Amores brutos na pós-modernidade

Um conto erótico de DerekCosta1
Categoria: Heterossexual
Contém 2472 palavras
Data: 05/10/2023 07:40:38
Última revisão: 13/10/2024 01:46:07

Ela deu uma última olhada no espelho a fim de avaliar se havia alcançado um estado perfeito. O cabelo liso castanho impecável, os olhos azuis celestiais realçados, os lábios pintados de um discreto vermelho e um vestido preto sensual delineando seu corpo curvilíneo pareciam dizer-lhe que sim. Ensaiou um sorriso discreto e analisou, pelo reflexo, o par negro de sapatos de salto alto que havia escolhido.

Estava nervosa. Sentia um frio na barriga. Depois de tantos anos, com uma carreira de tanto sucesso em seu ramo, vivendo no alto da mais elevada e luxuosa cobertura, nesta noite, ela se sentia uma mortal adolescente. Ingênua, animada, assustada e insegura. Conseguiria, enfim, o seu perdão?

Passou um pouco de néctar em seu pescoço, apanhou a pequena bolsa de mão, as chaves do carro e saiu do apartamento para o elevador. Normalmente, ela usava o serviço de um motorista, mas, desta vez, preferia conduzir o veículo. Muito havia mudado. Precisava manter alguma pequena humildade para alcançar a redenção e desejava, acima de tudo, aprender como construir algo com as próprias mãos. Devia ter pedido o cinto de Afrodite?

Afora tudo isso, queria estar sozinha com ele e provar, de algum modo, por mais simplório, superficial e egoísta que parecesse que estava se esforçando para ser digna de alguma simpatia.

Dirigindo pela grande cidade, sentiu, mais uma vez, a grande e ambivalente emoção de ser responsável por aquilo tudo, incluindo todos os contrastes e defeitos. A metrópole é a culminância de todos os seus esforços, mas, também, revelou-se um retrato perfeito de todas as suas contradições.

Seguiu para uma vizinhança próxima ao centro, de aparência ligeiramente decadente, e estacionou diante do bar no qual o próprio Dioniso e a própria Afrodite garantiram que o poderiam encontrar.

Ela desceu, caminhou, com involuntária majestade, pela rua e entrou curiosa no estabelecimento. Impossível que não chamasse tanta atenção. Homens e mulheres voltaram seus olhares para seu corpo impecável e para seu traje noturno caro. Ela tentou ser modesta pelo menos uma vez, mas é difícil abandonar os velhos hábitos. Procurou ao redor e, olhando para uma mesa de bilhar, o viu — por um instante, seu coração, bem como sua respiração, parou.

Ao contrário de todas as outras vezes, desta feita, ele parecia muito atraente. Debruçado sobre a mesa, preparado para dar sua tacada, seu rosto grave concentrado expressava a mesma velha virilidade; desta vez, não selvagem e desmedida, mas contida e bonita. Sua barba densa, sempre por fazer, parecia menos arredia. Enfim, ou o tempo o civilizou, ou a maturidade a sensibilizou.

Ela deu alguns passos tímidos e se postou na frente dele a alguma distância.

Ele a viu e expressou uma espartana estranheza.

O sujeito rústico a encarou, largou o taco, bebeu tudo o que havia em seu copo e se aproximou, lentamente, dela com seus passos mancos.

— O que faz aqui?

— Posso contar com alguma atenção tua?

— Só se me acompanhar até o balcão do bar.

— Concordo.

— Você está bonita.

Ele comentou enquanto caminhava rumo ao serviço do barman e ela deu um discreto, porém satisfeito, sorriso.

— Um triplo, amigo!

Ambos sentaram lado a lado.

— Deseja algo?

— Eu não bebo.

— Ah! Continua assim.

— Isso te incomoda?

— Não! O que servir para ti.

— Eu apenas não gosto de como essa coisa faz as pessoas perderem o controle sobre si.

— Com certeza. Controle é uma beleza. A que devo a honra de receber a sagrada e inesperada visita da princesinha do Olimpo? Algum nobre e sagrado serviço que eu possa fazer por outro aristocrático herói que esteja paladino sob teu favoritismo?

Ela engoliu em seco percebendo o tom agressivo.

— Eu... Eu vim... Pedir desculpas.

Hefesto a encarou surpreso.

— Perdão? Eu não ouvi.

— Muito tempo passou desde a última que vez em que nos vimos e eu percebi... Eu... Finalmente, percebi... Que eu errei contigo.

— O que eu perdi?

— Nos últimos séculos, eu prestei mais atenção e percebi que eu estava obcecada por coisas como beleza, erudição, essência e mérito. E essas coisas têm sua função, mas... vendo o mundo, eu percebi que elas não são o fim em si; são apenas ferramentas para atingir um maior quadro.

— E que quadro seria esse?

— Algum tipo de igualitarismo.

O deus do trabalho estranhou.

— Atena... a deusa civil... sempre em busca de cultura e luxo... está me dizendo que acha que errou? Você não acredita mais em ter escolhidos?

— Agora eu só tenho um.

Eles se encararam por um momento.

— Não...! Você está mentindo! Desde que eu me lembro Hermes sempre foi o teu favorito. Corpo perfeito, lábia impecável. Onde está o meliante agora?

— Fechando algum acordo em seu próprio benefício.

— Claro que sim. E por que haveria novidade? Além dele, eu também me lembro que as deusas gostavam bastante de Dioniso e Ares.

— Hefesto...

— Minha ex esposa, certamente, adorava a companhia deles. Você percebeu que todos os deuses de sucesso são imprevisíveis? Apenas Apolo e eu somos considerados... Óbvios... Certinhos... Sem graça.

— Concentrado. Intenso. Leal. Dedicado. Esforçado.

Ele olhou para ela e deu um sorriso incrédulo.

— Como se amantes gostassem disso.

— Eu entendo tua desconfiança. Por séculos, o deus da indústria, da plebe, do trabalho pesado, foi desprezado, assim como seus dons, relegado a uma posição inferior por seus pares por conta de sua aparência e de seu labor. Eu, realmente, acreditei que residia na beleza, física e intelectual, a absolvição da existência. Mas, agora, eu entendo: é no trabalho, na dedicação, no esforço e na fidelidade que residem as verdadeiras virtudes. É no homem do povo que eu devo depositar o meu esmero.

Atena observou o pequeno e belo deus a seu lado. Rústico, imperfeito, coxo, mas, ainda assim, belo.

— Se eu tivesse, desde o início, me unido à sua dignidade... eu teria construído uma humanidade muito melhor. Prometeu sabia disso.

— Prometeu era mesmo o melhor... Então é disso que se trata? Você deseja um produto de mais alta qualidade? Por isso busca o construtor? Para fazer o serviço pesado?

— Também, mas não apenas por isso. Juntos, inteligência, civilidade e cultura, aliados a humildade, simplicidade e diligência, podem construir uma coisa... melhor.

— Melhor?

— Justa. Correta. Verdadeira. Igualitária.

Atena fez um instante de silêncio e continuou:

— Agora eu vejo que, para servir à humanidade, a inteligência deve se submeter ao empenho e à devoção. O trabalho é a prioridade, não o luxo, o prazer ou a razão. Eu vim até aqui para dizer... Que eu me submeto a você.

Hefesto a encarou com gravidade.

— Você sempre fez o que bem quis mesmo antes de ter inventado o feminismo.

— E, ainda assim, eu estava equivocada. Não é lutando para me tornar igual a um homem que eu construirei um mundo decente; isso apenas denuncia contra mim. Eu devo servir a quem também sempre esteve disposto a me servir. Reunir em nossa união o melhor de ambos e tentarmos expurgar o que temos de pior.

Atena ficou de pé.

— Você, certa vez, ajoelhou-se perante mim, hoje, eu me ajoelho perante ti.

Ela se ajoelhou.

Surpreso com o gesto, Hefesto notou como as pessoas ao redor assistiam a cena e engoliu, novamente, por inteiro, seu trago. Ele a ergueu, uma mulher bem mais alta que ele, e a analisou em busca de sinceridade.

— Vamos sair daqui.

Os deuses da indústria, do trabalho, da cultura e da civilidade saíram juntos do bar, atravessaram a rua e entraram no carro da gloriosa Atena.

— Para onde vamos?

— Para o teu apartamento, é claro! Se um homem do povo tem a oportunidade de deitar-se com uma herdeira, ele desejará possuí-la no refúgio mais íntimo dela.

A deusa Atena deu a partida e se pôs a dirigir o veículo. Imediatamente, o deus ferreiro bateu na coxa dela e a apertou e alisou puxando o tecido do vestido.

— Até que ponto você pretende ir?

— Eu não tenho experiência nisso. Esperava que você pudesse me conduzir...

Ela engasgou quando as mãos ásperas dele tocaram sua vagina depilada. Tudo obra da engenhosidade de Afrodite.

Atena nunca fora tocada assim. Sempre desejou manter-se apartada da relação sexual com os homens, embora tenha se permitido indulgências com Hermes algumas poucas vezes acreditando que aquele seria o melhor caminho: inteligência e oratória. Mas agora ela via o quanto havia estado enganada; era o toque bruto, sincero e direto de um deus leal, ainda que carrancudo, o que ela sempre desejara. Os preconceitos civilizatórios a haviam cegado para a sua verdadeira busca. Mesmo a sabedoria apresentava falhas.

Ela engasgou quando, sem cerimônia, os dedos dele penetraram sua gruta. Hefesto não era sedutor ou delicado, ao contrário, era direto, seco, ríspido e bruto, mas sincero e agora ela entendia que gostava disso. A benção de milênios de maturidade conquistada após muita frustração. Os dedos dele começaram a se mover por toda a vagina dela: dois iam e vinham por dentro e um terceiro a massageava por fora.

Não acostumada com uma atenção desse tipo e surpresa com o quão agradável era a sensação de estar sob esse tipo de escrutínio, a deusa poderosa perdeu o autocontrole e bambeou o volante.

— Eu não consigo me concentrar...

— Então encosta esse carro em algum lugar.

— Está bem...

Atena estacionou em um lugar qualquer enquanto os dedos do bruto Hefesto continuavam a manipulá-la.

— Afasta as pernas.

Ela afastou o máximo que pôde acatando a ordem dele. Por eras, ela acreditou que a satisfação maior era exercer a austeridade, mas, agora, ali, sentindo o peso do toque dele, tudo o que ela conseguia sentir era liberdade — a liberdade de se entregar sem ressalvas, confiando totalmente em quem assumia o controle do seu destino.

Um calor inédito encheu seu ventre emanando da região do púbis, sua respiração ficava cada vez mais fora de controle, seu corpo movia-se sozinho buscando sorver o mais alto nível de prazer daqueles contatos abusivos. Hefesto dedilhava o sexo dela como se fosse o próprio Apolo a tocar uma lira; e a sinfonia criada pelos caprichos dos seus dedos a preencheram de tal modo que vazaram por cada pequena fibra, cada pequena fresta, cada pequena gota de alegria.

Suas carnes tremeram, suas pernas vibraram, seus líquidos escorreram, seus braços falharam, seu corpo balançou e sua voz, com um grito, escasseou. Atena teve um orgasmo — o primeiro desde que o deus que agora a detinha nas pontas dos dedos a trouxe à luz do mundo. Uma deliciosa ironia que a fez sorrir mordendo os lábios vermelhos.

O corpo dela relaxou na poltrona e ela pôde sentir, pela primeira vez em sua existência, o relaxamento levemente sonolento que se segue a um êxtase. Por que ela nunca o deixara tocá-la?

Hefesto deu um puxão divino calculado por milênios de experiência artífice e rasgou, com perfeição, a calcinha. Ele a cheirou como apenas um deus primitivo faria e sorriu para a sua deusa rendida.

— Tem cheiro de humildade.

Atena ofegava se recuperando.

— Sim... Eu desejo aprender a vassalagem...

Cheio de potência e libido, Hefesto a tomou pelos sedosos cabelos castanhos e a tirou do carro pela porta do motorista. Atena apenas o seguia. Ele a deitou de bruços no capô do veículo, afastou suas pernas curvilíneas, ajoelhou-se atrás dela e chupou com fúria. Atena, que desconhecia também aquela sensação, gritou — e continuou gritando para a noite como se esta fosse uma testemunha.

O deus operário ergueu seu corpo vigoroso, posicionou-se ante a deusa agora cativa e tomou posse do que sempre perseguiu com a convicção de que nunca mais a deixaria.

A deusa, agora submissa, recebeu aquela viga com uma satisfação até então desconhecida. Ela nunca soube como era se sentir realmente satisfeita e preenchida. Como se sempre houvesse faltado algo dentro dela, algo que apenas ele tinha.

Hefesto moveu seus quadris com o poder de um aríete enquanto buscava romper quaisquer vestígios de civilidade ponderada. Ele desejava tomar posse dela — por completo — não apenas do seu corpo, mas de todo pequeno pedaço de desejo.

E, enquanto ele oscilava firmemente dentro dela, Atena experimentava o mais puro e ardente arrebatamento. Ela gemia, gritava e arrulhava sem se preocupar com autocontrole. Com apenas o escuro véu como espectador, a deusa, após éons, superou seus limites, medos e preconceitos e, finalmente, livre, se entregou. A sabedoria gozou.

Um gozo alto, liberto, sincero e rendido. Enamorado.

Hefesto pôs a sua amada companheira no banco do passageiro para que ela pudesse se recompor e conduziu o automóvel para o prédio em que ela estava hospedada. Na garagem, ele bolinou o sexo dela enquanto a beijava. Fora do carro, ele a ergueu e, em seu membro, a encaixou; Atena, pela primeira vez, mais uma vez naquela noite, rebolou.

A deusa de olhos celestes moveu os quadris ritmada e lentamente buscando sentir o atrito de sua vulva com o pulsar daquele mastro. Sua umidade era tanta e tão efusiva que seus corpos apenas deslizavam. Mesmo as suas coxas agora conheciam o gosto de sua divina seiva.

E, daquele jeito, com aquele encaixe, naquele ritmo, o seu homem a carregou pela passagem, pelo corredor, pelo elevador e pelo apartamento até seu quarto — onde, mais uma vez, a fez deusa-mulher.

Hefesto dispôs do corpo dela como quis e Atena estava contente em servir; uma posição nova para ela. Com calma, mas com autoridade, ele desvirginou o seu cu; não houve sequer um momento para discutir, ele quis, ele fez, ele tomou; ela concedeu.

Não havia mais resistência na deusa da inteligência, apenas resignação sadia de que o seu papel de melhor desempenho era o de ser um instrumento. Um instrumento para o prazer de seu homem, um instrumento para o prazer de si mesma, um instrumento para a concretização dos trabalhos de toda a humanidade. Atena gozou durante aquela noite inteira o que não havia gozado em toda a eternidade e continuaria gozando por toda a existência enquanto estivesse atrelada aos caprichos do aço de seu deus.

Ele abusou, com suas mãos ásperas e intensas, de seus seios, de suas coxas, de seus mamilos e, diversas vezes, de sua boceta. Ela o amou a cada domínio e retribuiu todo esse gozo com o carinho e afeto de seus lábios, sua língua e sua boca ao falo dele. Talentosa, a deusa do conhecimento aprendeu rápido como agradar ao seu desejado marido.

A união foi celebrada pelo próprio Zeus, com Dioniso e Afrodite como padrinhos, e absolutamente todos foram convidados. Desta vez, ninguém foi esquecido, nem mesmo Éris — as crises seriam bem-vindas assim como todas as demais experiências. Não havia mais espaço para desperdiçar tempo e esforço em busca da perfeição.

Atena mudou-se a fim de auxiliá-lo em seus trabalhos genuinamente produtivos e eles copulavam como noivos diante da forja acesa. Finalmente, pela primeira vez, desde o início do tempo... trabalho e cultura, inteligência e dignidade, esforçavam-se juntos em busca de maturidade, humildade e decência, como sempre deveria ter sido — se o mundo fosse perfeito — tendo, por testemunhas, todos os poderes divinos.

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Comentários

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Um texto que usa a mitologia como base para narrar situações tão carnais e cotidianas, só poderia ser Divinamente redigido, e você conseguiu esse feito. Há tanto tempo escrevendo aqui nesse site, de vez em quando me deparo com boas surpresas como essa que tive ao ler o seu texto. Com certeza um dos melhores do site. E um dos poucos que será adicionado aos meus favoritos... Parabéns!!!⭐⭐⭐

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Foto de perfil de DerekCosta1

Fico muito agradecido pelo elogio, Tito! Principalmente, considerando que o tema de teus textos são tão distintos dos meus. Grato!!

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Foto de perfil de Tito JC

Eu escrevo temas variados, com uma predominância para homoeróticos, mas para mim texto bom não tem gênero, só qualidade, e o seu é muito bom... Abraços!!!

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Foto de perfil de Dyh

Eu já ia comentar em seu último conto, pedindo para que publicasse algo novo, aí vi que esse texto estava aqui. Além de muito bem escrito, como os seus demais, está também muito excitante e com diversos trechos marcantes - frases como “não houve sequer um momento para discutir; ele quis, ele fez, ele tomou; ela concedeu” e “resignação sadia de que o seu papel de melhor desempenho era o de ser um instrumento”. Isso sem mencionar o criativo enredo com base contexto mitológico… muito bom!! Aguardo seus próximos escritos 👏🏻

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Foto de perfil de Beto Liberal

Adorei essa viagem erótica pela mitologia.

Conto muito bem redigido, leve de ler e extremamente excitante.

Parabens

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Foto de perfil de DerekCosta1

Oi, Beto! Muito grato pelo comentário e pelo apoio! Escrevi isso para um edital (mas não fiquei entre os aprovados), então compartilhei aqui.

Abraço!

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