Tis, Tis, Tis… O coletivo da Lapa ao Centro chega; fim do expediente e hora do rush; só para embarcar, perco dois minutos de vida. Condução cheia, amontoado humano; mulheres, crianças e homens, na maioria, dividem cada milímetro.
Passo o cartão da passagem, tiro a bag para não incomodar os passageiros; identifico o canto mais vazio, apoio-me, em pé.
Com as mãos estendidas, seguro na barra de ferro, flexiono os joelhos para buscar equilíbrio e não tombar.
Tis, Tis, Tiiiiiis… Nova parada; um mundaréu de gente embarca novamente, quem está sentado levanta e quem tem sorte senta; para a minha frente, um rapaz, 19 anos, talvez da minha altura — mais baixo bobagem — vestido com camisa preta, jeans e porta uma mochila; ele coloca a mão esquerda no espaço entre as minhas, pois, duas garotas bem nutridas compartilham o espremido local.
Tiiiiiiiiiissssssss, tum! O coletivo breca projetando-nos para frente. O rapaz se desequilibra, tomba levemente sobre o meu corpo, encaixando-se. Ao tentar restabelecer o equilíbrio, enquanto se firma nas barras dos bancos, vira o rosto e pede desculpa.
Era impossível não perceber que os seus músculos eram rígidos. Agora, estávamos em posições opostas, mas, frente a frente; eu atrás com as mãos agarradas na barra; ele a minha frente dividindo espaço com um senhor que portava uma caixa de papelão que mal permitia avistar a fisionomia. O desconhecido vira o rosto; os seus glúteos volumosos tocam a minha pélvis. Ele não parece com caras que curtem.
Contudo, o balanço do carro faz com que nossas partes se encontrem, a cueca involuntariamente aperta, ele, ao mesmo tempo, contrai os fundos para não me tocar, entretanto, os movimentos dos ônibus, forçam o contrário. Em cada freada, centímetros tomam espaço e apertam-me (nem com auxílio das mãos, posso acomodar).
Outra brecada foi inevitável; ele sentiu a extensão do meu membro e conscientiza que não poderia lutar; viu em mim a inocência de quem estava aquecido pelo prazer sem motivo aparente, para surpresa, lança uma das mãos para trás - como quem não ter nada a perder - qual estava oculta pelo mar de gente; ele toca na cabeça da minha pica; tomo um susto com o inesperado; com a ponta dos dedos, acaricia, estipulando meu membro para tomar corpo. Inclino-me para facilitar o contato, mas o veículo breca novamente; restabelecendo-o no perímetro dos meus braços.
Ele força a sua região contra mim, já com os glúteos relaxados e inclina-se levemente para trás, contraindo levemente as nádegas no afã de ultrapassar os limites das vestes.
Desejando-o, abro a boca e permito expelir o hálito quente e mentolado de dropes, em reflexo, ele erguia o pescoço e empina — ainda mais — os fundos; repito o movimento para ter certeza do estímulo, ele confirma com nova investida; finjo que vou ajeitar a mochila e toco a sua cintura, projetando, na lateral da sua calça, o dedo indicador para sentir a sua pele. Ele nada faz; aliso, aliso e vou aprofundando para sentir a tez e seu óculo. O civil se encosta mais. Com dificuldade, projeto a falange do meu dedo indicador até a sua fenda, enquanto mantenho o pulsar fálico; vou alisando com o dedo em seu caminho, o qual o Cox é o limite. Os dedos que antes encontravam resistência, já deslizam sob a derme suada, a unha, vai pesadamente tocando-a e sentido o seu calor; forço como quem pretende vencer obstáculos.
Diante das possibilidades, retiro o membro e invisto a mão espalda. Encontro o seu cu, suado e peludo, o qual apresenta alguns resquícios que permitem a ponta do dedo médio adentrar minimamente no orifício. Agora, recebo um carinho especial sob as minhas vestes, conecto-me a ele com a falange, enquanto mantemos a performance silenciosa e discreta da insistência do nada entre nós dois.
Contudo, devagar, o veículo estaciona, os passageiros apressam para descer e, com eles, ele. Tudo repentinamente cessa.
Encarando-me, o meu outrora par caminha em direção à saída, sem se desimpedir, apenas com um leve sorriso; eu, estático, permaneço; fito-o sorrindo com a lembrança de quem carrega o seu perfume - e restos - nos meus dedos.