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No mesmo dia, meu tio ligou para o advogado e informou que iria comigo ao Brasil no dia seguinte. Ele pediu que o advogado redigisse uma procuração, dando a ele o direito de gerir toda a minha herança. Ele já havia conversado comigo e eu assinaria assim que chegasse. Meu tio passou todos os seus dados e os meus para o advogado redigir a procuração. Ele também pediu ao advogado que solicitasse ao piloto do jatinho, que era do meu pai, que viesse me buscar. Afirmou que, se o advogado cumprisse tudo o que ele pediu, seria muito bem recompensado. Meu advogado disse que ele poderia ficar tranquilo, pois faria isso com o maior prazer.
Depois da ligação, meu tio foi ao meu quarto e me contou que havia resolvido tudo com o advogado, exceto o problema do jatinho. Ele disse que, se não conseguisse resolver, pagaria as passagens para irmos ao Brasil. Ele pediu que eu preparasse minhas malas, pois, de qualquer forma, viajaríamos no dia seguinte.
Meu tio tinha tudo planejado: iria ao Brasil comigo e, com a procuração em mãos, poderia fazer o que quisesse com minha herança. Provavelmente, ele me trancaria na sua casa e ficaria com todo o meu dinheiro.
O que ele não sabia é que naquela noite Daniel me contaria tudo, pois o advogado havia revelado cada detalhe da conversa para ele. Fui dormir feliz, pois tudo parecia estar dando certo, já que meu tio avisou na hora do jantar que o advogado disse que o jatinho nos esperaria no aeroporto pela manhã.
Eu havia deixado tudo combinado com Rute. Assim que saíssemos, ela pegaria suas coisas, sua mãe e iriam para a cidade de Braga, onde ficariam no apartamento que Bruno e Liandra dividiam até eu voltar. Por isso, eu queria que Tiago fosse comigo; queria tirá-lo e meu tio de casa para que elas pudessem arrumar tudo e sair dali.
Saímos de manhã. Tiago fez questão de carregar minha mala até a caminhonete e depois para o jatinho, que já nos esperava. Eu estava apenas com aquela mala, uma pequena mochila nas costas e meu coração de pelúcia. O piloto me olhou e deu um sorriso amarelo; eu sorri de volta, cumprimentei-o e agradeci por ele ter vindo. Ele relaxou e disse que não havia problema algum e que estava feliz em ajudar.
A viagem foi tranquila, apesar do papo chato do Tiago, que eu tive que aturar e ainda fingir que estava adorando. Enfim, chegamos ao Brasil. Um carro nos esperava; era Daniel, que se apresentou como motorista da família. Ele disse que o advogado havia entrado em contato com ele e pedido para que ele nos buscasse e nos levasse até a mansão.
Eu disse que não queria ir para a mansão, que não queria pisar ali de novo e que preferia ficar em um hotel. Meu tio não gostou muito da ideia, mas eu insisti, e para não me contrariar, ele aceitou. Daniel nos levou para um hotel. Eu estava doida para dar um abraço no meu amigo, mas não podia.
Meu tio queria que nós três fôssemos para um quarto só, mas eu disse que não me sentiria à vontade dormindo no mesmo quarto que dois homens. Também expliquei que seria apenas por duas noites, no máximo, e que voltaríamos para Portugal, pois eu queria resolver tudo o mais rápido possível. Acredito que fui convincente, pois ele aceitou.
Quando estávamos prestes a sair, Daniel disse a meu tio que o advogado queria falar com ele e passou o celular. Meu tio atendeu e disse que tudo bem. Logo, ele abriu sua bolsa e eu vi quando pegou meus documentos e entregou a Daniel. Imaginei que o advogado havia falado sobre o que combinamos, que era pedir a Daniel para levar meus documentos para que ele pudesse resolver tudo mais rápido.
Fomos para os quartos: eu para o meu e meu tio e Tiago para o outro. Despedindo-me deles, disse que iria dormir, pois estava muito cansada, mas que, se quisessem sair, havia alguns barzinhos bons perto do hotel. Fiz questão de dar um abraço no meu tio e agradecer por tudo que ele estava fazendo por mim. Também abracei e beijei demorado o rosto de Tiago, dizendo que no dia seguinte queria muito passear com ele pela cidade, mas que não iria naquela hora porque estava muito cansada da viagem. Queria deixá-los seguros de que o plano deles estava funcionando, assim eu teria mais chances de completar o meu.
Fui para meu quarto, que ficava ao lado do deles, e me deitei com meu celular ao lado. Quase dormi, pois realmente estava muito cansada, mas consegui me manter acordada. Se os dois não saíssem para algum bar, minha espera seria ainda mais demorada. Eu não queria arriscar nada; tudo tinha que ser perfeito.
Era pouco mais de 21 horas quando meu celular vibrou. Atendi e era Daniel. Ele disse que os dois tinham saído e entrado em um barzinho movimentado ali perto e que estava na porta do hotel me esperando. Eu apenas disse que já estava indo, desliguei, peguei a mochila, o coração de pelúcia e desci.
Havia algumas pessoas na recepção, então aproveitei para passar rapidamente, para que os atendentes não me vissem. Assim que saí, vi o carro de Daniel. Ele estava em pé do lado de fora, e eu corri e me joguei nos braços dele. Estava com muita saudade do meu amigo e muito feliz por estar livre novamente.
Chorei de felicidade naquele momento. Daniel estava visivelmente emocionado, mas se conteve e pediu para eu entrar para sairmos rápido dali. Entrei, ele me entregou meus documentos e saímos. Logo estávamos na casa dele. Assim que entramos, Lúcia veio me abraçar. Agradeci a ela por tudo que tinha feito por mim. Fui levada até a sala e conheci Ângela, a filhinha deles. Jantei com eles e conversei bastante; mesmo cansada, não queria ir dormir.
Era muito bom estar ali, no meio de pessoas tão queridas, mas o cansaço bateu. Tomei um bom banho e fui para o quarto onde iria dormir. Antes, verifiquei o celular e vi uma mensagem de Rute avisando que ela e a mãe já estavam no apartamento de Bruno. Respondi dizendo que estava tudo dando certo aqui no Brasil, que já estava na casa do meu amigo e que no dia seguinte eu ligaria.
Acordei no dia seguinte, já era umas 9 horas. Dormi tão bem que acabei dormindo demais. Quando abri os olhos e vi onde estava, um sorriso se formou nos meus lábios na hora. Levantei-me e vi Daniel e Lúcia na sala. Fui ao banheiro, fiz minha higiene e fui sentar com eles. Daniel disse que o advogado ligou e informou que já tinha tirado o chip que usou para ligar para meu tio e que nos aguardava em seu escritório às 13 horas.
Enquanto conversava com Daniel, Lúcia trouxe um lanche para mim. Agradeci e ficamos ali conversando. Conteii tudo que tinha passado e que eles ainda não sabiam. Lúcia perguntou o que meu tio faria quando descobrisse que eu não estava ali. Eu disse que não me importava, que eles não poderiam fazer mais nada. Se chamassem a polícia, não resolveria, pois não tinham como me obrigar a ir a qualquer lugar com eles, já que eu era maior e estava no meu país. Provavelmente, perceberiam isso e não chamariam a polícia.
Lúcia perguntou se eles tinham passaporte. Eu disse que não sabia e, se não tivessem, era só procurar o consulado português em Brasília e pedir ajuda. Lúcia riu muito de mim e disse que eu estava mais do que certa; eles mereciam mesmo.
Eu só queria ser uma mosca para ver a cara dos dois quando descobrissem que eu não estava mais ali no quarto. Eles não conheciam a cidade, não sabiam onde era o escritório do advogado nem seu nome verdadeiro. Não sabiam nada. A única coisa que sabiam era meu nome e o número do advogado, que já não funcionava mais.
Eu e Daniel saímos para ir ao advogado. Quando cheguei e o vi, a primeira coisa que fiz foi agradecer por tudo que ele fez por mim. Ele disse que foi um prazer ajudar e que, depois que Daniel contou o que houve comigo, faria tudo de graça e com muito prazer.
Sentamos e ele começou a falar sobre os próximos passos para eu receber toda a minha herança. Ele disse que ia me ajudar em tudo, mas que seria um pouco demorado. Perguntei quanto tempo levaria e ele disse que, para resolver tudo, talvez até mais de um mês, porque havia contas do meu pai no exterior e negócios também, e isso levaria tempo. Eu disse que tudo bem, mas que precisava de uma boa quantia de dinheiro rápido. Ele disse que as contas nos bancos no Brasil seriam mais rápidas e que os imóveis também.
Conversamos por muito tempo. Ele me explicou tudo e me mostrou tudo o que seria meu. Fiquei de boca aberta com a quantidade de coisas que meu pai tinha; era muita coisa, muito mais do que pensei. Não sabia que meu pai era tão rico.
Falei isso com Daniel quando saímos, e ele disse que meu pai ganhou muito dinheiro trabalhando para o governo, não só em Minas, mas em todo o Brasil. Ele estava envolvido com políticos e roubou muito com obras superfaturadas em todo o país. Eu disse que não queria dinheiro sujo. Então Daniel disse que não fui eu quem roubou, que não havia como devolver e que, se devolvesse ao governo, seria roubado por outros políticos, e que era melhor ficar comigo, que o usaria de uma boa maneira.
Tive que concordar com ele, mas sinceramente não fiquei feliz com aquilo. Daniel me levou até a mansão. Eu não queria voltar ali, mas precisava. Peguei a chave reserva com o porteiro do condomínio, que me conhecia bem e também conhecia Daniel. A mansão estava do mesmo jeito, apenas com um pouco de poeira nos móveis. Fui ao escritório do meu pai e peguei alguns documentos dele. Fui até o cofre e tentei abrir, mas não sabia a senha. Tentei a data do aniversário dele e nada; tentei a data do meu aniversário, do aniversário da minha mãe, e desisti. Daniel disse que teria que pedir para alguém arrombar. Quando ia sair, vi a foto dele com minha mãe no dia do casamento deles em cima da mesa do escritório. Voltei ao cofre e coloquei a data do casamento, e o cofre abriu.
Dentro, havia uma boa quantia em dinheiro; a maioria era em reais, mas havia dólares também. Havia alguns documentos e uma pistola 9 milímetros carregada, com um pente reserva também carregado. Havia uma caixa de joias que provavelmente era da minha mãe. Peguei tudo e coloquei na minha mochila.
Fui ao meu antigo quarto e peguei algumas coisas pessoais, entre elas um pequeno diário onde escrevia algumas coisas. Não contava minha vida ali, mas anotava datas e coisas importantes. Saímos dali e eu dei graças a Deus; peguei trauma daquele lugar depois de tudo que me aconteceu ali.
Voltamos para a casa do Daniel. Liguei para a tia e contei que estava no Brasil. Ela pediu para eu ir vê-la. Perguntei se não era arriscado encontrar com a Ká, e ela disse que não havia risco algum, pois Ká nunca mais colocou os pés em casa depois que resolveu sair dali.
Pedi a Daniel para me levar, e ele me levou. Quando cheguei e vi aquela casa, tive um turbilhão de sentimentos; era uma mistura de emoções e muitas lembranças, mas resolvi, mesmo assim, entrar.
Continua...
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper