As três garotas foram suspensas. Depois de 10 dias, Aline e a outra voltaram a frequentar as aulas. Ficaram muito tempo quietas, sempre de cabeça baixa no canto delas, mas logo isso virou assunto antigo e elas voltaram a conversar e fazer graça com os outros alunos.
Luana eu nunca mais vi. Não sei se mudou de cidade, se deixou a faculdade, não sei o que foi feito dela até hoje.
Bom, mas voltando à parte que interessa, Layla me ligou naquele mesmo dia à tarde. Conversamos bastante. Ela disse que Matias era seu primo de segundo grau, que ele realmente queria que ela fizesse uma denúncia, mas ela preferiu não fazer e tentar resolver numa boa.
Ainda rimos por elas terem usado o próprio número para divulgar o vídeo. Foi muita burrice delas! Layla acha que Luana contratou uma garota de programa e dois garotos para fazer o vídeo. Ela também disse que Cristian viu o vídeo e comentou que o banheiro era parecido, mas não era o vestiário da faculdade. Provavelmente, foi gravado em um banheiro de motel ou algo assim.
A gente estava no maior papo quando Sophia chegou no quarto com Lúcia e começou a me chamar. Pedi a Layla para esperar um pouco, pois Sophia queria tomar sorvete. 🤭
Falei para Lúcia que podia dar um pouco de sorvete para ela, até porque estava calor. Elas saíram e voltei a falar com Layla. Ela me perguntou se eu estava enganada ou se uma criança estava me chamando de mãe. Eu disse que ela não estava enganada, que eu tinha uma filha de 3 anos e pouco, que era meu maior tesouro. Ela disse que queria conhecer, e eu prometi que mandaria uma foto depois, mas que ela iria conhecer a Sophia quando viesse me visitar.
Layla fez uma pausa e perguntou se eu ainda queria que ela fosse à minha casa.
Karla— Claro que quero, mas por que a pergunta?
Layla— Bom, é que agora você sabe que sou lésbica.
Karla— E daí? Para mim, foi uma surpresa porque eu não fazia ideia, mas só isso. No mais, para mim, não mudou nada.
Layla— Nossa, que bom ouvir isso! Geralmente, as pessoas se afastam quando sabem. Nem todas, mas algumas sim.
Karla— Graças a Deus, eu fui educada por dois pais incríveis que sempre me ensinaram a respeitar todo mundo, independente de cor, religião, classe social e opção sexual. Como eu disse, para mim, não mudou nada. Meu convite ainda está de pé, ok?
Layla— Ok! Vamos combinar algo no final de semana, se você não estiver ocupada. Pode ser?
Karla— Não vou estar não, marcamos sim.
Layla— Olha, gostei de você, viu? Acho que vamos ser boas amigas.
Karla— Ah, também gostei de você e penso exatamente igual.
Aquela conversa descontraída foi o início da nossa amizade. Não éramos mais só colegas de curso; a gente realmente se tornou amiga depois daquela conversa. No dia seguinte, quando nos vimos na faculdade, ela já me abraçou, e foi um abraço um pouco mais demorado, como se estivéssemos selando ali o que tínhamos conversado no telefone.
No intervalo, ela já não ficou colada no Cristian. Ela o arrastou com ela e vieram sentar na mesa onde eu sempre ficava. O papo rolava fácil; ela era divertida e me fazia rir. Eu, na verdade, estava precisando daquilo: de alguém para conversar, que me fizesse sorrir, que fosse uma parceira como a Stella tinha sido um dia.
No sábado, ela foi à minha casa almoçar, levou uma boneca muito linda para a Sophia e conquistou minha filha de primeira. Ela conheceu Lúcia e minha mãe, que chegou do trabalho e se juntou a nós na varanda da casa. Ficamos ali muito tempo conversando e rindo. Depois, mostrei meu quarto para ela, e conversamos ali durante muito tempo também.
Descobri que ela era filha única, que o pai era arquiteto e a mãe advogada, que ela é assumida há 6 anos e que a família aceitou numa boa. Ela disse que o pai dela achou bom, porque sendo lésbica, iria diminuir muito as preocupações dele quando ela começasse a sair de casa e a namorar.
Ela contou que namorou uma amiga de colégio, que as duas meio que se descobriram juntas, mas que depois de 8 meses de namoro, perceberam que não havia amor entre elas. Terminaram o namoro de boa e continuaram amigas. Mesmo depois disso, se pegaram algumas vezes, mas foi só sexo mesmo. A amiga tinha ido estudar fora e aí se separaram.
Ela nunca se apaixonou, mas já teve uns rolos por aí, mas nada sério. Eu contei minhas histórias para ela. Era incrível como, em pouco tempo, eu me sentia à vontade para contar as coisas. Quando terminei de contar o que aconteceu comigo, me senti mais leve; me fez muito bem.
Quando a gente se deu conta, já era noite. Lúcia já tinha ido para casa e Sophia estava com minha mãe na sala. Layla queria ir embora, mas convenci-a a ficar para jantar com a gente. Ela e minha mãe se deram muito bem, por sinal.
Era umas 20 horas quando ela se foi. Eu a acompanhei até o portão. Ela tirou seu carro, e fui até a porta dar um abraço. Nos despedimos e eu voltei para dentro de casa. Minha mãe estava na sala com Sophia, que brincava com a boneca nova. Minha mãe me olhou e disse—
Mãe— Muito gente boa sua amiga, e muito bonita também.
Karla— Ela é sim, muito gente boa e com certeza linda. Foi a primeira coisa que reparei nela quando a vi pela primeira vez. A beleza dela chama muito a atenção, mas com o passar do tempo, descobri que a beleza dela não era só física. Acho que fiz uma boa amizade.
Mãe— Fico feliz por você, filha. Fazia tempo que não te via assim tão feliz.
Karla— Verdade, mãe. Estou feliz. As coisas estão indo bem na minha vida ultimamente, graças a Deus!
Chamei Sophia e a gente foi tomar banho. Depois deitamos. Sophia tinha brincado quase o dia todo, estava cansada e logo dormiu. Eu fiquei ali pensando na vida, e logo chegou uma mensagem de Layla dizendo que tinha amado conhecer minha família, que amou o dia que passamos juntas e que esperava repetir mais vezes. Eu agradeci e disse que as portas da minha casa sempre estariam abertas para ela.
Trocamos mais algumas mensagens e nos despedimos. Logo depois, coloquei Sophia no berço, fui ao banheiro, escovei meus dentes e fui dormir.
Bom, dali em diante, minha amizade com Layla só foi crescendo. Conheci o apartamento onde ela morava sozinha; era um apartamento bem legal, por sinal. Vivíamos grudadas na faculdade. Cristian me acusou de roubar a amiga dele, na brincadeira, claro. Ele se mostrou ser muito gente boa também.
Layla me convenceu a sair para uma balada GLS com ela. Conheci algumas amigas dela e quase fui beijada por uma morena tatuada no banheiro. A garota estava muito bêbada, mas com a ajuda de Layla, me livrei dela. Layla disse para a menina que era minha namorada, me deu um selinho e saiu me arrastando dali. Depois do susto, ri muito.
Ela aparecia sempre na minha casa, sempre levava um brinquedo ou um chocolate para a Sophia, que, claro, adorava ela.
O ano chegou ao fim. Layla ficou com 3 pontos a mais do que eu na nota geral do final do ano. Ela comemorou muito isso, parecia que tinha ganhado algum título mundial. Eu ri muito dela, mas prometi que no último ano eu daria o troco. A gente levava aquilo como uma competição saudável, até porque uma ajudava a outra, e aquela competição para ver qual era a melhor aluna dava um incentivo a mais para nós duas.
Nas férias, quase não vi Layla. Ela viajou com Cristian e a namorada para a Itália. A namorada de Cristian tinha família lá e foram passar as férias em Roma. Layla me convidou, e Cristian também, mas não tinha como eu passar quase dois meses longe de Sophia. Ou melhor, até tinha, mas eu não queria.
A gente se falava todos os dias. Ela encheu a memória do meu celular com tantas fotos e vídeos que mandou. Mesmo assim, eu senti muita falta da minha amiga.
Aproveitei esse tempo para curtir bastante minha filha, estudei bastante também. Era meu último ano na faculdade, e eu iria ter menos tempo para ficar com Sophia, já que teria que fazer um estágio.
Minha mãe ficou de falar com alguns amigos dela e do meu pai para tentar arrumar um estágio para mim, porém não foi preciso. No início de janeiro, recebi um e-mail de uma empresa de arquitetura me oferecendo um estágio. Eu pesquisei sobre a empresa e descobri que era uma das maiores de BH. Eu não conhecia e falei com minha mãe. Quando ela ouviu o nome da empresa, ela falou que precisava fazer uma ligação e já voltava.
Depois de uns 10 minutos, ela voltou e disse que era uma decisão minha, mas que a empresa era muito boa, apesar de ter tido alguns problemas no passado, pelo que ficou sabendo. Eu resolvi aceitar o estágio, respondi o e-mail e marcaram uma entrevista para o dia seguinte. Eu fui, e quem falou comigo foi o diretor-chefe da empresa. Ele disse que estavam buscando novos arquitetos, com ideias novas. Queriam dar uma renovada no pessoal, e assim pesquisaram e meu nome apareceu na lista de melhores alunos dessa área. Ele disse que, se eu quisesse aceitar o estágio, provavelmente eu seria contratada no final do ano.
Fiquei muito feliz com a oferta, e o diretor foi muito simpático e gentil comigo. Eu falei que queria fazer o estágio, sim. Ele me encaminhou para o RH, e já resolvemos as partes burocráticas. Eu começaria na segunda semana de fevereiro, iria estudar de manhã e faria o estágio das 13 às 19 horas.
Voltei para casa feliz por ter arrumado um estágio em uma ótima empresa e, provavelmente, seria contratada. Meu sonho era me formar e trabalhar com meu pai. Eu criaria os projetos, ele construiria e a gente venderia. Mas, infelizmente, não vou poder realizar o sonho de trabalhar com meu pai, e como a Stella é a dona da empresa que foi dele, eu quero distância de lá.
Poxa, essa infeliz sempre dá um jeito de atrapalhar minha vida. Parece que ela tem prazer em roubar ou tentar roubar as coisas que amo. Eu odeio essa mulher. Graças a Deus que ela sumiu para algum país da Europa depois da morte do pai dela. Que fique por lá o resto da vida.
O mês de janeiro se foi. Layla estava de volta. A gente matou as saudades no apartamento dela. Ficamos o dia quase inteiro colocando as fofocas em dia. Ela me contou que tinha ficado com uma italiana linda, me mostrou as fotos e realmente a mulher era linda. Eu contei do meu estágio. Ela perguntou o nome da empresa e, quando falei, ela pensou um pouco e disse que eu tinha dado muita sorte, porque a empresa era muito boa. Perguntei a ela se ela tinha conseguido um e ela disse que o pai dela tinha conseguido um estágio para ela onde ele trabalhava.
As aulas voltaram e, como sempre, estávamos as duas lá grudadas, mas dessa vez sem Cristian, que resolveu voltar para a parte da noite porque sua namorada tinha conseguido uma transferência para a universidade onde a gente estudava, mas só conseguiu vaga à noite.
Na segunda da outra semana, eu cheguei da faculdade, almocei e saí para ir pro meu primeiro dia de estágio. Era meio-dia, e eu teria que encarar meia hora de ônibus todo dia, já que eu não tinha carro.
Quando cheguei, fui informada que era para eu ir à sala do diretor-chefe. Eu já sabia onde era. Assim que cheguei, falei com sua secretária, e ela o avisou por telefone e pediu para eu entrar. Quando entrei, vi que tinha outra pessoa sentada na cadeira de frente à sua mesa, mas não vi o rosto porque estava de costas. Assim que entrei, a pessoa levantou e falou:
Pessoa— Nossa, que coincidência!!!
Eu levei um susto. O que ela estava fazendo ali na sala do diretor da empresa!?!
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper