Amor no Paraíso - Episódio 5: Primeiro Passos

Da série AMOR NO PARAÍSO
Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2354 palavras
Data: 04/10/2023 02:12:17

Como um final de semana tão gostoso terminou de uma maneira tão abrupta? Esse questionamento não saiu dos pensamentos de César, que iniciou os trabalhos no piloto automático. Emails, reuniões e vistorias. Ele terminou os compromissos e se dirigiu para o restaurante do hotel. Naquela noite, aconteceria um evento para a degustação dos principais pratos que seriam servidos para os clientes.

Além de César e Eliezer, todos os supervisores participaram do jantar. Para animar a equipe, César faria um discurso e falaria para os funcionários pela primeira vez. Atento ao seu redor, percebeu que Hugo foi um dos camareiros escolhidos para representar os seus colegas. Ele usava uma jaqueta jeans, blusa branca e um jeans apertado, totalmente à vontade.

O papel do chefe é circular em todos os ambientes e ter pequenos papos com pessoas específicas, algumas indicadas pelo Eliezer. Ao conversar com Adelaide, ele agradeceu pelo serviço das camareiras e puxou a sardinha do Hugo.

— O Hugo é um bom garoto. — destacou Adelaide. Ela segurava uma taça de champanhe e ouvia atentamente as palavras de César.

— Sim. Sempre deixa o meu quarto impecável, por favor, fique de olho no trabalho dele. Tenho certeza que o Sr. Martins vai nos dar muito orgulho. — disse César sem medir esforços para trazer uma boa reputação para Hugo.

— Pode deixar, sr. Trajano. — concordou Adelaide.

— Agora, com licença, preciso conversar com o chef Antônio. Preciso assinar alguns documentos. Tenha uma boa noite, Dona Adelaide. — César se despediu e seguiu para a direção da cozinha. Ele observou em volta e encontrou Hugo tomando champanhe com uma moça ruiva, provavelmente, a sua melhor amiga René.

Sabe aquela pessoa que você confia sua vida? René é essa pessoa para Hugo. Eles se conheceram no ensino médio e mantiveram uma amizade sincera. No início, René até tentou investir em Hugo, mas ele abriu o coração e revelou a homossexualidade. No início, René ficou triste, porém, seu sentimento pelo amigo ia muito além de sexo.

Em um lugar mais reservado e torcendo para não aparecer ninguém, Hugo desabafou com a melhor amiga. Ele contou todos os detalhes das duas vezes que esbarrou com César. Para o camareiro, os rumores podiam ser prejudiciais, entretanto, René o tranquilizou e garantiu que ninguém pensaria maldade sobre a amizade de um chefe e funcionário.

— Acho que vocês ficam bonitos juntos. — René comentou e deu uma risada abafada.

— Qual é. Nós não temos nada haver, Ruiva. Eu sou...

— Gay. — respondeu René, antes de tomar um gole de champanhe.

— E ele é...

— Gay. — ela disse com o mesmo sorriso irônico que Hugo conhecia bem.

— Para. Pode parar. Ser gay não significa nada. Esse homem é rico, René. Eu sou um camareiro. Enquanto eu limpo quarto, ele faz milhões e milhões. — Hugo disse, mas ele sabia que vinha esporro pela frente.

— Negativo. Você já foi o skatista mais famoso de Búzios. Você poderia estar ganhando tanto dinheiro quanto, Hugo. Eu sei que a situação do seu Horácio é delicada, mas não venha me dizer que você não tem futuro. — René sabia trazer o melhor de Hugo mesmo quando se tratando de uma bronca.

— Com licença. — César apareceu e fez Hugo derrubar um pouco de champanhe da taça. — René, eu posso roubar o Hugo por um minuto.

Às vezes, somos levados por pequenos impulsos. Eles determinam muito da nossa personalidade. Apesar de ser alguém sério, César Trajano também era ansioso e detestava deixar assuntos inacabados, enquanto Hugo corria para evitá-los. Em um momento de preocupação, o empresário pegou na mão do funcionário e o levou para outra sala, mas eles acabaram entrando em um depósito escuro.

— Onde fica o interruptor? — questionou César tateando a parede até encontrar o interruptor do depósito. Ele ligou a luz e deu uma risada ao ver a cara de espanto de Hugo.

— Porque você me trouxe para o depósito?

— Eu pensei que era outra sala, mas aqui serve. — afirmou César, respirando fundo. — Eu te fiz alguma coisa? Você está me evitando há dias. Até o meu quarto você não vai mais organizar.

— Não é isso, senhor. — desconversou Hugo, que ficou preocupado com uma possível repercussão dele ficar trancado em um depósito junto a César. — É que a questão familiar é muito delicada para mim.

— Eu entendo. Mas você não tem motivos para me evitar. Eu gostei de conversar com você. Foi a única pessoa que conversou comigo sem trazer o trabalho como assunto principal. — revelou César, que, realmente, estava sentindo falta de um amigo.

— Desculpa, senhor, eu não fazia ideia.

— Eu sou só César. — ele se encostou em uma das paredes. — Me desculpa, Hugo. Isso é inapropriado, eu sei. Me perdoa. Eu só preciso de ar. — saindo do depósito e deixando Hugo sozinho.

A solidão pode ser um inimigo cruel. Hugo sabia disso, pois sozinho tinha que tomar de conta do pai. Se não fosse por René e Lopez, ele não teria nenhum amigo de confiança perto. Apesar de ser simpático e conhecer muitas pessoas, Hugo não deixa qualquer um entrar em sua vida.

No dia seguinte, ele mexeu uns pauzinhos e conseguiu organizar a suíte de César. Um dos momentos que Hugo mais gostosa? Trocar os cobertores. O cheiro do empresário estava impregnado em todas as partes daquele local, mas os cobertores ganhavam disparado.

Como sempre, Hugo colocou em ação o que aprendeu no curso de camareiro: fazer gansos com toalhas. Além disso, ele separou alguns chocolates e deixou um bilhete para César.

***

Você tem um amigo aqui, César.

***

São nas pequenas atitudes que conseguimos nos destacar. Ao chegar no quarto, César sentiu o cheiro de capim limão e sorriu. No fundo, ele sabia que Hugo havia feito a limpeza do seu quarto. Um sorriso enorme abriu em seu rosto quando viu os chocolates e o bilhete de Hugo.

A partir daquele momento, a sutileza passou a fazer parte da relação dos dois. Eles sempre se encontravam fora do hotel, mas dentro do empreendimento se tratavam formalmente. Certa vez, César precisou acompanhar os arquitetos para uma inspeção geral nos quartos.

Seus olhos brilhavam quando esbarrava em Hugo. Isso aconteceu umas três vezes naquele dia. Já que o camareiro trabalhava no andar que estava sendo inspecionado. Depois de muito analisar e pedir as últimas mudanças, César andou em direção ao elevador.

Ele apertou o botão do quinto andar, mas um desesperado Hugo entrou e ficou ao lado do patrão. De repente, César começou a assobiar e ficou olhando para a porta do elevador.

— Dia agradável, né? — questionou Hugo, tentando puxar assunto e não deixar a situação desagradável.

— Clima. — respondeu César, sem olhar para o lado. — Sério, Hugo, esse é o melhor que você pode fazer?

— Bobo. — soltou Hugo, que ficou em estado de alerta. — Desculpa, chefe.

— Tudo bem. Às vezes, eu sou bobo mesmo. — disse César, que sorriu e precisou sair, pois o elevador chegou em seu andar. — Até mais tarde, Hugo.

Os pequenos encontros entre César e Hugo passaram a acontecer com frequência. Cada dia mais, o empresário se apaixonava pelo clima de Búzios. Naquela noite, por exemplo, os dois iriam ao Bar do Lopez para assistir um concurso de drag queens.

Sem ter muitas opções de roupas divertidas, César foi ao shopping da cidade para escolher um look para a festa. Através de uma chamada de vídeo, ele pediu ajuda da prima Angy, que era o seu anjo salva-vidas da moda.

Pelo celular, Angy escolheu todas as peças que César usaria no concurso de Drags. Ela amou uma camisa de linho branca de gola aberta, achou que destacaria todos os pontos positivos do primo. Já uma bermuda cargo bege foi a escolhida para complementar o look.

— Ficou lindo primo! — exclamou Angy pela chamada de vídeo.

— Eu gostei. Você sempre arrasa, prima. Eu ia comprar um tênis, mas tenho um que vai combinar. É isso. Eu preciso desligar, pois já estou atrasado. — avisou César, desligando o celular e se olhando no espelho.

Saindo do shopping, César seguiu para o Bar do Lopez, que já estava com um número considerável de clientes. Ele encontrou Hugo atarefado fazendo um bico de barman. Uma surpresa do empresário foi a presença de René. Ela estava muito bonita com um vestido rosa, algo bem confortável e leve.

— O que é isso, gente? — perguntou Lopez ao ver os looks de César e René. — É ano novo e ninguém me contou?

— Essa coisa velha? — René apontou para o próprio vestido. — Que nada, menina. Emprestei da minha mãe.

— Eu acabei de comprar no shopping. — soltou César com uma inocência que fez René e Lopez rirem.

— Qual a piada? — quis saber Hugo ao se aproximar do grupo.

— Teu chefe. Ele é um humorista. — brincou Lopez, apontando para a etiqueta na camisa de César.

— Deixa ele em paz. — Hugo aproveitou a distração para puxar a etiqueta.

— Oi. — César olhou para trás.

— Um inseto, César. — desconversou Hugo, antes de voltar para o bar.

César agradeceu a presença de René. Mesmo com a música alta, os dois aproveitaram para se conhecer mais. Diferente das pessoas de São Paulo, que eram frias e individualistas, no Rio de Janeiro, César encontrou bons companheiros, mesmo sendo seus funcionários.

Outro ponto positivo foi ter a oportunidade de conhecer mais sobre Hugo, principalmente no ensino médio. René parecia uma metralhadora de casos engraçados. Alguns fatos importantes sobre Hugo:

1 - É de sagitário;

2 - Gosta de gatos;

3 - É apaixonado por Tony Hawk, um skatista americano;

4 - Quebrou o braço ao andar de skate pela primeira vez;

5 - Já participou de grandes eventos de skate pelo mundo;

6 - Já usou uma bandeja como skate e se deu mal na escola;

***

— Um rapaz arteiro. — salientou René, bebendo o drink de limão.

— Ele é um rapaz especial. — soltou César, que logo se arrependeu da frase.

— E solteiro. — disse René mais alto do que gostaria. — Digo, ele é solitário, tadinho. O Hugo sempre se dedicou tanto aos treinos e eventos, que não criou muitos laços. Eu me preocupo, sabe.

— Imagino.

— Só que ele é teimoso. Na terça-feira, por exemplo, vai ter uma seletiva do Circuito de Skate, um evento que paga bem. Mas ele insiste em não participar. Tenho medo dele se frustrar no futuro por não usar o talento que tem. — revelou René. Ela estava bêbada, mas preocupada com o melhor amigo.

Do nada, uma movimentação estranha chamou a atenção de César. Algumas drags chegaram ao bar. Ele nunca tinha visto tanto glamour e beleza em um único lugar. A René levantou e começou a aplaudir os performistas.

Ao olhar para Hugo, o empresário viu que alguma coisa estava errada. Com educação, César saiu da mesa e seguiu na direção do bar. Aparentemente, a pessoa responsável pelo prêmio da noite voltou atrás e deixou Lopez arrasado.

Por dia, o hotel dava milhares de pequenas crises que tinham necessidade de ser resolvidas. Pensando em uma solução, César seguiu Lopez até o escritório e tentaram contactar mais uma vez a loja que tinha fechado parceria com o bar.

— Não atendem! Estou acabado, Hugo. — choramingou Lopez, colocando o celular no bolso.

— Quanto era o valor do prêmio? — questionou César ainda pensando na melhor forma de passar pela turbulência.

— R$ 300. — respondeu o dono do bar. Lopez sentou no sofá e pegou uma garrafa de rum.

— Só? — a inocência de César mais uma vez se fez presente.

— Calma, Lopez. Ele não faz parte deste mundo. — pediu Hugo, que acompanhava tudo da porta.

— Meu filho, — Lopez falou de maneira áspera. Ele abriu a garrafa e bebeu no gargalo. — sabe quanto custa uma montação de Drag? R$ 300 não é nada. Nada. — bebendo mais uma vez.

— Eu posso oferecer aulas gratuitas de skate. — sugeriu Hugo, que tirou uma risada forte de Lopez.

— Viado, acha que essas gays vão querer aula de skate? Acorda!

— O professor vale a pena, viu. — respondeu Hugo fechando a cara.

— Um minuto. — pediu César, pegando o celular e fazendo uma ligação. — Eliezer, boa noite. Desculpa o horário. Eu queria saber se ainda temos voucher da suíte premium?

A vida pode nos colocar no lugar certo no momento em que alguém precisa de ajuda. Com apenas uma chamada, César conseguiu uma estadia de dois dias no valor de R$ 1000 com todas as despesas pagas, incluindo café da manhã, almoço e jantar.

Pela primeira vez na vida, o empresário sentiu que estava fazendo algo pela comunidade LGBTQIAP+. Pode parecer algo pequeno e sem importância, mas César sentiu que estava onde deveria estar.

Fora que Lopez fez questão de destacar o empreendimento que abriria em breve na cidade de Búzios. Sério. Ele anunciou o Hotel Trajano umas 100 vezes. No fim da noite, a vencedora foi Lara Fox. Ela performou 'Livre Estou' de Frozen e arrancou aplausos do público presente.

No momento da coroação, Lopez fez questão de subir com César no pequeno palco para entregar o prêmio simbólico, um papel feito por René, que apesar de bêbada mandava bem no lettering.

Um dos marcos da relação de César e Hugo era caminhar pelas ruas vazias de Búzios. Eles deixaram René em casa e seguiram para a orla. O relógio marcava 5h30. O único barulho na rua era a roda da bicicleta em contato com o asfalto. César aproveitou para encostar a cabeça no ombro de Hugo, que não o afastou.

— Ei, — César chamou a atenção de Hugo. — as aulas de skate ainda estão de pé?

— Você em cima de um skate?

— Ei, eu soube que o professor vale a pena. — respondeu César, ainda com a cabeça encostada no ombro de Hugo.

— Está entregue, chefe. — Hugo brincou, pois sabia que César não gostava de ser chamado de chefe.

— Obrigado, sr. Martins. A carona foi fenomenal. — soltou César, que em um impulso desceu da bicicleta e deu um selinho em Hugo. — Boa noite, Hugo.

— Nossa. — Hugo olhou em volta e não viu ninguém. — César, espera. — deixando a bicicleta no chão e dando um beijaço no empresário, antes de se afastar e sorrir. — Isso é um beijo. Agora sim. Boa noite, César. — pegando a bicicleta e pedalando alegremente pelas ruas de Búzios.

— Isso é um beijo.

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Obrigado, pelos comentários e curtidas. Estou adorando ver a repercussão da história e isso, querendo ou não, me dá mais motivação para escrever para vocês.

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Comentários

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Lindo. César poderia financiar o skatista Hugo, né?

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