu para eu não esquecer de abrir a conta no banco e passar para ele. Meu pai era um amor de pessoa, sempre calmo, e não falava muito.
O tempo foi passando. Meu pai depositava o dinheiro da faculdade e mais 1.500 reais todo mês. Nunca mais vi Stella; provavelmente, ela saiu da faculdade. Na verdade, achei bom ela ter sumido. Por mim, poderia ter ido até para o inferno que eu não ligava. Minha mãe nunca mais falou comigo, e nem eu fui atrás dela. Sinto falta dela, mas ela que escolheu acreditar naquela vagabunda.
Gustavo e Telma me davam o maior apoio. Meu namoro estava ótimo, e ele praticamente morava comigo no apartamento. Era bom que Telma passava lá e nos levava de carro para a faculdade, economizando o dinheiro da passagem.
Meu pai me visitava às vezes, mas sempre ia quando sabia que Gustavo não estava. Acho que minha mãe fez a cabeça dele e ele não aprovava meu relacionamento, mas também nunca falou nada. Para evitar brigas, nunca perguntei.
Em agosto, Gustavo perdeu o trabalho e disse que teria que se mudar para o outro lado da cidade, pois o aluguel do apartamento era meio caro e o dinheiro que ele juntou ia ser para pagar os últimos meses da faculdade. Se ele não arrumasse um trabalho, teria que parar de estudar.
Como ele praticamente vivia comigo, falei para ele se mudar de vez, mas ele disse que não podia abandonar a Telma. Eu disse que ela também podia vir e ficar no outro quarto; a gente se dava super bem, ela era muito gente boa comigo.
Depois de 10 dias, eles se mudaram. Fiquei muito feliz. Telma me ajudava nas despesas e nos trabalhos da casa. Logo, Gustavo arrumou trabalho de segurança em uma boate e começou a ajudar também. O ruim é que, na sexta e sábado à noite, ele tinha que trabalhar a noite toda.
Geralmente, eu passava as noites do final de semana sozinha, porque Telma trabalhava em uma empresa de festas. Ela geralmente não dormia em casa no final de semana e, alguns dias da semana, também tinha que trabalhar.
Em agosto daquele ano, comecei a passar mal em casa: tontura, vômito. Fui ao médico e descobri que estava grávida. Fiquei em choque, porque Gustavo sempre usou camisinha. Ele disse que não tinha problema nenhum em usar, e por isso eu nem tomava pílula. Essa gravidez veio em um momento muito ruim, pois iria atrapalhar meus estudos. Mas, com o apoio de Gustavo e Telma, decidi ter a criança. Gustavo ficou muito feliz; disse que o sonho dele era ser pai. Eu tinha encontrado o homem perfeito, pena que minha família não gostava dele por causa das mentiras da Stella.
Depois que Gustavo foi morar comigo, meu pai raramente aparecia, mas me ligava sempre. Quando contei que estava grávida, ele me deu os parabéns, mas senti que ele ficou triste com a notícia. Imaginei que era por ser um filho do Gustavo. Aquela situação era muito complicada. Eu sentia saudades dos meus pais, mas infelizmente não tinha o que eu fazer.
Gustavo queria se casar, mas eu não achei necessário e disse que poderíamos fazer isso no futuro. Ele insistiu, e então ficamos noivos, mas eu disse que só iríamos nos casar depois que nosso filho nascesse.
Eu estava no terceiro mês de gravidez. Depois que fiquei grávida, Gustavo me pareceu meio distante. O sexo também esfriou. Meu corpo já tinha mudado um pouco; talvez eu já não estivesse tão atraente. Até falei com Telma, mas ela disse que Gustavo estava com a cabeça a mil, por ter que criar um filho e não ter conseguido um emprego melhor. Eu disse que, como era o penúltimo ano dele na faculdade, em um futuro próximo ele estaria formado e arrumaria um trabalho melhor.
No final de janeiro, meu pai apareceu no apartamento em um sábado à noite, quando eu estava sozinha. Ele estava mais magro e bem abatido. Fiquei preocupada com ele, mas ele disse que estava doente por causa de uma gripe forte, mas que já tinha ido ao médico, se medicado e logo estaria bem.
Conversamos um bom tempo. Ele pediu para fazer carinho na minha barriga, que já estava bem maior. Ele ficou emocionado, encheu os olhos de lágrimas. Quando foi embora, me deu um abraço muito apertado e disse que me amava mais que tudo nesta vida.
Amei ouvir aquilo do meu pai. Acho que minha gravidez mexeu com ele. Tive certeza naquele momento de que ele seria um vovô coruja.
Faltava uma semana para começar as aulas, mas eu resolvi trancar minha faculdade. Eu iria ser mãe e queria me dedicar ao meu filho. Na primeira semana de fevereiro, meu celular começou a tocar. Olhei e era minha mãe. Pensei em não atender, mas no fim peguei e atendi. Minha mãe estava chorando e, com alguma dificuldade, disse que meu pai tinha acabado de falecer.
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper